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Por Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá – PA
Na documentação patrística é difícil encontrar o termo catecumenato o qual indicava o tempo de formação para aqueles e aquelas que recebiam uma instrução oral. No fim do segundo século as pessoas que desejavam tornarem-se cristãos eram acolhidas na comunidade eclesial entre os aspirantes ao batismo com o nome de catecúmenos. A preparação ao batismo se articulava em duas etapas: uma remota, na qual os candidatos recebiam o nome de catecúmenos e uma próxima que habitualmente coincidia com a quaresma, aonde os inscritos ao batismo chamavam-se competentes ou eleitos no Ocidente e iluminandos no Oriente. As duas categorias de candidatos: catecúmenos e competentes eram preparados ao batismo. Por isto podemos dizer que o catecumenato antigo no sentido forte da palavra era o tempo da formação daqueles e daquelas que desejavam tornarem-se cristãos; compreendia a primeira acolhida dos novos membros na comunidade cristã até o limiar do batismo, confirmação e eucaristia.
O final do segundo e início do terceiro século prosseguiu o catecumenato na vida eclesial. Assumiu uma estrutura orgânica e foi documentado nas principais Igrejas do Oriente e do Ocidente. As testemunhas mais significativas foram: Hipólito, Tertuliano e Orígenes. Muitos foram os fatores que possibilitaram a instituição do catecumenato no terceiro século: antes de tudo a influência da tradição judaica que exigia a preparação para as pessoas ingressarem na religião hebraica. Depois, o surgimento das perseguições, muito fortes nos III e IV séculos, o fenômeno dos lapsis ou apóstatas, a difusão de seitas e de grupos cristãos heterodoxos que se desenvolveram e conseguiam adeptos entre os fiéis da Igreja; isto fez advertir a exigência de uma formação mais aprofundada e organizada para aqueles que se aproximavam à fé para tornar-se cristãos. Por fim, um rigorismo representado em modo particular em Roma por Hipólito, em Cartago por Tertuliano e em Alexandria por Orígenes uma vez que estes contribuíram para uma organização exigente e severa da preparação ao batismo, confirmação e eucaristia.
A formação do novo membro no caminho catecumenal se fundava sobre uma tríplice experiência: ouvir a palavra de Deus de uma forma especial com a catequese, exercícios ascético-penitenciais, e ritos e celebrações. Na realidade estes três aspectos eram interligados em vista do crescimento espiritual dos candidatos no caminho ao batismo. Hipólito, Tertuliano e Orígenes falavam desta tríplice dimensão do processo formativo.
O fim da formação catecumenal do candidato era a admissão ao batismo com o seu ritual. Antes de tudo a benção da água, com uma oração. Em algumas igrejas o candidato completamente nu, vinha ungido em todo o seu corpo. Para Ambrósio de Milão e João Crisóstomo a unção simbolizava a ajuda para fortificar o corpo no combate cristão. Depois se entrava no coração do ato batismal, que nos séculos quarto e quinto eram por imersão. As fórmulas batismais quase sempre trinitárias eram essencialmente duas: uma tríplice interrogação dirigida ao candidato: Crês em Deus Pai… crês em Jesus Cristo.. crês no Espírito Santo? ou também usando o verbo na forma passiva: Tal… é batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Depois seguiam os ritos pós-batismais.
O catecumenato antigo compreendia um processo de acolhida, acompanhamento, formação e experiência sacramental na qual a pessoa se convertia e tornava-se cristã. O objetivo do catecumenato era levar o futuro membro pelo batismo à participação do mistério da morte e ressurreição de Cristo, receber pela confirmação, a plenitude dos dons do Espírito Santo, e pela eucaristia unido ao corpo e sangue de Cristo. Todo o processo terminava com as catequeses mistagógicas dadas à semana seguinte da Páscoa, isto é na oitava pascal. É importante o conhecimento deste itinerário formativo para que hoje as pessoas sejam discípulos, discípulas, missionários e missionárias de Jesus Cristo, sejam atuantes na vida da Igreja, na sociedade e um dia pela graça de Deus, participantes de seu Reino. O tema central da Assembleia dos bispos possibilitará esse resgate para uma atuação melhor como Igreja e como pessoas que amam a Jesus Cristo no testemunho que se deva dar neste mundo com fé, esperança e caridade.
Cavallotto, Giuseppe. Catecumenato Antico. EDB. Bologna, 1996.
Catecumenato/Discepolato. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, A-E. Marietti, Genova-Milano, 2006.