Antes do final do século, há notícias, em muitos recantos da Terra, então conhecida, da alegria pelo nascimento de Jesus, afastando assim os cristãos dos festejos do paganismo. A verdade da fé em Deus que se fez homem assumindo nossa natureza humana, para nos salvar, teve,
As celebrações litúrgicas do batismo de Jesus, da maternidade divina de Maria, do martírio dos Santos inocentes, e da Sagrada Família são decorrentes do fato histórico da vinda de Jesus, iniciando a promessa da redenção do gênero humano e realizado na crucificação e subseqüente Ressurreição.
Há, portanto, um duplo alicerce nas solenidades litúrgicas do nascimento de Jesus: o histórico e o teológico: a encarnação do Filho de Deus, o início da redenção, a Salvação dos homens anunciada pelos profetas, séculos antes e a descrição feita pelos evangelhos. São Leão Magno assim se refere a essa data: “a presente festividade, renova para nós, o sagrado nascimento de Jesus“, e em conseqüência, “nos afervora e nos ensina que o Natal do Senhor, quando o Verbo se fez carne não é apenas uma recordação do passado mas algo palpitante, vivo, no presente“.
O ambiente de alegria e as manifestações de júbilo são um válido e justo contentamento, que brota do fato em si mesmo. Começa realmente a salvação, a recuperação do gênero humano, pela encarnação do Filho de Deus que vem para nos salvar. As manifestações de alegria são absolutamente válidas e têm suas raízes na fé cristã. Ela não deve se confundir com os exageros e deturpações que empanam o que nasce da fé cristã e a esta se opõem.
Os homens que não vivem sua crença, assumem feições ridículas no aproveitamento dessa data sagrada para a exacerbação da vaidade, do egoísmo e do esbanjamento de recursos financeiros, como ofensa aos que passam necessidade. Dão demonstrações opostas ao que nasce da autêntica fé cristã. Refiro-me à transformação comercial da celebração religiosa, em contraste violento com a pobreza da gruta de Belém. Diz São Lucas (2,7): “envolveram-no com faixas reclinaram-no numa manjedoura porque não havia um lugar para ele na sala“. As primeiras testemunhas são simples pastores: “quando os anjos os deixaram, os pastores disseram entre si: “vamos já a Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer”. Foram, então, às pressas e encontraram Maria, José e o Recém-nascido, deitado na manjedoura” (Lc 2,15-16).
Por outro lado, condiz, com o espírito do Natal do Senhor manifestar, dentro das possibilidades, a própria alegria pela data e fazê-la ser compartilhada por outros, oferecendo presentes e promovendo festividades. Essa celebração alegre é um valioso instrumento que nos faz crescer na verdadeira prática da fé cristã. Na mesma proporção, a profanação, pelo pecado, dessa data tão significativa, ofende a santidade que deve reinar nas comemorações pelo nascimento do nosso Salvador.
O Natal de Jesus nos faz também refletir sobre a importância da família, fator e sustentáculo da prática religiosa que brota do exemplo do Natal. Dificilmente encontraremos uma instituição que tenha se deteriorado tanto em nossos dias como a família. E, certamente, não há outra mais valiosa que ela, como construtora do bem-estar material e espiritual da sociedade. Nos últimos meses tem vindo a público uma série de fatos que colocam em perigo sua estabilidade. Ela é insubstituível e a ruína de tantos lares passa pela falência de valores morais que lhes servem de alicerce. As causas são conhecidas e têm uma raiz comum: o enfraquecimento da prática religiosa de seus integrantes. Trata-se da célula originária da vida social.
Pelo seu valor o Concílio Vaticano II (“Gaudium et Spes”,52) ensina que o poder civil considere como grave dever “reconhecer e proteger a verdadeira natureza do casamento e da família, defender a moralidade pública e favorecer a prosperidade dos lares“. Entretanto o que se observa nos últimos tempos é exatamente o oposto. Quem semeia ventos colhe tempestade, diz o refrão. O apoio à campanha contra a santidade dos lares vem da própria sociedade e de muitos dos seus integrantes.
A festividade natalina nos apresenta Jesus0, Maria e José, a Sagrada Família. Esta é uma oportunidade para uma revisão de vida. Diante do presépio, meditemos sobre seu exemplo. Assim podemos haurir forças para fortalecer a instituição familiar. Isso supõe o restabelecimento dos valores morais, uma verdadeira preparação do matrimônio e firme reação à propaganda destruidora na mídia, que promove os aspectos negativos colocando, acima do bem-estar dos filhos, o egoísmo dos cônjuges.
Celebremos o nascimento de Jesus. Promovamos uma autêntica alegria e exaltemos a dignidade dos lares. Graças a Deus ainda há muitas famílias bem constituídas. Infelizmente, uma sociedade corrompida consegue silenciar a voz do bom exemplo daquelas que, mesmo com sacrifício, seguem os ensinamentos de Cristo. Sem dúvida, poderosa é a força que nasce da manjedoura, dos pais em torno do Filho, Jesus Cristo, que veio para nos salvar.
Dom Eugenio de Araújo Sales