| CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL |
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FORMAÇÃO DE CATEQUISTAS PARA A INICIAÇÃO
À VIDA CRISTÃ
Pe. Jânison de Sá Santos
“Desde há muito tempo desejava falar-vos, filhos legítimos e muito amados da Igreja, sobre estes espirituais e celestes mistérios. Mas como sei bem que a vista é mais fiel que o ouvido, esperei a ocasião presente, para encontrar-vos, depois desta grande noite, mais preparados para compreender o que se vos fala e levar-vos pelas mãos ao prado luminoso e fragrante deste paraíso. Além disso, Já estais melhor preparados para apreender os mistérios todo divinos que se referem ao divino e vivificante batismo. Uma vez, pois, que vos proporemos uma mesa com doutrinas de iniciação perfeita, é necessário ensinar-vos com precisão, para penetrardes o sentido do que se passou convosco nesta noite batismal”.
1. Introdução
Ao entrar em contato com a literatura das Catequeses Mistagógicas do inicio do cristianismo, fui percebendo a riqueza da linguagem popular, simples, clara e objetiva com que se dava o processo de transmissão catequética. O catequista ou ou educador da fé procura adaptar sua linguagem às necessidades dos ouvintes de modo que, os mesmos ao ouvirem o ensinamento compreendam e tornam-se testemunhas do conteúdo apreendido. No pequeno texto acima citado, trancrevo o modo familiar com que Cirilo de Jerusalém introduz sua catequese. Ele fala aos iniciantes com uma linguagem amável, vai expondo o conteúdo de forma muito clara e objetiva. Vai conduzindo seus catequizandos ao processo da maturação na fé gratativamente. Penso, ser este um dos objetivos, desta 3a Semana Brasileira de Catequese, que busca recolher os frutos da caminhada catequética destes últimos anos, sobretudo a partir do estudo, publicação e operacionalização do Diretório Nacional de Catequese e do ardor fervoroso do Ano Catequético Nacional, nos propõe trilhar o caminho da catequese de Iniciação a Vida Cristã.
A Iniciação à Vida Cristã é um dos temas que vem sendo retomado gradativamente na caminhada da Igreja como tarefa central e como cumprimento do mandato missionário deixado por Jesus Cristo “ide pois fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 19-20). Na verdade, o mandato missionário é envio e missão, é chamado de vocação cristã. Podemos dizer que nele está o fundamento da Iniciação à vida Cristã, como o agir missionário, como resposta ao dinamismo do Espírito, que impulsiona a Criação, e nos convida a acolher a Revelação, enviando-nos a anunciar a Boa Nova em todo o mundo.
É esta a nossa missão conforme conclama a V Conferência: “Impõe-se a tarefa irrenunciável de oferecer uma modalidade de iniciação cristã, que além de marcar o que, dê também elementos para o quem, o como e o onde se realiza. Dessa forma, assumiremos o desafio de uma nova evangelização, à qual temos sido reiteradamente convocados” (DA, 287). Segundo o evangelista Mateus, ao enviar os discípulos em missão Jesus garante sua presença fontal e edificante no dinamismo da missão (cf. Mt 1, 23; 18,20; 28, 20).
Um dos temas mais discutidos e trabalhados atualmente na Igreja é a Formação. E podemos dizer que acontece em todos os níveis, não parte somente das coordenações e lideranças, mas dos próprios catequistas. É comum em assembléias, reuniões e encontros que os participantes nas conclusões insistem em ter mais formação com cursos e encontros. A nossa Igreja com a iniciação cristã gera novos filhos e ao mesmo tempo vai se renovando internamente com o surgimento de outros membros que darão continuidade ao convite de Jesus: “ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa- Nova a toda a criatura!... Então, os discípulos foram anunciar a Boa Nova por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra pelos sinais que a acompanhavam” (Mc 16, 15.20). Desde o início as comunidades cristãs pelo anúncio entusiasmado e fervoroso da Palavra de Deus foram contagiando novos membros e ganhando de Deus a confirmação na missão “louvavam a Deus e era estimado por todo o povo. E, a cada dia, o Senhor acrescentava a seu número mais pessoas que eram salvas” (At 2, 47). A comunidade eclesial à luz do mandato missionário de Jesus Cristo, procura estar sempre aberta à acolhida de novos membros e confia aos catequistas à missão de introduzi-los no mistério da vida cristã.
É notório, nestes últimos anos a busca intensa da Igreja na procura de responder à necessidade e o anseio por um melhor e mais qualificado conhecimento para atuar de maneira eficaz na evangelização. A Igreja universal e as igrejas particulares produziram muito no desejo de indicar pistas e apontar caminhos para uma melhor ação educativa e evangelizadora. Isso não quer dizer que o conteúdo destes documentos foram sempre colocados em prática, mas podemos afirmar que houve um esforço de preparar melhor os seus agentes evangelizadores.
O documento catequese renovada é uma das provas evidentes destes esforços. Ele vem confirmar todo o empenho de priorizar a catequese e sua formação na Igreja do Brasil. Houve uma grande mobilização nacional para o estudo e operacionalização deste documento. Os participantes da 1ª SBC em outubro de 1986, expressam o desejo de priorizar a formação dos catequistas para garantir a continuidade do trabalho iniciado. Podemos dizer que o estudo da CNBB sobre a formação de catequistas é fruto de uma ampla reflexão a partir desta semana. Nesta mesma linha nasce o Diretório Nacional de Catequese, fruto de uma ampla reflexão e estudo com os catequistas, dedica o sétimo capitulo sobre o ministério da catequese e seus protagonistas. Este capítulo traz indicações importantes para a formação dos catequistas. Afirma que “o momento histórico em que vivemos, com seus valores e contra valores, desafios e mudanças, exige dos evangelizadores preparo, qualificação e atualização. Neste contexto, a formação catequética de homens e mulheres é prioridade absoluta” (DGC 234). Outro aspecto importante que aparece com força nos últimos anos, particularmente a partir do documento de Aparecida é a necessidade de que cada pessoa faça a experiência do encontro com Jesus Cristo, morto e ressuscitado para a nossa salvação. “Aqueles que serão seus discípulos já o buscam (cf. Jo 1,38), mas é o Senhor quem os chama: “Segue-me” (Mc 1,14; Mt 9,9). É necessário descobrir o sentido mais profundo da busca, assim como é necessário propiciar o encontro com Cristo que dá origem à iniciação cristã. Esse encontro deve renovar-se constantemente pelo testemunho pessoal, pelo anúncio do querigma e pela ação missionária da comunidade. O querigma entendido não somente como uma etapa, mas como o fio condutor de um processo que culmina na maturidade do discípulo de Jesus Cristo. Insiste-se na dimensão do discipulado, do seguimento, do aprendizado constante com o Mestre. Deseja-se realizar uma formação que ajude às pessoas a anunciar com a vida e comuniquem com eficácia a boa notícia do Evangelho favorecendo a implantação de uma nova mentalidade. Para a partir daí tornar-se missionário e evangelizador. A fé que nós recebemos necessita ser transmitida com o anúncio e o nosso testemunho concreto. Neste sentido, a V Conferência como um evento eclesial significativo para nossa Igreja, nos apontam um novo caminho a percorrer. Nos convida a acolher o dinamismo do Espírito que “renova todas as coisas” para poder passar pelo processo de conversão no nosso modo de pensar e fazer pastoral. A conversão no seu sentido mais profundo do termo é necessária. É preciso convergir para a meta que é o Reino de Deus, sermos capazes de acolher esta graça edificante. “A conversão pessoal desperta a capacidade de submeter tudo ao serviço da instauração do Reino da vida. Os bispos, presbíteros, diáconos permanentes, consagrados e consagradas, leigos e leigas, são chamados a assumir atitude de permanente conversão pastoral, que implica escutar com atenção e discernir “o que o Espírito está dizendo às Igrejas” (Ap 2,29) através dos sinais dos tempos em que Deus se manifesta. Se não ocorrer uma mudança real na ação pastoral serão inúteis nossos esforços de uma renovação catequética e conseqüentemente na formação de catequistas. Há que considerar que ainda temos na maioria, das estruturas organizacionais das Dioceses, Prelazias e Paróquias, uma catequese voltada somente à preparação remota para os sacramentos sem levar o catequizando ao processo iniciático. Tais estruturas são desafiadas a desenvolverem novas metodologias que possam responder ao clamor dos catequizandos sobretudo, dos adultos que ainda procuram a Igreja, em busca dos sacramentos para os filhos, dos adultos afastados que, embora tenham recebido os sacramentos de iniciação, caíram no indiferentismo religioso e não participam.
Percebe-se todo um clamor emergente por uma nova forma de catequizar. Daí a necessidade de voltarmos a uma catequese de inspiração catecumenal ou uma catequese mistagógica, isto é, uma catequese que introduza o catequizando para dentro do mistério.
1.1. Mistagogia no processo pedagógico da fé
“Tu compreendes o que estás lendo?” O eunuco respondeu: “Como poderia, se Ninguém me orienta?” Então convidou Filipe a subir e a sentar-se junto dele. E o eunuco disse a Filipe: “Peço que me expliques de quem o profeta está dizendo isso. Ele fala de si mesmo ou se refere a algum outro?” Então Filipe começou a falar e, partindo dessa passagem da Escritura, anunciou-lhe Jesus” (At 8, 30-31. 34.35).
Felipe a exemplo de Jesus no texto de Lucas dos discípulos de Emáus, explica as escrituras de modo que o Eunuco fica fascinado e pede para ser introduzido no mistério. A catequese de Felipe partindo da páscoa de Jesus, sua morte e ressurreição faz pedagogicamente o Eunuco entender e acolher o querigma. A catequese mistagógica tem a função de anunciar com fevor o querigma. Anunciar Jesus Cristo vivo é uma tarefa que o batismo nos impõe. Descobrir os “novos areópagos” hoje constitui-se, num grande desafio para a catequese. É necessário voltar a anunciar a Cristo em nossos ambientes. Sem dúvida, trata-se de uma urgência pastoral: ou anunciamos Jesus Cristo novamente ou o mundo já não será mais cristão. Contudo “ser cristão é ser Igreja; ser cristão é ter sido e continuar a ser transformado pessoalmente, a dimensão eclesial é mediação para a realização pessoal. Na Igreja e através dela, Deus opera, em cada membro da Igreja, a salvação” O anúncio é a comunicação da mensagem evangélica, o mistério de salvação realizado por Deus para todos em Jesus Cristo, com o poder do Espírito Santo. (...) Conduz naturalmente a uma catequese sólida.” (cf. DA 10). Revisitar hoje às fontes sobre a Iniciação à vida cristã é dedicar –se a um dos temas mais desafiadores da nossa ação evangelizadora. Como levar as pessoas a um contato vivo e pessoal com Jesus Cristo, como fazê-los mergulhar nas riquezas do Evangelho, como iniciá-los verdadeira e eficazmente na vida da comunidade cristã e fazê-los participar da vida divina, cuja expressão maior são os sacramentos da iniciação? Como realizar uma iniciação de tal modo que os fiéis perseverem na comunidade cristã? A catequese mistagógica tem a função de anunciar com fevor o querigma.
O termo mistagogia vem entrelaçado com o termo iniciação cristã. Os Padres Gregos utilizaram os termos: mistério, mistagogia e mistagogo para se referir a Iniciação Cristã. A mistagogia é vista como processo que conduz ao mistério que, na iniciação cristã, é o próprio “Cristo em virtude do qual o corpo todo é provido e bem unido, com articulações e ligamentos, e cresce como Deus o faz crescer em nós, esperança da glória” (Cl 2, 19). A mistagogia tem, por outro lado, um componente social, pois supõe que alguém ou um grupo conduza o neófito para o mistério O termo Mysterion aparecem também nas Sagradas Escrituras. Este termo entra no mundo bíblico através da tradução dos LXX. Encontramos em dois livros muito importantes, a palavra Mysterion com o significado religioso da Tradição judaica, são eles a saber: Sabedoria e Daniel: “Eles não conhecem os segredos de Deus, não esperam recompensa para a vida santa e não dão valor à honra da salmas puras” (Sb 22, 2). Aparece também no Capitulo 6 onde diz: “Vou, porém, dizer-vos o que é a sabedoria e como se tenha originado sem esconder os mistérios de Deus... (Sb 6, 22) e seis vezes no Livro de Daniel: “para que pedissem ao Senhor do céu a graça de desvendarem esse segredo ... ( Dn 2, 18) Em 2, 19: “o mistério foi, então, revelado numa visão noturna”. Em 2, 27-29.47: “... os adivinhos não são capazes de decifrar o enigma proposto pelo rei. Lá do alto, porém e, existe o Deus do céu que revela os mistério”. “Aquele que revela os segredos contou-te o que deve acontecer” e no versículo 47: “o vosso Deus é de fato o Deus dos deuses! ... É ele quem revela os mistérios, pois só ele revela foi capaz de deslindar essa questão”. Na verdade, a expressão mysterion refere-se ao desígnio histórico-salvífico-escatológico de Deus, dado a conhecer aos justos e aqueles a quem Deus quis se manifestar. Já no Novo Testamento, o termo mysterion aparece por 27 vezes: Há três ocorrências nos sinóticos (Mc 4,11; Mt 13, 11; Lc 8,10) e o restante nos escritos paulinos. São Paulo utiliza por 20 vezes em seus escritos para indicar "O desígnio divino oculto em Deus desde todos os séculos " (Ef 3,9; Cl 1,26) e o Mistério revelado em "Jesus Cristo" (Cl 1,27; cf 2Tm 1,9-10; Tt 2,11). A mesma ideia do “mistério revelado em Cristo”se repete nas Cartas aos Efésios e aos Colossenses. E no livro do Apocalipse de São João a palavra mysterion aparece por 4 vezes (cf 1,20; 10,7; 17,5.7).
Do termo mistério resultam as expressões mystagogeó, inicio no mistério, mystagógos, o iniciador, e mystagógia, ação de conduzir ao mistério ou a ação pelo qual o mistério nos conduz. Em termo cristãos, a mistagogia indica o último período do Catecumenado antigo, uma semana após a Páscoa onde os neófitos eram introduzidos nas catequeses chamadas mistagógicas. São famosas as catequeses de Santo Ambrósio, São Cirilo de Jerusalém, e São João Crisóstomo. A palavra mistagogia também aparece nos cultos pagãos – conhecidos como cultos mistéricos -, contudo, não podem ser concebidos como análogos à mistagogia dos Padres do III e IV séculos. De fato, na época dos Padres da Igreja, de fato, a formação à vida cristã se dava pelo processo de mistagógico mediante uma catequese bíblica, centrada na narração de História da salvação; a preparação imediata ao Batismo, por meio de uma catequese doutrinal, que explicava o Símbolo e o Pai Nosso, recém entregues, com suas implicações morais; e a etapa que sucedia os sacramentos de iniciação, mediante a catequese mistagógica, que ajudava a interiorizar tais sacramentos e a incorporar-se na comunidade. Esta concepção patrística continua a ser uma fonte de luz para o Catecumenato atual e para a própria catequese de iniciação à vida cristã (cf. DGC, 89).
Na verdade, a mistagogia foi conhecida na tradição como a explicação teológica do fato sacramental ou dos ritos que compõem a celebração litúrgica, contudo é muito mais do que um gênero literário. Daí a necessidade de perceber que no início do cristianismo, para tornar-se cristão era necessário um longo caminho de preparação com diferentes etapas (cf. apresentação do pe. Lima). Este itinerário comportava alguns elementos essenciais: “o anuncio da Palavra de Deus, a acolhida do evangelho que provoca uma conversão, a profissão de fé, a efusão do Espírito Santo e o acesso à comunhão eucarística”. Na verdade, a Igreja nascente, seguindo a trajetória da evangelização apostólica, dedicava grande cuidado à iniciação à fé cristã e seguimento de Jesus. A atividade que se iniciou com a pregação missionária passou por um processo de organização e de estruturação e veio a se tornar uma instituição eclesial, denominada catecumenato. O processo pedagógico da fé dar-se-a nos diversos campos da evangelização e sobretudo na catequese enquanto caminho da maturação da fé. Este itinerário há que conduzir o interlocutor a experiência da fé em Jesus Cristo. Por isso, o catequista é um mistagogo e pedagogo. Isto é, tem a missão dupla: transmitir o ensinamento e conduzir o catequizando no mistério da fé. Neste processo interativo o despertar para o discipulado se processam numa interação permanente onde os evangelizadores, catequistas e catequizandos são “crescentes e aprendentes” a vida inteira e cada membro da Igreja se sente interpelado pelo Senhor que se manifesta de muitos modos, impulsionando sempre a caminhar com ele na construção do seu Reino. A catequese numa perpspectiva mistagógica considera que o anúncio feito pelo mistagogo, o pregador, na verdade, levanta questões que o iniciante traz emseu íntimo: tal mistagogia encontra seu ponto de partida na convicção cristã de que, antes de toda e qualquer pregação, Deus, pelo oferecimento de sua coparticipação no Espírito Santo, já é a pergunta e a resposta ao mesmo tempo no ser humano, mesmo que tal resposta permaneça não pronunciada” Uma pedagogia adequada faz-se necessário, como afirma o Diretório Geral para a Catequese: “inspirando-se continuamente na pedagogia da fé, o catequista configura o seu serviço como qualificado caminho educativo, ou seja, de um lado ajuda a pessoa a se abrir à dimensão religiosa da vida, e, por outro lado, propõe o Evangelho a essa mesma pessoa, de tal maneira que ele penetre e transforme os processos de inteligência, de consciência, de liberdade e de ação, de modo a fazer da existência um dom de si a exemplo de Jesus Cristo” (DGC 147).
2. A situação atual da formação dos catequistas
“Feliz o homem a quem educas, Senhor, e que instruis pela tua lei” (Sl 94, 12)
Ao pensar a formação dos catequistas e dos agendes da evangelização para uma catequese de iniciação à vida cristã, faz-se necessário recordar que o caminho de formação do cristão no início do cristianismo se dava pelo caráter experiencial, na qual era determinante o encontro vital com Jesus Cristo, anunciado com autenticidade pelas testemunhas “ Vós sois as testemunhas destas coisas” (Lc 24, 48). O caráter testemunhal era a marca edificante do processo formativo que introduziam o formando progressivamente no mistério.
O Diretório Nacional de Catequese noz diz que “o fruto da evangelização e catequese é o fazer discípulos” (cf. DNC, 34). Nesta mesma linha de reflexão, a V Conferência acentua a necessidade de formar discípulos missionários de Jesus Cristo. São Paulo na carta aos Romanos advertia os cristãos sobre a tarefa incisiva da evangelização: “Ora, como evocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele que não ouviram? E como ouvirão, se ninguém o proclamar? E como proclamarão, se não houver enviados? Assim está escrito: Quão bem-vindos o pés dos que anunciam a boa nova!”(Rm 10, 14-15).
Partindo do contexto de nossas dioceses prelazias, paróquias e conunidades há que nos indagar: Quais são as maiores necessidades dos nossos catequistas? Quais os desafios que uma sociedade em profundas mudanças nos aponta? Constatamos que existem em nosso país uma grande quantidade de cursos para a formação de catequistas e formadores, mesmo assim persiste uma grande necessidade formativa. Em nossas assembléias o que geralmente mais se pede é formação dos agentes em todos os níveis. Mas, o que está faltando? Penso que não é suficiente aumentar os conhecimentos para saber anunciar, mas sim a forma com que ensinamos e recebemos o conteúdo aprendido. Daí a importância de dar um salto de qualidade em nossa formação. Faz-se necessário uma mudança de ótica. Passar do conteúdo meramente técnico científico para um conteúdo mistagógico. “As indicações pedagógicas adequadas à catequese são aquelas que permitem comunicar a totalidade da Palavra de Deus no coração da existência das pessoas” (DGC 146). Recordar que somos responsáveis pelo processo de transmissão da tradição de nossa fé: “ a Palavra está perto de ti, em tua boca e em teu coração. Essa palavra é a palavra da fé que pregamos” (Rm 10, 8). Anunciamos Jesus Cristo e não a nós mesmo: “De fato, não é a nós mesmos que pregamos, mas a Jesus Cristo, o Senhor. Quanto a nós, apresentamo-nos como servos vossos, por causa de Jesus” (2 Cor 4, 5).
Constata-se também que muitos dos nossos formadores não estão em condições de acompanhar os catequistas. Nossa atenção hoje deve ser voltar também com a formação permanente e continuada dos educadores ou orientadores destes diversos cursos espalhados pelo nosos imenso país. Que tipo de acompanhamento eles recebem? Os conteúdos estão articulados por uma mística do seguimento a Jesus Cristo. Qual a medodologia usada? Chegou o momento de buscar novos caminhos, novos percursos formativos para aqueles que se preparam em acompanhar os catequizandos e catequistas. Chegou o momento de voltarmos às fontes e iniciarmos uma catequese de iniciação à vida cristã de inspiração catecumenal. Os Bispos reunidos em Aparecida nos alertam que “apesar da boa vontade, a formação teológica e pedagógica dos catequistas não costuma ser a desejável. Os materiais e subsídios são com freqüência muito variados e não se integram em uma pastoral de conjunto; e nem sempre são portadores de métodos pedagógicos atualizados. Os serviços catequéticos das paróquias freqüentemente carecem de colaboração próxima das famílias. Os párocos e demais responsáveis não assumem com maior empenho a função que lhes corresponde como primeiros catequistas”. É urgente tomarmos consciência que o modelo atual que utilizamos não ajuda aos homens e mulheres à adesão a Jesus Cristo nem mesmo ao amadurecimento. Nem os ajuda a perseverar no caminho escolhido. Precisamos repensar a figura do catequista dentro de uma comunidade que inicia os catequizandos à vida de fé.
Buscar um caminho mistagógico é necessário, pois a mistagogia é uma dinâmica, que convida e impele a vida de cada pessoa que aceita o convite de Deus para essa experiência fundamental, a assumir sua vocação primeira, a vocação cristã. Por isso mesmo, não consiste senão em viver plenamente o Mistério Pascal na própria existência cotidiana; morrer e ressuscitar diariamente com Cristo para oferecer assim ao Pai o sacrifício agradável aos seus olhos. É nesse dinamismo que a mistagogia, enquanto princípio e caminho, se torna sabedoria fontal da Igreja e em cada um dos fiéis.
É necessário aprender com o Mestre Jesus. Como discípulos missionários, estamos na escola de Jesus Cristo. Isso significa aprender com ele e segui-lo a partir de sua exemplaridade, tendo-o como modelo: “Aprendei de mim” (Mt 11,29). Implica, também, aprender de seus gestos e ensinamentos. No relato dos Discípulos de Emaús, ele se aproxima, se interessa, dialoga, tendo como referência as Sagradas Escrituras. E quando ele “explica as Escrituras” faz arder o coração (cf. Lc 24,32). Especial aprendizado é a do discípulo que passa para a sua vida o agir do Mestre e aprende com seu agir na sinergia da fonte desta ação, o Espírito. “Jesus entrou e pôs-se no meio deles. Disse: A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou eu vos envio. Então soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo” (Jo 20-22). E ainda: “Ide, pois, e fazei discípulos todas as nações... Eis que estou convosco, todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28, 19-20). A ação catequética evangelizadora “deve ser resposta consciente e eficaz para atender as exigências do mundo de hoje com indicações programáticas concretas, objetivos e métodos de trabalho, formação e valorização dos agentes e a procura dos meios necessários que permitam que o anúncio de Cristo cheguem às pessoas, modelem as comunidades e incidam profundamente na sociedade e na cultura mediante o testemunho dos valores evangélicos” (DA 371).
3. Uma proposta formativa
“Um grande meio para introduzir o Povo de Deus no mistério de Cristo é a catequese” (DAp. 274)
Para a Iniciação Cristã que hoje tanto desejamos, há que investir na formação dos catequistas. A formação do catequista se realiza no contexto eclesial, pois o catequista é, antes de mais nada, membro da Igreja, testemunha da fé e enviado por ela para anunciar a mensagem evangelizadora. Este contexto nos desafia e exige uma revisão profunda da maneira de educar na fé e, por isso mesmo, da formação do catequista. É imperativo elaborar uma educação na fé que forje uma identidade cristã sólida, com uma consciência lúcida de ser discípulos e missionários de Jesus Cristo na comunidade.
É necessário perceber com alegria que os desafios não nos amedronta, não nos faz recuar, mas nos encoraja para juntos buscar novos caminhos (estratégias) para a formação dos catequistas e também dos formadores. Para estes caminhos é preciso considerar:
a) A comunidade cristã como educadora e formadora. Ela educa-forma com a sua vida
Tomamos consciência que a iniciação é expressão de uma comunidade de fé que educa a partir do seu testemunho, da sua vida. Portanto a iniciação à vida cristã não é uma das tantas atividades existentes na Igreja, mas a atividade eclesial que gera novos membros à fé. Nossa igreja a partir dos anos 80 insistiu muito na importância da comunidade catequizadora. Insiste em afirmar que “não se vive a fé apenas individualmente, mas em comunidade; a fé do cristão cresce na medida em que ele caminha com a comunidade na busca e cumprimento da vontade de Deus. Isto exige uma atitude de constante conversão e por isso ela é a primeira opção de toda a comunidade eclesial. A catequese existe em função dessa conversão e permanente crescimento de fé”. A experiência da leitura, estudo, meditação e celebração a partir da Palavra de Deus é o fundamento (núcleo central) de toda a comunidade cristã. A experiência das celebrações nas suas diferentes modalidades como ponto de chegada para um caminho catequético e de partida para a catequese mistagogica que introduz ao mistério de Jesus Cristo. Acentuamos também a importância da acolhida, vida fraterna e comunhão entre os seus membros e busca constante da transformação da sociedade.
b) A colaboração da família. Ela é a primeira educadora da fé de seus filhos
O contexto atual exige de todos nós, um trabalho mais articulada onde se procura unir forças num grande mutirão evangelizador superando assim a departamentalização (gavetas). É Indispensavel procurar o envolvimento das famílias, de alguns de seus membros ou de pessoas ligadas a elas. A iniciação à vida de fé na família acontece naturalmente a partir das relações de afeto, acolhida, gratuidade, nos momentos de alegria e dor e no testemunho de fé de seus membros. Seria importante resgatar também a possibilidade dos pais de narrar aos filhos a sua fé, as historias bíblicas e os fatos da vida que nos ensinam muito. Neste novo itinerário seria importante dedicar mais tempo às famílias oferecendo oportunidade de encontros para ajudar a crescer nas relações de amizade e de solidariedade. Seria bom não levar receitas prontas, mas ouvir as dúvidas das pessoas, partindo sempre da realidade concreta. Isso exige catequistas competentes para exercer este ministério. “Para que a família seja “escola de fé” e possa ajudar os pais a serem os primeiros catequistas de seus filhos, a pastoral familiar deve oferecer espaços de formação, materiais catequéticos, momentos celebrativos, que lhes permitam cumprir sua missão educativa. A família é chamada a introduzir os filhos no caminho da iniciação cristã”. A riqueza do ano litúrgico será de grande importância nesse itinerário iniciático. O ano litúrgico propõe um itinerário de redescoberta e de conversão para chegar à plena maturidade em Cristo Jesus. “Encontramos Jesus Cristo, de modo admirável, na Sagrada Liturgia. Ao vivê-la, celebrando o mistério pascal, os discípulos de Cristo penetram mais nos mistérios do Reino e expressam de modo sacramental sua vocação de discípulos e missionários”.
4. Uma nova figura de catequista para a iniciação à vida Cristã
“Portanto, já não sois estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e moradores da casa de Deus; edificados sobre o alicerce dos apóstolos e dos profetas, tendo como pedra angular o próprio Cristo Jesus. Nele, a construção toda, bem travada, vai crescendo e formando um templo santo no Senhor. Nele, vós também sois juntamente edificados para serdes morada de Deus, no Espírito” (Ef 2, 19-22).
A realidade atual exige de nós, educadores na fé, a darmos novos passos. Se necessário, mudamos também de direção. É nesta perspectiva de uma catequese missionária que escolhemos a inspiração catecumenal como paradigma de iniciação à vida cristã. O novo catequista procurará desenvolver um projeto de formação permanente e global suscitando a conversão e o crescimento na fé. Itinerário sistemático e orgânico com a finalidade de educar à maturidade na fé e a transmissão da mensagem cristã. Esta mensagem deverá ser gradual focalizando sempre no essencial, a pessoa e os ensinamentos de Jesus Cristo, favorecendo a dinâmica do encontro e do discipulado. É importante acentuar também a capacidade do catequista em transmitir aos outros suas experiências de vida cristã.
a) Catequista mistagogo
Partindo do princípio de que o mistagogo é aquele que tem a tarefa de conduzir o iniciado ao mistério de Cristo, o novo catequista além de pedagogo há que ser mistagogo. Pois o mistagogo é aquele que tem na mistagogia o eixo referencial de todo o seu agir. A presença do mistagogo é um elemento essencial para a catequese de iniciação á vida cristã. Ele numa ação dialógica vai conduzindo o catequizando á mistagogia. A ação mediadora entre o mistério e o iniciante é que orienta o processo mistagógico. A relação entre o mistagogo e o iniciante é fundamental para que a mistagogia se realize. Jesus é o mistagogo por excelência, ele é a referência para o catequista. Em Jesus Cristo, encontramos três características centrais que marcam a vida do catequista mistagogo. São elas: a presença do Deus revelado entre nós, em Jesus Cristo; a pedagogia com a qual conduz e acompanha o iniciante; e a experiência mística. Em Jesus, a experiência mistagógica pode ser percebida em todas as suas dimensões. O mistério de Deus se revela à humanidade, se faz um conosco, entra na história e, a partir de dentro, de seu núcleo, a conduz a seu sentido pleno. Nele, toda a humanidade é convidada à abertura existencial que conduz cada um e todos à salvação. É o mistério pascal que tem seu centro vital em Jesus Cristo.
Ao contemplarmos Jesus de Nazaré, o Cristo de nossa fé encontramos de forma muito integrada as dimensões: Identidade como o Projeto do Pai. Nele se realiza o projeto de Deus; querigma. Ele é o anúncio querigmático de todo o processo de Iniciação na fé cristã. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Através de suas atitudes e ensinamentos, é o mestre e educador por excelência. A mistagogia de Jesus é marcada pela proximidade, pelo encontro pessoal, pela escuta atenta da realidade pessoal e conhecimento profundo do contexto em que a pessoa está inserida. O catequistas como pedagogo percebe que a mistagogia é caminho que pede um acompanhamento pessoal. Esta relação necessita ser construída como relação de confiança, de paciência e discernimento pedagógico a fim de orientar os passos do iniciante. Ela não é uma tarefa a ser cumprida, não é uma apresentação teórica ou objetiva da doutrina cristã, mas sim uma experiência pessoal e comunitária.
b) Identidade do educador na fé
O catequista da iniciação à vida cristã é alguém que se sentiu chamado por Deus e fez a experiência do encontro com Jesus Cristo e se tornou discípulo e discípula. É uma pessoa que testemunha sua fé na comunidade cristã e se deixa guiar pelo Espírito Santo. Assim diz Aparecida: “a iniciação cristã dá a possibilidade de uma aprendizagem gradual no conhecimento, no amor e no seguimento de Cristo. Ela forja a identidade cristã com as convicções fundamentais e acompanha a busca do sentido da vida” (DA 291).
Esta identidade vai se formando no grupo de catequistas que assumem o ministério especifico da iniciação na comunidade cristã.
O catequista da iniciação cristã valoriza as experiências (contribuições) dos diferentes agentes de pastorais e grupos no percurso iniciático.
O educador na fé tem consciência que recebeu este ministério (mandato eclesial) da Igreja, comunidade. Por isso a iniciação cristã é sempre obra da Igreja.
Todos estes aspectos que falamos anteriormente vão pouco a pouco qualificando os catequistas da iniciação à vida cristã como: testemunhas exemplares de fé com disponibilidade total para a missão catequética exprimindo com a vida a Palavra de Deus que anuncia; amigo dos catequizandos, capazes de acolher sem discriminação e escutar seus problemas e alegrias, colocando-se sempre a serviço do crescimento humano e cristão; educador que introduz os catequizandos ao mistério cristão; construtor de comunhão capaz de promover relações entre catequizandos, pais, padrinhos e favorecendo o sentido de pertença à comunidade eclesial.
c) A mística do catequista para a iniciação à vida cristã
O catequista é constantemente motivado a viver como discípulo de Jesus Cristo. Os catequizandos e também toda a comunidade cristã exigem dele testemunho de vida e espiritualidade. Ele é constantemente solicitado a esclarecer questões, tomar posições, planejar atividades, ler os sinais dos tempos e trabalhar sempre em defesa da vida. Por isso ele será sempre uma pessoa consciente de sua missão; é capaz de acolher os questionamentos recebidos; tem consciência de ser membro da comunidade eclesial; capacidade de superar os interesses pessoais para pensar no crescimento humano e espiritual do grupo e comunidade. “A verdadeira formação alimenta a espiritualidade do próprio catequista, de maneira que sua ação nasça do testemunho de sua própria vida”. Favorecer o crescimento espiritual do catequista é um desafio constante. Por isso, o grande esforço em habilitá-lo para exercer com esmero este grande ministério.
d) Qualidades para a catequese de iniciação à vida cristã
É necessário o acompanhamento na formação do catequista para a catequese iniciática. Não queremos mais pensar uma formação como simples repasse de conceitos, alguém que repete o que ouviu nos cursos e congressos. Mas nosso horizonte maior será formar catequistas competentes, capazes de responder aos inúmeros desafios da nossa realidade atual. Capacitar o catequista para ser uma pessoa de relações com alegria e otimismo. Constatamos que muitos encontram dificuldades na transmissão da mensagem cristã e também de contar experiências. Por isso será importante realizar encontros onde: se escuta as experiências de vida dos catequistas, trabalhar a relação dos catequistas com a comunidade, com a família e com o grupo; ajudá-los a viver relações adultas que os ajude no amadurecimento humano e cristão e realizar a passagem gradativa de uma formação pedagógica finalizada somente à aprendizagem para uma pedagogia que leva em conta o sujeito em permanente aprendizado.
O catequista é um anunciador da Palavra de Deus. Será capaz de narrar com competência as obras do Deus Salvador nas Escrituras, das ações de Jesus Cristo nos evangelhos e na nossa historia de vida pessoal e da comunidade iluminados pelo Espírito Santo. É importante acentuar a centralidade do mistério pascal em nossa narração. Por isso o catequista adquire gradativamente a capacidade de comunicação e narração procurando conhecer as diferentes linguagens da comunicação. Formar para perceber e ler os sinais dos tempos. Criar a sensibilidade para perceber Deus atuando em nossa historia de vida pessoal e também da comunidade de fé. O catequista para a iniciação à vida cristã terá a missão de tornar compreensíveis os fatos concretos da vida (interação). É importante também: estar aberto ao novo, não olhar o mundo (realidade) como ruim e negativo, saber aceitar os limites de cada um e procurar conhecer melhor a linguagem dos símbolos.
e) Catequista, introdutor e motivador da vivência comunitária
O educador na fé contribuirá para a redescoberta do papel da comunidade cristã no processo de iniciação à vida cristã. Pois o caminho da iniciação pede uma preparação especifica dos agentes de pastorais e presbíteros para esta missão importante com uma preparação prolongada na formação de catequistas e catequizandos.
As dimensões da acolhida, gratuidade e serviço da comunidade cristã é fundamental para podermos repensar hoje a figura do catequista para a iniciação cristã. Devemos cuidar para não pensar somente o catequista como alguém com competência nas diferentes áreas, mas alguém que foi introduzido no mistério cristão, fez a experiência do encontro com o ressuscitado e que hoje, como discípulo, se coloca a serviço do Reino com uma grande abertura para se deixar guiar e iluminar pelo Espírito Santo com a missão de educar as futuras gerações à maturidade na fé. f) Propostas para a formação dos catequistas
Insistimos afirmando que a catequese na Igreja deve ser de fato uma prioridade e por isso desejamos cuidar bem da formação dos educadores na fé nos diferentes níveis (catequistas de base, coordenadores de catequese e assessores/coordenadores regionais). Como afirma o Diretório Geral para a Catequese, “todas estas tarefas nascem da convicção de que qualquer atividade pastoral que não conte, para a sua realização, com pessoas realmente formadas e preparadas, coloca em risco a sua qualidade. Os instrumentos de trabalho não podem ser verdadeiramente eficazes se não forem utilizados por catequistas bem formados. Portanto, a adequada formação dos catequistas não pode ser descuidada em favor da atualização dos textos e de uma melhor organização da catequese” (DGC, 234).
Queremos passar de uma catequese fragmentada para uma catequese orgânica; de uma catequese expositiva a uma catequese motivacional; de uma catequese unidirecional a uma catequese relacional.
Por isso propomos:
- Escutar atentamente os interlocutores. Alguém dizia que não devemos dar respostas a perguntas que não foram feitas. Por isso na formação do catequista para a iniciação à vida cristã deveríamos ouvir seus anseios, esclarecer as suas maiores dúvidas, não apresentar uma programação fechada, mas dar espaço para trabalhar outros temas sugeridos pelos catequistas;
- Oficinas formativas, laboratório ou seminários. É o lugar onde se aprende a fazer fazendo, superando os tradicionais cursos de formação. O laboratório ou as oficinas serão, portanto qualificadas como o lugar do encontro entre o saber e o saber fazer. Por isso, o formador dos catequistas levará em conta algumas dimensões importantes: teológica, pedagógica, comunicativa e didática.
- Trabalho em equipe. A equipe formativa é um grupo de pessoas que refletem e trabalham em favor da formação inicial e permanente e tem como missão principal projetar e depois levar adiante os projetos formativos. Entre seus membros existem algumas competências indispensáveis: Bíblica, teológica, litúrgica, catequética, metodológica, comunicativa e relacional. Quem anima o grupo na formação dos catequistas deve estar atento em “perceber as riquezas, bem como os limites pessoais de cada educador da fé e sua capacidade de trabalhar em equipe”. Características importantes para os formadores dos catequistas da iniciação cristã:
· capacidade de ler as mudanças ocorridas na sociedade e saber atuar com otimismo e dinamismo evangélico;
· liberdade para orientar suas vidas e poder fazer escolhas importantes;
· abertura para fazer um caminho de fé respeitando os tempos com paciência e serenidade;
· capacidade de transmitir valores e experiência de vida;
· abertura constante ao aprendizado, capacidade de ser pai e filho, catequista e catequizando;
· saber narrar, contar histórias bíblicas, da comunidade e a própria historia de vida;
· instaurar constantemente um diálogo com o grupo e com a comunidade;
· saber utilizar uma pluralidade de linguagens;
· capacitar para o dialogo com outros cristãos e também com outras religiões e culturas;
· valorizar a gratuidade nas relações com o outro. 5. Conclusão
“Levanta marcos para ti, coloca indicadores de caminho, presta atenção ao percurso, no caminho por onde caminhaste”(Jr 31,21)
No processo da Iniciação a vida cristã, constata-se que um dos aspectos importantes da ação catequética/evangelizadora é deixar “marcos” no processo da caminhada feita que indicam o testemunho, a alegria e o encantamento da missão.
O ano catequético nacional com o tema: catequese, caminho para o discipulado, nos estimulou a fazer a experiência do encontro com o Senhor e buscarmos juntos novos itinerários formativos. Nosso desejo foi tentar sempre mais operacionalizar o grande documento da Igreja no Brasil trabalhado em mutirão: Diretório Nacional de catequese. Esta terceira semana nos motiva a voltar às fontes, a enfrentar com coragem e seriedade os problemas atuais da evangelização e a formar melhor nossos educadores e educadoras na fé. Eles merecem todo o nosso carinho e respeito. São mais de quinhentos mil homens e mulheres que se dedicam com amor, generosidade, desapego e doação na missão bíblico-catequética.
Há que considerar que para uma nova disposição de fé, de esperança e de caridade dos católicos, a Iniciação Cristã que hoje a Igreja deseja recuperar tem como fundamento e ponto de partida uma instância oficial, com recursos humanos e materiais específicos: é o querigma, o anúncio alegre, direto e incisivo do Cristo vivo (cf. At 2,22-24; 5,29-32).
Um dos grandes desafios na catequese hoje é de ser testemunha como parte fundamental na dinâmica de comunicação da verdade de fé. O testemunho é percebido através da adesão pessoal ao Evangelho, que se reflete nas atitudes, na postura existencial, na experiência de fé que se faz palpável, realidade. É de fundamental importância perceber que o mistério pascal de Cristo se torne realidade na experiência pessoal e transborde nas experiências relacionais e sociais.
A catequese de inspiração catecumenal, segue esse processo interativo. A pessoa a ser evangelizada, em especial o jovem e o adulto, necessita de alguém que caminhe com ele, que se aproxime para conhecê-lo, dar-se a conhecer, escutar e orientar na experiência comunitária de fé (cf. At 18, 24-28). A comunidade precisa estar a caminho, ouvindo, estudando, criando novas opções, avaliando e planejando de modo participativo (DA 289, 299 e DNC 251). A própria vida da comunidade é catequizadora. Fornece experiências novas, alimenta a fé, aprofunda a intimidade com Deus na oração, na liturgia, nos trabalhos pastorais, no desenvolvimento da consciência social.
O chamado à missão é decorrente do nosso batismo e implica uma resposta livre, um ato de confiança em Deus. Neste sentido, a ação evangelizadora, catequética e pastoral da Igreja ajuda os batizados a descobrirem a beleza do seguimento de Jesus Cristo como uma proposta de vida coerente com o Evangelho. O compromisso com Jesus Cristo entusiasma outras pessoas para a pertença à vida comunitária, para os sacramentos, o testemunho de vida, o acolhimento, a solidariedade e a compaixão.
A 3a Semana Brasileira de Catequese quer nos ajudar a perceber a essência do proceso iniciático da fé, acentuar a centralidade da Palavra de Deus em nossa catequese, e, sobretudo, na missão da Igreja, apontar caminhos que nos ajudem a acolher, com coragem e criatividade, a Palavra e transmitir com uma pedagogia da comunicação apropriada aos novos tempos. Dai o convite à prática da Leitura Orante da Bíblia como itinerário que conduz ao encontro com Jesus Mestre, ao conhecimento do mistério de Jesus Messias, à comunhão com Jesus Filho de Deus e ao testemunho de Jesus, Senhor do universo (cf. DA 249).
Pe. Jânison de Sá Santos, presbítero da Diocese de Própria (SE), é Mestre em Teologia, com especialização em Catequética pela Universidade Pontifícia Salesiana (UPS) de Roma, ex-assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB (2003-2007), membro da Sociedade dos Catequetas Latino Americanos (SCALA) e, atualmente está fazendo o doutorado em Teologia, com especialização em Catequética, na UPS, em Roma. janison.sa@gmail.com
CNBB, Catequese Renovada. Orientações e conteúdo, documentos da CNBB 26, São Paulo, Paulinas, 1983. Entre as conclusões da 1ª SBC encontra-se a decisão de assumir a formação de catequistas em ambiente que favoreça, ao máximo, o espírito comunitário, o clima de escuta, de diálogo e de amizade, que leve à comunhão e participação. Cf. CNBB, Primeira Semana Brasileira de Catequese, estudos da CNBB 55, São Paulo, Paulinas, 1987.
CNBB, Diretório Nacional de Catequese, documentos da CNBB 84, São Paulo, Paulinas, 2006.
Mysterion vem da língua grega do verbo mue,w [myein] que significa: cerrar os lábios, fechar a boca, manter segredo, iniciar ao mistério. Ser iniciado, é vislumbrar com o segredo do mistério. Os termos mustagwge,w (mystagôgéô) e mustagwgia (mystagôgía) possuem sua origem nos rituais pagãos, indicavam o culto aos mistérios pagãos com uma prévia iniciação. Aparecem sempre relacionados a contextos sagrados e em estreita conexão com mysterion, mystikos e mystes. Ao usarem esta terminologia, os Padres da Igreja reconhecem o quanto são significativos e expressivos para designarem o processo da Iniciação Cristã e, passam a utilizá-los de acordo com os fundamentos teológicos do Cristianismo. Cf. FEDERICI, T. La mistagogia della Chiesa., p. 181 e MAZZA, E. La Mistagogia. Una Teologia della Liturgia in epoca patristica. Roma: Edizioni Liturgiche, 1988, p. 13. Ibidem. COSTA, Rosemary Fernandes da. A mistagogia e a iniciação cristã de adultos p. 119.
Versão grega do Antigo Testamento, chamada Septuaginta ou Versão dos Setenta, que data do séc. III a.C.
Cf. CASPANI, P. La pertinenza historica della nozione di iniziazione cristiana. Milano: Edicion Glossa, 1999, pp. 122-123. Para LOPES, J; e FIORES, S. G. T. (org). Os primeiros educadores da fé e testemunhos sobre a instituição do catecumenato encontram-se no século II. Contudo, se estrutura no século III, com a herança do processo de evangelização recebido pela missão apostólica e também pela missão do próprio Jesus. In Dicionário de Espiritualidade. São Paulo: Paulus, 1998, p. 100.
Os primeiros educadores da fé e testemunhos sobre a instituição do catecumenato encontram-se no século II. Todavia, a estruturação no século III, com a patrimônio herdado do processo evangelizador recebido pela missão apostólica e também pela missão do próprio Jesus. Cf. Cf. LOPES, J. Catecumenato. In: FIORES, S. G. T. (org.) Dicionário de Espiritualidade. São Paulo: Paulus, 1998, p. 100; PEDROSA, V. op. cit., p. 144; Cf. BOLLIN, A. e GASPARINI, F. A catequese na vida da Igreja. São Paulo: Paulinas, 1998, p 42. A palavra Pedagogia tem origem na Grécia antiga paidós (criança) e agogé (condução).
“Sentimos a urgência de desenvolver em nossas comunidades um processo de iniciação na vida cristã que comece pelo querigma e que, guiado pela Palavra de Deus, conduza a um encontro pessoal, cada vez maior, com Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito homem, experimentado como plenitude da humanidade e que leve à conversão, ao seguimento em uma comunidade eclesial e a um amadurecimento de fé na prática dos sacramentos, do serviço e da missão” (DA 289).
“A família cristã é a primeira e mais básica comunidade eclesial. Nela se vivem e se transmitem os valores fundamentais da vida cristã. Ela se chama “Igreja Doméstica”. Aí, os pais desempenham o papel de primeiros transmissores da fé a seus filhos, ensinando-lhes através do exemplo e da palavra, a serem verdadeiros discípulos missionários. Ao mesmo tempo, quando essa experiência de discipulado missionário é autêntica, “uma família se faz evangelizadora de muitas outras famílias e do ambiente em que ela vive”. Isso age na vida diária “dentro e através dos atos, das dificuldades, dos acontecimentos da existência de cada dia”. O Espírito, que faz tudo novo, atua inclusive dentro de situações irregulares, nas quais se realiza um processo de transmissão da fé, mas temos de reconhecer que, nas atuais circunstâncias, às vezes esse processo se encontra com muitas dificuldades. Não se propõe que a Paróquia chegue só a sujeitos afastados, mas à vida de todas as famílias, para fortalecer nelas a dimensão missionária” (DA 204).
Cf. Costa, Rosemary Fernandes da. A mistagogia e a iniciação cristã de adultos: o resgate da experiência mistagógica de Cirilo de Jerusalém como referencial para o Catecumenato com adultos hoje, p 309. Tese Doutorado em Teologia – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. Na Igreja do segundo século encontramos a compreensão de Jesus como pedagogo, com Clemente de Alexandria, o dirigente da escola catequética daquela cidade. Em sua obra Paedagogus Clemente dialoga com a cultura grega sobre sua concepção de educação, como Paidéia. Nesse diálogo, apresenta Cristo como ‘o pedagogo’ da humanidade, no sentido filosófico que Platão dava à palavra paidagogia, quando definia a relação de Deus com o mundo desse modo: Deus é o pedagogo do mundo inteiro, ho theos paidadogei ton kosmon. O conceito de pedagogo foi inicialmente voltado para os escravos que acompanhavam os jovens à escola e, desta, para casa. Esta concepção, vigente na Grécia por muitos séculos, aponta para uma atividade que inclui autoridade e responsabilidade na orientação prática e filosófica que prepara para a sabedoria de viver. A transformação do significado e categoria da palavra paidagogia foi a conseqüência necessária da dignidade filosófica e teológica a que Platão elevara o conceito de paidéia. Para Platão, a paidéia significa não apenas a educação da criança, mas sobretudo a formação e o desenvolvimento da pessoa humana em plenitude. Esta dignidade teológica inspirada no pensamento de Platão possibilitou a Clemente introduzir Cristo como o Paedagogus de todos os homens. Encontramos nesta obra, indicadores de que a reflexão teológica que vê em Jesus as características de mestre e educador já se encontrava na ação evangelizadora, o que poderia ter levado Clemente a identificar em Jesus as características do pedagogo grego. No entanto, Clemente não coloca Jesus como um dentre os pedagogos da filosofia grega, mas como ‘o pedagogo’, o educador por excelência, modelo e referência para a escola catequética. Cf. JAEGER, W. Cristianismo primitivo e paideia grega. Trad. Teresa Louro Pérez, Lisboa: Edições 70, 1961, p. 84-89; WITTSCHIER, S. Antropología y teología para una educación Cristiana responsable. Santander: Sal Terrae, 1979, p. 56. In Cf. Costa, Rosemary Fernandes da. A mistagogia e a iniciação cristã de adultos, p 309.
É importante estar atento a todas as dimensões na formação dos catequistas. “A Dimensão Espiritual é a dimensão formativa que funda o ser cristão na experiência de Deus manifestado em Jesus e que o conduz pelo Espírito através dos caminhos de profundo amadurecimento. Por meio dos diversos carismas, a pessoa se fundamenta no caminho da vida e do serviço proposto por Cristo, com estilo pessoal. Assim como a Virgem Maria, essa dimensão permite ao cristão aderir de coração e pela fé aos caminhos alegres, luminosos, dolorosos e gloriosos de seu Mestre e Senhor (DA 280).
Ministério é um termo muito amplo. Em âmbito eclesial, pode significar desde a missão de Jesus, passando pela missão da Igreja, até os vários serviços que os cristãos e as cristãs prestam, na Igreja e no mundo, em vista do Reino, para que “todos tenham vida e vida e vida em abundância” (Jo 10,10). Ministério é serviço reconhecido na Igreja. A Igreja reconhece o ministério porque se vê nele, porque se sabe representada nele e por ele, pois ele a encarna, a presencializa, a visibiliza. Daí as várias formas de reconhecimento, que são também formas de conferimento e ‘classificação’: ministérios reconhecidos, confiados, instituídos, ordenados. In CNBB, Ministério do catequista, estudos da CNBB 95, pgs. 12-13. São Paulo, Paulus, 2007. “Não resistiria aos embates do tempo uma fé católica reduzida a uma bagagem, a um elenco de algumas normas e de proibições, a práticas de devoção fragmentadas, a adesões seletivas e parciais das verdades da fé, a uma participação ocasional em alguns sacramentos, à repetição de princípios doutrinais, a moralismos brandos ou crispados que não convertem a vida dos batizados” (DA 12). Encontramos Jesus na Sagrada Escritura, lida na Igreja. A Sagrada Escritura, Palavra de Deus escrita por inspiração do Espírito Santo é, com a Tradição, fonte de vida para a Igreja e alma de sua ação evangelizadora. Desconhecer a Escritura é desconhecer Jesus Cristo e renunciar a anunciá-lo. Daí o convite de Bento XVI: “Ao iniciar a nova etapa que a Igreja missionária da América Latina e do Caribe se dispõe a empreender, a partir desta V Conferência em Aparecida, é condição indispensável o conhecimento profundo e vivencial da Palavra de Deus, Por isso, é necessário educar o povo na leitura e na meditação da Palavra: que ela se converta em seu alimento para que, por experiência própria, vejam que as palavras de Jesus são espírito e vida (cf. Jo 6,63). Do contrário, como vão anunciar uma mensagem cujo conteúdo e espírito não conhecem profundamente? É preciso fundamentar nosso compromisso missionário e toda a nossa vida na rocha da Palavra de Deus” (DA 247). “Ser discípulo é dom destinado a crescer. A iniciação cristã dá a possibilidade de uma aprendizagem gradual no conhecimento, no amor e no seguimento de Cristo. Dessa forma, ela forja a identidade cristã com as convicções fundamentais e acompanha a busca do sentido da vida. É necessário assumir a dinâmica catequética da iniciação cristã. Uma comunidade que assume a iniciação cristã renova sua vida comunitária e desperta seu caráter missionário. Isso requer novas atitudes pastorais por parte dos bispos, presbíteros, diáconos, pessoas consagradas e agentes de pastoral” (DA 291).