Cristo agindo em nós, vivendo em nós, sofrendo em nós… transforma nossa vida humana em divina; nossos atos mortais em atos eternos!
São Paulo disse: “Vós sois o corpo de Cristo, e cada um de sua parte é um dos seus membros” (1 Co12,27). E santo Agostinho disse que “Não estamos destinados a ser outra coisa senão Ele”. Este é o fundamento de toda a espiritualidade. A vida espiritual consiste essencialmente em levar uma vida plena em Cristo.
A Igreja ensina que toda alma em estado de graça é filha de Deus. Jesus Cristo ao nos resgatar do pecado e da morte eterna não nos quis fora de Si; mas unidos a Ele, um só com Ele. São Paulo ensina que pelo Batismo “fomos enxertados em Cristo” (Rom 6,5). “Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo? Aquele que se une ao Senhor forma um mesmo espírito com Ele” (1 Cor 6,15-18).
O próprio Jesus ensinou isso: “Eu sou a videira e meu Pai é o vinhateiro; todo o ramo que em Mim não der fruto será cortado; e todo que der fruto será podado, para que produza mais… Como o ramo por si mesmo não pode dar frutos, se não está unida à videira, assim também vós não o podereis dar, se não estiverdes em Mim” (Jo 15,5s).
São Paulo tem uma expressão muito especial: “Revesti-vos de Jesus Cristo” (Gl 3,27). Quer dizer, não se trata apenas de nos assemelharmos externamente a Ele, de termos os seus mesmos sentimentos, que já é bastante, mas muito mais, de sermos revestidos de sua Pessoa; de entrar na participação do ser mesmo de Jesus Cristo.
Seremos participantes da vida de Cristo, se por um lado, Ele fizer a nossa vida a Sua; e por outro lado, fizer de Sua vida a nossa. São João Crisóstomo (†407), doutor da Igreja e mártir da Igreja de Constantinopla, dizia: “De judeus, de pagãos, passamos a ser o que? Anjos? Não. Cristos ambulantes, outros Jesus” (Sobre a Ep. aos Gálatas).
O grande sacerdote francês, Raul Plus, escreveu muitos livros de espiritualidade. Um deles é o “Cristo em nós”, outro é “Deus em nós”. Nesta reflexão resumo um pouco do seu pensamento.
Tudo o que um cristão faz, não faz só; Cristo opera com ele e nele. Deus nos ressuscitou em Cristo, disse São Paulo, e nos fez sentar com Ele no céu. Com Ele penetramos no céu e fomos confirmados no direito ao Paraíso. Assim, quando um sofrimento atinge o cristão, atinge o Cristo da mesma forma; por isso Jesus perguntou a Paulo: “Por que tu Me persegues?” (At 9,4).
As igrejas de Viena e de Lião, narrando o martírio de Sanctus, diziam: “Todo o corpo era uma chaga, mas Cristo, que sofria nele, mostrava que nada é insuportável, quando há amor a Deus”.
Quando o menino de 13 anos, José Luiz Sanches del Rio, ao ser fuzilado no México, na perseguição à Igreja, em 1926, ainda pode escrever com seu dedinho na terra, com seu sangue: “Viva Cristo Rei!”
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Os mártires não tinham dúvida de que Cristo sofria neles e com eles, como testemunhou Santa Felicidade, que na prisão de Cartago, no século III, antes de ser lançada às feras no anfiteatro, respondeu ao carcereiro, que na hora do suplício Cristo estaria nela e sofreria por ela, porque ela iria sofrer por Ele. É isso que explica como os mártires de todos os séculos puderam suportar com tanta coragem e resignação os terríveis tormentos dos martírios.
Santo Agostinho disse, na época da perseguição dos bárbaros em Hipona: “A Igreja sofria em Cristo, quando Ele sofria por ela: Cristo por sua vez sofria na Igreja, quando ela sofria por Ele”.
Todas as ações do cristão em estado de graça podem ser encaradas como ações de Cristo. Quando oramos, Jesus ora conosco; quando sofremos, Cristo sofre conosco; quando trabalhamos, Cristo trabalha conosco; quando pregamos, Cristo prega conosco. Quando praticamos a humildade nos unimos ao mistério do aniquilamento de Cristo. Quando amamos, Cristo ama conosco. Quando vivemos por Jesus, Jesus vive em nós. Quando praticamos a pobreza, esta se une à Sua pobreza no Presépio…
Cristo agindo em nós, vivendo em nós, sofrendo em nós… transforma nossa vida humana em divina; nossos atos mortais em atos eternos. Importa “ouvir” as Suas inspirações no fundo de nossa alma.
Não foi sem razão que São Paulo disse aos colossenses: “completo na minha carne o que falta à Paixão de Cristo no Seu corpo que é a Igreja” (Col 1,24). A Paixão de Cristo não estará completa enquanto cada um dos seus membros não sofrer a sua paixão. Da mesma forma a Ressurreição também não estará completa enquanto cada um dos seus membros não estiver ressuscitado. Em nós, Jesus se continua e se completa. Por isso, santa Elizabeth da Trindade se oferecia a Ele para ser “um acréscimo de Sua humanidade”.
Quando Cristo se oferece ao Pai, em cada Missa, cada membro deve estar unido a Jesus e se oferecer também ao Pai, junto com Jesus, pela salvação do mundo, com cada um dos seus sacrifícios. Na Eucaristia deve haver o encontro de duas hóstias: a grande Hóstia, Cristo, a Vítima oferecida em sacrifício à Justiça divina, unida à pequena hóstia oferecida com Ele.
Assim, o cristão se torna de fato “alther christus”, um outro Cristo que vive e caminha no meio dos homens.
Prof. Felipe Aquino