Dom
Vilson Dias de Oliveira, DC
Bispo
Diocesano de Limeira, SP
“Porém,
Jesus, passando pelo meio deles, prosseguiu
seu caminho”
(Lc 4,29)
Leituras:
Jeremias 1, 4-517.-19; Salmo 71 (70); Primeira Carta de São Paulo
aos Coríntios 12, 31-13,13; Lucas 4, 21-30.
COR
LITÚRGICA: VERDE
Animador:
Nesta páscoa semanal de Jesus o evangelho nos lembra a expulsão de
Jesus da sinagoga. Os habitantes de Nazaré recusam a Palavra de
Jesus e tentam lançá-lo no precipício. Sentimos em nossas vidas,
muitas vezes, as consequências da rejeição por causa da justiça,
do bem e da solidariedade com os pobres. Nesta celebração, estamos
em comunhão com aqueles e aquelas que, por causa da justiça, são
desprezados. A causa deles é também nossa causa.
1.
Situando-nos
Neste
domingo, páscoa semanal continuamos a celebrar o mistério da
manifestação de Jesus como Salvador de todos (as) filho (as)
dispersos pelo mundo. Recordamos o dia em que Ele viveu a experiência
de desprezo de rejeição e de expulsão de sua cidade, consequência
de sua encarnação e de sua missão profética. Na rejeição, a
misericórdia se transforma em apelo para que andemos pelos caminhos
do amor, de não violência.
Somos
chamados a acolher a salvação, como dom de Deus aberto a todos,
como nos motiva a antífona da entrada: “Salvai-nos, Senhor nosso
Deus, reuni vossos filhos dispersos pelo mundo, para que celebremos o
vosso santo nome e nos gloriemos em vosso louvor” (Sl 105/104,47).
Com
tantos os povos e culturas celebremos o louvor de nosso Deus. Que ele
nos dê a coragem e a firmeza de Jesus, para não nos deixarmos
abater pela hostilidade pela rejeição ou por qualquer coisa que
enfraqueça nossa missão de profetas, hoje.
2.
Recordando a Palavra
O
Evangelho de hoje repete o versículo final ouvido no terceiro
domingo, narrando o acontecimento da sinagoga de Nazaré e lhe dá
continuidade. Depois que leu o trecho de Isaías 61, Jesus diz: “hoje
realizou-se essa Escritura que acabastes de ouvir”. Quem, o ouvia
se espantava com a graça que saia de sua boxa e se perguntavam: “Não
é o filho de José?”
O
povo tem atitudes contraditórias neste acontecimento: ficam com os
olhos fixos em Jesus, profundamente atentos enquanto ele proclama a
profecia de Isaías. Testemunham e se espantam com as palavras cheias
de graça que ele pronuncia. Por fim, se enfurecem contra ele e
querem mata-lo. Qual será o motivo de tanta fúria dos conterrâneos
e contemporâneos de Jesus?
O
povo compara a origem humilde de Jesus e a pretensão do programa de
sua vida. O preconceito insinua que a importância e a capacidade de
uma pessoa são determinadas pela origem, berço familiar, profissão,
parentesco, relações e categorias sociais: “O que se pode esperar
de um operário de Nazaré?” (cf. Mc 6, 2-3; Jo 1,46; 7,27s). A
palavra de Jesus no versículo 24 lembra um dito popular, conhecido
por israelitas gregos e romanos, mostrando que o destino de Jesus é
o mesmo dos profetas (cf. Jr 11, 18-23). Nenhum profeta é bem
recebido pela sua gente.
O
povo, rejeitando Jesus, rejeitou também o “ano da graça” que se
concretizou em sua pessoa e ação. Descrevendo a reação do povo, a
passagem se refere ao término da atividade de Jesus em sua terra.
O
texto de Jeremias (627 a.C.), no tempo do rei Josias, apresenta a sua
vocação profética, procurando explicar as raízes da sua atividade
contraditória e desconcertante. Sua vocação de profeta parte de
uma experiência da Palavra de Deus que o ultrapassa e o chama à
missão, antes que ele tomasse consciência, e antes mesmo de ter
sido formado no ventre da mãe.
O
chamado é a destinação feita por Deus que precede, fundamenta e
abarca toda a existência. Ele era muito jovem quando recebeu a
vocação, Com a força de Deus, o profeta não terá medo e
enfrentará a força da nas nações, dos poderosos, dos reis, dos
príncipes, dos sacerdotes e do próprio povo. Sua vida será um
aluta constante, mas não será vencido, porque Deus estava com ele
para salvá-lo.
O
Salmo 71 (70) nos mostra Deus como o único que salva e liberta. O
salmista, em meio às perseguições, volta-se para o Senhor, porque
nele encontra o apoio desde o seio, desde as entranhas maternas, é a
parte
Radical
do profeta.
A
segunda leitura, da primeira carta aos Coríntios, apresenta o amor
“ágape” como dom por excelência. Esse amor vai além da simples
amizade e supera toa a forma de egoísmo, pois é derramado pelo
Espírito em nossos corações (cf. Rm 5,5). As três afirmações
idênticas (cf. 13,1-3) ressaltam que se trata do amo oblativo, que
dá sentido à vida dos que seguem a Cristo. A caridade tem primazia
entre as três virtudes principais, conhecidas como “teológicas”:
a fé, a esperança e o amor. Somente o amor permanece para sempre,
pois “Deus é amor”.
3.
Atualizando a Palavra
Jesus
diz que hoje se cumpriu a Palavra. Esse “hoje” é o tempo de Deus
na história humana. É o tempo (O Krónos) que se transforma em
experiência significativa: kairós. Isto é, o momento decisivo da
graça que marca o testemunho de vida de Jesus e é convite para que
todos, ouvindo o seu projeto, o aceitem ou o rejeitem.
A
aceitação ou a recusa de Jesus Cristo são aceitação ou recusa
fundamentais, feitas no cerne da vida, mudando radicalmente o sentido
de nosso ser e nossa prática. É atitude que envolve atos e se
expressa em palavras: jeito de ser, viver, celebrar e agir no mundo.
A
rejeição faz com que as pessoas sofram no seu interior e, por
vezes, acabam desistindo dos seus sonhos. A rejeição pode ser
aquilatada em diferentes ângulos: como obstáculo que nos leva à
desistência ou como uma oportunidade de qualificação e
prosseguimento do projeto de vida. Jesus, o profeta rejeitado por
seus conterrâneos, não desisti da missão. Observemos que a
rejeição a Jesus e a seu projeto culmina em Jerusalém, onde ele é
crucificado e morto por seus opositores (Cf.
BERTOLINI. Op. Cit., p.590).
Normalmente,
a rejeição é arquitetada por aqueles que desejam “domesticar o
profeta em favor de seus interesses”, O povo de Nazaré esperava
por um Jesus espetacular, capaz de ações mágicas e miraculosas. E
como esperar isso de uma pessoa comum e conhecida por todos? E Jesus
se recusa a cumprir sinais em benefício próprio; recusa-se a ser
ídolo da abundância, do prestigio, do poder e da riqueza (Cf.
Ibidem, p. 590).
A
rejeição dos profetas serviu como oportunidade para que Deus se
manifeste àqueles que o reconhecem e acolhem. No Evangelho de Lucas,
a rejeição ressalta que Jesus não veio para ser condicionado a um
único povo. Sua Boa-Nova de destina a todos os povos. Deter sua ação
libertadora é um empreendimento impossível: “Jesus, porém,
passando pelo meio deles, continuou o seu caminho” (Lc
4,30).
A
comunidade que se compromete com Jesus deve ser capaz de deixar a
competição, a busca de sucesso e autopromoção para unir-se
profeticamente nos serviços, nas lutas que tornam reais a arte de
amar, a prática da justiça, dos direitos iguais, da solidariedade e
da partilha, do amor que é maior do que tudo e que jamais passará.
4.
Ligando a Palavra com a ação eucarística
Celebrar
a Eucaristia é aderir a Jesus, o profeta rejeitado e morto, com
todas as consequências dessa adesão.
Na
celebração eucarística a Igreja suplica: “Dai-nos olhos para ver
as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs;
inspirai-nos palavras e ações para confortar os desanimados e
oprimidos; fazei que, a exemplo de Cristo, e seguindo o seu
mandamento, nos empenhemos lealmente no serviço a eles. Vossa Igreja
seja testemunha viva da verdade e da liberdade, da justiça e da paz,
para que toda a humanidade se abra à esperança de um mundo novo”
(Oração
Eucarística para diversas circunstancias VI D).
A
Eucaristia nos abra os olhos, dando-nos consciência de que somos
comunidades proféticas a serviço da libertação dos pobres,
oprimidos e marginalizados. Unindo-nos a todos os profetas e
profecias de ontem e de hoje, renovamos nossa adesão ao seguimento
de Jesus, valorizando nossos carismas, comprometendo-os com o serviço
amoroso aos irmãos, enfrentando com serena coragem as hostilidades
próprias do caminho.
“A
Misericórdia é profecia de um mundo novo em que os bens da terra e
do trabalho são distribuídos de modo equânime e ninguém fica
desprovido do necessário, porque a solidariedade e a partilha são a
consequência concreta da fraternidade” (Papa
Francisco, discurso em Molise, 07 de julho de 2014).
PRECES
DOS FIÉIS
Presidente:
Supliquemos
a Deus, que nos dê a coragem profética, e que sejamos fiéis
seguidores do Evangelho.
Leitor
1: Rezemos pelos irmãos e irmãs que sofrem perseguições por causa
da fidelidade profética.
Leitor
2: Concedei-lhes, Senhor, a graça de testemunhar, corajosamente, tua
proposta de amor ao mundo. Peçamos:
Todos:
Acolhei nossa prece, Senhor! Sobre nós derramai teu amor!
Leitor
1: Rezemos pelos irmãos e irmãs que vivem angustiados e a procura
de conforto para suas vidas.
Leitor
2: Concedei-lhes, Senhor, a graça de encontrarem refúgio em Ti e
seja para estes irmãos e irmãs proteção e segurança. Peçamos:
Leitor
1: Rezemos por todos que neste mundo se dedicam a profetizar falando
a linguagem da caridade.
Leitor
2: Concedei-lhes, Senhor, a perseverança em suas atividades e a
todos nós aqui reunidos, a graça de crescer sempre mais na caridade
cristã. Peçamos:
Leitor
1: Rezemos pelos que trabalham nas comunidades, mas não são
compreendidos e tantas vezes são criticados.
Leitor
2: Concedei-lhes, Senhor, a graça de passar por esta difícil
provocação e continuar fielmente o caminho, a exemplo de Jesus.
Peçamos:
Leitor
1: Rezemos pela nossa comunidade, para que seja profética e
testemunhe ao mundo a caridade cristã.
Leitor
2: Concedei-nos, Senhor, crescer na caridade e testemunhar,
autenticamente, o Evangelho em nosso meio através da vivência da
caridade. Peçamos:
Leitor
1: Rezemos pelos nossos dizimistas.
Leitor
2: Concedei-lhes, Senhor, a sua benção, por tanto bem que fazem em
nossas comunidades, com sua ajuda material.
(Outras
intenções)
Presidente:
Senhor, Deus da esperança, enviai à tua Igreja profetas que sejam
verdadeiros missionários e defensores da salvação universal. Por
Cristo, nosso Senhor.
Todos:
Amém.
III.
LITURGIA EUCARÍSTICA
ORAÇÃO
SOBRE AS OFERENDAS:
Presidente:
Para
vos servir, ó Deus, depositamos nossas oferendas em vosso altar;
acolhei-as com bondade, a fim de que se tornem o sacramento da nossa
salvação. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos:
Amém.
ORAÇÃO
PÓS-COMUNHÃO:
Presidente:
Renovados
pelo sacramento da nossa redenção, nós vos pedimos, ó Deus, que
este alimento da salvação eterna nos faça progredir na verdadeira
fé. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos:
Amém.
V.
RITOS FINAIS
BÊNÇÃO
E DESPEDIDA:
Presidente:
Que
o Senhor os torne firmes e corajosos na missão de levar a Boa-Nova a
todos. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos:
Amém.
Presidente:
(Dá
a bênção e despede todos).