É o tempo de preparação para a festa da Páscoa, a maior festa do Cristianismo.
Um tempo em que devemos viver na reflexão e oração, tomando consciência dos compromissos que assumimos pelo nosso batismo. Tempo de jejum, penitência e conversão.
A Quaresma começa na quarta-feira de cinzas, que sempre cai entre os dias 4 de fevereiro e 11 de março, e termina na quarta-feira da Semana Santa. A cor é roxa, abrange seis domingos. Na ultima semana, voltamos toda nossa atenção para a paixão de Cristo, desde sua entrada solene em Jerusalém (Domingo de Ramos) até sua morte e sepultura.
São quarenta os dias da Quaresma é nesse período que a igreja no Brasil promove a Campanha da Fraternidade, para valorizar mais ainda esse fecundo tempo litúrgico. No ano A, predomina o tema do Batismo, com suas exigências na seqüência dos Evangelhos, no ano B, o tema de Cristo Glorificado por sua morte e ressurreição, fonte de restauração da dignidade humana; no ano C, os fiéis são convidados a penitência ou conversão, condições para a nova aliança em Cristo Jesus, selada no batismo e a ser renovada na Páscoa.
Os evangelhos falam de um tempo de solidão de Jesus no deserto imediatamente após seu batismo por João: “Levado pelo Espírito” ao deserto, Jesus ali fica quarenta dias sem comer, vive com animais selvagens e os anjos o servem.
No final dessa penitência, Satanás o tenta por três vezes procurando questionar sua atitude filial para com Deus. Jesus rebate esses ataques que recapitulam as tentações de Adão no Paraíso e de Israel no deserto, e o Diabo se afasta dele “até o tempo oportuno” (Lc4, 13).
A tentação de Jesus manifesta a maneira que o filho de Deus tem de ser Messias- o oposto da que lhe propõe Satanás e que os homens desejam atribuir-lhe.
É por isso que Cristo venceu o tentador por nós: “Pois não temos um sumo sacerdote incapaz de compadecer-se de nossas fraquezas, pois Ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado.” (Hb. 4,15). A igreja se une a cada ano, mediante os quarenta dias da Grande Quaresma, ao ministério de Jesus no deserto.
É por isso que a igreja, particularmente no advento, na quaresma e, sobretudo na noite de Páscoa, relê e revive todos os grandes acontecimentos da história da Salvação no “hoje” de sua liturgia.
Os tempos e os dias de penitencia ao longo do ano litúrgico: são momentos fortes da pratica penitencial da igreja. Esses tempos são particularmente apropriados aos exercícios espirituais, ás liturgias, ás peregrinações em sinal de penitência, as privações voluntarias como o jejum e a esmola, á partilha fraterna (obras de caridade e missionárias). Por isso a igreja nos convida a fazermos penitência a cada sexta-feira da quaresma em memoraria da morte do Senhor.
Uma primeira pergunta que é fundamental: quando foi que a Igreja começou a celebrar este período de tempo?
Sabemos que hoje a Quaresma é um período de 40 dias, estabelecido como preparação para a festa litúrgica da Páscoa.
E por que 40 dias?
A resposta está, exatamente, no modo de entender números na Bíblia. Já notamos que a numerologia bíblica não tem o sentido de quantidades definidas que nós, hoje damos aos números. Seu valor é mais simbólico. Alguns exemplos tornam mais clara à resposta.
“Desde o final do século IV a Igreja valoriza a preparação para a Páscoa, através de um período de 40 dias.
A Bíblia usa com freqüência períodos de 40 dias (ou 40 anos) para indicar ocasiões especiais em que são vividas experiências importantes: são os 40 anos de caminhada do povo no deserto, os 40 dias de Jesus no deserto, 40 dias de Moises no Monte Sinai, os 40 dias de andança de Elias até a montanha de Deus... . Esses períodos vêm antes de fatos importantes e se relacionam com a necessidade de ir criando um clima adequado e dirigindo o coração para algo que vai acontecer.” (CNBB, “Tudo é possível: Deus nos Ama”, Paulinas, 1996, pags. 8 e 9).
Fernando Amelimi ajuda a iluminar mais a resposta que estamos procurando: “Quando ao invés, encontramos números na Bíblia, devemos prestar atenção, porque, muitas vezes, os números têm um sentido simbólico. Desse modo quando está escrito ou um seu múltiplo, não quer dizer que seja mesmo 40, com exatidão, como se falássemos de 40 dólares. Indica um tempo simbólico, que pode ser mais longo ou mais curto. Não é como quando se fala em dinheiro... este, sim, deve ser bem contado!
Por exemplo, é difícil acreditar que Moisés tenha passado exatamente 40 dias e 40 noites na montanha, sem comer pão nem beber água (Ex. 34,38) e que também Jesus tenha conseguido fazer a mesma coisa (Mt. 4,2). Da mesma forma surge também à dúvida se eram exatamente 4.000 os homens para os quais foram multiplicados os pães (Mc. 8,9).
Entre os muitos significados que os muito significados que os antigos atribuíram ao número40, um nos interessa de modo especial: o de indicar um período de preparação (mais ou menos prolongado), em vista de um grande acontecimento. Exemplo: o dilúvio durou 40 dias e 40 noites... foi a preparação para uma nova humanidade. 40 anos passou Israel no deserto... para preparar-se a entrar na terra prometida; durante 40 dias fizeram penitência os habitantes de Nínive... antes de receber o perdão de Deus; durante 40 dias e 40 noites caminhou Elias ... para chegar à montanha de Deus; durante 40 dias e 40 noites Jejuaram Moisés e Jejus... para preparar-se para sua missão...” (Celebrando a Palavra, A.M. Edições, 5. Paulo, 1996, pags. 92 e93).
O modelo bíblico de preparação para os grandes acontecimentos foi assumido pela Igreja, no decorrer dos tempos, e a Quaresma se torna ou é importante preparação para maior de todas as festas cristã: a Páscoa do Senhor Jesus.
Mas nem sempre foi assim, nos primeiros tempos do Cristianismo provavelmente no século II, as comunidades cristãs nascentes, para melhor viverem as alegrias da celebração anual da Ressurreição de Cristo, começaram a fazer uma vigília de dois ou três dias para a Páscoa. Estudiosos deste assunto acreditam que é a partir do século IV que se fixa, na Igreja, este período de 40 dias.
Podemos concluir tanto o número 40 como muitos acontecimentos bíblicos têm, para nós, um valor simbólico para avivar a nossa fé, fundamentar nossa esperança e aprofundar nossa caridade.