Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba
Esse tema toca profundamente a cultura capitalista, porque o tempo de Natal tem sido marcado pela festa do consumo, das vendas e de movimentação financeira. A mídia se encarrega de provocar a sensibilidade das pessoas levando-as a comprar cada vez mais. Passou a ser Natal de presentes, não propriamente do verdadeiro presente, do Menino Jesus, o Filho de Deus.
Uma verdadeira preparação para o Natal supõe austeridade, anticonsumismo e mudança de mentalidade. Sabemos que não é fácil “remar contra a maré”, contra uma sociedade que, mesmo vivendo crise financeira, não consegue prever o alcance de suas condições econômicas. Em vez de um Natal de liberdade, de encontro com Cristo, passa a ser de arroxo por causa de dívidas adquiridas.
O momento brasileiro é de prudência nos gastos pessoais, evitando fragilizar as condições para uma vida digna, sem os apertos com contas a pagar. Natal é tempo de liberdade, de coração aberto para construir o bem na luz do Menino Deus. Não é tempo de competição, de querer agradar com presentes caros e nem de gastar mais do que as próprias possibilidades econômicas.
Nas previsões do Natal encontramos a palavra esperança, que está fundamentada na Palavra de Deus. No Antigo Testamento o povo esperou com toda paciência a realização da promessa, a chegada do Emanuel, no dizer do profeta Isaías (Is 7,14). Jesus vem como Deus da firmeza e do encorajamento para todos os povos que caminhavam na penumbra das previsões passadas.
Acolher Jesus no Natal significa acolher a todas as pessoas com carinho, superando as dificuldades na convivência. A harmonia nos relacionamentos é condição essencial para uma vida feliz, e base para a celebração de um Natal fecundo e frutuoso. Aí está o sentido dos encontros familiares, também dos presentes, fortalecendo os laços de convivência para começar novo ano de cabeça erguida.
A palavra “metanoia” é própria do tempo do Advento, significando mudança nas atitudes de convivência social. A marca cristã está centrada na simplicidade, como aconteceu com Jesus Cristo, que teve como berço um cocho, dentro de um estábulo, e seu leito de morte foi a cruz. Portanto, Deus em Cristo, é Pai de todos, e não o dinheiro, que é pai só de alguns.