Já percebeu como Jesus usava de modo simples e profundo as coisas da natureza para revelar a Sua doutrina? Fazia assim uma pregação clara, que o povo podia entender com facilidade. O vemos falar da figueira, das aves do céu, da raposa e seu ninho, do mar, dos lírios dos campos que o Pai cuida, dos pardais que não caem por terra sem o que o Pai saiba e permita, etc.. Ele amava a criação que Ele mesmo criou. E que de modo especial usou a figura do pastor e das ovelhas.
O próprio Jesus foi identificado com “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29). O profeta Isaías o comparou àquela ovelha silenciosa que vai para o sacrifício redentor da humanidade, carregando os seus pecados. “Como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador; Ele não abriu a boca” (Is 53,7).
Já no Antigo Testamento a figura do Pastor, ao qual Jesus se identificou, era abundante nas profecias. Vários profetas foram pastores. Para entender bem porque Jesus se identificou com o “bom Pastor”, é preciso entender o que os profetas anunciaram sobre isso.
O Profeta Jeremias disse que Deus daria ao seu povo “pastores segundo o seu coração” que cuidariam bem do rebanho. É uma prefiguração de Jesus:
“Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho miúdo de minha pastagem! Por isso, assim fala o Senhor, Deus de Israel, acerca dos pastores que apascentam o meu povo: Dispersastes o meu rebanho e o afugentastes, sem dele vos ocupar. Eu, porém, vou ocupar-me à vossa custa da malícia de tal procedimento. Reunirei o que restar das minhas ovelhas, espalhadas pelos países em que as exilei e as trarei para as pastagens em que se hão de multiplicar. Escolherei para elas pastores que as apascentarão, de sorte que não tenham receios nem temores, e já nenhuma delas se extravie – oráculo do Senhor.” (Jer 23,1-6)
Mais tarde, pela boca do Profeta Ezequiel, Deus repreende duramente o mau pastor; e afirma que “Ele mesmo seria o Pastor do seu povo”. Neste texto Deus mostra o carinho que tem para com cada ovelha, e a importância do pastor na sua vida:
“Ai dos pastores de Israel que só cuidam do seu próprio pasto. Não é seu rebanho que devem pastorear os pastores? Vós bebeis o leite, vestis-vos de lã, matais as mais gordas e sacrificais, tudo isso sem nutrir o rebanho. Vós não fortaleceis as ovelhas fracas; a doente, não a tratais; a ferida, não a curais; a transviada, não a reconduzis; a perdida, não a procurais; a todas tratais com violência e dureza. Assim, por falta de pastor, dispersaram-se minhas ovelhas, e em sua dispersão foram expostas a tornarem-se presa de todas as feras. Minhas ovelhas vagueiam em toda parte sobre a montanha e sobre as colinas, elas se acham espalhadas sobre toda a superfície da terra, sem que ninguém cuide delas ou se ponha a procurá-las. Pois bem, pastores, escutai a palavra do Senhor: por minha vida, já que por falta de pastor foram minhas ovelhas entregues à pilhagem, e serviram de pasto às feras, pois os meus pastores não têm o mínimo cuidado com elas, e que, em vez de pastoreá-las, só têm procurado se fartar eles próprios, por isso, escutai, pastores, o que diz o Senhor: Eis o que diz o Senhor Javé: vou castigar esses pastores, vou reclamar deles as minhas ovelhas, vou tirar deles a guarda do rebanho, de modo que não mais possam fartar a si mesmos… Pois eis o que diz o Senhor Javé: vou tomar eu próprio o cuidado com minhas ovelhas, velarei sobre elas. Como o pastor se inquieta por causa de seu rebanho, quando se acha no meio de suas ovelhas perdidas, assim me inquietarei por causa do meu; eu o reconduzirei de todos os lugares por onde tinha sido disperso num dia de nuvens e de trevas. Eu as recolherei … Eu as apascentarei em boas pastagens, elas serão levadas a gordos campos sobre as montanhas de Israel; elas repousarão sobre as verdes relvas, terão sobre os montes de Israel abundantes pastagens. Sou Eu que apascentarei minhas ovelhas, sou Eu que as farei repousar. A ovelha perdida eu a procurarei; a desgarrada, eu a reconduzirei; a ferida, eu a curarei; a doente, eu a restabelecerei, e velarei sobre a que estiver gorda e vigorosa. Apascentá-las-ei todas com justiça (…)“(Jer 33,1-23).
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No Evangelho do bom Pastor, Deus está cumprindo a sua promessa, pois o Filho, o Verbo bendito encarnado, afirma: “Eu sou o bom Pastor”. É o próprio Deus que vem cuidar do rebanho de Seu Pai; se coloca a serviço das ovelhas e as reúne em um único rebanho. Jesus é o bom Pastor que faz tudo que Deus, pelo Profeta Ezequiel, quer de um pastor diligente, amoroso com as ovelhas, pronto a dar a vida por elas. Não um mercenário que ama o dinheiro e não as ovelhas, mas o pastor que está pronto a dar a vida para livrar suas ovelhas do boca do lobo. Ai então podemos entender toda a razão de Jesus se intitular “Bom Pastor”. Por isso, Ele afirma:
“Em verdade, em verdade vos digo, quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante. Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. A esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora. E, depois de fazer sair todas as que são suas, caminha à sua frente, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas não seguem um estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos”… Eu sou a Porta. Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem. 10O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. (Jo 10,1-10).
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A figura do pastor era muito comum em Israel; eram simples e pobres, por isso os Anjos anunciaram a eles em primeiro lugar o nascimento do bom Pastor. Ali no “Campo dos Pastores”, em Belém – ainda hoje bem conservado – eles reuniam os vários rebanhos num mesmo aprisco durante a noite, e os pastores revezavam-se nas vigílias da noite contra o lobos. De manhã – uma coisa impressionante! – cada pastor chamava as “suas” ovelhas pelo nome e só elas vinham com ele para fora do aprisco, para que ele “as levasse às águas refrescantes” e “a descansar em verdes prados” (cf. Sl 22,1ss). E as ovelhas o seguiam, sem medo, despreocupadas, porque o pastor sabia onde, mesmo no deserto, havia água e boa pastagem. E não temiam os lobos porque mesmo que tivessem de atravessar o vale escuro, nada temeriam, porque estavam junto do pastor. “O seu cajado e o seu báculo eram o meu amparo” (Sl 22,4). E as ovelhas exclamam: “O Senhor é o meu Pastor, nada me pode faltar” (v.1).
Ora, tudo isso é também para nós; se coloque no lugar desta ovelha que Jesus cuida, que vai buscar a que está perdida, mesmo tendo de deixar 99 no aprisco. Aplique à sua vida tudo isso que Jesus disse, e descanse de suas dores, preocupações, aflições e atribulações, na companhia do bom Pastor.
Somos ovelhas criadas e guiadas por Deus, com amor, com atenção, não abandonadas. “Ele nos fez e a Ele pertencemos; somos o Seu povo e as ovelhas do seu rebanho” (Sl 99,3); “que ele adquiriu com Seu próprio Sangue” (At 20,28). E “Ele está no meio de nós!”. Dizemos isso quando o padre diz: “O Senhor esteja convosco!” Então, creiamos nisso e vivamos nesta fé. São João Paulo II disse: “Não tenhais medo porque o Senhor ressuscitado caminha conosco”. Ele caminha conosco, Ele está na nossa historia. Ele está na barca da nossa vida; mesmo que pareça estar dormindo Ele não deixa de velar por nós.
O mundo quer nos enganar com vozes de lobos, mas Ele nos ensina a ouvir e a seguir somente a Sua Voz. Quantos pastores falsos no mundo! Onde está a voz do verdadeiro Pastor? Devemos ter a coragem de alertar as ovelhas do Seu Rebanho para as vozes dos falsos pastores.
A Igreja, é o Corpo Místico de Cristo, ela continua a obra do bom Pastor; é nela que cada ovelha tem o verdadeiro aprisco, onde ouve a voz do verdadeiro Pastor. “Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). É por isso que na santa Missa das festas dos Apóstolos, os primeiros pastores que Jesus instituiu, a Igreja reza:
“Pastor eterno, Vós não abandonais o rebanho, mas o guardais constantemente pela proteção dos Apóstolos. E assim a Igreja é conduzida pelos mesmos pastores que pusestes à sua frente como representantes de vosso Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso”. (Oração Euc.)
Por isso, São Pedro recomendava aos pastores da Igreja: “Velai sobre o rebanho de Deus, que vos é confiado. Tende cuidado dele, não constrangidos, mas espontaneamente; não por amor de interesse sórdido, mas com dedicação; não como dominadores absolutos sobre as comunidades que vos são confiadas, mas como modelos do vosso rebanho. E, quando aparecer o supremo Pastor, recebereis a coroa imperecível de glória” (1 Pe 5,2-4).
Deixemo-nos guiar pelo nosso Bom Pastor: Jesus!
Prof. Felipe Aquino
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