Dom Vilson Dias de Oliveira, DC
Bispo Diocesano de Limeira, SP
“A
quem iremos, Senhor? Tu tens
palavras de vida eterna”
Leituras:
Josué 24, 1-2ª.15-17.18b; Salmo 33 (34),
2-3.16-17.18-19.20-21.22-23 (R/ 9a); Carta de São Paulo aos Efésios
5, 21-32; João 6, 60-69.
COR
LITÚRGICA: VERDE
Animador:
Nesta
páscoa semanal vemos que após os sinais, o anúncio e as propostas
de Jesus sobre o pão da vida, alguns discípulos o abandonam, porque
acham suas palavras duras e exigentes. Pedro responde decididamente a
pergunta de Jesus. Ele representa a comunidade que se decide pelo
seguimento de Jesus. Lembramos hoje a vocação para os ministérios
e serviço na comunidade, é a vocação leiga, que como discípulo e
discípula deve ouvir o mestre e aceitar sua proposta de segui-lo.
1.
Situando-nos
Diante
do discurso sobre o pão da vida, o evangelista João vai descrevendo
a reação dos ouvintes de Jesus. Muitos não acreditam no jeito de
ser de Jesus, sua proposta, ou seja, o caminho da cruz. Jesus não é
o messias segundo a carne e sim segundo o Espírito.
Hoje
Jesus se depara com a reação dos que estão mais próximos. Muitos
discípulos voltaram atrás, não tiveram a coragem de aderir à
proposta de Jesus. Diante disto, Jesus pergunta aos Doze se eles
também querem deixá-Lo. Simão Pedro faz então sua profissão de
fé.
No
caminho de seguimento do Senhor, são muitas as tentações de voltar
atrás. Hoje, nós, discípulos e discípulas de Jesus, renovamos
nossa fé n’Ele, assumindo o caminho da cruz. Que jamais percamos o
encanto por Jesus, o Santo de Deus, Aquele que tem palavra de vida
eterna.
2.
Recordando a Palavra
O
Evangelho de João, colocado logo após o discurso sobre o pão da
vida (6, 22-59), sublinha a adesão dos discípulos à Boa-Nova de
Jesus. Crer que Jesus é o Pão/Palavra que oferece a vida eterna e
que n’Ele reside todo o poder vindo do Pai significa reconhecer sua
ação eficaz na comunidade como Ressuscitado.
Muitos
seguidores abandonam Jesus, pois esperavam um messias libertador para
restaurar a glória de Israel prometida pelos profetas. No fim do
século I, quando o Evangelho de João foi escrito, a comunidade
cristã era discriminada e perseguida.
Muitos
discípulos ouviram a mensagem de Jesus, mas não compreenderam
profundamente sua revelação: “esta palavra é dura. Quem consegue
escutá-la?” (6,60). Quem poderá crer diante do escândalo da
cruz? Jesus se oferece como pão para a vida da humanidade, através
de sua entrega total na cruz.
Por
isso, é necessário “ver que o Filho do Homem subiu para onde
estava antes” (cf. 6,62). Acreditar que, mediante a paixão e
morte, Jesus foi glorificado leva a reconhecer sua presença viva na
comunidade. A experiência pascal com o Senhor proporciona a adesão
às suas palavras.
“O
Espírito é que dá vida, a carne para nada serve. As palavras que
vos disse são Espírito e são vida” (6,63). O Espírito Santo,
dom do Cristo glorificado (cf. 7,39), possibilita reconhecer o
sentido de suas palavras (cf. 14,26) e as transforma em “Espírito
e vida”. A carne, oposta ao Espírito que faz viver, refere-se o
ser humano entregue a si mesmo, incapaz de perceber o sentido
profundo das palavras de Jesus e crer. Os ensinamentos de Jesus
conduzem à adesão, mas “alguns discípulos não acreditam, o
abandonam e não andam mais com ele”. A fé em Jesus é dom
oferecido pelo Pai a todas as pessoas.
Jesus
voltou-se para o grupo mais próximo de seguidores representados
pelos Doze e perguntou: “Vós
também quereis ir embora?”
(6,67). Pedro, em nome dos discípulos, professa a fé em Jesus: “A
quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de via terna. Nós cremos
firmemente reconhecemos que tu és o Santo de Deus”
(6,68-69).
A
proclamação de Jesus como o Santo de Deus remete a “tu és o
Cristo de Deus” (Lc 9,20), pois Cristo significa ungido,
consagrado. Pedro testemunha a adesão da comunidade a Cristo, que
manifesta a salvação, as palavras de vida eterna. Os discípulos
reconhecem que Jesus é o verdadeiro caminho, que leva a experimentar
a presença do Deus vivo.
A
leitura do Livro de Josué convida o povo reunido em Siquém a
renovar a fé no Deus libertador, que “vê a opressão do povo no
Egito, ouve o grito de aflição, conhece os seus sofrimentos e desce
para libertá-los” (Ex 3, 7-8). Muitos grupos que estavam em Siquém
não haviam feito a experiência da libertação no Egito (cf. Nm
14,21-23) e a caminhada pelo deserto. Agora, porém, todos os
presentes participam e atualizam para si a história da salvação,
acolhendo com fé o Senhor e sua Palavra de salvação.
O povo
de Israel reunido em uma grande assembleia constitutiva é chamado a
renovar a aliança com o Senhor. Ao ser interpelado por Josué -
“Escolhei hoje a quem quereis servir” (24,15) - o povo reitera
liturgicamente o compromisso de fé de seguir o Deus de seus pais, o
Deus da história.
A
memória das grandes ações da salvação, especialmente a
libertação da escravidão no Egito e o dom da terra prometida,
levam a escolher o Deus da vida: “nós também serviremos ao
Senhor, porque ele é nosso Deus” (24,18).
O Salmo
33 (34) é uma oração pessoal de ação de graças ao Senhor, que
liberta aqueles que creem nele. Sublinha a confiança no Senhor que
“mantém os olhos sobre os justos e os ouvidos atentos ao seu grito
de socorro”.
A
leitura da Carta aos Efésios pertence à seção sobre as relações
familiares (cf. 5,21-6,9). A Carta aos Efésios, escrita por volta do
ano 90, descreve as relações entre marido e mulher, a partir do
modelo da sociedade romana patriarcal.
Paulo,
em torno do ano 57, havia ressaltado que “não há mais judeu ou
grego, escravo ou livre, homem ou mulher, pois todos vós sois um só,
em Cristo Jesus” (Gl 3,28). O autor da Carta aos Efésios propõe a
relação de amor entre Cristo e a Igreja como modelo de todas as
demais relações familiares.
A forma
como o texto de hoje começa: “Sede submissos uns aos outros no
temor de Cristo” (5,21), revela o novo ensinamento a ser seguido
pelos cristãos. Convida a viver a submissão mútua, não domínio
de uma pessoa sobre a outra.
Os
esposos devem se submeter um ao outro, imitando o amor de Cristo pela
Igreja. O mistério da união entre Cristo e a Igreja é muito
grande. A analogia com o matrimônio proporciona a compreensão maior
e a generosidade no serviço ao Reino de Deus.
3.
Atualizando a Palavra
O sinal
do pão (cf. 6,1-15) e o discurso sobre o pão da vida (cf. 6,
22-59), em que Jesus proclamou que estava entregando sua carne como
alimento para a vida do mundo, conduz ao compromisso de adesão pela
fé ou de rejeição do Enviado de Deus.
Os Doze
que permaneceram com Jesus, convictos de que somente Ele tem palavras
de vida eterna, representam todos os que estão dispostos a dedicar a
vida ao serviço do Reino de Deus. Eles ensinam a viver verdadeira
fé, que consiste em uma relação existencial como Senhor,
testemunhada no compromisso com a realização plena de seu reinado
de justiça e fraternidade.
As
palavras de Jesus, no Evangelho de João, provocam reações de fé
ou de incredulidade (cf. 1, 9-13). Quem ouve Jesus é sempre chamado
a fazer a opção, a escolher o caminho. Os que permanecem com Jesus
comprometem-se no caminho do seguimento, formam comunidades e
participam de seu destino. A adesão leva à identificação com
Jesus, oferecendo a vida como dom de amor e partilha.
Os
desafios cotidianos impelem a renovar a opção por Jesus e seu
projeto, alicerçando a vida sobre os valores do Evangelho. O caminho
da entrega total com Jesus, que se fez plenamente humano, menos no
pecado, se revelou plenamente na cruz, convida a acolher o Deus
presente na fragilidade humana, que se identifica com os irmãos mais
pequeninos” (cf. Mt 25,40).
O povo
de Israel, interpelado por Josué, escolhe “servir o Senhor”,
pois a história da libertação do Egito e da caminhada pelo deserto
revela que somente Ele proporciona a vida em plenitude, a liberdade,
a paz. Nós também somos chamados a renovar o compromisso com o Deus
libertador, revelado nas palavras e nos gestos salvíficos de Jesus.
Como os
discípulos, as palavras de Jesus são “Espírito e vida”,
orientam e sustentam nossas opções e missão de servidores do
Reino: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna! ”.
O amor e a paz de Jesus, sua Palavra e Eucaristia alimentam o caminho
que conduz a uma vida mais digna e plena para todos.
O Papa
Francisco convida a viver ao redor da Palavra de Deus. Não é só a
homilia que deve alimentar da Palavra de Deus. Toda a evangelização
está fundada sobre esta Palavra escutada, meditada, vivida,
celebrada e testemunhada. A Sagrada Escritura é fonte de
evangelização. Por isso, é preciso formar-se continuamente na
escuta da Palavra. A Igreja não evangeliza, se não se deixa
continuamente evangelizar. É indispensável que a Palavra de Deus
“se torne cada vez mais o coração de toda a atividade eclesial”.
A
Palavra de Deus ouvida e celebrada, sobretudo na Eucaristia, alimenta
e reforça interiormente os cristãos e os torna capazes de um
autêntico testemunho evangélico na vida diária. Superemos já a
velha contraposição entre Palavra e Sacramento: a Palavra
proclamada viva e eficaz, prepara a recepção do Sacramento e, no
Sacramento, essa Palavra alcança a máxima eficácia (Cf. EG,
n.174).
4.
Ligando a Palavra com ação litúrgica
Depois
de Jesus ter se apresentado como pão da vida, descido do céu, o
grupo dos discípulos reage: “Esta Palavra é dura. Quem consegue
escutá-la?”. Na segunda parte, o evangelista descreve a opção
dos Doze diante da proposta de Jesus. Pedro responde na primeira
pessoa do plural: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida
eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de
Deus”.
Neste
domingo, Dia do Senhor, na assembleia litúrgica, o Senhor reparte
sua Palavra de vida e salvação para nós.
Como na
assembleia de Siquém, o Senhor nos convoca, nós atendemos e nos
apresentamos. O Senhor fala, nós respondemos, professando a fé,
suplicando e rezando, louvando e bendizendo. Com ritos, gestos e
símbolos, expressamos e renovamos a Aliança.
Somos
abençoados e enviados em missão na construção de comunidades
vivas. (Cf. CNBB, Orientação para a celebração da Palavra de Deus
(Documento 52), n.52). Desenvolve-se desta forma, um verdadeiro
dialogo de Deus com o seu povo reunido, um colóquio continuo do
Esposo e da Esposa, ou seja, a oração.
A
Palavra proclamada e escutada com o ouvido do coração recorda e
prolonga o plano divino de salvação. Na Palavra celebrada
experimentamos a presença viva da libertação pascal acontecendo
hoje, aqui e agora (cf. SC, n.7). O Verbo de Deus, que se fez carne
no seio de Maria, agora ressuscitado, nós vemos encarnado neste dia
e na história da comunidade que o celebra mediante a proclamação
das Sagradas Escrituras.
O
Cristo, Palavra eterna, se faz alimento nas espécies eucarísticas,
“(...) porque, de fato, principalmente na sagrada liturgia, não
cessa de tomar e entregar aos fiéis o pão da vida, da mesa da
Palavra de Deus como do corpo de Cristo” (DV, n.21)
Nutridos
nas duas mesas que são fonte de alimento para todas as pessoas de
fé, poderemos vencer nossos medos e inconstâncias e optar por Jesus
Cristo, o Santo de Deus.
Oração
dos fiéis:
Presidente:
Como expressão de nossa fé na disponibilidade de aceitar o
Evangelho e aceitar Jesus como nosso alimento, elevemos com confiança
nossas preces ao Pai.
1.
Senhor, tornai a Igreja sempre aberta para acolher e reconciliar as
pessoas que a buscam. Peçamos:
Todos:
Abençoai
o teu povo, Senhor!
2.
Senhor, orientai as autoridades, para que cumpram seu papel de
atender às necessidades do povo. Peçamos:
3.
Senhor, protegei os que anunciam as palavras de vida eterna do teu
Filho. Peçamos:
4.
Senhor, que os leigos e leigas de nossa comunidade nunca desanimem na
missão e sintam alegria em sua doação. Peçamos:
(Outras
intenções)
Presidente:
Acolhei as preces, ó Pai, que hoje colocamos diante de vós como
prova de nossa fidelidade e como disposição para caminhar nos teus
caminhos. Por Cristo nosso Senhor.
Todos:
Amém.
III.
LITURGIA EUCARÍSTICA
ORAÇÃO
SOBRE AS OFERENDAS:
Presidente:
Ó
Deus, que pelo sacrifício da cruz, oferecido uma só vez,
conquistastes para vós um povo, concedei à vossa Igreja a paz e a
unidade. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos:
Amém.
ORAÇÃO
APÓS A COMUNHÃO:
Presidente:
Ó
Deus, fazei agir plenamente em nós o sacramento do amor, e
transformai-nos de tal modo pela vossa graça, que em tudo possamos
agradar-vos. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos:
Amém.
AGENDA
DO BISPO DIOCESANO:
Dia
21 de agosto – sexta-feira: Crisma
– Paróquia São Benedito – Limeira – Padre Marcos Daniel
-19h30min.
Dia
22 de agosto – sábado: Abertura
da Palestra escola de Teologia – 08h00 – CDL – Limeira; Crisma
– na comunidade Nossa Senhora de Fátima da Paróquia Nossa Senhora
da Assunção – Porto Ferreira – 19h30min – Padre Felipe de
Moraes Negro;
Dia
23 de agosto – domingo: Missa – sagração
da Paróquia Nossa Senhora do Carmo -09h00 – Americana – Padre
Robert Landgraff.
BÊNÇÃO
E DESPEDIDA:
Presidente:
Olhai,
ó Deus pelos nossos leigos e leigas, que fortalecidos com o batismo
e a eucaristia possam ser sinais da salvação e da paz. Guiai,
Senhor, com vossa mão os seus passos e fortalecei-lhes o ânimo com
a força de vossa graça para que não se deixem abater pelo trabalho
e pela fadiga. Infundi o Espírito Santo em seus corações, para
que, dando-se inteiramente a todos, possam conduzir para vós, ó
Pai, muitos filhos que dêem louvor sem fim na Igreja. Por Cristo,
nosso Senhor.
Todos:
Amém.
Bênção
final
Presid.:
(Dá
a bênção e despede a todos).
Presid.:
Ide
em paz e que o Senhor vos acompanhe.
T.:
Graças a Deus.