Dom Genival Saraiva
Administrador Apostólico da arquidiocese da Paraíba
O tempo é uma realidade contínua - ensina a antiga filosofia. O homem passou a fazer a leitura do tempo ante a necessidade de se situar no mundo. Com efeito, a vida e a ação humanas acontecem no tempo. Por isso, passou a ver o tempo em “medidas”: antes, agora, depois, ontem, hoje, amanhã, passado, presente, futuro, começo, meio e fim. Assim, diante de outra, uma pessoa sabe que nasceu antes dela, que se casou depois dela e terá mais dificuldades do que ela, no futuro, em razão de sua instabilidade profissional. Por sua vez, a ação institucional também se realiza no tempo, nessa mesma ordem de medida do tempo. A Igreja, como instituição, é vista no tempo e, portanto, sua ação espiritual e seu trabalho pastoral acontecem na história que tem o registro do passado e do presente e, em sua missão, já tem o futuro diante de si. A confirmação dessa afirmação pode ser identificada em dois exemplos: o Jubileu da Misericórdia e o Ano Litúrgico.
O começo da celebração do Ano Santo da Misericórdia foi no dia 8 de dezembro de 2015 e o seu término no dia 20 de novembro de 2016, na Solenidade de Cristo Rei. O próprio Ano Litúrgico sempre tem no 1º Domingo do Advento o seu começo e na Solenidade de Cristo Rei o seu término. É obvio que a ação da graça de Deus não está limitada a essa mesma ordem do tempo. Todavia, como há as mediações humanas, não se pode desconsiderar o fator tempo na vivência espiritual das pessoas e na ação litúrgica da Igreja.
Além da dimensão celebrativa, o Ano Litúrgico está intimamente relacionado com o ano pastoral, nas paróquias e comunidades. Não se trata apenas de uma relação de ordem lógica e cronológica; trata-se de uma relação mais profunda porque onde age a graça de Deus deve haver a correspondência humana, especialmente na linha do testemunho. Assim como o Ano Litúrgico, o ano pastoral supõe e exige compromisso e fidelidade da Igreja, em sua condição de testemunha de Jesus Ressuscitado. Por isso, na vivência desse mistério, as comunidades realizam suas atividades, levando em consideração os chamados “tempos fortes” do Ano Litúrgico como Advento e Quaresma, que têm um forte chamado à conversão; o mês de maio está associado à devoção mariana e, de muitas maneiras, os fiéis reverenciam e procuram imitar o exemplo de Maria; no mês de agosto as pessoas refletem e rezam a partir da celebração das diversas vocações; no mês de setembro os fiéis encontram estímulos para um melhor conhecimento da Sagrada Escritura.
O novo Ano Litúrgico 2016/2017 tem uma especial linguagem mariana no mundo católico, em razão da comemoração do centenário das aparições de Nossa Senhora a Lúcia, Jacinta e Francisco e, no Brasil, a comemoração do tricentenário do encontro da imagem de Nossa Senhora nas águas do Rio Paraíba do Sul. Ao falar aos bispos do Brasil, durante a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, a propósito do “evento que é Aparecida”, disse o Papa Francisco: “Em Aparecida, Deus ofereceu ao Brasil a sua própria Mãe. Mas, em Aparecida, Deus deu também uma lição sobre si mesmo, sobre seu modo de ser e agir. Uma lição sobre a humildade que pertence a Deus como traço essencial e que está no DNA de Deus”. As graças de Deus, no mundo e no Brasil, passam pelas mãos maternas de Maria, do começo ao término do novo Ano Litúrgico.
É oportuno que os fiéis examinem como terminou o Ano Litúrgico (Ano C) em sua vida e em sua comunidade de fé ao começar o novo ano (Ano A). O Ano Litúrgico compreende a celebração do mistério de Cristo, do 1º domingo do Advento à Solenidade de Cristo Rei.
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