Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)
1. Critérios para o discipulado
A caridade nos une a Cristo Jesus, aos irmãos e irmãs. Os santos Padres reforçaram em suas homílias e doutrinas o valor evangélico da caridade. Santo Inácio de Antioquia(Carta aos Efésios, 13,1-15,3), Bispo do século I e inicio do II século, afirmava que tudo virá à tona pelas coisas escondidas tendo presente Jesus Cristo.
Fé e amor são o começo e o fim da vida humana. São os critérios para seguir também ao Senhor Jesus. Ele diz que quem professa a fé não peca, e, quem possui o amor não odeia os outros mas os quer bem. Se pelos frutos conhecemos a árvore, os que pertencem a Cristo Jesus são reconhecidos por suas obras. A caridade é o critério para ser discípulo de Jesus Cristo no mundo, porque o amor possibilita relações com Deus, com as pessoas e consigo mesmo.
2. Jesus diz e faz
Santo Inácio diz que é melhor calar e ser, do que falar e não ser. Para isso exige-se da pessoa, uma atitude de caridade. O ensino é importante desde que aquele que fala, faz. Nós temos um único Mestre, Jesus Cristo, Aquele que diz e é. Ele faz sempre as coisas dignas do Pai. Nós, sendo os discípulos e discípulas de Jesus Cristo, somos chamados a possuir as suas palavras para escutar o seu silêncio, a fim de ser perfeito, como o Pai é perfeito, para realizar o que diz ou para ser conhecido pelo seu silêncio. Nada está escondido para o Senhor, porque os nossos segredos estão junto dele. Dessa forma façamos tudo como se o Senhor morasse dentro de nós, para ser o nosso Deus, pois Ele aparecerá diante de nossa face, se de fato o amarmos justamente, e de coração livre.
3. A purificação em Deus
São Gregório de Nazianzo(Bispo do século IV) afirmava o valor do respeito à ordem das coisas assim como o corpo o faz; se um fala, o outro aprenda para fazer-se participante das coisas necessárias(Cfr. Ef 4,28). Sendo guia, e estando na condição de coordenadora ou o coordenador da comunidade, faça bem esse serviço, enquanto o outro seja reconhecido pelo serviço que presta aos outros. E assim também opera aquele que ensina, faça-o em modo conveniente, com alegria(Cfr. Rm 12,8) e também aquele que presta um serviço, o faça com solicitude. Nem todos somos apóstolos e nem todos somos intérpretes da Palavra de Deus.
Se uma coisa grande é aquela de falar de Deus, maior é a purificação por Deus, porque a sabedoria não entrará numa alma má(cfr. Sb 1,4). Nós somos instruídos pelo fato de sermos conhecidos(cfr. I Cor 8,3) de modo que devemos superar o orgulho, a vaidade em nossas vidas. Nós devemos ocupar o nosso lugar de pastor para quem for pastor e de ovelha para quem é ovelha. Assim vale a pena falar alguma coisa que é mais que o silêncio. Como é importante calar os lábios, manter o silêncio diante da calúnia. Quando é para fazer silêncio é fundamental essa atitude porque é dom de Deus.
4. A oração nos leva à prática de vida
João de Apamea(Eremita do século V e VI, Discurso sobre a oração, 7) realçava a necessidade de rezar em vista da prática caritativa da vida. Quando você repete as palavras da oração que o Senhor deu para todos nós rezarmos, o Pai-Nosso, não haja só uma preocupação de repetição das palavras, mas de tornar-se mesmo com aquelas palavras. As coisas só tem sentido quando a repetição leve a incorporação e tornando-se obra, você apareça como pessoa de Deus, que ama a Deus e aos irmãos e irmãs como a si mesmo.
5. A unidade com as pessoas sofredoras
São Gregório Magno, papa da Igreja de 590 a 604, afirmava que somos chamados a nos unir com as pessoas que sofrem mais que nós. Nós devemos nos colocar na sua situação, para que assim a caridade seja de fato verdadeira assim como Jesus sentiu compaixão de seu povo. A caridade faz-se pelo silêncio e pela fala, porque há um tempo para calar e um tempo para falar (cfr. Eclo 3,7).
6. Falar e calar por amor a Deus
Alguns ditos dos padres são fundamentais para a nossa vida de seguidores de Jesus Cristo e de sua Igreja. O Santo Abba Poimen(séculos IV E V) disse que há nesse mundo pessoas com atitudes diversas em relação ao silêncio caritativo. Existe uma pessoa que parece calar e o seu coração julga os outros: este fala sempre. E existe uma outra pessoa, que fala de manhã à noite, e conserva o silêncio, isto é não diz nada que não seja útil. A caridade é dada no falar e também no calar.
O tempo da quaresma ajude-nos a fazer caridade através da palavra e de ações para que assim o Senhor Deus Uno e Trino seja glorificado pelas coisas que nós realizamos no mundo de hoje, na família, na comunidade e na sociedade.
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