DIOCESE DE LIMEIRA - 15/02/2015
HOMILIA
DO 6º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Bom final de semana e bom feriado de carnaval a todos/as. Abraços.
Dom Vilson Dias de Oliveira, DC
Bispo Diocesano de Limeira, SP
“Eu quero: fica
curado”
Leituras:
Levítico 13, 1-2.44-46 ou Segundo Livro de Reis 5, 9-14; Salmo 31 (32),
1-2.5.11 (R/.7); Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios 10, 31; 11,1; Marcos
1,40-45.-37.
COR LITÚRGICA: VERDE
Animador: Nesta
Eucaristia vemos Jesus mais uma vez estendendo a sua mão a um doente: um
leproso. Jesus considerando a vida humana mais importante que o conceito
formulado pela sociedade do seu tempo, acolhe aquele homem, livra-o da lepra e
possibilita sua inclusão social.
1. Situando-nos
brevemente
Estamos vivendo o espírito do carnaval, que toma conta
do povo brasileiro. Faz o país parar para divertir-se e ao seu modo, curtir a
vida numa festa pascal de fraternidade e amizade. Como celebrar a memória da
Páscoa de Jesus num clima de carnaval que domina a sociedade? A resposta deverá
ser encontrada em cada comunidade pelas equipes que preparam as liturgias.
É clima de alegria. Festa longamente preparada e
esperada. Festa onde o povo vive e celebra sua identidade, sua cultura e suas
tradições. Grande festa de integração nacional e libertação de tantos
preconceitos, tristezas e discriminações.
A liturgia da Igreja traz para a nossa reflexão a cura
do leproso. A cura se insere na manifestação do Filho de Deus, proclamado no tempo
do Natal, e que se prolonga ao longo do ano: “um grande profeta surgiu entre
nós e se mostrou” (aclamação ao Evangelho). Testemunhamos aqui a compaixão do
Senhor que se manifesta na cura de um leproso e sua reintegração à comunidade.
Muitos aspectos se mostram neste Evangelho, revelando
sua riqueza, mas, sobretudo, mostrando “a que veio” o Filho de Deus. O pedido
pela cura já trazia a afirmação do poder de Jesus.
A fé do homem enfermo já o leva a confessar o poder de
Jesus: “Se queres, tens o poder de purificar-me!” (Mc 1,40).
O encontro tem por trás a dura situação das pessoas
enfermas no tempo de Jesus, sobretudo em relação à religião. Elas eram
consideradas impuras e, portanto, inaptas para prestar culto a Deus. De fato, a
lei mosaica determina a exclusão de tais pessoas (primeira leitura). Elas por
sua vez, deviam se declarar assim, demonstrando com roupas rasgadas, cabelos
desgrenhados, avisando aos demais, com gritos, a sua impureza.
2. Recordando a
Palavra
O Levítico, no capítulo 13, trata das doenças de pele a
serem diagnosticadas pelos sacerdotes. Entre essas doenças aparecia a lepra.
Não existe nesse livro preocupação alguma com a cura. Simplesmente, traçam-se
normas higiênicas. A única preocupação era com a pureza da comunidade.
Na verdade, a lepra, constituía a mais grave forma de
impureza ritual. Os sacerdotes eram os responsáveis pelo diagnóstico da lepra.
Isso leva a crer que a lepra estava intimamente ligada com a impureza ritual. O
aspecto religioso era mais importante do que o aspecto médico-sanitário.
O leproso era uma espécie de excomungado e banido da
sociedade. Logo, essa pessoa não tinha acesso a Deus. Quem fechava ou abria a
porta do acesso a Deus eram os sacerdotes, mediante o diagnóstico puro/impuro.
O complicado e misterioso sacrifício previsto para as
pessoas que eventualmente sarassem da lepra demonstra que ela era vista como
sinal do pecado contra Deus. É a partir disso que o leproso se torna símbolo da
maior marginalização possível: castigado por Deus por causa do pecado.
O modo como o leproso deve se comportar demonstra que
ela se tornou uma perigosa fonte de contaminação: roupas rasgadas, cabelos
soltos, “verdadeiro espantalho vivo”! E ainda devia viver gritando a todos sua
marginalidade e periculosidade.
O Salmo 31/32 conta a historia de um homem enfermo ou
infeliz que confessa sua culpa diante de Deus e consegue obter o perdão e a
cura. Aliviado, agradece a paz que o perdão lhe trouxe.
Na carta aos Coríntios, Paulo dá uma orientação: “Quer
comais, quer bebais, quer façais qualquer coisa outra coisa, fazei tudo para a
glória de Deus” (10,31). Deixa claro que Deus precisa se manifestar e se tornar
presente em todos os gestos e ações da comunidade. Portanto, a ação de cada
pessoa deverá ser uma ação responsável.
Os cristãos de Corinto não podem ser motivo de escândalo
para os judeus, para os pagãos e muito menos para a Igreja de Deus. E
aconselha: “Como também eu me esforço por agradar em tudo a todos, buscando não
o que é vantajoso para mim, mas o que é vantajoso para o maior número de
pessoas, a fim de que sejam salvas” (11,33). E o interesse de todos significa o
encontro de toda a humanidade com Deus, em Jesus Cristo. Essa é a glória de
Deus. É isso que Paulo busca sem descanso. É para isso que a comunidade é chamada:
“Sejam meus imitadores, como eu também o sou de Cristo”.
No Evangelho, Marcos vai mostrando sempre mais quem é
Jesus. O leproso conhecia muito bem o código de pureza. Sabia também que nem o
Templo nem os sacerdotes poderiam libertá-lo da lepra. Eles apenas constatavam a
doença e nada mais.
Diante disso o leproso toma uma decisão radical: não vai
ao sacerdote e sim a Jesus. Ajoelha-se e pede: “Se queres, tens o poder de
purificar-me” (1,40). Reconhece que o poder de cura não vem da religião dos
sacerdotes, mas sim de Jesus. O leproso aproxima-se e manifesta sua adesão a
Jesus enquanto fonte de libertação.
Jesus quer curar e sente compaixão, indigna-se com a lei
e todas as prescrições de pureza. Transgride o sistema religioso e também se
torna impuro, por isso, não pode entrar nas cidades. Está impuro por causa do
contato com o leproso. De fato, se acreditava que a lepra fosse contagiosa.
Jesus quebra o código de pureza, tocando o leproso.
Com isso, além de se tornar impuro, precisa oferecer um
sacrifício de purificação. Com isso, o Filho de Deus foi morar com os
marginalizados. Assim, Marcos mostra quem é Jesus: é aquele que rompe os
esquemas fechados de uma religião segregadora, indo habitar entre os banidos do
convívio social.
Jesus dá uma ordem ao curado: “Não contes nada a
ninguém! Mas vai mostrar-se ao sacerdote e apresenta, por tua purificação, a
oferenda prescrita por Moisés. Isso lhes servirá de testemunho” (1,44),
significava, ao que parece, em não relatar a cura, mas colaborar para que o
código de pureza fosse abolido.
Ele deve mostrar-se ao sacerdote para que este constate
sua cura. Sinal de que a cura não depende do código de pureza nem da religião
do Templo.
A expressão “isso lhes servirá de testemunho” significa:
o sacrifício serve como testemunho contra o sistema que o declarava um punido
por Deus e banido do convívio social. O sacrifício tem, pois, caráter de denúncia
e abolição do código de pureza.
Marcos atesta que de toda a parte o povo vai procurá-lo,
sinal de que está aberto um novo acesso a Deus. Deus, em seu Filho, pode ser
encontrado fora, na clandestinidade, entre os que o sistema religioso e social
discriminou.
3. Atualizando a
Palavra
No tempo de Jesus não existiam tratamentos nem cura para
lepra e outras enfermidades. Nem muita distinção se fazia entre os vários tipos
de doença de pele, sendo todas praticamente qualificadas como lepra. O medo do
contagio era maior que o conhecimento que se tinha a respeito. A religião funcionava
então como “órgão regulador” que impunha medidas profiláticas, um tanto
estranhas para nós, mas por eles consideradas necessárias para a proteção da
comunidade.
Jesus quebrou o rígido código do puro/impuro e foi morar
entre os marginalizados. Esse mesmo Jesus é o centro em torno do qual, os que creem
nele se reúnem para celebrar a sua fé. Ele não marginaliza ninguém nem
discrimina. E os que se reúnem ao redor dele para celebrar, o que fazem? Como
agem?
Na celebração da comunidade devem estar presentes todos
os marginalizados e banidos da sociedade. Só assim nossas celebrações serão
verdadeira comunhão com a Palavra e com o Corpo de Cristo.
Nós hoje, podemos nos escandalizar com o modo como os
leprosos eram tratados. Mas hoje, em nossa sociedade, há igual discriminação e
marginalizados, não só em relação aos portadores de hanseníase, mas sobretudo,
em relação aos aidéticos e doentes de modo geral. Então, hoje, escandalizar-se
seria simplesmente acobertar nossa hipocrisia.
A comunidade será tanto mais de Cristo, tanto mais unida
a Ele, quanto mais se fizer aberta e atenta aos desvalidos da nossa sociedade,
presente nos ambientes e lugares onde há a suspeita e o temor de
“contaminação”. O Bom Pastor vai em busca da ovelha que se perdeu e veio para
salvar o que estava perdido.
4. Ligando a Palavra
com ação litúrgica
Na celebração fazemos memória da Páscoa de Jesus
solidário, oramos na fé do homem leproso, curado da lepra, que acreditou em
Jesus, apesar dos sentimentos de culpa e da baixa estima que a sociedade lhe
impôs.
Com ele e com todos os que sofrem, nós dizemos com toda
a confiança: “se queres, tens o poder de purificar-me”.
A celebração sempre é um momento forte de encontro com o
Cristo, na sua Palavra e na partilha do pão: um momento de estabelecer o
equilíbrio físico e espiritual, renovar o compromisso, de anunciar o seu nome
por estilo de vida baseado no amor e doação.
A homilia, na celebração de hoje, tem um papel
fundamental: ajudar-nos a acolher a ação litúrgica (serviço) de Jesus junto ao
leproso e colocá-la em nossas vidas para lutar contra a discriminação e os
preconceitos.
O pão e o vinho colocados sobre ao altar simbolizam a
nossa disposição e solidariedade de oferecer tudo o que podemos para libertar
as pessoas de todas as maldições, isolamentos, escravidões e marginalização.
Essa solidariedade na Oração Eucarística junta-se à solidariedade de Jesus na
glorificação do nosso Deus e Pai.
Oração dos fiéis:
Presidente: Diante de Deus, reconheçamos nossas fragilidades e peçamos sua
força para que Ele recupere em nós o vigor perdido em nosso corpo ou em nosso
coração.
1. Senhor, que a Igreja nunca se deixe vencer na defesa
dos marginalizados e sempre promova meios para acolhê-los e restituir-lhes a
dignidade da vida. Peçamos:
Todos: Acolha, Senhor, nosso pedido e nossa gratidão!
2. Senhor, que os governantes promovam políticas
públicas que possam sempre ir ao encontro dos sofredores. Peçamos:
3. Senhor, que nossa vida cristã não seja apenas uma
busca de milagres e de fatos extraordinários, mas uma autêntica imitação das
atitudes de Jesus para com os mais pobres e necessitados. Peçamos:
4. Senhor, que nossa comunidade se dedique a ajudar os
mais pobres, acolhendo aqueles que precisam de ajuda e compaixão. Peçamos:
(Outras intenções)
Presidente: Acolha Senhor, nossas preces, fazendo de cada um de nós
pessoas comprometidas com a justiça que promove a dignidade humana. Por Cristo,
nosso Senhor.
Todos: Amém.
III. LITURGIA
EUCARÍSTICA
ORAÇÃO SOBRE AS
OFERENDAS:
Presidente: Ó Deus, que este sacrifício nos purifique e renove, e seja fonte
de eterna recompensa para os que fazem a vossa vontade. Por Cristo, nosso
Senhor.
Todos: Amém.
ORAÇÃO APÓS A
COMUNHÃO:
Presidente: Ó Deus, que nos fizestes provar as alegrias do céu, dai-nos
desejar sempre o alimento que nos traz a verdadeira vida. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos: Amém.
COMUNICADOS:
Dia 13 de
fevereiro – sexta-feira: Posse do Administrador Paroquial do padre Anderson – Quase
Paróquia Santa Luzia – 19h00 – Cordeirópolis, SP.
Dia
15 de fevereiro – domingo: Missa – convento Santa Madalena Postel – 10h00 – 60 anos
e 50 anos de vida consagrada das Irmãs Alzira; Irma Maria Lourenço e Irma Leila
– Leme.
Dia
16/17 de fevereiro – carnaval.
Dia
18 de fevereiro – quarta-feira: Missa – Celebração das Cinzas –
Catedral – Limeira – 19h30min.
Dia
19 de fevereiro – quinta-feira: Reunião do Conselho de presbíteros
– Nossa Senhora da Assunção – Cordeirópolis – 09h00 – Padre Alexander. Missa – de
posse do padre Marcelo Fagundes – Nossa Senhora de Fátima – Araras – 19h30min.
Dia
20 de fevereiro – sexta-feira: atendimento na residência episcopal
– 09h00; Missa – posse do Padre José Antonio - Santa Rita de Cássia – Artur
Nogueira – 19h30min.
Dia
21 de fevereiro – sábado: Padre Ismael Avi – São Francisco de Assis – Araras – 18h00.
Dia
22 de fevereiro –domingo: Posse – Padre Elcio – Nossa Senhora do Belém – Descalvado
– 09h30min; Posse – Padre Paulo Henrique – Nossa Senhora da Rosa Mística – 19h00
–Porto Ferreira.
BÊNÇÃO
E DESPEDIDA:
Presidente: O Senhor esteja convosco.
Todos: Ele está no
meio de nós.
Presidente: Concedei, ó Deus,
aos vossos filhos e filhas, vossa assistência e vossa graça: dai-lhes saúde de
corpo e espírito, fazei que se amem como irmãos e irmãs e estejam sempre a
vosso serviço. Por Cristo, nosso Senhor. Todos:
Amém.
Presidente: (dá a
bênção e despede a todos).