Durante a 3ª
Semana Brasileira de Catequese o Pe. Luiz Alves Lima desenvolveu o tema sobre “A
Iniciação Cristã ontem e hoje – história e documentação atual”. E, com a
sua característica precisão terminológica, foi logo deixando claro que quando
se fala de “Iniciação Cristã” se deve entender “todo o processo pelo qual
alguém é incorporado ao mistério de Jesus Cristo”. Processo esse, que a Igreja
sempre realizou, de uma maneira ou outra, ao longo de toda a sua história.
Quem olha a
Igreja hoje normalmente nem imagina as grandes dificuldades que teve que
enfrentar, principalmente nos primeiros séculos de sua existência, ao tentar
responder ao urgente problema do ingresso dos novos membros nas suas
comunidades. As pessoas não eram cristãs e nem vinham de famílias cristãs, por
isso era necessário elaborar um processo através do qual os novos membros
fossem sendo iniciados aos mistérios e à vida
de fé da comunidade. Por isso, inspirando-se em antigas práticas adotadas por
outras correntes religiosas, os primeiros cristãos elaboraram um processo de iniciação no
sentido mais profundo e rico e que, já no século II recebeu o nome de catecumenato.
O Pe. Lima
nos lembra que esse processo “Tinha como objetivo o aprofundamento da fé, como
adesão a Jesus Cristo e a tudo o que ele revela; tudo isso como consequência do
anúncio central do Evangelho, o kergima. Era o caminho ordinário
para conduzir os adultos (e não crianças!) aos mistérios divinos, à plena
conversão, à profissão de fé e à participação na comunidade; portanto o modelo
daquilo que nós gostaríamos que fosse hoje a catequese.”
Naquela
época havia uma grande sintonia entre catequese, liturgia e comunidade, por
isso o catecumenato “era constituído de uma série de
ensinamentos (catequese), um conjunto de práticas litúrgico-rituais (imposição
das mãos, assinalações, exorcismos, entregas, etc.) e sobretudo um exercício
(tirocínio) de vida cristã e prática evangélica. Todo o processo era feito no
âmbito da comunidade que participava intensamente, sobretudo através do
catequista ou instrutor, do padrinho, dos escrutínios e dos ministros (bispos e
sacerdotes), tudo culminando numa única celebração dos mistérios cristãos
fundamentais (batismo, crisma e eucaristia), durante a Vigília Pascal”.
Apesar de se
difundir rapidamente por todas as Igrejas e ter atingido seu período áureo
entre os séculos III e IV, o catecumenato começa a definhar e quase desaparece
no século VI. Uma grande consequência, fácil de perceber nos dias de hoje, é
que a catequese e a liturgia foram se distanciando e tomando rumos diferentes.
Assim a catequese foi adquirindo cada vez mais características doutrinais e
sendo orientada quase sempre às crianças.
Durante a
Idade Média prevaleceu a cristandade e, apesar do total desconhecimento teórico
e prático da iniciação cristã e do catecumenato, vivia-se o chamado catecumenato
social onde a própria comunidade cristã, a cultura maciçamente
católica e até a mesma sociedade realizavam o papel iniciação à
fé.
Nos dias de
hoje, vale destacar que vários documentos do Concílio Vaticano II (1962-1965)
fazem referência à iniciação cristã e à recuperação do
catecumenato na vida da Igreja. Por isso, na linha da reforma pós-conciliar dos
livros litúrgicos, o “Ritual de Iniciação Cristã de Adultos” (RICA)
se apresenta como um sério e profundo processo de preparação de adultos para os
sacramentos da iniciação cristã, seguindo o modelo do catecumenato realizado
nas primitivas comunidades cristãs.
Que fique
bem claro para todos: o RICA é um livro litúrgico e não um manual catequético,
mas deve integrar todo o processo catequético. De fato ele propõe um itinerário
progressivo de evangelização, catequese e mistagogia, além de trazer reflexões
teológicas, critérios pastorais e material litúrgico. Nele estão descritos os
tempos e as etapas do catecumenato com seus ritos, orações e celebrações.
Pe. Lima
cita ainda muitos outros documentos, textos, eventos e experiências que falam,
incentivam ou mesmo vivenciam o estilo catecumenal de iniciação à vida cristã.
Assim percebemos que a realidade desafiadora de hoje encontra uma proposta de
ação evangelizadora justamente na não menos desafiadora realidade enfrentada
pelos cristãos das primeiras comunidades cristãs.
Leia todo
esse tema no livro “3ª Semana Brasileira de Catequese. Iniciação à Vida
Cristã”, publicado pela “Edições CNBB”, nas páginas 57-114. Consulte o site www.edicoescnbb.com.br e veja como adquirir este livro.
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Pe. Luís
Gonzaga Bolinelli – Doutrinário