No quarto dia de sua viagem apostólica ao México, o papa Francisco foi a San Cristóbal de las Casas, no estado do Chiapas. O pontífice presidiu uma missa, nesta segunda-feira, 15, com as comunidades indígenas. A liturgia foi celebrada em espanhol e nas línguas indígenas tseltal, ch’ol e tsotsil e contou com a presença de fiéis da Guatemala.
“Entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que geme e sofre as dores do parto”, disse Francisco aos fiéis.
De acordo com a Rádio Vaticana, o papa Francisco levou uma palavra de fé e de esperança, enaltecendo a riqueza e os valores dos povos indígenas, diante da realidade do estado mexicano que, permanece ainda hoje, apesar de seus grandes recursos naturais, um dos menos desenvolvidos, com uma grande pobreza e analfabetismo. Sua homilia foi centrada no tema do cuidado da criação.
“A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos”, disse o Francisco.
“O desafio ambiental que vivemos e as suas raízes humanas têm a ver com todos nós e interpelam-nos. Não podemos permanecer indiferentes perante uma das maiores crises ambientais da história. Nisto, vós tendes muito a ensinar-nos. Os vossos povos, como reconheceram os bispos da América Latina, sabem relacionar-se harmoniosamente com a natureza, que respeitam como ‘fonte de alimento, casa comum e altar do compartilhar humano’”, afirmou.
O papa também considerou que “muitas vezes, de forma sistemática e estrutural” os povos indígenas do Chiapas foram incompreendidos e excluídos da sociedade. “Alguns consideram inferiores os vossos valores, a vossa cultura e as vossas tradições. Outros, fascinados pelo poder, o dinheiro e as leis do mercado, despojaram-vos das vossas terras ou realizaram empreendimentos que as contaminaram. Que tristeza! Como nos seria útil a todos fazer um exame de consciência e aprender a pedir perdão!”, sinalizou.
Francisco iniciou a sua reflexão partindo do Salmo 18, “A lei do Senhor é perfeita, reconforta a alma”, lei que segundo explicou, "o povo de Israel recebera das mãos de Moisés, um povo que experimentara a escravidão e a tirania do Faraó, que experimentara a amargura e os maus-tratos, até que Deus disse basta e ouviu o clamor do seu povo".
“Manifesta-se aí o rosto do nosso Deus, o rosto do Pai que sofre com a dor, os maus-tratos, a injustiça na vida dos seus filhos; e a sua Palavra, a sua lei torna-se símbolo de liberdade, símbolo de alegria, sabedoria e luz”, afirmou o papa.
“No coração do homem e na memória de muitos dos nossos povos, está inscrito o anseio por uma terra, por um tempo em que o desprezo seja superado pela fraternidade, a injustiça seja vencida pela solidariedade e a violência seja cancelada pela paz”, acrescentou.
"Deus não só partilha por este anseio, mas Ele mesmo o suscitou e suscita dando-nos o seu filho Jesus Cristo. N’Ele encontramos a solidariedade do Pai, que caminha ao nosso lado. N’Ele vemos como aquela lei perfeita assume uma carne, assume um rosto, assume a história, para acompanhar e sustentar o seu povo; faz-se Caminho, faz-se Verdade, faz-se Vida, para que as trevas não tenham a última palavra e a aurora não cesse de vir sobre a vida dos seus filhos", disse.
Francisco ainda continuou falando sobre o clamor da criação contra o mal provocado por conta do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. “Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la (...). Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que geme e sofre as dores do parto”, refletiu.
Ressaltando a importância dos povos tradicionais, Francisco falou aos jovens que “o mundo de hoje, espoliado pela cultura do descarte, necessita de vós”, exortando-os a conservarem a sabedoria dos anciãos.
“Os jovens de hoje, expostos a uma cultura que tenta suprimir todas as riquezas e características culturais tendo em vista um mundo homogêneo, precisam que não se perca a sabedoria dos vossos anciãos. O mundo de hoje, prisioneiro do pragmatismo, tem necessidade de voltar a aprender o valor da gratuidade.”
Agradecimentos
No estado do Chiapas, cerca de 36% dos habitantes fala exclusivamente a sua própria língua indígena. Por isso, o papa entregou um documento que autoriza o uso das línguas locais nas celebrações eucarísticas, tseltal, ch’ol e tsotsil. Na saudação dirigida ao pontífice, durante a celebração, um homem e uma mulher representando as comunidades indígenas do Chiapas, do México e da Guatemala, agradeceram ao papa por ter aprovado o uso de suas línguas nativas na liturgia.
Também foram dirigidos outros agradecimentos.
“Mesmo se muitas pessoas nos desprezam, quiseste visitar-nos e levar-nos em consideração, como fez a Virgem de Guadalupe com San Juan Dieguito”, disse um.
“Mesmo se vives em Roma, te sentimos muito próximo de nós. Continuas a transmitir-nos a alegria do Evangelho e a ajudar-nos a cuidar da nossa irmã e mãe terra, que Deus nos doou. E recorda-te de nós nas tuas orações, a fim de que possamos realizar as obras de misericórdia”, pediram os representantes indígenas.
Com informações e fotografia da Rádio Vaticano
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