Dom Sérgio Aparecido Colombo
Bispo de Bragança Paulista
Irmãos e Irmãs!
Aproximam-se as eleições municipais em todo o País, ocasião especial para se exercitar a cidadania com a escolha daqueles que nos representarão nos poderes Executivo e Legislativo – prefeitura e câmara dos vereadores.
O momento presente, do ponto de vista político-social, é desafiador. A política, no conjunto da nação brasileira, marcada pelo descrédito, esta a exigir mais uma vez nossa participação com o compromisso do voto consciente, coerente e consequente, o que colaborará para um novo começo, com renovada esperança e coragem na construção de uma sociedade onde todos vivam com dignidade e igualdade de oportunidades.
A questão que sempre retorna no tempo do exercício da política partidária é qual o papel da Igreja. Ela deve ou não deve fazer política? Ou a sua missão é só espiritual?
Por mandato do próprio Jesus, a Igreja ilumina todas as situações, povos e nações, com a luz do Evangelho da liberdade e da vida. Um dos grandes pontífices do século passado, o Papa Paulo VI, afirmou: “A política, como forma privilegiada de caridade, tem como vocação e missão buscar realizar os valores que definem os destinos dos povos e a concepção do homem e que se traduzam na cultura da solidariedade”.
As atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil “reconhecem a importância da atuação da Igreja no mundo da política e incentivam os leigos e leigas, especialmente os jovens, à participação ativa e efetiva nos diversos setores voltados para a construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário. Daí, a urgência na formação e apoio aos cristãos leigos e leigas para que atuem nos movimentos sociais, conselhos de políticas públicas, associações de moradores, sindicatos, partidos políticos e outras entidades, sempre iluminados pelo ensino social da Igreja” (n. 68).
Portanto, não é algo estranho à Igreja, militar na política, pois a partir desta tudo se organiza para a realização do bem comum. Quanto à política partidária, fundamental no Estado Democrático, é necessário cuidar para que não resvale para o corporativismo, onde estão implícitos, muitas vezes, interesses grupais, familiares, pessoais, levando ao risco do fenômeno que tem assolado nossa sociedade: a corrupção. O Papa Francisco a chama de “praga apodrecida da sociedade, um pecado grave que brada aos céus, porque mina as próprias bases da vida pessoal e social. A corrupção impede de olhar para o futuro com esperança, porque, com a sua prepotência e avidez, destrói os projetos dos fracos e esmaga os mais pobres. É um mal que se esconde nos gestos diários para se estender depois aos escândalos públicos. A corrupção é uma teimosia no pecado, que pretende substituir Deus com a ilusão do dinheiro como forma de poder... Para erradicá-la da vida pessoal e social, são necessárias prudência, vigilância, lealdade, transparência, juntamente com a coragem da denúncia. Se não se combate abertamente a corrupção, mais cedo ou mais tarde, ela torna-nos cúmplices e destrói-nos a vida” (cf. Misericordiae Vultus – O rosto da misericórdia, nº 19).
É oportuno lembrar que nos últimos tempos a sociedade brasileira tem feito um caminho promissor na compreensão da política, desde a Lei 9840, aprovada pelo Congresso Nacional – contra corrupção eleitoral, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), como também as atuais mudanças na legislação eleitoral, financiamento público de campanha, propaganda eleitoral, entre outros, com a finalidade de superar a mentalidade de que na política ninguém presta, todos são ladrões, política não se discute ou até mesmo anular o voto.
Quanto à Igreja, que não assume nenhuma candidatura, evangeliza apontando os valores éticos e cristãos, visando sempre a que cada eleitor e cada eleitora acolham, de modo positivo e não pessimista, os candidatos que se apresentam. Conhecendo o seus projetos, façam a escolha certa – escolha do melhor, com convicção e esperança, tendo presente que a sociedade não precisa de seus favores ou de salvadores da pátria, mas de políticos que contemplem as relações humanas em todas as suas dimensões e contribuam para o APRIMORAMENTO DA CIDADANIA.
Vários são os candidatos, membros de comunidades cristãs e organizações sociais que têm demonstrado, pela dedicação, engajamento e serviço, que estão à altura de exercer um cargo público. Vale a pena conhecer a proposta deles. Alguns não dispõem de recursos para uma campanha vultosa, mas carregam o mais importante: o testemunho de vida e o compromisso com os pobres e excluídos nos bairros e periferia da cidade. Conhecê-los, acreditar neles, comprometer-se com eles e acompanhá-los é um bom início.
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