O Assunto:
“Com adultos, catequese adulta”, tema da Segunda Semana Brasileira de
Catequese, chamou a atenção sobre a realidade do adulto como interlocutor e
destinatário privilegiado da educação na fé.
Estão
na memória de todos as palavras do Papa João Paulo II, quando aponta a
catequese oferecida aos adultos como “a principal forma de catequese” porque se
dirige a pessoas que “tem as maiores responsabilidades e a capacidade para
viverem a mensagem cristã na sua forma plenamente desenvolvida”.
A
igreja conta de modo especial, com os fiéis adultos, como fermento do Evangelho
em todos os segmentos da sociedade, sobretudo naqueles que criam e cultivam a
opinião pública e naqueles que tomam decisões que afetam a vida das pessoas e
influenciam convicções pessoais e da sociedade. É seu dever dialogar também com
outros adultos que, mesmo não aderindo à nossa fé, tem mostrado competência e
empenho no trabalho em favor da ética, numa busca sincera de um sentido mais
profundo para a existência.
Há uma
fome tão grande do sagrado que até expõe as pessoas a charlatanismos diversos vale
tudo: tarô, leitura de mão, cristais, simpatias, retalhos de religiões
orientais...
Há,
sem dúvida, uma abertura em relação ao judaísmo, através do diálogo judeu–cristão.
Nesse terreno, a catequese tem muito a fazer e precisa estar atenta para
apresentar de modo positivo o povo de Jesus, preparando o terreno, derrubando
preconceitos, acolhendo com respeito o povo da Primeira Aliança. Muitos de
nossos textos, pregações e atitudes precisam ser revistas para que possamos
progredir no diálogo e na valorização da fé e da história do povo judeu.
No contexto social, apesar de todas as injustiças que ainda
fazem sofrer o povo, há um desejo comum de relações mais democráticas, que dêem
espaço a mais participação e possibilitem a cada um ser sujeito de suas ações e
de seu crescimento e da construção da sociedade. As pessoas querem Ter vez e
voz.
Considerando esta característica, nos diz um especialista em
catequese de adultos: “O adulto quer ser informado de modo sério sobre a
situação real das questões; não admite que lhe sejam ocultadas as questões em
aberto; deseja poder intervir e também expressar sua opinião, de acordo com sua
competência e seus conhecimentos. Se é verdade que não se pode confundir a catequese
com a reflexão teológica, também o é que, no caso dos adultos, não se devem
ignorar as justas necessidades de racionalidade e de críticas próprias de um
amadurecimento adulto na fé. Não se respeita o caráter adulto da catequese conservando
nela uma orientação infantilizante de transmissão indiscutível e autoritária,
como tantas vezes aconteceu no passado”.
É preciso que todos os agentes pastorais, responsáveis pela
educação da fé dos adultos em nossas comunidades, movimentos, paróquias,
dioceses e regionais, ajudem nossa Igreja a desencadear uma ampla reflexão
sobre a prioridade da Catequese com Adultos. Diz, acertadamente, o documento
Catequese Renovada, em um parágrafo que vai nos acompanhar constantemente em
função da 2ª SBC: É na direção dos adultos que a Evangelização e a catequese
devem orientar seus melhores agentes. São os adultos que assumem mais
diretamente, na sociedade e na igreja, as instâncias decisórias e mais
favorecem ou dificultam a vida comunitária, a justiça e a fraternidade. Urge
que os adultos façam uma opção mais decisiva e coerente pelo Senhor e pela sua
causa, ultrapassando a fé individualista, intimista e desencarnada. Os adultos,
num processo de aprofundamento e vivência da fé em comunidade, criarão, sem dúvida,
fundamentais condições para a educação da fé das crianças jovens, na família,
na escola, nos Meios de Comunicação e na própria comunidade eclesial”.
Importantes na educação da fé dos adultos do povo da Bíblia
eram as orações e recitações de relatos históricos. Assim se recordava a ação
de Deus na história e se proclamava de novo uma fé na qual se iam construindo
novos laços emocionais e históricos. Dois textos são particularmente
ilustrativos, no que diz respeito a esse processo. Um é o Shemá Israel (escuta,
Israel!), núcleo básico da fé da Aliança, repetido diariamente em oração: “Ouve
Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor! Amarás o Senhor Teu Deus de todo
coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças...” E o texto prossegue
lembrando a necessidade de ter presentes sempre os mandamentos do senhor que,
ainda hoje, judeus observantes atam às mãos e à fronte, colocam na porta e
ensinam aos filhos, como orienta a Escritura (Cf Dt 6,4-9). “O outro texto é o
chamado “credo histórico” do povo de Deus” Meu pai era um arameu errante... Ele
desceu do Egito, onde viveu como migrante, Lá os egípcios nos maltrataram
reduziram à pobreza e nos impuseram dura escravidão. Então clamamos ao Senhor,
o Deus de nossos pais, e ele nos ouviu. Viu quão pobres éramos, infelizes e
oprimidos. O Senhor nos fez sair do Egito e nos fez chegar a este lugar,
deu-nos esta terra, terra da qual manam leite e mel “(Dt 26,5ss)”. Aí se vê um
processo de catequese que mantinha os adultos emocionalmente ligados à história
das origens da revelação, sentindo-se comprometidos com a Aliança, envolvidos
na história. Não se fala em “eles”, mas em “nós”.
As advertências e consolações dos profetas são parte da
formação dos adultos. A leitura de certas passagens pelo que afirmam, exige até
um equilíbrio, um amadurecimento que nem sempre todo adulto tem, muito menos
jovens e crianças. Hoje, com todo o conforto entre fé e ciência, com a
liberdade de pensamento típica dos tempos modernos, a Bíblia precisa, mais do
que nunca, ser lida a partir de uma hermenêutica atualizada, que exige um
interesse, conhecimento e uma aplicação que se podem pedir com mais propriedade
a quem já tem bastante experiência de vida e estudo bíblico.
Por outro lado, a Bíblia nos mostra as questões de fé com
uma metodologia que tem muito a dizer ao homem e á mulher de hoje, tão ciosos
da sua liberdade de pensar, da sua autenticidade, da sua subjetividade. Livros
como Jó, Jonas e Eclesiastes mostram
que era possível discordar da teoria vigente, questionar, propor novos desafios
a partir da provocação dos fatos sérios, que querem entender melhor a vida e o
seu relacionamento com Deus. Acharemos nas escrituras também problemas comuns
do cotidiano e uma grande e transparente honestidade ao expor as fraquezas
humanas, mesmo na vida de grandes figuras da fé.
O novo testamento nos mostra a formação dos adultos nas
comunidades. Eram os adultos que se convertiam e levavam a família inteira para
a nova fé. As cartas de Paulo e as demais epístolas eram destinadas aos adultos
da comunidade. Eles é que tinham que se posicionar diante dos conflitos
internos e externos.
Jesus abençoava as crianças, mas chamava e instruía os
adultos. O importante é suscitar nas pessoas o compromisso com a justiça do
reino, a vontade de Deus. Adultos conquistados pelo Evangelho enxergam bem o
irmão, não são paralíticos na luta pela justiça, não permitem que pessoas
fiquem excluídas, resgatam a dignidade de quem foi vencido por qualquer força
desumanizadora.
Jesus confiando no poder de atração, não impunha uma
doutrina, deixava que aqueles adultos avistassem e decidissem se queriam ou não
participar. Eles vão, vêem e descobrem por si mesmos. A catequese com adultos
precisa ser capaz de oferecer uma comunidade aonde o “venham ver” provoque uma
reação positiva. O adulto não vai se decidir só pela beleza da doutrina e,
menos ainda, por afirmações autoritárias. Ele precisa vir e ver como é que se
vive o evangelho. À medida que “vem e vê” aprofunda seu conhecimento das coisas
de Deus permanece não só com Jesus, mas “nele”.
Jo 9,1-41. Jesus cura um cego. O cego é o modelo de quem
passa a enxergar de outro modo a vida depois de ter encontrado com Jesus e
mergulhado nas águas do Batismo. O novo convertido tem que se explicar perante
gente que não o incomodava quando ele era cego. Os fariseus chamam os pais do
cego. “Mas o filho é adulto!”. Os adultos, ontem como hoje, têm o direito e o
dever de se explicar por si. Não são meros repetidores de nossas instruções.
São sujeitos do seu próprio processo de conversão, iniciação e formação
permanente. Uma igreja adulta dá voz aos adultos e presta atenção no que eles
livremente dizem.
Quem chega até a Eucaristia precisa Ter caminhado antes com
Jesus e ser capaz de reconhecer de fato a sua proposta redentora.
Na Bíblia, aliás, há espaço para diversas maneiras de
expressar a religiosidade. É o que se vê, por exemplo, na carta de Judas, cheia de alusões a crenças populares.
Diz o papa Paulo VI, na Evangelii Nuntiandi: “O mundo de
hoje precisa mais de testemunhas do que de mestres e, se aceita os mestres, é
porque também são testemunhas”. Catequizar adultos é dar testemunho de um modo
de viver capaz de restaurar as esperanças e fornecer um projeto empolgante de
fraternidade.
A igreja sustenta o testemunho de fé do catequista. É nela
que catequistas e catequizandos vão alimentar sua fé. Temos que cuidar muito bem da qualidade de
nossas comunidades de fé, para evitar a chamada “crise de chegada”, que
acontece quando a pessoa é seduzida pelo Projeto do reino e depois não se sente
à vontade na comunidade concreta em que deve alimentar cada vez mais a sua fé.
Daí a importância de a Catequese com
Adultos delinear o horizonte eclesiológico para o qual caminha.
A igreja das primeiras comunidades soube ler os sinais dos
tempos e vencer desafios. A igreja de hoje não terá que copiá-las (as
circunstancias são outras), mas deve se inspirar na mesma fidelidade ao
Espírito e na mesma coragem de se abrir ao novo.
O Concílio Vaticano II nos propôs, entre outras uma
eclesiologia do povo de Deus, sujeito da comunhão, e da caminhada da igreja.
Isso vem ao encontro das expectativas dos adultos de hoje: eles querem fazer a Igreja e não simplesmente recebê-la, querem ser membros ativos, com vez e voz, e não passivos na
comunidade de fé.
Para o Vaticano II, a Igreja é antes de tudo uma comunidade
de pessoas convocadas pela Trindade. Ela é um “povo reunido na unidade do Pai e
do Filho e do Espírito Santo”. Por isso é mais conveniente e desafiante a
pergunta: que imagens de Igreja estão na base de nossa ação evangelizadora e
pastoral? Na catequese com adultos, que rostos da Igreja queremos ressaltar?
Uma Igreja
ministerial para
se conformar cada vez mais ao desejo de Jesus, ao estilo da Igreja primitiva e
aos anseios de participação das pessoas de hoje. A catequese tem uma
contribuição importante a dar. Formando leigos adultos mais preparados para a
missão que lhes cabe. Queremos valorizar o sacerdócio comum e os sacramentos do
Batismo e da Crisma, que habilitam os cristãos leigos e leigos para o exercício
de diversas formas de ministérios. Uma Igreja toda ministerial é também uma
Igreja acolhedora, onde talentos e dons diferentes acham lugar e todos se
sentem mais úteis e valorizados.
Uma igreja
participativa, precisamos
fazer com que os nossos conselhos de pastoral em todos os níveis funcionem bem
e sejam de fato ouvidos. Além dos conselhos e daquelas pessoas que são
particularmente ativas na vida pastoral da comunidade, é importante saber ouvir
os que não participam tanto, os que se encontram em situação considerada
irregular e/ou os que desistiram de alguma atividade proposta pela comunidade
eclesial.
Uma Igreja
ecumênica, para
corresponder cada vez melhor ao testamento do mestre. Para isso é preciso
cultivar a mística da unidade, buscando vivenciar também um ecumenismo intracatólico, dos movimentos
entre si, entre movimentos e comunidades, entre movimentos e pastorais.
Temos pela frente um desafio interessante: precisamos apresentar e defender
nossa identidade e ao mesmo tempo reconhecer valores em outras Igrejas e
Religiões num diálogo mutuamente enriquecedor.
Uma Igreja missionária, para estar cada vez,
mais de acordo com o afeto e a prática do Bom Pastor. Temos que tratar muito
bem o público interno. Mas precisamos também nos abrir para os de fora. Ser
missionário, entre outras coisas, é saber lidar com discernimento, de forma
acolhedora e respeitosa, com o outro.
Uma boa catequese com adultos prepara pessoas para a ação do
mundo, capazes de dialogar com o diferente.
Uma igreja espiritual e “mística”, que se deixe orientar
pelo Espírito Santo. Que seja contemplativa, orante, discípula sempre atenta à
escuta da Palavra.
Uma igreja
solidária, para
ser cada vez mais fiel à proposta e a pratica de Jesus, que pregou o Reino e a
vida para todos.
É importante à igreja tomar consciência de que nossa força
está na fidelidade ao Evangelho, não no poder, à moda do mundo. Há gente que
procura a Igreja para a satisfação de necessidades imediatas. Busca – se o
milagre de Deus e não o Deus dos milagres, as graças, as soluções de Deus em
vez do compromisso com esse Deus. Muita gente anda querendo uma religião de
resultados! São pessoas aflitas que precisam ser acolhidas e respeitadas. É
preciso acolhê–las sem infantilizá–las.
É natural que, num projeto dessa envergadura, nossas falhas
humanas criem dificuldades. Mas Deus é maior; ele ampara a Igreja e nos ajuda a
ser, dentro dela, fermento transformador para efeito interno e externo.
Catequistas e catequizandos são chamados a ser Igreja do modo mais bonito e
evangélico.
A
Igreja ao colocar ênfase na formação cristã dos adultos, precisa estar bem
consciente das conseqüências desta opção, a partir do documento Catequese Renovada, passamos a polarizar
a atenção em torno dos adultos. Estamos consciência de que os principais
interlocutores da catequese não são as crianças, mas os adultos.
É preciso situar a catequese com adultos
dentro do contexto da missão fundamental e única da igreja: anunciar a Boa Nova
de Jesus Cristo.
A partir do Vaticano II, particularmente da Evangelii Nuntiandi, a Igreja vai
tomando consciência, cada vez mais, de sua missão fundamental, de sua mais
profunda identidade, daquilo que é sua graça e vocação própria. Ela “existe
para evangelizar”. No passado, o termo evangelização em geral designava a
atividade missionária para povos que ainda não conheciam Jesus Cristo. Hoje,
significa também “anunciar a boa nova” para povos ou comunidades de antiga
cristandade, que já tiveram um contato com o Evangelho, mas que praticamente
vivem longe da fé e da Igreja. Porém, evangelização possui também um
significado mais amplo: é tudo aquilo que a Igreja realiza em vista da
implantação e alimentação da fé dos cristãos no mundo à luz dos valores do
Reino de Deus.
A evangelização precisa ser um processo que “implique não
apenas o anuncio do Evangelho por palavras, mas também a vida e ação da
Igreja”.
A catequese não é uma atividade isolada na Igreja, Ela faz
parte essencial de sua missão de evangelizar. Conforme o Diretório Geral para a Catequese, o processo evangelizador, está
estruturado nestas três etapas, ou momentos essenciais:
a) Ação Missionária: proclama o primeiro anúncio de Jesus Cristo (querigma)
a povos ou pessoas que não o conhecem, ou que, tendo já conhecido, hoje vivem
afastados do Evangelho.
b) Ação Catequética: educa e aprofunda a fé dos que já aderiram a Jesus
Cristo e querem ingressar na comunidade, através de uma iniciação completa, ou
necessitam estruturar melhor sua conversão.
c) Ação Pastoral: para as pessoas que, tendo sido iniciadas suficientemente
na fé pela catequese, já são cristãos adultos, mas necessitam continuar
alimentando a própria fé, crescendo sempre mais até à “estatura de Jesus
Cristo” e transformando a fé em obras, em serviço aos irmãos e à comunidade.
Na pratica, nem sempre é possível identificar ou separar tão
bem esses três aspectos do processo evangelizador. Muitas pessoas, por exemplo,
se envolvem em alguma ação pastoral, mas ainda não são exatamente o que se
poderia chamar de adultas na fé. Nem sempre a motivação de fé é tão
determinante no compromisso pastoral. Acontece, porém, muitas vezes que a
partir dessa primeira aproximação essas pessoas descobrem um apelo de fé, uma
vocação e nasce daí um primeiro passo para buscar a Bíblia, a Catequese e,
assim, poderem se preparar melhor para participar, mais conscientemente, do
conjunto da vida da Igreja.
Esta tríplice divisão nos mostra que a catequese está bem
articulada com a ação missionária e a ação pastoral. A catequese é uma das três
grandes atividades no conjunto da ação eclesial, embora com características
próprias, elas são três ações profundamente relacionadas entre si e não deve se
pensar em criar barreiras entre elas. Também são etapas concluídas: reitera-se
se necessário, uma vez que darão alimento evangélico mais adequado ao
crescimento espiritual de cada pessoa ou da própria comunidade.
Toda catequese e pastoral devem estar impregnadas de um
ardor missionário, visando a uma adesão sempre mais plena a Jesus Cristo.
Toda e qualquer ação da Igreja deve incluir a retomada
sempre mais profunda e abrangente do seguimento de Jesus.
A catequese é o período em que se estrutura a conversão a
Jesus Cristo, a partir daquela adesão inicial. O documento Catequese Renovada descreve a catequese como um processo de
educação pessoal e comunitária da fé, dentro do dinamismo da evangelização, da
opção por Jesus Cristo, da conversão a ele.
A catequese está, pois, a serviço da iniciação cristã. Sua atividade específica é introduzir os catequizandos já batizados ou os catecúmenos que se
preparam para o batismo na vida da comunidade cristã, no estilo evangélico de
vida, nos mistérios da fé, no seguimento e na doutrina de Jesus, com suas
implicações na maneira de conviver e na necessidade de transformar o mundo.
A iniciação está ligada, aos denominados ritos de passagem, de entrada na vida
adulta, de mergulho na vida social e religiosa do grupo, da comunidade, do
povo. Neste sentido, a catequese, é o
processo de iniciação, preparação e compreensão vital e de acolhimento dos
grandes segredos (mistérios) da vida nova revelada em Jesus Cristo. Neste
itinerário ele vai experimentando a fé nos gestos salvíficos, nas palavras de
Jesus Cristo, vividos em comunicados pela Igreja através do testemunho de vida,
da palavra e dos Sacramentos, abrindo-se à esperança que não engana. É Obvio
que não se trata de tudo, o que é impossível, mas de um todo elementar e
coerente, como base sólida para a caminhada “rumo à maturidade em Cristo”. Esta
base está profundamente interligada e é composta das seguintes dimensões:
1. Experiência de Deus, (dimensão afetivo-interpretativa);
2. Participação na comunidade (dimensão
comunitário-participativa);
3. Celebração litúrgica e oração (dimensão
celebrativa);
4. Interação entre fé e vida e serviço
fraterno de acordo com os valores do Reino (dimensão sócio-transformadora e
inculturada);
5. A formação da fé (dimensão racional-
intelectual);
6. O diálogo com outras experiências
religiosas, e com o mundo, e o testemunho fraterno no convívio diário com o
pluralismo (dimensão ecumênica e de diálogo inter-religioso).
7. Relacionamento de cuidado com o cosmo
(dimensão ecológica ou cósmica).
Para cumprir sua tarefa de iniciação, educação, instrução e compromisso, é preciso que a
catequese tenha as seguintes características fundamentais:
1. Ser um aprendizado dinâmico da vida
cristã, uma iniciação integral que favoreça o seguimento de Jesus Cristo;
2. Fornecer uma formação de base,
essencial, centrada no que constitui o núcleo da experiência cristã (Páscoa de
Jesus);
3. Possibilitar a incorporação na
comunidade que vive, celebra e testemunha a fé, superando o conceito de
catequese como mero ensino, para assumir o de encontro;
4. Proporcionar formação orgânica e
sistemática da fé;
5. Experimentar o compromisso missionário
para o estabelecimento do Reino de Deus no coração das pessoas, em suas
relações interpessoais e na organização da sociedade.
Para a organização aos conteúdos desta catequese recorremos
à tradição da nossa Igreja:
1.
As
três etapas recebidas da tradição dos Santos Padres, (dimensão histórica
ou narrativa da fé): Antigo Testamento,
Vida de Jesus Cristo e História da Igreja;
2.
As
quatros colunas recebidas da tradição
dos catecismos (dimensão do conhecimento
da fé): Credo (fé professada),
Sacramentos (fé celebrada), Bem-aventuranças
e Mandamentos (fé vida + moral); Pai
Nosso (fé orada).
“As situações históricas e as aspirações autenticamente
humanas são parte indispensável do conteúdo da catequese”. (principio proposto
por Medellin)
O Diretório Geral
para Catequese propõe,
como modelo da catequese, o catecumenato
batismal. O catecumenato será
eficaz, sobretudo na catequese com
adulto, pois foi para eles que foi instituído.
A catequese, caracterizando-se como atividade iniciática à fé, abrange, como destinatários, todos os
fiéis de qualquer faixa de idade. Toda pessoa – adulto, jovem ou criança que
não seja suficientemente iniciada na fé,
deverá ser destinatária da catequese.
A terceira etapa ou momento do processo evangelizador da
Igreja é a ação pastoral. Isto porque
quem já foi iniciado e já é cristão adulto continua precisando alimentar a fé e
precisando tornar esta fé operativa na caridade. A meta é crescer cada vez
mais, até à medida da “estatura de Jesus Cristo” (cf. EF 4,13).
A catequese alem de estar intrinsecamente ligada à ação missionária, tem muito a ver também
com a ação pastoral, pois a precede.
Os cristãos, uma vez iniciados
suficientemente na fé pela catequese, são então confiados aos cuidados da ação pastoral.
O engajamento na vida da Igreja e na pastoral implica,
portanto, uma formação permanente ou
continuada. Não compete à catequese transmitir num espaço curto de tempo toda a
riqueza da vida, doutrina e tradição cristã. Ela é apenas a iniciação. O adulto
terá a vida inteira para aprofundar sua fé, descobrir e viver na comunidade “as
riquezas da gloriosa herança reservada aos santos” (Ef 2,18).
Para aqueles que já foram suficientemente iniciados na fé,
chamados também de cristãos maduros, a Igreja possui inúmeras iniciativas
pastorais, que recebem o nome de educação
ou formação permanente.
Jovens e adultos já catequizados precisam continuar o
aprofundamento da própria fé na comunidade cristã. Isto acontece quase
“naturalmente”, quando há uma intensa vida de comunidade: liturgias dominicais,
celebrações diversa, participação na vida da comunidade, romarias, retiros,
novenas etc. este aprofundamento é reforçado, também através de iniciativas,
tradicionalmente denominadas de formação
permanente, tais como palestras, cursos, grupos de vivência, leitura
espiritual, direção espiritual etc.
A formação cristã permanente supõe, além do primeiro
anúncio, a catequese de iniciação e nela se baseia. Para isso, entre tantas
outras modalidades de formação permanente,
podemos citar as seguintes:
1. Estudo aprofundado da sagrada Escritura
(círculos bíblicos, leitura orante da Bíblia ou lectio divina);
2. Visão cristã dos acontecimentos (sinais
dos tempos), estudo do Ensino Social da Igreja;
3. Catequese litúrgica (experiência e
compreensão dos sinais litúrgicos);
4. Catequese ocasional, determinada pelas
circunstancias da vida pessoal, familiar, social, eclesial;
5. Formação espiritual, através das varias
espiritualidade que favoreçam a perseverança na oração e no seguimento a
Cristo;
6. Aprofundamento sistemático da mensagem
cristã (escolas da fé, teologia para leigos etc.: é a “catequese de
aperfeiçoamento”);
7. Educação para o diálogo ecumênico e
inter-religioso.
8.
Todas essas atividades, tendo dimensão Catequética, precisam
ter em conta as orientações que a reflexão da Dimensão Bíblico Catequética vem produzindo.
A expressão catequese
com adultos deveria referir-se prioritariamente à atividade dirigida a
adultos ainda não batizados, e a adultos já batizados, que, porém necessitam de
uma introdução mais aprofundada nos mistérios do cristianismo, nas riquezas da
vida cristã. Também se destina a adultos que já receberam, sim, certa iniciação
e mesmo fizeram a primeira eucaristia ou foram crismados e casados na Igreja,
mas não passaram por uma verdadeira
iniciação e necessitam refazer sua caminhada de discípulos de Jesus Cristo.
Destina-se ainda a adultos que passam de alguma confissão cristã para
catolicismo, pois não estão iniciados no modo católico de viver a fé cristã.
Para cristãos já adultos na fé, com boa base de vida cristã,
seria melhor falar de formação permanente
ou continuada, e não tanto de catequese. Este termo deveria ser reservado
somente às atividades de iniciação:
assim, a catequese ficaria com um campo e uma missão bem delimitada. De fato,
quando tudo é catequese, nada é catequese.
Em Catequese Renovada se
usa freqüentemente a expressão “catequese permanente”. Também se reconhece que,
na prática, é difícil distinguir entre estas duas formas de educação da fé.
Concluindo: usar o conceito catequese com adultos para atividades de iniciação dos adultos não
batizados e os que, embora batizados, crismados ou casados na Igreja, ainda não
foram suficientemente introduzidos na
mensagem evangélica na fé cristã, na vida da Igreja. O conceito de formação permanente seria reservado,
então, às atividades de educação continuada na fé dos adultos e jovens
que já receberam suficiente
catequese. Sem prejuízo das distinções aqui discutidas, reconhecendo-se a dimensão Catequética presente nas
variadas ações da Igreja.
O que ainda permanece como desafio é pôr em prática o
itinerário do catecumenato, apontado
como forma e modelo de qualquer catequese, particularmente da catequese aos
adultos.
Para uma correta compreensão desta dimensão catecumenal da catequese, deveríamos redescobrir um
documento, e ao mesmo tempo livro
litúrgico, que ficou um tanto esquecido entre nós. Trata-se do Rito da Iniciação Cristã dos Adultos. Na
verdade, ele aponta para todo o processo
catecumenal de iniciação à fé, inspirado
no catecumenato da Igreja primitiva.
Algumas características básicas de uma catequese catecumenal poderiam ser assim enumeradas:
1.
Acompanhar
pessoalmente o catequizando em sua experiência de fé na comunidade cristã e em
sua conversão efetiva na vivência do evangelho;
2.
Organizar
passos pequenos e progressivos na iniciação aos mistérios da vida cristã;
3.
Vincular
o ensino, que visa sistematizar os conhecimentos, aos ritos, símbolos e sinais, especialmente bíblicos e litúrgicos e,
também, à vida comunitária, que
juntos visam à vivência da fé;
4.
Centralizar
a catequese no Mistério Pascal de Cristo
e nos sacramentos da iniciação;
5. Introduzir o catequizando na vida da
comunidade eclesial e nas possibilidades de engajamento em sua organização;
6. Realizar esforço de inculturação: a Igreja acolhe os
catecúmenos com seus vínculos culturais e integra na sua universalidade as
características de cada povo, enriquecendo assim a expressão de fé;
7. Fazer perceber sempre a vinculação da
vida cristã com o Projeto do Reino de Deus;
8. Valorizar comunidades de interesse (por
preferências culturais, universitários, profissionais da mesma área, grupos
étnicos e outros);
9. Não perder de vista o conjunto dos
esforços evangelizadores da Igreja, interagindo com outras pastorais,
movimentos, grupos de apostolado e associações (PF, CPT, CEBs, RCC, Vicentinos,
Legião de Maria, Apostolado da Oração etc.) num esforço permanente de realizar
uma pastoral orgânica, que dá o devido valor à dimensão bíblico-catequética em
tudo que promove.
No inicio da Igreja, a catequese se dirigia
preferencialmente aos adultos, no contexto do catecumenato. As primeiras
comunidades preparavam os cristãos à vivência comunitária através da escuta da
palavra de Deus, das celebrações e do testemunho de vida. Catequese e
comunidade eclesial eram um só jeito de ser.
A partir do século V, a catequese deixou de ser iniciação à
vida de comunidade de fé, foi a época da cristandade. A catequese se fazia por
um processo de imersão nessa cristandade.
Generalizando-se o batismo de crianças, pensava-se que os adultos não
precisavam mais de catequese catecumenal. E então a catequese para as crianças
tornou-se costumeira, endereçando-se posteriormente, sobretudo, à preparação
para a primeira eucaristia e para a crisma, o que perdura até hoje.
A partir do século XVI, com o Concílio de Trento (1545-1563),
a catequese infantil passou a ser organizada sistematicamente, com
característica profundamente doutrinal e cada vez mais no estilo escolar,
priorizando a dimensão intelectual.
Não sabendo conjugar a catequese recebida na infância com os
chamados de Deus na vida, muitos adultos católicos apresentam uma fé
individualista, intimista, infantil, ritualista, desencarnada. É comum
encontrar adultos preocupados em sua fé somente com interesses pessoais, bens
materiais e com a salvação pessoal. Cada fase da vida tem a maturidade
específica daquele limite de idade ou situação. Nesse sentido catequese de
crianças deve ser infantil (em relação à linguagem e aos interesses desta faixa
etária), mas não infantilizante (boba, de baixa qualidade teológica, com a
desculpa de que as crianças não compreendem outra coisa).
Na Segunda metade do século XX, particularmente após o
Vaticano II, houve e ainda continua o esforço de redirecionar as energias da
catequese para o mundo dos adultos.
O Papa João Paulo II, fazendo eco ao Sínodo de 1977 sobre a
catequese, consagrou a primazia da catequese
aos adultos, colocando-a como o mais importante problema da catequese hoje.
A Catechesi Tradendae diz que a catequese de adultos é a principal forma de
catequese. A catequese dos adultos deve assumir sempre uma importância
Prioritária.
É em favor dos adultos que a Evangelização e nela a
catequese devem empregar seus melhores recursos e agentes.
Boa parte da geração atual dos adultos católicos tomou contato
com o conteúdo da fé através do catecismo doutrinal de perguntas e respostas. A
maioria dos católicos, porém, ainda não participa da vida da Igreja, nem é
alcançada pela ação evangelizadora. Dois terços dos que se dizem católicos raramente
ou quase nunca se aproximam dos sacramentos; eles sentem pouca vinculação com a
Igreja católica e são atraídos por outras religiões por outras confissões cristãs
e mesmo por grupos sectários, esotéricos... .
A principal causa de tal situação é que "muitos católicos
não receberam claramente o primeiro anúncio de Jesus Cristo, nem passaram pelo
processo de crescimento e amadurecimento pessoal da fé, através de uma
verdadeira experiência catequética". Muitos se afastam porque não
encontram na Igreja uma catequese adequada às suas questões existenciais e à sua
necessidade de ser sujeito da própria educação da fé. Outros há que se afastam porque não encontram
na comunidade o alimento necessário para o exercício adulto da sua opção
cristã. E outros, não tendo suficiente maturidade na fé, se afastam por não aceitarem
o fato das limitações humanas da própria Igreja, principalmente de seus líderes
espirituais.
Outro fator importante e responsável pela atual situação
religiosa de muitos adultos é atribuído a uma característica cultural da modernidade:
o subjetivismo extremo que fecha a pessoa dentro de suas próprias percepções e
interesses. O subjetivismo aumenta o número dos que interpretam irresponsavelmente
a seu modo à tradição católica, sem consideração com o patrimônio da fé.
Os adultos do mundo moderno prezam a sua objetividade. Por
causa disso, exigem da Igreja argumentos que convençam, que valham por si, e
não apenas pela força da autoridade eclesiástica em que se apoiam.
O atual contexto de pluralismo, e até de confusão religiosa,
torna mais urgente à instrução clara sobre os fundamentos católicos do
ecumenismo e do diálogo inter-religioso.
Muitos estudos têm sido feitos, em âmbito psicopedagógico,
para descrever o adulto crente e seu crescimento humano-cristão. Aqui nos
limitamos a chamar a atenção para três
etapas mais importantes da idade adulta, resumindo suas mais marcantes
características.
O jovem adulto,
1. A
transição dos dezoito anos. È um tempo de passagem para a maioridade, durante o qual se
desponta a necessidade de se encontrar um ideal de vida. Este período fértil de
buscas, experiências, namoro, estudo, deve ser prioritário para algumas
pastorais.
2. O
período dos vinte anos (21-30).
Época de encontrar o equilíbrio afetivo entre a busca da intimidade
representada especialmente através da relação amorosa com uma pessoa escolhida
para compartilhar a vida e a tendência ao isolamento. Época privilegiada também
para a opção vocacional. O ideal começa a se realizar através do trabalho, do
amor e de compromissos sociais e religiosos.
3. A
transição dos trinta anos (31-40). É um período de indagações mais profundas sobre si
mesmos, rumo de vida, convicções, sentido do trabalho, da família, de
compromissos com a sociedade. Estabelecem-se novas metas e responsabilidades.
Cresce o interesse pelos filhos e por fazer algo que perdure. A presença da
Igreja é fundamental na solidificação do seguimento de Jesus, dos valores do
Evangelho, do sentido da vida e do engajamento social.
Maturidade,
É uma fase longa, que vai dos quarenta aos sessenta e cinco
anos, há um considerável aumento da consciência das responsabilidades. Há uma
tendência a um egocentrismo voltado para as próprias necessidades. Muitas vezes
ocorre nessa etapa um retorno às práticas religiosas. É uma etapa preciosa para
a formação permanente, o engajamento maduro na comunidade eclesial e o
compromisso social em nome do Evangelho.
A terceira idade,
Etapa nem sempre devidamente considerada, num país de
absoluta maioria jovem, a terceira-idade (dos sessenta e cinco anos em diante),
apesar da fragilização física, é carregada de muitas potencialidades. É
fundamental estarmos atentos ao risco de um empobrecimento afetivo agravado,
muitas vezes, pela perda de pessoas queridas e pela aposentadoria. Nesta idade,
a recordação do passado é bastante comum. Por isso, é importante criar um
processo que ajude as pessoas a aceitá-lo e reconciliar-se com ele para não
caírem na amargura. As pessoas de terceira-idade não só participam de bom
grado, mas encontram ai um sentido novo para seus dias.
Estas etapas podem ser vividas de forma diferente, conforme
o contexto social e pessoal de cada um. A catequese deve estar atenta às
necessidades, valores e expectativas das diferentes faixas etárias e sociais,
levar sempre em conta o sujeito e suas circunstâncias.
Todos os assim chamados destinatários
da catequese devem poder manifestar-se sujeitos ativos, conscientes e corresponsáveis,
e não puros receptores silenciosos e passivos, com muito mais razão se são
adultos. É uma catequese feita de partilha de saberes, experiências e
iniciativas, em que ambos os lados criam laços (catequistas e catequizandos),
buscam, ensinam, aprendem e vivem a vida cristã.
Um dos erros pedagógicos, na catequese com adultos, é
proceder com eles, utilizando a mesma pedagogia das primeiras idades. Embora a
expressão pedagogia de adultos etimologicamente seja uma contradição, pois
pedagogia significa ação de conduzir crianças, ao aplicá-la aos adultos
devemos, entretanto, entendê-la como um autentico processo educativo de
adultos. Isto supõe, antes de tudo, “que se leve seriamente em consideração as
experiências vividas e os condicionamentos e desafios que eles encontram na
vida”.
Outra séria exigência é que a catequese “atenda à condição leiga de adultos, aos quais o
batismo confere a possibilidade de procurar o reino de Deus e ao mesmo tempo os
chama à santidade”.
Uma catequese verdadeiramente adulta parte da própria
situação religiosa dos catequizandos, para um progressivo caminho de fé: sua
história pessoal de busca de Deus, suas experiências anteriores com a catequese
ou com o evangelho, sua visão de mundo, seu maior ou menor contato anterior com
a Igreja.
Uma catequese, portanto, que nunca tenha ponto de chegada,
mas que motive a continuar buscando sempre mais, aprofundando a experiência de
Deus, o compromisso com a comunidade e o engajamento evangélico na
transformação da sociedade. Toda catequese deve possibilitar a opção pessoal
por Jesus Cristo e colocar o catequizando no seguimento de Jesus, caminhando
“rumo à maturidade de Cristo” (cf., Ef 4,13).
O documento Catequese renovada já destacava, em 1983, a
importância da ação da comunidade catequizadora, que acolhe o catequizando e
precisa dar testemunho de violência dos valores do Reino. Se queremos cristãos
adultos, maduros, sujeitos construtores do seu próprio desenvolvimento, capazes
de agir e transformar a realidade na direção do projeto de Deus precisamos de
uma Igreja que favoreça tal tipo de amadurecimento.
Três verbos ou ações ajudam aqui a descrever o
trabalho do catequista:
1. Educar, isto é ajudar a pessoa a desenvolver,
por ela mesma, suas potencialidades, visando à autonomia responsável do sujeito
em relação à sua atuação, aos critérios que regem e estimulam sua vida pessoal,
suas relações e suas ações na Igreja e no mundo.
2. Ensinar,
também no sentido
catequético da “traditio”, isto é, do transmitir. Busca-se aqui também
autonomia, mas em relação ao saber, como conhecimento articulado e produtor de
sentido, pois quem não sabe é dependente, manipulável, com sentimento de
insegurança diante dos que sabem. Catequistas e catequizando devem sentir-se
como sócios corresponsáveis, na apreensão do saber adquirido. Ensinar não é
pensar pelo outro, mas um exercício de aquisição e, mesmo, construção do saber,
em parceria. Tudo o que o catequizando aprende deve ser reelaborado e
enriquecido com a reflexão pessoal.
3. Iniciar,
também com sentido
de “caminho experiencial” a percorrer, enriquecido com a noção catequética de
“mistagogia” (caminho que conduz ao mistério, ao encantamento por Deus). O
iniciador, portanto um já iniciado dá testemunho, aponta caminhos, estimula o
itinerário pessoal, diversificado, de cada um, faz o acompanhamento pessoal.
Em estreita relação com o educar, o ensinar e o iniciar
destacamos quatro fatores que devem estar bem articulados na catequese com
adultos:
1.
A palavra: a palavra engloba os elementos
didáticos e cognitivos, que permitem conhecer, compreender, saber e expressar o
que se sabe, o que se sente e o que se vive.
2.
Relação: tem a ver com o conviver e se expressa
através da dinâmica comunitária, da amizade, do desenvolvimento do sentido de
pertença, do amor oblativo. A dimensão comunitária e a vivência do amor
oblativo são constitutivos do processo catequético.
3.
A ação: vem do compromisso que leva a atividade
de promoção humana, testemunho, colaboração e participação na comunidade e na
sociedade. É parte integrante do processo, pois uma das melhores formas de
aprender é o aprender fazendo.
4.
A celebração, também no sentido de “tornar célebre”,
com forte carga de sentido, memória e compromisso. Manifesta-se pelas ações
simbólicas, ritos, festas, canto, danças, expressões de sentimento e emoção,
orações, meditações, evocação do passado no hoje. A celebração dá à catequese
uma linguagem global, que envolve o ser humano por inteiro na experiência
cristã.
O método, como caminho para se chegar ao
objetivo, e a ser empregado no processo catequético, deve considerar ainda que
o adulto traz uma experiência de vida, na qual Deus não está ausente. O
catequista deve estar atento para tornar clara e aprofundar a relação entre o
saber experiencial e o saber teórico. O saber experiencial questiona o saber
teórico, e o saber teórico ajuda a estruturar os dados da experiência, na qual
ele mesmo tem sua fonte. O saber teórico não deve se sobrepor ao saber
experiencial; os dois devem ser mutuamente fecundantes.
O Diretório Geral para a Catequese resume assim as tarefas
da catequese com adultos: “Propor a fé cristã na sua integridade, autenticidade
e organização sistemática, segundo a compreensão que dela possui a Igreja,
colocando em primeiro plano o anúncio da salvação, iluminando as muitas
dificuldades, pontos obscuros, mal-entendidos, preconceitos e objeções
atualmente em circulação, mostrando a incidência espiritual e moral da
mensagem, introduzindo a leitura crente da Sagrada Escritura e a pratica da
oração.
Objetivos que são atribuídos à educação da fé dos adultos:
1. Promover
a formação e o amadurecimento da vida no Espírito de Cristo ressuscitado, através de meios adequados: iniciação
à Sagrada Escritura, pedagogia sacramental, retiros, direção espiritual...
2. Educar para a justa avaliação das
transformações socioculturais na nossa sociedade à luz da fé.
3. Esclarecer
as atuais questões religiosas e morais, ou seja, aquelas questões que se apresentam hoje à
humanidade, como, por exemplo, as relativas à moral pública e individual, à
educação das novas gerações, às questões sociais, particularmente justiça,
empobrecimento, exclusão.
4. Esclarecer
as relações existentes entre a ação no mundo e a vida interna da Igreja, mostrando as mútuas distinções,
implicações e, portanto, a medida da devida interação.
5. Desenvolver
os fundamentos racionais da fé. A reta compreensão da fé e das verdades a se crer está em
conformidade com as exigências da razão humanas e o Evangelho é sempre atual e
pertinente.
6. Educar
para o diálogo fraterno e respeitoso em relação à alteridade no nosso mundo pluralista, dando
especial atenção à dimensão ecumênica e ao diálogo inter-religioso e cultural.
7. Formar
para assumir responsabilidade na missão da igreja e para saber dar um
testemunho cristão na sociedade.
Assim a catequese ajudará os adultos a descobrir, valorizar
e atuar aquilo que recebeu por natureza e por graça, seja na comunidade
eclesial ou vivendo no âmbito de uma comunidade humana.
As formas de catequese com adultos são muitas. O DGC cita as
seguintes:
1. Catequese de iniciação ou catecumenato
de adultos, cujo ordenamento está expresso no Rito da Iniciação Cristã de Adultos (RICA).
2. Catequese ao Povo de Deus nas formas
tradicionais: a partir da celebração do ano litúrgico ou por meio das missões
populares.
3. Formação de lideranças ou ministérios
dentro das comunidades, entre os catequistas em seus diversos níveis.
4. Catequese por ocasião de momentos
particularmente significativos da vida: Matrimônio, batismo, Primeira
Eucaristia e Confirmação dos filhos, doença ou morte em família etc.
5. Catequese realizada nos Meios de
Comunicação: Rádio, TV e outros meios.
6. Catequese por ocasião de experiência
particular.
7. Catequese por ocasião de eventos
particulares, relativos à vida da Igreja, eventos já programados, como, por
exemplo: festas do padroeiro ou de santos populares, a criação e instalação de
uma Diocese, ordenação ou consagração religiosa de algum membro da comunidade
etc.
Aqui no Brasil, além desses temos modos próprios de
catequese com adultos, como, por exemplo:
1. Processo das Campanhas da Fraternidade:
2. A vivência das CEBs;
3. Encontros ou cursos de formação de
leigos, escolas da fé;
4. Grupos de rua ou de reflexão;
5. Círculos Bíblicos;
6. Novenas de Natal, do padroeiro, e com
outras motivações;
7. As missões populares;
8. A formação dada nos movimentos;
9. Grupos de reflexão sobre o itinerário
da fé.
No entanto, o esforço deve ser orientado no sentido de se
organizar a catequese sistemática, orgânica e permanente que toda comunidade
deveria Ter o direito de receber.
Além do que já foi elencado, apresentam – se a seguir algumas
sugestões às quais cada grupo ou lugar poderá acrescentar outras:
1. Participar dos trabalhos globais da
Igreja, como, por ocasião do Projeto Ser Igreja no novo Milênio;
2. Continuar a formação dos adultos que
tiveram a oportunidade de formação inicial com a catequese infantil e juvenil,
para que, de acordo com as novas necessidades de sua faixa etária, possam
aprofundá- la;
3. Renovar o conteúdo e a metodologia dos
chamados Encontros de Noivos e de preparação ao Batismo, envolvendo as duas
pastorais na preparação dos subsídios e na dinâmica dos Encontros (familiar e
batismo);
4. Iniciar um verdadeiro processo
catequético com os adultos não batisados, aos quais corresponde o verdadeiro e
próprio catecumenato;
5. Favorecer de forma adulta a
participação dos pais na catequese de seus filhos. É um grave erro pedagógico
tratá-los como crianças, como se faz, por exemplo, quando apresentamos
prescrições ou conselhos moralistas numa conversa de cima para baixo. É bom
lembrar que a chamada catequese familiar é um trabalho com adultos que envolve
as crianças, e não um trabalho com as crianças que envolve os adultos;
6. Dar especial atenção aos adultos que
vêm de outras confissões cristãs e que ainda não estão inteiramente ligados à
Igreja Católica e recebê – los com delicado respeito por suas experiências anteriores;
7. Dar especial atenção às iniciativas
ecumênicas, ajudando particularmente as famílias que já vivem no lar a
experiência do convívio de membros de Igrejas diferentes;
8. Descobrir um método adequado para a
catequese de terceira – idade.
9. Envolver a comunidade para que a
catequese com adultos seja bem entendida por todos os seus membros e para que
os novos catequizandos adultos sintam que a comunidade é um lugar de
acolhimento, de apoio, de amadurecimento, de celebração e de serviço da
caridade.
A catequese com adultos não é responsabilidade somente de
algumas pessoas.
Lembramos aqui brevemente a importância de agentes
catequéticos de vários níveis:
1. A
comunidade. Aprendemos com as origens do cristianismo que a primeira
experiência positiva para a catequese com adultos deve ser o acolhimento na
comunidade, lugar de apoio e crescimento da fé vivida, testemunhada e
celebrada. O ideal de uma comunidade que se torna verdadeiramente catequizadora
está descrito na Quarta parte de Catequese Renovada.
2. O grupo de catequistas. O ser e o fazer
do catequista não devem acontecer de forma isolada no processo da catequese. Em
comunhão com o grupo e com a comunidade, a presença significativa de cada
catequista em particular é estímulo precioso na caminhada da fé do catequizando
adulto que ele acompanha mais de perto.
3. Os presbíteros. Pelo sacramento da
ordem, os padres são educadores da fé. Esforcem – se, portando, para que os
cristãos alcancem a maturidade cristã. O colóquio individual com os fiéis, no
Sacramento da Penitência e em outras formas de encontro pessoal, são recursos
que a tradição consagrou como eficazes meios de formação da consciência dos
fiéis adultos. As homilias são, para os presbíteros, a ocasião mais recorrente
para catequese ou formação permanente dos fiéis e daí decorre a importância a
serem bem preparadas. Os sacerdotes, como todo o povo de Deus, precisam de
formação permanente.
4. Os (as) religiosos (as). A Igreja
convoca, de modo particular, as pessoas de vida consagrada à atividade
catequética, e deseja que as comunidades religiosas consagrem o máximo de suas
capacidades e de suas possibilidades à catequese. Em sua dedicação à catequese,
os religiosos terão o cuidado de não se sobreporem aos leigos, mas de ajudarem
no que a comunidade lhes pedir.
5. Os comunicadores. Os tempos em que
vivemos exigem que a Igreja use também os modernos meios de comunicação, que
têm condições de atingir um público maior e de trabalhar com recursos que
mobilizam tanto a razão como a emoção. É importante que os meios de comunicação
a serviço da própria Igreja estejam atualizados em relação à reflexão que se
vem fazendo, para caminharmos juntos, seguindo diretrizes comuns. Daí a
necessidade de um decisivo investimento na formação cristã e teológica dos
comunicadores da mídia da Igreja e dos diretores de programação.
6. O bispo: É o primeiro responsável pela
catequese de sua diocese e a catequese com adultos depende muito dele. João
Paulo II, em Catechesi Tradendae, é direto e forte quanto à tarefa do bispo na
catequese: “Sei que tendes de enfrentar um mistério espiritual, cada dia mais
complexo e sobrecarregado... Pois bem: que a preocupação de promover uma
catequese ativa e eficaz não ceda nada diante de qualquer outra preocupação
seja ela qual for. Uma tal solicitude vos levará a transmitirdes vós mesmos a
doutrina da vida aos fiéis. Mas o mesmo cuidado deve levar – vos a assumir nas
vossas dioceses, em correspondência com os planos da Conferência Episcopal, de
que vós fazeis parte, a superior direção da catequese, rodeando – vos de
colaboradores competentes e merecedores de confiança. O vosso papel principal
deve ser o de suscitar e alimentar em vossas Igrejas uma verdadeira paixão pela
catequese, uma paixão, porém, que se encarne numa organização adaptada e
eficaz, que empenhe na atividade as pessoas, os meios e os instrumentos e
também recursos financeiros necessários. Podeis Ter a certeza de que, se a
catequese for bem feita nas vossas Igrejas locais, tudo o mais será feito com a
maior facilidade”.
Uma conclusão óbvia no final desta reflexão é a importância
primordial da formação de catequistas para esta missão. É óbvio que é preciso
formar catequistas específicos para a catequese com adultos. E tal formação
torna – se urgente pela responsabilidade e valorização da missão e ministérios
de leigos e leigas na Igreja e no mundo.
Dadas às particularidades de sua missão, o catequista de
adultos precisa se esforçar por adquirir a capacidade de uma leitura sapiencial da vida em vez de somente explicar os textos. Cabe – lhe
desenvolver a capacidade de encaminhar respostas aos problemas vitais da
atualidade, de ajudar a ler os sinais dos tempos e a interpretar criticamente
os acontecimentos.
É preciso prestar atenção a algumas características a serem
cultivadas pelo catequista de adultos:
a) Disponibilidade para escutar e
dialogar, encorajar e buscar equilíbrio;
b) Capacidade de Ter bons relacionamentos,
de trabalhar em equipe e de construir em conjunto a comunidade;
c) Capacidade de adaptação às diferentes
situações e suficiente maturidade na fé;
d) Capacidade de manifestar a consciência
de sentir – se envolvido pela Igreja e como tal ser aceito pela comunidade, com
a qual fraternalmente caminha;
e) Competência nos conteúdos e na
metodologia da catequese com adultos.
Outro desafio é a formação de formadores de catequistas com
adultos. Eles precisam de uma sólida maturidade humana, de conhecimentos
específicos e atualizados e de um projeto pessoal de vida coerente e capaz de
entusiasmar outros.
Tal formação do leigo adulto deve:
1. Ser programada e sistemática, não
apenas ocasional;
2. Ligar o aspecto antropológico e o
teológico, evitando ser mera reprodução empobrecida da teologia dos seminários,
como tradicionalmente se fazia;
3. Ser integrada e Ter como ponto de
partida os problemas e perguntas dos leigos, oferecendo – lhes respostas para
uma presença cristã no mundo;
4. Ser orientada predominantemente para
uma mística de qualificação da vivência cristã e para a atuação nas
transformações sociais, em que o testemunho dos leigos é especialmente
qualificado;
5. Desenvolver especialmente a capacidade
de comunicação e diálogo, aprimorando o relacionamento humano e o profetismo da
palavra sábia e oportuna;
6. Ser diversificada e, nos seus métodos,
tempos e conteúdos, ser adaptada à diversidade de situações e tarefas dos
cristãos leigos. Especial atenção merece a formação dos cristãos que atuam no
campo da vida pública, da política, dos negócios, do entretenimento e da
formação da opinião pública;
7. Na catequese com adultos devem ser
usados também, com o devido discernimento, recursos que ultrapassam o espaço
eclesial, como, por exemplo, cineforum com filmes do circuito comum de cinema,
leitura crítica de jornais e revistas, biografias que não sejam só dos nossos
santos, mas também de pessoas que viveram heroicamente valores, testemunhos de
artistas e personalidades, católicos e não católicos etc.
A formação do catequista deve também cultivar o seu saber
fazer, ou seja, a dimensão metodológica e da comunicação da fé.
Há hoje uma imensa gama de recursos e meios para a formação
de catequistas. E mesmo que se incentive, devido às enormes distâncias no
Brasil, o aprendizado à distância ou ensino por correspondência, o uso da
multimídia e da internet e a autoaprendizagem (para a qual são muito
importantes e válidas as bibliotecas especializadas), sempre se dê primazia à
metodologia participativa, em pequenos grupos, comunidades, equipes etc. Isso
porque faz parte essencial da vida cristã e, portanto, da catequese, a
experiência de comunidade: oração partilha de vida, reflexão, estudo,
planejamento, execução, avaliação.
A formação de catequistas é um cuidado essencial na Igreja,
porque “a Catequese é uma ação
evangelizadora basilar de toda Igreja Particular”. O Diretório Geral para a Catequese enfatiza esta inter – relação comunidade
e catequese quando diz: “A catequese
conduz à maturidade da fé não somente os catequizandos, mas também a própria
comunidade enquanto tal”.
A catequese, que sempre foi urgente e importante, o é mais
ainda agora, em face dos desafios do mundo em transformação, que está, na
verdade, realizando uma verdadeira mudança de civilização. Como cristãos, temos
algo fundamental a comunicar, a Boa Notícia da esperança, da fraternidade, da
salvação: Jesus Cristo é sua resposta no mundo fraterno e solidário. O Espírito
Santo, com sua força pentecostal, nos unge, anima e envia para partilharmos com
outros o Dom que recebemos. Ele nos dá asas de águia, renova nossas forças e
nos faz prosseguir com vigor, coragem e profetismo, com segurança e alegria,
bem no estilo do que nos indica Isaías: “Não o sabes? Não aprendeste? O senhor
é um DEUS eterno. Ele cria os confins da terra, sem jamais fatigar – se nem
aborrecer – se. Ninguém pode sondar sua sabedoria. Ele dá forças ao homem
acabrunhado, redobra o vigor do fraco. Até adolescentes podem esgotar – se e
jovens robustos podem cambalear. Mas aqueles que contam com o Senhor renovam
suas forças. Ele lhes dá asas de águia. Correm sem se cansar e vão em frente
sem se fatigar”. (Is. 49, 28- 31).
Por Evandro Luiz - Jornalista.
Bibliografia:
Documento 80 da CNBB,
RICA,
CIC - Catecismo da Igreja Católica,
Biblia,
DGC - Diretório Geral para a Catequese.