SEG, 29 DE AGOSTO DE 2011 08:06POR: CNBB
Cardeal
Odilo P. Scherer
Arcebispo
de São Paulo - SP
A Jornada
Mundial da Juventude de Madrid, de 16 a 21 de agosto, foi uma bonita
manifestação do rosto jovem da Igreja. O calor tórrido, que virou tempestade de
verão justamente durante a vigília de mais de 2 milhões de jovens com o Papa
Bento XVI, não impediu que a cidade se enchesse de vida e alegria juvenil,
mesclando celebrações e catequeses em dezenas de igrejas, festa colorida com as
bandeiras de 170 países representados. Por onde se olhasse, viam-se grupos de
jovens com chapéus e mochilas da Jornada, entrando e saindo das estações de
metrô, das igrejas, dos museus, sentados nas praças e parques, tomando lanche,
interagindo, mesmo sem falarem a mesma língua, mas seguros de terem muito em
comum.
Apenas um
incidente foi registrado quando, na calada de uma noite, um grupo de
”inconformados” organizou um protesto por supostos, mas negados, gastos do
governo espanhol com a Jornada; tentaram invadir uma festa da juventude
numa praça central de Madrid; a polícia interveio e garantiu a segurança
dos jovens. A Jornada prosseguiu com uma programação intensa e a multidão dos
“jovens do Papa” conquistou o coração dos madrilenhos.
Bento XVI
encontrou diversas juventudes, mostrando alguns focos para as atenções da
Igreja: aos seminaristas, que lotaram a bela catedral gótica de N.Senhora da
Almudena, mostrou seu afeto e os exortou a continuarem “firmes na fé,
edificados e enraizados em Cristo”, buscando nos estudos e na formação pessoal,
corresponder ao chamado de Deus; às jovens religiosas, no Escorial, pediu que
testemunhem o Evangelho através de sua consagração total a Cristo, num mundo
cada vez mais descrente e necessitado de sinais fortes de Deus e de fé cristã.
Antes de se
dirigir ao aeroporto “Quatro Ventos”, uma espécie de Campo de Marte em Madrid,
para encontrar os mais de 2 milhões de jovens que lotavam os espaço, o Papa fez
uma visita ao Instituto São José, dos Irmãos Hospitaleiros de São João de Deus,
onde recebem atenção e cuidados crianças e jovens com deficiência. Foi um
encontro comovente. Bento XVI foi acolhido festivamente também por esses jovens
e lhes assegurou o respeito e o carinho da Igreja; suas palavras, foram
transmitidas ao vivo e com imagens para a multidão de jovens rumorosos e cheios
de vida, que o esperavam impacientes, já fazia horas. Um grande silêncio se fez
na multidão. Falou da dignidade intocável de cada ser humano, não importando,
suas capacidades; “com freqüência, a dignidade dessas pessoas é posta em
dúvida”, disse o Papa, referindo-se a uma lógica materialista e utilitarista,
que avalia as pessoas conforme sua eficiência, seu “custo social” e suas
possibilidades de produção e consumo... Aos religiosos, familiares, voluntários
e profissionais que assistem aos jovens com deficiência, o papa assegurou
sua estima e lembrou as palavras de Cristo: “foi a mim que o fizestes”.
Finalmente, o
“papamóvel” adentrou o amplo espaço de “Quatro Ventos”; a aclamação de milhões
de vozes, o agitar de milhares de bandeiras e os cânticos festivos não
conseguiram, porém, espantar as nuvens ameaçadoras, que já prenunciavam uma
tempestade... Jovens espanhóis levam solenemente a cruz das Jornadas para
o palco. A vigília tem início e o Evangelho é proclamado. Os jovens escutam. O
Papa começa a sua homilia, mas é obrigado a interromper. O vento é forte! Os
jovens acolhem com alegria a chuva forte que os refresca, depois de terem
passado o dia sob um sol de 35 graus! O programa é ajustado; passa-se direto à
adoração e à bênção eucarística. O Papa deseja bom descanso e “até amanhã” aos
jovens, que passam a noite em vigília, ali mesmo...
O domingo chegou
ensolarado. Aos jovens juntam-se cerca de 13 mil padres e mais de 800 bispos
para celebrarem a Eucaristia com o Papa. Também o rei Juan Carlos e a rainha
estão presentes. Os jovens brasileiros estão ansiosos, pois todos já
falam do anúncio que o Papa fará no final da Missa. Bento XVI saúda os jovens e
lhes pergunta como passaram a noite, dizendo que ficou preocupado e não deixou
de pensar neles... A missa é solene. O Evangelho é o da profissão de fé de
Simão Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!”. O Papa pediu aos jovens
de 170 países que levem esse testemunho de fé em Cristo “para todos os povos”;
não mera informação impessoal, mas a manifestação de um encontro pessoal e vivo
com Cristo. E convidou-os a crescerem na fé, amparados no testemunho da Igreja,
na comunidade de fé viva, sem a pretensão de seguir Jesus de modo solitário e
individualista: “isso leva a uma falsa compreensão de Cristo e do Evangelho!
Apóiem-e na fé dos irmãos e também sejam uma ajuda para a fé dos outros!”
No final da
missa, na voz do Papa, o anúncio esperado: “A próxima Jornada será em 2013, no
Rio de Janeiro!” Um caloroso brado de acolhida de mais de 16 mil jovens
brasileiros ecoou para os quatro ventos! O governador e o prefeito do Rio
estavam lá e bateram palmas; também Gilberto Carvalho, representante da
Presidente da República. Dom Orani, arcebispo do Rio, recebeu o abraço do
arcebispo de Madrid; jovens espanhóis entregaram a cruz e o ícone das Jornadas
a um grupo de jovens enrolados em bandeiras do Brasil. Foi festa brasileira na
Espanha. Todos foram convidados para a Jornada Mundial da Juventude do Rio. A
preparação já começou e é tarefa para toda a Igreja no Brasil! E o Papa deu a
bênção a todos.
Publicado em O
SÃO PAULO, ed. de 23.08.2011