SEG, 29 DE AGOSTO DE 2011 14:23POR: CNBB
Dom
Pedro José Conti
Bispo
de Macapá - AP
No tempo em que
os hotéis ainda não eram avaliados pelo número de estrelas como sinal de
qualidade, um homem tinha dado o nome de “Cinco Estrelas” ao seu
estabelecimento. O lugar era bonito, o serviço impecável e os preços
concorrenciais, no entanto o nosso amigo não conseguia clientes suficientes.
Algo não funcionava. Já estava à beira da falência e do desespero quando um
colega brincalhão o aconselhou, simplesmente, a mudar o nome do hotel. As
cinco estrelas ficariam pintadas na fachada, chamando a atenção das pessoas,
mas o nome passaria a ser “Hotel Quatro Estrelas”. O dono achou tudo isso perda
de tempo, mas seguiu à risca a sugestão. Dito e feito. As pessoas que passavam
contavam as cinco estrelas pintadas, mas, vendo o nome, percebiam o erro.
Assim, bem educadas, entravam para perguntar se o dono – ou o pintor - sabia
contar direito. Nesta brincadeira conheciam o ambiente, eram bem acolhidas,
apreciavam a comida e, muitas delas, acabavam ficando hospedadas. O dono,
evidentemente, esmerava-se em agradecer a todos os que o ajudavam a corrigir o
erro.
Nem sempre as coisas
e as correções funcionam tão bem. É muito fácil apontar os defeitos dos outros,
muito mais difícil é aceitar a correção, sobretudo quando somos nós que devemos
reconhecer o quanto estamos errados. Mais difícil ainda é agradecer quem nos
corrige e considerá-lo como um irmão e verdadeiro amigo. Sem a vontade de
sermos melhores, toda correção pode ser interpretada como intromissão na vida
dos outros. É por isso que bem poucas vezes conseguimos exercer a virtude
cristã da correção fraterna.
No entanto Jesus,
no evangelho deste domingo, ensina-nos os passos necessários para vivermos em
comunidade a verdadeira correção. As condições são claras. A primeira é que
entre as pessoas tenham laços de fraternidade. Somente se confio no irmão e
acredito que ele esteja me corrigindo para o meu bem, e não com outras
finalidades, consigo aceitar a correção. Outra virtude indispensável de ambos
os lados é a humildade. Quem corrige não pode ser arrogante usando palavras de
condenação. Isso porque quem corrige sabe ser tão pecador como aquele que está
sendo corrigido. Nada de superioridade, somente atenção e paciência. Também
quem recebe a correção precisa de humildade. Talvez tenha alguma explicação ou
desculpa por ter cometido o erro, porém a vontade de melhorar e a bondade do
coração fazem com que acolha com simplicidade a correção. “Se ele te ouvir, tu
ganhaste o teu irmão” diz ainda Jesus.
A correção
verdadeiramente fraterna e humilde nos faz crescer na fraternidade e na
amizade. Deveríamos ser gratos a quem nos ensina a sermos melhores. O contrário
disso são as críticas ferozes, as fofocas debochadas e todas as formas, mais ou
menos sutis, de zombar do outro. Nesse caso, criaremos inimizade, ódio e
ressentimentos. Ganharemos um inimigo e não um amigo.
Nesta altura,
entra em jogo também a comunidade, mas só depois de exaurir as tentativas
pessoais. Como a dizer que não devemos tornar público o possível erro do nosso
irmão, sem antes ter esclarecido a sós com ele as razões do pecado ou da
ofensa. Isso porque o que nos parece tão errado, pode não sê-lo tanto assim e,
quem sabe, quem deva emendar-se e pedir perdão sejamos nós. O diálogo pessoal e
o entendimento fraterno devem ser sempre o primeiro passo. Espalhar os erros do
outro, acusá-lo na frente da comunidade sem a clareza da situação pode ser uma
grave injustiça, pior do que o próprio erro do irmão.
Poderíamos
continuar muito sobre o assunto. Nas nossas comunidades, no nosso ambiente de
trabalho, muitas vezes achamos impossível a correção fraterna ou chegamos a
ficar contentes com os erros dos outros nos iludindo de sermos melhores. Não
poderíamos – ou deveríamos - tê-los avisado antes? Pior ainda quando a correção
fraterna não funciona mais nem nas nossas famílias entre esposo e esposa, entre
pais e filhos. O que deveria ser um exercício de virtude e de humildade fere
tanto o nosso orgulho que achamos insuportável quem tenta nos corrigir.
Somos e criamos cobras venenosas.
Fazemos tantos
pedidos interesseiros ao Senhor. Por que não pedirmos, todos juntos, a Ele o
dom da correção fraterna tendo como objetivo o nosso crescimento humano e
espiritual? Ele vai nos atender porque sempre está no meio dos irmãos reunidos
no seu nome.
Fique claro,
portanto, que a correção fraterna é para ganhar irmãos e não clientes como no
hotel do nosso amigo. Aquele foi apenas um truque.