Catedral Diocesana de São Dimas
No domingo em que celebramos a Paixão do Senhor, a liturgia nos propõe também a narrativa da entrada de Jesus em Jerusalém, aclamado como Messias. O profeta vindo de Nazaré não entra na Cidade Santa montado num cavalo de guerra, demonstrando força e pretendendo domínio, em suma, de modo violento. Ao contrário, entra num ritmo sereno, montado num jumentinho. Ainda assim, muitos saíram às ruas estendendo suas vestes, empunhando ramos – símbolos de vitória – e gritando: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!”. Toda a cidade se viu num alvoroço. Mas, logo as pessoas se decepcionariam, Jesus de Nazaré não era o Messias davídico de acordo com suas expectativas.
Não há dúvidas de que Jesus é o Messias, assim ensina nossa fé. No entanto, a primeira leitura é que dá o tom de seu messianismo. O terceiro cântico do Servo Sofredor descreve o povo de Israel como servo atento à vontade do Senhor, que dá testemunho de mansidão – “ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba” – e de coragem – “conservei o rosto impassível como pedra”. É o servo que, mesmo num momento dramático, não esmorece – “o Senhor Deus é meu auxiliador” – e ainda é capaz de se solidarizar com o sofrimento do outro – “para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida”. É com esta imagem de seus antepassados que Jesus se identifica, Ele é o servo atento à voz do Pai, aquele que, abdicando da violência, solidariza-se humildemente com a humanidade sofredora.
Vimos já no Primeiro Domingo da Quaresma (cf. Mt 4,1-11) que Jesus sofreu a tentação de abandonar o projeto do messianismo de serviço expresso na memória do Servo Sofredor e é precisamente na cruz, no ápice do seu ministério, que tal tentação se apresentará com mais vigor ainda: “Se és o Filho de Deus desce da cruz! […] A outros salvou… a si mesmo não pode salvar! É rei de Israel… Desça agora da cruz e acreditaremos nele!”. Jesus não pode descer da cruz, seu amor o impede! Seu messianismo desafia nossas expectativas e mesmo nossa fé. O sacerdote passionista José Carlos Pereira recorda que “quem pratica apenas uma religião de louvores e glórias, e não assume as cruzes que estão em sua volta e não enxerga o irmão que sofre, segue equivocadamente a Cristo. Na primeira decepção vai se afastar da Igreja e se revoltar contra Deus. Ou então vai buscá-lo em outros lugares, ou outras religiões que prometem um Deus mágico que solucionará todos os seus problemas”. Quando não compreendemos o projeto de Jesus Cristo, logo nos decepcionamos e nos voltamos contra ele. Assim como os seus contemporâneos, nós ora o aclamamos como “bendito”, ora sentenciamos: “seja crucificado!”. Nós crucificamos o Cristo que não corresponde às nossas expectativas, julgando-o como um Deus fraco que se submete à cruz, incapaz de reagir e que trai o nosso desejo de um deus do bem-estar. É verdade que não é fácil assimilar a realidade do sofrimento presente no mundo. José Antônio Pagola afirma que, de fato, não sabemos por que Deus permite o mal, mas sabemos aquilo que é decisivo: Deus sofre conosco. Em Jesus, contemplamos o amor divino levado a todas as consequências.
A morte de Jesus, sinal de aparente fracasso, acaba tornando-se para nós redenção. Ela não nos ensina resignação e conformismo, mas gera esperança e compromisso. Por isso, Paulo nos lembra na Carta aos Filipenses que, exatamente por abdicar da violência, por abraçar a humildade e por exercitar a fidelidade total a Deus, Jesus de Nazaré é exaltado como o Senhor. O crucificado é o exaltado!
Ao longo desta Quaresma, a Campanha da Fraternidade nos propôs a reflexão acerca dos biomas brasileiros, isto é, dos sistemas de vida integrados nos quais estamos inseridos e temos responsabilidade. Todas as vezes que degradamos o meio ambiente e ameaçamos a vida em suas diversas formas, contribuímos para crucificar novamente o Filho de Deus (cf. Hb 6,6). Que o nosso coração esteja aberto para celebrar e promover a vida, para guardar e cultivar a criação (cf. Gn 2,15). Bendito o que vem em nome do Senhor!
PE. ÉVERTON MACHADO DOS SANTOS
Vigário paroquial na Catedral de São Dimastambém a narrativa da entrada de Jesus em Jerusalém, aclamado como Messias. O profeta vindo de Nazaré não entra na Cidade Santa montado num cavalo de guerra, demonstrando força e pretendendo domínio, em suma, de modo violento. Ao contrário, entra num ritmo sereno, montado num jumentinho. Ainda assim, muitos saíram às ruas estendendo suas vestes, empunhando ramos – símbolos de vitória – e gritando: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!”. Toda a cidade se viu num alvoroço. Mas, logo as pessoas se decepcionariam, Jesus de Nazaré não era o Messias davídico de acordo com suas expectativas.
Não há dúvidas de que Jesus é o Messias, assim ensina nossa fé. No entanto, a primeira leitura é que dá o tom de seu messianismo. O terceiro cântico do Servo Sofredor descreve o povo de Israel como servo atento à vontade do Senhor, que dá testemunho de mansidão – “ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba” – e de coragem – “conservei o rosto impassível como pedra”. É o servo que, mesmo num momento dramático, não esmorece – “o Senhor Deus é meu auxiliador” – e ainda é capaz de se solidarizar com o sofrimento do outro – “para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida”. É com esta imagem de seus antepassados que Jesus se identifica, Ele é o servo atento à voz do Pai, aquele que, abdicando da violência, solidariza-se humildemente com a humanidade sofredora.
Vimos já no Primeiro Domingo da Quaresma (cf. Mt 4,1-11) que Jesus sofreu a tentação de abandonar o projeto do messianismo de serviço expresso na memória do Servo Sofredor e é precisamente na cruz, no ápice do seu ministério, que tal tentação se apresentará com mais vigor ainda: “Se és o Filho de Deus desce da cruz! […] A outros salvou… a si mesmo não pode salvar! É rei de Israel… Desça agora da cruz e acreditaremos nele!”. Jesus não pode descer da cruz, seu amor o impede! Seu messianismo desafia nossas expectativas e mesmo nossa fé. O sacerdote passionista José Carlos Pereira recorda que “quem pratica apenas uma religião de louvores e glórias, e não assume as cruzes que estão em sua volta e não enxerga o irmão que sofre, segue equivocadamente a Cristo. Na primeira decepção vai se afastar da Igreja e se revoltar contra Deus. Ou então vai buscá-lo em outros lugares, ou outras religiões que prometem um Deus mágico que solucionará todos os seus problemas”. Quando não compreendemos o projeto de Jesus Cristo, logo nos decepcionamos e nos voltamos contra ele. Assim como os seus contemporâneos, nós ora o aclamamos como “bendito”, ora sentenciamos: “seja crucificado!”. Nós crucificamos o Cristo que não corresponde às nossas expectativas, julgando-o como um Deus fraco que se submete à cruz, incapaz de reagir e que trai o nosso desejo de um deus do bem-estar. É verdade que não é fácil assimilar a realidade do sofrimento presente no mundo. José Antônio Pagola afirma que, de fato, não sabemos por que Deus permite o mal, mas sabemos aquilo que é decisivo: Deus sofre conosco. Em Jesus, contemplamos o amor divino levado a todas as consequências.
A morte de Jesus, sinal de aparente fracasso, acaba tornando-se para nós redenção. Ela não nos ensina resignação e conformismo, mas gera esperança e compromisso. Por isso, Paulo nos lembra na Carta aos Filipenses que, exatamente por abdicar da violência, por abraçar a humildade e por exercitar a fidelidade total a Deus, Jesus de Nazaré é exaltado como o Senhor. O crucificado é o exaltado!
Ao longo desta Quaresma, a Campanha da Fraternidade nos propôs a reflexão acerca dos biomas brasileiros, isto é, dos sistemas de vida integrados nos quais estamos inseridos e temos responsabilidade. Todas as vezes que degradamos o meio ambiente e ameaçamos a vida em suas diversas formas, contribuímos para crucificar novamente o Filho de Deus (cf. Hb 6,6). Que o nosso coração esteja aberto para celebrar e promover a vida, para guardar e cultivar a criação (cf. Gn 2,15). Bendito o que vem em nome do Senhor!
PE. ÉVERTON MACHADO DOS SANTOSVigário paroquial na Catedral de São Dimas