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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

PAULO EVANGELlZADOR ITINERANTE: VIAGENS E FUNDACAO DE COMUNIDADES

"Fiz muitas viagens" (2 Coríntios 11,26). É isso que Paulo afirma por volta do ano 55. Mas podemos perguntar: Como eram essas viagens? Como anunciava Jesus Cristo se, naquela época, ele era desconhecido? E os judeus não acusariam Paulo de traidor? Como se alimentava e se mantinha? Quanto tempo ficava em uma cidade? Como fazia para fundar uma comunidade cristã? São perguntas que, ao longo dessas viagens, serão respondidas.

Não era fácil viajar, ao contrário, era muito difícil e complicado. Começando pela maneira de viajar, pois não havia carro, muito menos avião; as estradas eram de terra e havia ladrões e animais selvagens; as estalagens ou pensões eram inseguras, a comida e hospedagem ficavam muito caras; quando se viajava via mar, os barcos também não ofereciam seguranças e podiam naufragar. Paulo sempre viajava com companheiros da comunidade cristã e, em sua primeira viagem, está ao lado de Barnabé e João (Marcos). "Viajar naquele tempo era difícil”. Por terra, tinha de ser a pé ou no lombo de animal, ou de carroça por estradas infames. Por mar, tinha de ser em barco à vela ou remo. Quando viajavam a pé, poderiam abrigar-se em estalagens que não eram nada seguras. Nas estradas romanas da Ásia Menor havia estalagens a cada 35 quilômetros, distância percorrida mais ou menos num dia a pé. Os de menos recursos tinham de dividir um quarto com estranhos. Não é preciso insistir que era muito fácil roubar. Se a hospedaria ficasse num local isolado, um grupo de bandidos não hesitaria em atacá-la.
Tente só imaginar como seria uma viagem da cidade de Paulo, que era Tarso, na Cilícia, até Jerusalém, em Israel, uma distância em tomo de 800 km. Gastar se-ia quase um mês, pois poderia haver contratempos e era quase impossível caminhar todos os dias a pé, sem descansar. Além do mais, como ficariam caras, nessa viagem, a comida e a hospedaria, isto sem contar os outros perigos. Hoje é fácil viajar, pois de carro, numa velocidade de 80 km por hora, é possível percorrer 800 km em 10 horas, mas, naquela época, era complicadíssimo.
O que eles faziam quando chegavam a uma cidade para anunciar Jesus Cristo? Possivelmente, num primeiro momento, tinham de arrumar um local para ficarem e para terem uma referência, ou apelavam para a hospitalidade, que era tão comum no oriente, ou para as hospedarias. Mas, com o passar do tempo e formando cristãos, poderiam ficar na casa de alguém da comunidade. De- pendendo do tempo que iam permanecer numa cidade, tinham de arrumar trabalho para garantir o sustento e os custos das viagens. É comum, em Paulo, evangelizar primeiro nas sinagogas dos judeus, pois esse era um dos objetivos na primeira viagem, mesmo porque lá poderiam ter pagãos tementes a Deus (cf. At 13,14; 14,1; 17,1-2 etc.).
Depois que tinham já convertido algumas pessoas, formava-se uma comunidade cristã; procuravam uma casa maior para a reunião e para celebrar a ceia do Senhor; anunciavam Jesus Cristo e deixavam pessoas encarregadas para coordenar tal comunidade.
Paulo não viajava nem trabalhava sozinho. Certamente suas viagens eram planejadas e preparadas com cuidado. Nem sempre, contudo, os planos davam certo e muitas vezes tinham de ser mudados (2 Coríntios 1, 15-2,1).
Por mar ia de navio. Bastava ter dinheiro, coragem e encontrar o navio que fosse na direção desejada. Por terra ia a pé, seguindo as grandes estradas que o império romano havia construído para unir as grandes cidades. Era mais seguro, mas não totalmente. Talvez esse fato tenha inspirado sua estratégia missionária, isto é, atingir os grandes centros urbanos, fundar aí um núcleo cristão, dar-lhe uma formação básica e um pouco de organização, confiando que esse núcleo, por sua vez, se espalharia pelas grandes cidades, pelas periferias e pequenas cidades dos arredores. Paulo se irrita com os coríntios quando estes, por brigas internas, atrasam esse processo de evangelização em forma de rede (veja 2 Coríntios 10,15-16).
As grandes estradas do império romano tinham sido construídas para fins militares (deslocamento do exército romano que ocupava essas regiões), comerciais (transporte dos bens produzidos) e de comunicação (correios). O império romano dispunha de um sistema de comunicação interessante. Para fazer as notícias chegar velozes, a cada 30 quilômetros havia postos de troca de cavalos e de pessoas. Paulo e seus companheiros sabiam disso e aproveitavam essa estrutura para viajar. Ou seja, normalmente viajavam 30 quilômetros por dia, pernoitando nesses postos de troca dos correios. Todavia, as coisas não eram tão simples. Havia perigos e gastos enormes. Dos perigos Paulo fala bastante num trecho de 2 Coríntios 1l,26b-28: "Sofri perigos nos rios, perigos por parte dos ladrões, perigos por parte dos meus irmãos de raça, perigos por parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos por parte dos falsos irmãos. Mais ainda: morto de cansaço, muitas noites sem dormir, fome sede, muitos jejuns, com frio sem agasalho. E isso para não contar resto: a minha preocupação cotidiana, a atenção que tenho por todas as igrejas".
Nessa série de perigos ao longo das viagens alguns detalhes chamam a atenção. Além dos perigos nos rios e no mar, dos quais Lucas nada fala nos Atos, é oportuno lembrar as noites sem dormir, a fome, a sede e os jejuns forçados, com frio e sem agasalho. Nas passagens perigosas dessas estradas abrigavam-se ladrões que despojavam os viajantes de tudo o que possuíam, até da roupa para cobrir o corpo. Teria acontecido isso com Paulo e seus companheiros? Paulo garante que, por onde andou encontrou perigos. Esses vinham de vários grupos: ladrões, judeus e pagãos.
Com quais recursos Paulo viajava? Atos e cartas concordam que o dinheiro para os gastos vinham tanto do trabalho pessoal quanto da colaboração das comunidades. Em Atos 18,3 se diz que ele era fabricante de tendas; em 20,34-35 há um texto importante: "Vocês mesmos sabem que estas minhas mãos providenciaram que era necessário para mim para os que estavam comigo. Em tudo mostrei a vocês que é trabalhando assim que devemos ajudar os fracos, recordando as palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: 'Há mais felicidade em dar do que em receber'''. Esta afirmação combina com vários textos de Paulo, entre os quais 1 Tessalonicenses 2,9 e 1 Coríntios 4,11-12, que acrescenta os temas da fome, sede, maus-tratos e endereço desconhecido.
Viaja também com a ajuda das comunidades. Escrevendo aos coríntios e fazendo planos, pretende passar com eles o inverno e receber ajuda para prosseguir viagem (1 Coríntios 16,6). Logo em seguida, pede à comunidade que forneça o necessário para que Timóteo possa prosseguir viagem (16,11). Quando, entre os coríntios, Paulo passou necessidade, as comunidades da Macedônia (talvez de Filipos) o socorreram (2 Coríntios 11,9). Escrevendo aos romanos, planeja ir à Espanha, e prepara o ânimo dos cristãos dessa cidade para que o ajudem nessa nova fronteira de evangelização (15,24). Parece que Febe, diaconisa da comunidade de Cencréia, fosse a portadora da carta aos romanos e também a organizadora dessa viagem à península ibérica. De fato, Paulo diz: "Dêem a ela toda a ajuda que precisar, pois ela tem ajudado muita gente mim também" (16,2).
Esses dados não podem ser esquecidos quando pretendemos estudar as viagens de Paulo. Ao fazer isso, porém, devemos servir-nos das informações dos Atos dos Apóstolos. Lucas relata quatro viagens de Paulo. Mas, como foi dito anteriormente, é necessário tomar com cautela seus dados a esse respeito, pois ele não pretende oferecer todos os detalhes das viagens. Assim sendo, vamos ver como os Atos apresentam Paulo itinerante e funda- dor de comunidades. Parece que Lucas, ao fazer isso, escolheu alguns episódios interessantes, omitindo outros. É possível descobrir alguns temas ou fatos comuns nas quatro viagens. Salientamos quatro: uma realidade nova provocada pelo anúncio do Evangelho (normalmente um caso de magia ou superstição), um pronunciamento de Paulo (discurso), um milagre, uma tribulação. A ordem desses acontecimentos não é sempre a mesma. Além disso, tem-se a impressão de que cada viagem tem uma característica, que desenvolveremos a seguir.
1. Primeira viagem (anos 46-48): Atos 13-14
A primeira viagem começa e termina em Antioquia da Síria. É feita por mar e por terra. João (Marcos) acompanha Barnabé e Paulo. Em princípio, Barnabé parece ser o chefe da equipe evangelizadora (é citado antes de Paulo), mas depois Paulo comanda as ações (passa a ser citado antes de Barnabé).
Se você quiser, podemos ver juntos os principais acontecimentos e o percurso traçado na primeira viagem. Para isso, pegue sua Bíblia, em Atos dos Apóstolos, capítulos 13 e 14, e também uma folha de papel e caneta. Será uma experiência diferente e você vai entender melhor os detalhes dessa viagem e a força da Palavra de Deus. Depois, você poderá acompanhar a viagem pelo mapa que esta na sua Bíblia.
O ponto de partida é a Igreja de Antioquia, na Síria (cf. 13,1). Nesta comunidade havia cristãos nascidos em Chipre (Atos 11,20). Parece que a influência dessas pessoas, além do fato de o próprio Barnabé ser natural dessa ilha (Atos 4,36), tenha determinado o rumo a ser seguido. Alguns fatos importantes parecem salientar uma das preocupações de Lucas, por exemplo: o episódio do mago Elimas na ilha de Chipre. Com esse fato, quer-se mostrar que a Palavra de Deus vai vencendo a magia e, mais adiante, também as idolatrias (14,1-18). É o Evangelho penetrando as culturas. Esse tema reaparecerá, sob outra roupagem, nas outras viagens.
João (Marcos) separa-se do grupo e volta a Jerusalém (13,13b). Será, no começo da segunda viagem, o motivo mais importante para que Paulo e Barnabé sigam caminhos próprios.
Lucas mostra Paulo fazendo um discurso na sinagoga de Antioquia da Pisídia. É uma amostra de como ele vê Paulo anunciando Jesus aos judeus. (Na segunda viagem, o mostrará falando de Jesus aos intelectuais de Atenas; na terceira, será apresentado ensinando por longo tempo na escola de Tiranos, além do discurso de despedida dos anciãos de Éfeso; na quarta, há vários pronuncia- mentos de Paulo.) A pregação de Paulo nessa cidade parece uma síntese do seu anúncio fundamental. E o centro desse anúncio é a pessoa de Jesus, eixo da história do povo de Deus. O começo do discurso aponta para Jesus, que ocupa o centro. Paulo abrevia os fatos para se concentrar em Jesus. O fim do discurso é um apelo para que se aceite essa grande novidade. Lucas mostra Paulo bem treinado com os textos bíblicos, provando, com o Antigo Testamento, que Jesus Cristo é a realização das promessas de Deus e das expectativas do povo.
Uma característica da primeira viagem (que reaparecerá também em outras) é a rejeição do Evangelho por parte dos judeus e a aceitação por parte dos pagãos. Os judeus reagem com violência à pregação de Paulo, perseguindo-o de cidade em cidade; os pagãos reagem com alegria e adesão, começando a formar comunidades cristãs. Icônio, Listra e Derbe completam a ida da primeira viagem e são centros urbanos de onde partirá o testemunho cristão. Lucas quis inserir aqui um milagre de Paulo em Listra (14,8-10), e conservará essa característica também para as demais (um milagre para cada viagem). Com a narração desse milagre certamente o autor pretende defender o princípio de que em Paulo se prolongam as palavras, as ações e também os sofrimentos de Jesus.
O tema do sofrimento, perseguição ou tribulação também é uma constante na montagem que Lucas fez das viagens de Paulo. Na primeira relata um apedrejamento em Listra (14,19-20). (Note-se que Timóteo é dessa cidade. A partir da segunda viagem será o mais fiel colaborador de Paulo.) Em cada viagem será relatado um fato semelhante.
Atos 14,21 marca o retorno da primeira viagem. É um trabalho de confirmação das comunidades. Surge a consciência de que as tribulações fazem parte da missão e de que é preciso passar por elas para entrar no Reino. Mostra-se um mínimo de organização das comunidades fundadas há pouco. São dirigidas por anciãos, que Paulo e Barnabé confiam ao Senhor.
A chegada a Antioquia da Síria, ponto de partida, é marcada pela "prestação de contas": Paulo e Barnabé contam a grande novidade sonhada por essa comunidade que decidira abrir-se sem medo ao mundo: Deus tinha aberto aos pagãos a porta da fé. Esta é a grande característica da primeira viagem. O muro que separava a humanidade em dois grupos desapareceu. O Deus dos cristãos é o Deus de todos.
2. Segunda viagem (anos 49-52): Atos 15,36-18,23a
A segunda viagem também começa e termina em Antioquia da Síria, e acontece depois do encontro de lideranças cristãs em Jerusalém (Atos 15). Esse encontro deve ter sido tenso e difícil. Os Atos dão a impressão de que tudo correu serenamente, mas os estudiosos detectam, com a ajuda da carta aos Gálatas, tensões profundas entre grupos. Parece que o texto de Atos 15 seja o resumo de dois encontros diferentes em torno das mesmas questões. De qualquer forma, Lucas mostra que o sonho dos cristãos de Antioquia da Síria, de abrir-se sem medo para o mundo, foi bem-sucedido. Assim sendo, retoma as viagens de Paulo. A segunda, além de apresentar aqueles elementos comuns à primeira, tem uma característica própria, como veremos.
A viagem ainda não começou e já temos uma crise. O pivô parece ser João Marcos, que abandonara a equipe na primeira viagem (veja 13,13b). Pode haver outras razões não confessadas, como o provável descontentamento de Paulo diante da hipocrisia de Barnabé, narrada em Gálatas 2,13 (supondo que esse fato tenha acontecido antes da segunda viagem). Barnabé parece trair o próprio passado de homem lúcido e corajoso, e Paulo não quer consigo uma pessoa incapaz de levar adiante as conquistas da comunidade de Antioquia da Síria.
Os dois, então, se separam. Barnabé segue o caminho da primeira viagem, indo à sua terra, Chipre, com João Marcos. A abertura ao mundo por parte dos cristãos de Antioquia da Síria prossegue com Paulo, que se faz acompanhar de Silas-Silvano. Lucas salienta que Paulo partiu"recomendado pelos irmãos à graça do Senhor" (Atos 15,40b). Ele, e não Barnabé, continua ligado à comunidade e dando sequência aos projetos que ela possuía. Com isso, Barnabé desaparece do campo de interesse do autor de Atos dos Apóstolos.
Lucas abrevia em poucas palavras os primeiros passos da nova equipe. Simplesmente afirma que Paulo e Silas "atravessaram a Síria a Cilícia, dando nova força às igrejas" (15,41). O itinerário, portanto, é diferente. E não se deve esquecer que, antes de fazer parte da comunidade de Antioquia da Síria, Paulo ficara vários anos em Tarso, na Cilícia. Das comunidades dessa região nada se sabe.
A comunidade de Derbe recebe a segunda visita de Paulo, e as de Listra, Icônio e Antioquia da Pisídia o acolhem pela terceira vez. Mas Lucas ignora esses fatos. Concentra-se na pessoa de Timóteo, que fará parte da equipe. Timóteo era de Listra, cidade onde Paulo fora apedrejado na primeira viagem (14,19-20).
Lucas omite também a fundação das comunidades gálatas. Simplesmente afirma que "Paulo eTimóteo atravessaram a Frígia a região da Galácia, uma vez que Espírito Santo os proibira de pregar a Palavra de Deus na Ásia" (16,6). A maioria dos estudiosos afirma que foi nessa ocasião, por causa de uma doença, que Paulo evangelizou a Galácia (veja Gálatas 4,13-14). Outros, como vimos, pensam que essas comunidades poderiam ter sido fundadas no período em que Paulo esteve em Tarso, antes que Barnabé o fosse buscar.
Por que os Atos omitem esses acontecimentos? A essas alturas a resposta parece clara. Todavia, é importante salientar que Lucas tem pressa em mostrar a grande característica da segunda viagem: o Evangelho entrando na Europa. Um macedônio (isto é, um europeu) aparece a Paulo numa visão e pede ajuda. Lucas desconsidera todos os acontecimentos anteriores para se concentrar nesse momento solene: a Palavra de Deus entrando num continente novo, deixando a Ásia para penetrar na Europa. Os séculos seguintes mostraram que esse projeto era realmente uma iniciativa do Espírito. De fato, foi por causa dessa passagem que o cristianismo sobreviveu e se desenvolveu. Lucas não tem receio em afirmar que o Espírito Santo conduz essa missão, impedindo Paulo e Timóteo de anunciar a Palavra na Ásia (16,6-7). Trôade, cidade da Ásia, fica a pouca distância de Neápolis e Filipos, as duas primeiras cidades européias a acolher Paulo.
Como dissemos, em 16,10 temos a mudança na forma de narrar os fatos. Passa-se a relatar os acontecimentos a partir da primeira pessoa do plural ("procuramos", "estávamos convencidos" etc.). Para muitos, a partir desse momento Lucas começa a fazer parte da equipe evangelizadora que entra na Europa.
Em Filipos nasce a primeira comunidade cristã européia, e nasce justamente na casa de uma mulher asiática, Lídia, comerciante de púrpura, natural de Tiatira. O momento é extremamente significativo. Não se sabe se em Filipos havia ou não uma sinagoga. Fato é que Paulo e sua equipe, no sábado, vão à beira de um rio, onde as pessoas se reuniam para rezar. E aí encontram um grupo de mulheres. Note-se a diferença. Na sinagoga, para ha- ver culto, eram necessários pelo menos dez homens. As mulheres não contavam. Aqui, se diz que havia apenas mulheres reunidas (16,13), e a partir de uma delas nasce a primeira igreja doméstica européia, na casa de uma mulher. Lídia é pagã simpatizante do judaísmo ("acreditava em Deus"). Esse detalhe terá um significado profundo na ação de Paulo daqui para a frente, sobretudo no que se refere à sua relação com as mulheres nas comunidades. A mudança da sinagoga para a casa é decisiva para o papel da mulher. Na sinagoga ela nada contava e nada valia; na casa ela é a dona da casa, a anfitriã, aquela que coordena. Nesse sentido, é oportuno ler atentamente a carta aos Filipenses, notando que há nessas comunidades duas mulheres no cargo de direção, Evódia e Síntique (Filipenses 4,2).
Num mesmo episódio (16,16-24), Lucas concentra um dado cultural iluminado pelo Evangelho (um caso de possessão, compare com 13,8-12), um milagre de Paulo (exorcismo, compare com 14,8-10) e a consequente tribulação (açoites com varas, compare com 14,19-20). Não se deve desprezar o fator econômico desse episódio. Paulo se com- porta como Jesus, que põe o ser humano acima de qualquer interesse econômico, pois a liberdade humana não tem preço (compare esse episódio com Lucas 8,26-39).
Paulo e Silas são postos na prisão. Parece ser a primeira vez que Paulo enfrenta a cadeia, mas ao longo de sua vida deve ter contabilizado mais de quatro anos de detenção. Não se fala dos outros dois companheiros de missão, Timóteo e Lucas. Onde estariam? A resposta pode estar na estratégia missionária de Paulo que, a partir de um centro urbano importante, fazia a Palavra espalhar-se em outros centros menores. Talvez seus companheiros estivessem empenhados nisso.
O episódio da libertação de Paulo e Silas é descrito de modo fantástico. É impossível lê-lo ao pé da letra sem cair em contradições. Por exemplo: Se o terremoto foi tão forte a ponto de sacudir os alicerces, abrir as portas e soltar as correntes de todos, como se explica que a prisão não tenha virado um monte de ruínas e os presos tenham sido esmagados? Se as portas se abriram e as correntes se soltaram, como explicar que os outros presos tenham ficado quietos e bonzinhos em seus lugares? Se o carcereiro levou Paulo e Silas da prisão para a casa dele, como se explica que na manhã seguinte, quando os magistrados enviam à prisão os oficiais de justiça para soltá-los, eles estejam de novo na cadeia? A mensagem desse episódio deve, portanto, ultrapassar os simples dados materiais.
Há outro detalhe importante: na casa do carcereiro (pagão, como Lídia) surge uma nova comunidade cristã. É a segunda igreja doméstica europeia. Mais tarde, escrevendo a primeira carta aos Tessalonicenses (2,1-2), Paulo recorda os momentos de tribulação passados em Filipos.
Não se sabe quanto tempo estiveram nessa cidade. Fato é que, após esses incidentes, dirigiram-se a Tessalônica pela estrada Egnatia, passando por Anfípolis e Apolônia, cidades menores. Nos planos de Paulo, elas deveriam ser evangelizadas pelos filipenses ou tessalonicenses, e parece que o foram rapidamente (veja 1Tessalonicenes 1,7-8; veja o oposto em 2 Coríntios 10, 13-16).
Em Tessalônica (Atos 17,1-9), Paulo deve ter permanecido cerca de um mês. Mais tarde, escrevendo a essa comunidade, manifesta o desejo de voltar pra matar saudades e para completar o que não foi possível em termos de anúncio básico (veja 1 Tessalonicenses 3,6.10).
De acordo com os Atos, em Tessalônica havia uma sinagoga, e a comunidade fundada por Paulo era mista (judeus e gregos). Chama a atenção a presença de mulheres da alta sociedade (Atos 17,4). Uns cinco anos mais tarde, escrevendo aos coríntios para incentivá-los a participar do mutirão internacional de solidariedade para com os pobres de Jerusalém, Paulo afirma que as comunidades da Macedônia (portanto, também de Tessalônica), eram extremamente pobres (2 Coríntios 8,2). Quem, portanto, tem razão quanto à situação econômica das comunidades da Macedônia? Pode ser que as coisas, no início, tenham sido como as descreve Lucas, mas não se pode desmentir o que Paulo diz delas por volta do ano 55. Note-se que em 1 Tessalonicenses 4,12; 5,14 ele insiste na necessidade de trabalhar com as próprias mãos (veja também 2Tessalonicenses 3,6-12). Teriam essas pessoas da elite abandonado a comunidade por causa disso? É provável. No mundo cultural grego, trabalhar com as próprias mãos era coisa reservada a escravo. As elites só baixam de condição social quando forçadas.
Lucas não mostra o anúncio de Paulo na sinagoga de Tessalônica. Já o conhecemos a partir da pregação em Antioquia da Pisídia (primeira viagem). Mas aqui emerge um dado interessante a partir das acusações que movem contra ele: está indo contra a lei do imperador, afirmando que existe outro rei chamado Jesus (17,7). O anúncio de Paulo, portanto, tem consequências também políticas. Deve-se lembrar que, em todo o império romano, havia o culto ao imperador vivo e aos imperadores mortos. Essa questão se tornará mais forte nas décadas seguintes, mas já está presente nos tempos de Paulo. As cidades que adotassem o culto ao imperador recebiam do poder central romano inúmeros benefícios políticos e econômicos (verbas, por exemplo). Era uma forma de dominar mediante a religião atrelada ao poder econômico. Paulo é acusado de mexer com essa situação.
Ele e Silas se hospedaram na casa de Jasão, e é certamente aí que nasce o primeiro núcleo cristão nessa cidade. Ainda sem a presença de Timóteo e Lucas, os dois têm de fugir para Beréia, onde dão início a nova comunidade. Mas também aí chegam os inimigos de Paulo, que tem de partir para Atenas. Da comunidade de Beréia não se conhece nada. Uma coisa, no entanto, começa a ficar clara: as comunidades fundadas por Paulo são mais numerosas do que pensamos. Às vezes somos tentados a crer que sejam apenas as que receberam cartas dele. Na realidade, porém, eram mais numerosas.
Na segunda viagem, Lucas reservou o discurso de Paulo para as elites intelectuais da cidade de Atenas (compare com o da primeira viagem, 13,13-41). É uma peça literária muito bem montada, com pesquisa de campo, citação de autores famosos etc., mas o resultado foi francamente escasso. Nasce em Atenas uma pequena comunidade, da qual nada se falará depois.
Se os fatos aconteceram como Lucas relata, o episódio de Atenas deve ter feito Paulo repensar muitas coisas. Sua decepção com as elites e com a nata intelectual foi grande. Tentou, sem muito sucesso. Depois disso, entrou em Corinto fazendo justamente o que os intelectuais não queriam fazer, ou seja, trabalhar com as próprias mãos (Atos 18,3; 1 Coríntios 4,12). Entrou nessa metrópole (com talvez meio milhão de habitantes) pela porta dos crucificados (os dois terços da população escrava), anunciando o Crucificado e afirmando que a linguagem da cruz, loucura para as elites, é genuína sabedoria de Deus (1 Coríntios 1,17-2,2).
Paulo deteve-se um ano e meio em Corinto (Atos 18,11). Desde já deve-se prestar atenção a um fato (que retomaremos ao falar das cartas). Dezoito meses de trabalho e de evangelização numa comunidade são muito mais do que alguns textos escritos. Nada temos de concreto a respeito do que Paulo anunciou, vivenciou e partilhou nesse tempo em que aí esteve. As cartas, portanto, além de serem posteriores à fundação das comunidades, refletem uma etapa posterior de evangelização.
Foi nesse tempo que surgiu o primeiro texto escrito do Novo Testamento, a primeira carta aos Tessalonicenses. A chegada de Timóteo, vindo de Tessalônica com boas notícias a respeito da perseverança e progressos dessa comunidade, gerou esse texto (veja 1 Tessalonicenses 3,6). Era o ano 51 (se consideramos que 2 Tessalonicenses seja uma carta de Paulo, deve ter sido escrita nesse mesmo ano).
O conflito explodiu também em Corinto (Atos 18,12-17) e, como em Tessalônica, Paulo é acusado de subversão política. O império romano reconhecia e respeitava a Lei dos judeus. Dizer que Paulo induz o povo a adorar a Deus de modo contrário à Lei (18,13) é o mesmo que acusá-lo de subversão política com desculpa religiosa. E foi justamente essa uma das acusações contra Jesus.
Corinto marca o ponto extremo da ida e o início da volta da segunda viagem. A passagem por Cencréia é rápida, só para cortar o cabelo. Mais tarde, fala-se de Febe, diaconisa dessa igreja (Romanos 16,1-2). A comunidade de Cencréia pode ter sido fundada por Paulo durante o tempo em que esteve em Corinto (Cencréia era uma espécie de "periferia"), ou por pessoas da comunidade de Corinto.
O retorno é mais rápido, por mar, com parada em Éfeso, e Paulo se faz acompanhar per Priscila e Áquila. Estes ficam em Éfeso, para onde Paulo planeja voltar na terceira viagem.
3. Terceira viagem (anos 53-57): Atos 18,23b-21,17
A terceira viagem também começa em Antioquia da Síria, mas termina em Jerusalém, provavelmente contra a vontade de Paulo, que foi levar o resultado do mutirão internacional de solidariedade e acabou preso.
Lucas faz de Éfeso o pivô da terceira viagem. Antes de mostrar Paulo aí, fala de Apolo (Atos 18,24-28), africano de Alexandria, "catequizado" em Éfeso por Priscila e Áquila. Apolo, assim instruído, vai a Corinto. Sua presença nessa comunidade foi fecunda, segundo Lucas. Mas surgiram também problemas (veja 1 Coríntios 1,12; 3,5- 9; 4,6).
Enquanto isso, Paulo (talvez sozinho) percorreu "sucessivamente as regiões da Galácia da Frígia, fortalecendo todos os discípulos" (Atos 18,23b), "atravessou as regiões mais altas chegou a Éfeso" (19,1). Mais uma vez, Lucas omite os passos de Paulo anteriores à chegada à capital da Ásia. A permanência de Paulo em Éfeso é fundamental no esquema das viagens proposto por Lucas. Paulo demora-se aí, e por três meses anuncia o Reino de Deus na sinagoga (19,8). Por dois anos (19,10) ensina na escola de Tiranos. Mais adiante, no discurso de despedida, fala de três anos vividos nessa cidade (20,31). É o período mais longo numa cidade, depois que começou a percorrer o mundo para anunciar Jesus. Vale a pena perguntar-se por que ficou aí todo esse tempo e levantar algumas suspeitas em relação a isso.
Lucas sintetiza esse tempo com uma frase: "todos os habitantes da Ásia, judeus gregos, puderam ouvir a Palavra do Senhor" (19,10b). É a principal característica da terceira viagem. A permanência de Paulo em Éfeso foi como uma alta torre de transmissão para toda a Ásia. Como teria acontecido isso? Simplesmente mediante as aulas dadas na escola de Tiranos? Claro que não.
A estadia de Paulo em Éfeso é fonte de irradiação também e sobretudo mediante as cartas, embora Lucas ignore esses fatos. Aliás, Lucas omite muitas coisas, como uma possível prisão de Paulo nessa cidade. Os Atos falam, sim, de tribulações enfrentadas aí. Mas a maioria dos estudiosos hoje, sabendo que Lucas não narra todos os acontecimentos, supõe um período de prisão em Éfeso, durante o qual teriam sido escritas várias cartas.
Assim explica-se, em parte, por que Paulo permaneceu cerca de três anos nessa capital. Ele deve ter-se entregue a uma intensa atividade evangelizadora, juntamente com o grande número de colaboradores que faziam parte de sua equipe de evangelização (já falamos de sua estratégia, partindo da grande cidade para as periferias e cidades menores). Ele coordenava vasta equipe de colaboradores em torno de único projeto. E se de fato, durante sua estada em Éfeso, toda a Ásia pôde ouvir a Palavra do Senhor, deve-se a suas estratégias e a seus colaboradores.
Paulo não fala de prisão durante a permanência em Éfeso, mas algumas passagens de suas cartas mostram claramente que coisas terríveis aconteceram na capital da Ásia, e entre essas coisas terríveis poderia estar incluída também a prisão. Vejamos 1 Coríntios 15,32 (esta carta foi certamente escrita em Éfeso, logo após os acontecimentos que serão descritos): "Para mim, de que teria adiantado lutar contra os animais em Éfeso, se eu tivesse apenas interesses humanos? Se os mortos não ressuscitam, comamos bebamos, pois amanhã morreremos." Paulo fala de luta com os animais (literalmente feras) de Éfeso por estar defendendo a ressurreição dos mortos. Não se trata de bichos, mas de pessoas que agem como feras contra Paulo, suas palavras e planos pastorais. Note se que os judeus, de modo geral, aceitavam pacificamente a ressurreição dos mortos. Seriam esses "animais" pessoas pagãs? O segundo texto é ainda mais forte. Trata-se de 2 Coríntios 1,8-10 (talvez escrita também em Éfeso): "Irmãos, não queremos que vocês ignorem isto: a tribulação que sofremos na Ásia nos fez sofrer muito, além de nossas forças, a ponto de perdermos a esperança de sobre- viver. Sim, nós nos sentíamos como condenados à morte: a nossa confiança já não podia estar apoiada em nós, mas em Deus que ressuscita os mortos. Foi Deus quem nos libertou dessa morte, dela nos libertará; nele colocamos a esperança de que ainda nos libertará da morte."
Com certeza nesse período Paulo deve ter escrito a primeira carta aos Coríntios, deve ter ido rapidamente a Corinto e partido daí chocado, rejeitado e sofrendo, e deve ter escrito boa parte daquela que hoje conhecemos como a segunda carta aos Coríntios (veja, adiante, a tentativa de reconstituir as visitas aos coríntios e as cartas).
A carta aos Gálatas certamente é desse período. Se de fato Paulo esteve preso em Éfeso, também a correspondência com Filipos deve ter surgido daqui. Note-se que a atual carta aos Filipenses é, na verdade, um conjunto de três bilhetes: 4,10-20; 1,1-3,1 + 4,2-7.21-23; 3,2-4,1 + 4,8-9 (os dois primeiros falam de prisão, o último não).
A maioria dos estudiosos defende a ideia de que também a carta a Filemon seja dessa época. E os motivos são vários. Se Colossenses e Efésios (esta, na sua origem, pode ter sido uma "carta aberta" às comunidades vizinhas a Éfeso) forem de Paulo, também poderiam se encaixar nesse tempo. Como se pode ver, a irradiação da mensagem a partir de Éfeso se dá mediante o ensino oral de Paulo (escola de Tiranos), a colaboração de muitas pessoas que iniciam novas comunidades nas cidades próximas (veja em Colossenses 1,7 o caso de Epafras, fundador de uma comunidade de Colossas) e mediante as cartas. Como dirá mais tarde a segunda carta a Timóteo, "a palavra de Deus não está algemada" (2,9b).
Antes de prosseguir com a descrição de Lucas a respeito da terceira viagem, é oportuno recordar mais uma grande preocupação de Paulo nesse tempo em que se de- teve em Éfeso. É a tentativa de se solidarizar com os cristãos pobres de Jerusalém, movimentando para isso comunidades da Ásia (Galácia) e da Europa (Macedônia e Acaia). Nada sabemos a respeito dessa organização entre as comunidades da Galácia, a não ser uma ordem dada aos coríntios, a fim de que façam como na Galácia: "Quanto à coleta em favor dos irmãos, façam como eu ordenei às igrejas da Galácia. Todo primeiro dia da semana, cada um coloque de lado aquilo que conseguiu economizar; desse modo, vocês não precisarão esperar que eu chegue para fazer a coleta" (1Coríntios 16,1-2). Isso nos leva, entre outras coisas, a reconhecer que a comunicação entre Paulo e os gálatas foi além de uma simples carta e que na Galácia havia mais de uma comunidade cristã (igrejas).
Além de 1 Coríntios 16,1-4, os capítulos 8 e 9 da atual segunda carta aos Coríntios tratam abundantemente desse tema, criando rivalidade entre os cristãos da Macedônia e os da Acaia. A resolução dessa coleta estava demorando muito por causa da resistência de alguns coríntios que, maliciosamente, teriam levantado a seguinte suspeita contra Paulo: ele está organizando essa coleta para nos despojar e ficar rico (veja 2 Coríntios 12,16-18). A respeito dos resultados desse mutirão voltaremos a falar no fim da viagem.
Retomando a narrativa de Lucas a respeito da estadia de Paulo em Éfeso, encontramo-lo envolvido com muitos problemas, como a questão dos exorcistas judeus itinerantes (19,13-16) e a queima de livros de magia (19,18-19; compare com o mago Elimas da primeira viagem, 13,8-12, e com a moça possessa da segunda, 16,16-18). Para nós, à distância de quase dois milênios, a queima desses livros pode parecer um crime contra um patrimônio histórico e cultural da humanidade. É preciso, no entanto, compreender os fatos dentro da perspectiva de Lucas: o Evangelho vai libertando de todas as magias e alienações.
Um detalhe interessante encontra-se na comparação de Atos 19,21-22 com Lucas 9,51-52a. O autor certamente quis estabelecer uma comparação ou equivalência. No Evangelho de Lucas inicia-se a longa viagem de Jesus a Jerusalém; nos Atos começa a longa viagem de Paulo, "prisioneiro do Senhor", que além de Jerusalém pretende ir também a Roma. Os contatos entre as duas passagens são interessantes e detalhados. Paulo, antes de ser preso, já planeja novos campos de evangelização.
O conflito ou tribulação, tema já apresentado nas viagens anteriores (14,19-20; 16,19-24), explode também na terceira (19,23-41). Como no episódio paralelo da segunda viagem, a atitude de Paulo mexe com os donos do dinheiro e, sobretudo, os que enriquecem às custas da religião, ou seja, os artesãos ligados ao culto da deusa Ártemis (Diana), Paulo tem de fugir daí, viajando para a Macedônia (veja, acima, o quadro referente à correspondência com os cristãos de Corinto). Deve ter passado por essas comunidades, preocupado entre outras coisas com a coleta, até chegar a Corinto, de onde escreve a carta aos Romanos. O autor de Atos menciona agora uma série de colaboradores de Paulo, entre os quais pode estar o próprio Lucas.
De Corinto Paulo inicia a viagem de volta, rápida, para Jerusalém, sob ameaças de atentado por parte dos judeus. Decidiu então voltar a pé pela Macedônia. Lucas narra agora um milagre de Paulo, a ressurreição de Êutico (At 20,7-12; compare com Lucas 7,11-17 e com os milagres das viagens anteriores, Atos 14,8-10 e 16,16-18). A ressurreição desse jovem se dá num contexto eucarístico.
À semelhança das viagens anteriores (13,13-41; 17,16-31), também nesta há um discurso de Paulo. É um discurso comovente, de despedida, uma espécie de herança espiritual de Paulo prisioneiro (na visão de Lucas) aos anciãos de Éfeso (20,18-35). É uma bela síntese da vida de Paulo. O desfecho trágico de sua vida já desponta no horizonte. Muitos tentam convencê-lo a não ir a Jerusalém, mas Lucas o mostra decidido como o Senhor Jesus, e aos que o acompanham não resta senão dizer como Jesus ensinou: "Seja feita a vontade do Senhor" (21,14b; compare com Lucas 22,42).
Paulo chegou a Jerusalém e teve de fazer as contas com Tiago. Não sabemos como a coleta tenha sido acolhida pelos cristãos dessa cidade. De Corinto, alguns meses antes, escrevendo aos Romanos, ele pedia orações para que fosse bem-sucedido diante de duas eventuais dificuldades:"Irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo pelo amor do Espírito, peço que lutem comigo nas orações que vocês dirigem a Deus em meu favor. Rezem para que eu escape dos infiéis que estão na Judéia, para que meu serviço a favor de Jerusalém seja bem-aceito por aquela comunidade. Assim, se Deus quiser, poderei visitá-los com alegria descansar um pouco aí entre vocês" (15,30-32).
As dificuldades e os temores de Paulo são bem claros: há o perigo vindo dos infiéis da Judéia e o perigo de que todo o esforço pelo mutirão de solidariedade, pedido pelas próprias lideranças de Jerusalém (Gálatas 2,10), termine em nada. Havia os graves riscos normais de transporte dessa quantia de dinheiro (ladrões, naufrágio etc.); havia a suspeita de que Paulo estivesse "arrancando o couro" das comunidades (2 Coríntios 12,16-18; daí a prudência dele em confiar esse encargo a pessoas das próprias comunidades ou cercar-se de gente de confiança das comunidades, veja 1 Coríntios 16,3-4) e havia o perigo real de que as lideranças cristãs de Jerusalém simplesmente rejeitassem a oferta vinda de comunidades pagãs. O que de fato aconteceu não se sabe. Parece que o prêmio por tanto esforço tenha sido a prisão, diante da aparente apatia de Tiago.
4. Quarta viagem (anos 59-62): Atos 21,18-28,16
A quarta viagem, na narrativa de Lucas, ocupa maior espaço do que as outras, sinal de que é extremamente importante. Aqui, apresentaremos apenas alguns aspectos. O tema principal é, sem dúvida, este: O testemunho de Jesus Cristo chega aos confins do mundo. De fato, em Atos 1,8 Jesus havia dito aos discípulos que seriam testemunhas dele até os extremos da terra. "Extremos da terra", na perspectiva de Lucas, é a cidade de Roma, capital e centro do império romano, dentro do qual Paulo se movimenta. Paulo chega a Roma, anuncia Jesus aos judeus, e isso para Lucas representa o encerramento do objetivo de sua obra (Evangelho e Atos). Não se importa com o que aconteceu a Paulo depois disso.
Paulo é preso em Jerusalém e vai testemunhando sucessivamente diante de vários grupos: o povo (22,1-21) e o Sinédrio (23,1-11) em Jerusalém; o governador Antônio Félix (24,10-21), o governador Pórcio Festo (25,1-12) e o rei Agripa (26,1-32) em Cesaréia; os 15 judeus (28,17-29) em Roma. É a viagem do prisioneiro-testemunha, de Jerusalém aos "extremos da terra".
No plano dos Atos realiza-se o que Jesus havia dito aos discípulos em Lucas 21,12-19, sobretudo 12,12b-15: "...entregarão vocês às sinagogas, serão lançados na prisão; serão levados diante de reis governadores, por causa do meu nome. Isso acontecerá para que vocês deem testemunho. Portanto, tirem da cabeça a ideia de que vocês devem planejar com antecedência a própria defesa; porque eu lhes darei palavras de sabedoria, de tal modo que nenhum dos inimigos poderá resistir ou rebater vocês". Assim como Jesus compareceu "diante de reis governadores" (Pilatos e Herodes, veja Lucas 23,1-12), também Paulo comparecerá para dar testemunho diante dos governadores Antônio Félix e Pórcio Festo e também diante do rei Agripa.
A sabedoria que Jesus prometeu às suas testemunhas está presente em Paulo, que se defende diante de todos. Vamos ver isso de perto. Entre a prisão em Jerusalém e a chegada a Roma, Lucas vai espalhando várias declarações de que Paulo é inocente, como acontecera com Jesus. A prisão dele é arbitrária e as acusações para executá-la são falsas (Atos 21,17-33); o comandante que o prendeu dá mostras de ter-se enganado (21,34-39); o discurso de Paulo termina com um pedido injustificado de morte por parte do povo (22,1-22; compare com o que se pede contra Jesus em Lucas 23,18.21); o título de cidadão romano protege Paulo das arbitrariedades (Atos 22,23-29); os membros do Sinédrio brigam entre si (23,lss), e declara-se que Paulo é inocente (23,9b); Cláudio Lísias inocenta Paulo (23,29); o governador Pórcio Festo reconhece que não há nada de grave contra o prisioneiro (25,19); o rei Agripa inocenta Paulo (26,31-32); e o povo de Malta, pensando que se tratasse de um assassino castigado pela justiça divina, acaba mudando de opinião (28,1-6).
O tema da tribulação, presente nas viagens anteriores, torna-se uma constante ao longo desta. Basta lembrar alguns detalhes: a prisão (21,17-33), o pedido de morte (22,22), o complô para matá-lo (23,12-22), a proposta indecente que Festo lhe faz, para que volte a Jerusalém a fim de ser julgado (25,9), além do naufrágio detalhadamente descrito em 27,13-44.
Paulo ficou preso dois anos em Cesaréia (23,35). Segundo as leis romanas, esse era o tempo máximo para um detento à espera de julgamento. Não se sabe nada a respeito desse período de Paulo na cadeia. Alguns estudiosos pensam que as cartas do cativeiro, como Filipenses e Filemon (Efésios e Colossenses), tenham sido escritas nesse tempo. Lucas salienta a arbitrariedade e a corrupção do poder político e judiciário do governador Félix: "Esperava receber dinheiro de Paulo, por isso chamava com frequência para conversar com ele" (24,26). É a ponta do icebergda corrupção dentro do império romano.
Os vários discursos são uma espécie de síntese de toda a vida de Paulo. Como nas viagens precedentes, o Evangelho vai penetrando as culturas e desalienando as pessoas. É o caso, por exemplo, de 28,1-6. Paulo realiza uma cura na ilha de Malta (28,8; compare com Lucas 4,40, além de cumprir-se literalmente nele o que Jesus prometeu em Marcos 16,18; veja também Lucas 10,19).
Outro aspecto importante na viagem por mar é este: à medida que os fatos vão sendo narrados e que os perigos aumentam, Paulo é apresentado cada vez mais sábio e entende dor de navegação. No fim das contas, é como se ele fosse o comandante do navio, e todas as pessoas a bordo se salvam por causa dele. O prisioneiro inocente é causa de vida para todos, até dos habitantes doentes de Malta.
A viagem de Paulo prisioneiro, portanto, é uma marcha vitoriosa. Ele sai para sempre de Jerusalém, obedecendo a um mandato do Senhor (22,18). Lucas o mostra partindo com uma comitiva semelhante às que acompanhavam os reis (470 soldados) e, durante a longa travessia, quando faltam as estrelas para orientar os marinheiros (27,20; naquele tempo não havia bússolas), a grande "estrela-guia" é Paulo, prisioneiro inocente, aquele que conserva a vida de todos os que caminham com ele.
Paulo chegou a Roma como prisioneiro-testemunha. Lucas informa que permaneceu dois anos numa espécie de "prisão domiciliar", ou seja, seu braço estava permanentemente acorrentado ao braço de um soldado. Assim vai contabilizando anos de cadeia. Com essa "liberdade" pôde anunciar Jesus e ganhar a própria vida (28,16.30). Passados dois anos, deve ter recuperado a liberdade. O que teria feito até o ano 68, data provável de sua morte?
5. Outras viagens?
Paulo sempre foi pioneiro desbravador. Como costumamos dizer, não gostava de "chover no molhado". Em outras palavras: o princípio dele era não ir a uma região que já tivesse recebido o anúncio do Evangelho. Algumas exceções se justificam: sua longa permanência em Éfeso deveu-se ao fato de transformar essa capital em foco de irradiação para toda a Ásia. Éfeso era importante para a estratégia evangelizadora dele. Por isso se detém tanto tempo aí. Outra exceção é Roma, centro do império. Quando escreve aos romanos (ano 56, em Corinto), planeja transformar a capital em trampolim para outra missão igualmente ousada, a Espanha. Evidentemente Paulo não fundou as comunidades romanas. Ao lhes escrever, tem em mente sobretudo esse novo campo de evangelização: "Foi esse motivo que muitas vezes me impediu de visitar vocês. Mas agora já não tenho tanto campo de ação nessas regiões. E porque há muitos anos tenho grande desejo de visitá-los, quando eu for para a Espanha, espero vê-los por ocasião da minha passagem. Espero também receber ajuda de vocês para ir até lá, depois de ter desfrutado um pouco a companhia de vocês ... Quando eu tiver concluído essa tarefa tiver entregue oficialmente fruto da coleta, irei para a Espanha, passando por aí. Sei que, indo até vocês, irei com a plenitude da bênção de Cristo" (Romanos 15,22-24.28-29).
Notemos dois detalhes. Em primeiro lugar, a expressão "agora já não tenho tanto campo de ação nessas regiões". Poderíamos pensar que todas as aldeias da Ásia, da Macedônia e da Acaia tivessem recebido o anúncio de Jesus Cristo. Todavia, é bom recordar a estratégia evangelizadora de Paulo. Buscava atingir um centro urbano importante, fundando nele uma comunidade. O crescimento desta fermentaria toda a cidade, fazendo surgir novas comunidades; estas, aos poucos, se espalhariam pelas cidades menores e aldeias, mediante a ação generosa de muitos colaboradores. É nesse sentido que ele afirma não ter mais campo de ação naquelas regiões. Era, como já vimos, o que esperava dos coríntios para a região da Acaia (2 Coríntios 10,13-16) e o que obteve dos tessalonicenses para a região da Macedônia (1 Tessalonicenses 1,7-8).
Em segundo lugar, Roma é para Paulo apenas ponto de passagem. Deseja desfrutar da amizade e da companhia dos romanos, receber ajuda econômica, mas sua in- tenção é ir além ("por ocasião da minha passagem", "irei para a Espanha, passando por ai").
Parece que Febe, diaconisa da igreja de Cencréia, é a portadora dessa carta (os romanos certamente não a conheciam). Paulo pede que a recebam como cristã e que "dêem a ela toda a ajuda que precisar" (16,2b). Pode-se intuir que precise de ajuda na organização da viagem rumo à nova fronteira de evangelização, a península ibérica. Não sabemos se Paulo realizou esse objetivo depois de ter sido solto no ano 62.
As chamadas "cartas pastorais" (endereçadas a Timóteo e a Tito) falam de outra viagem de Paulo à Ásia. Todavia, é preciso sempre lembrar que sobre essas cartas pesa a dúvida se são de fato textos de Paulo ou não. 1 Timóteo 1,3 diz: "Ao partir para a Macedônia, eu recomendei que você ficasse em Éfeso...". Quando se deu essa saída de Éfeso para a Macedônia? De acordo com os Atos, estaríamos no ano 55 (ou 56). Seria essa a data, ou deveríamos pensar que o texto se refira ao retorno de nova viagem, não documentada? A carta a Tito afirma: "Eu deixei em Creta para que você cuidasse de organizar que ainda estava por fazer" (l,5a). Quando Paulo deixou Tito em Creta? Talvez retornando dessa nova viagem que fez à Ásia. Nas viagens anteriores não há referências a esse fato (veja também 3,15). Teria Paulo, regressando de uma nova viagem, deixado Tito em Creta e Timóteo em Éfeso?
2 Timóteo 1,17 afirma que Onesíforo, quando chegou a Roma, procurou Paulo com insistência, até encontrá-lo. Se essas três cartas forem realmente de Paulo, esta seria a última, escrita pouco antes de morrer (veja 4,16-18).
Sabe-se que Paulo não possuía morada fixa e só se detinha bastante tempo numa cidade se fosse impedido por força maior. O império romano tentou calá-lo para sempre, matando-o por volta do ano 68 (a tradição fala de decapitação). Contudo, ele continua vivo em muitas pessoas e comunidades. Sua vida e cartas são alimento para muitos. Pode-se recordar Filipenses 1,23b-25: "...meu desejo é partir dessa vida estar com Cristo, isso é muito melhor. No entanto, por causa de vocês, é mais necessário que eu continue a v.iver. Convencido disso, sei que vou ficar com vocês. Sim, vou ficar com todos vocês, para ajudá-los a progredir a ter alegria na fé". Partiu e está com Cristo. Mas ainda permanece conosco

Pe.Raimundo Aristide da Silva
http://www.padreray.com.br/inicio/blog/26-FUNDACAO-DE-COMUNIDADES.html

"A catequese não prepara simplesmente para este ou aquele sacramento. O sacramento é uma consequência de uma adesão a proposta do Reino, vivida na Igreja (DNC 50)."

Documento Necessário para o Batismo e Crisma

Certidão de Nascimento ou Casamento do Batizando;

Comprovante de Casamento Civil e Religioso dos padrinhos;

Comprovante de Residência,

Cartões de encontro de Batismo dos padrinhos;

Documentos Necessários para Crisma:

RG do Crismando e Padrinho, Declaração de batismo do Crismando, Certidão ou declaração do Crisma do Padrinho, Certidão de Casamento Civil e Religioso do Padrinho/Madrinha e Crismando se casados.

Fonte: Catedral São Dimas

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REFLEXÃO

A porta larga que o mundo oferece para as pessoas é a busca da felicidade a partir do acúmulo de bens e de riquezas. A porta estreita é aquela dos que colocam somente em Deus a causa da própria felicidade e procuram encontrar em Deus o sentido para a sua vida. De fato, muitas pessoas falam de Deus e praticam atos religiosos, porém suas vidas são marcadas pelo interesse material, sendo que até mesmo a religião se torna um meio para o maior crescimento material, seja através da busca da projeção da própria pessoa através da instituição religiosa, seja por meio de orações que são muito mais petições relacionadas com o mundo da matéria do que um encontro pessoal com o Deus vivo e verdadeiro. Passar pela porta estreita significa assumir que Deus é o centro da nossa vida.

reflexão sobre o Dízimo

A espiritualidade do Dízimo

O dízimo carrega uma surpreendente alegria no contribuinte. Aqueles que se devotam a esta causa se sentem mais animados, confortados e motivados para viver a comunhão. O dízimo, certamente, não é uma questão de dinheiro contrariando o que muitos podem pensar. Ele só tem sentido quando nasce de uma proposta para se fazer a experiência de Deus na vida cristã. Somos chamados e convocados a este desafio.

Em caso contrario, ele se torna frio e distante; por vezes indiferente. A espiritualidade reequilibra os desafios que o dízimo carrega em si. "Honra o Senhor com tua riqueza. Com as primícias de teus rendimentos. Os teus celeiros se encherão de trigo. Teus lagares transbordarão de vinho" (Pr 3,9-10). Contribuir quando se tem de sobra, de certa forma, não é muito dispendioso e difícil. Participar da comunhão alinha o desafio do dízimo cristão.

Se desejar ler, aceno: Gn 28, 20-22; Lv 27, 30-32; Nm 18, 25-26 e Ml 3, 6-10.

Fonte : Pe. Jerônimo Gasques

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