O amor santo e infinito que Deus se tem a si mesmo, nada tem a ver com o egoísmo do homem, pelo qual se ama com afeto desordenado, a ponto de se preferir a Deus. O homem é egoísta porque tende a amar-se a si mesmo, excluindo qualquer outro afeto; Deus, porém, está de tal maneira isento de toda a sombra de egoísmo que, embora amando-Se infinitamente e estando totalmente enamorado da Sua bondade infinita, quer difundir também o Seu amor e a Sua bondade.
É assim que Deus ama as criaturas; o Seu amor está na raiz de cada uma delas porque, ao amá-las, chama-as à existência e cria nelas o bem. “O amor de Deus – diz S.Tomás – infunde e cria a bondade nas coisas” (S.T.1,20,2). Deus ama com um amor totalmente gratuito, livre e sumamente puro, com um amor que é simultaneamente, benevolência, porque quer o bem da criatura e beneficência, porque opera esse bem.
Deus ao amar o homem, dá-lhe vida, infunde-lhe a graça, convida-o à santidade, atrai-o a Si e torna-o participante da Sua felicidade eterna. Tudo o que somos e temos é Dom do Seu amor imenso. O homem, afirma o Concílio Vaticano II “se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por Ele por amor constantemente conservado; nem pode viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e se entregar ao seu Criador” (Gaudium et Spes, 19).
“Amo-te com amor eterno; e por isso te outorguei os Meus favores” (Jer 31,3). O homem ainda não existia e já Deus, que o via, o amava e o queria. O Seu amor adiantou-se a Ele desde a eternidade. Nenhuma criatura poderia existir se Deus não a tivesse precedido com o Seu amor. “Vós amais tudo o que existe e não aborreceis nada do que fizestes, porque se odiásseis alguma coisa, não a teríeis criado.
Como poderia subsistir uma coisa, se Vós não o quisésseis, ou, como se conservaria sem ordem Vossa?” (Sab 11,24-25). A história do homem é a história do amor de Deus para com ele. História que, uma vez iniciada, não mais termina, porque o amor de Deus não tem fim, somente o pecado, por ser rejeição do amor de Deus, tem a triste possibilidade de a interromper.
Mas, de per si, Deus ama com um amor infinito, eterno, imutável e fidelíssimo. Ele próprio o quis declarar com as mais ternas expressões: “Acaso pode uma mulher esquecer-se do menino que amamenta, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria” (Is 49,15).
Deus ama o homem quando o consola, mas ama-o também quando o prova com a dor: as Suas graças e consolações são amor, mas não são menos os Seus castigos e provações, “porque o Senhor castiga aquele a quem ama e aflige o filho a quem muito estima” (Prov 3,12).
Em qualquer circunstância, por mais triste e dolorosa que seja, o homem está constantemente cercado pelo amor divino, que é sempre desejo do bem e, por isso, quer infalivelmente o seu bem, mesmo quando o conduz pelo áspero e duro caminho do sofrimento. (...) Assim são estes os Seus dons neste mundo. Dá conforme o amor que nos tem: aos que mais ama, dá mais destes dons, àqueles que menos ama, dá menos “(Caminho de perfeição, 32,7). O verdadeiro cristão, mesmo que a dor o desfaça, não vacila na Fé, mas repete:” Nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem “(1 Jo 4,16)”.
Pe. Gabriel de S. Maria Madalena, O.C.D.
in:Intimidade Divina - Meditações, Ed.Carmelo