Como vimos anteriormente o
Catecismo da Igreja Católica foi fruto do Pontificado de João Paulo II,
também como resposta a várias solicitações a respeito de um texto oficial que
expusesse ordenadamente o conjunto da doutrina católica.
Tratando-se de expor a doutrina
católica em seu aspecto mais teológico e de conteúdo, esse colossal trabalho de
redação do Catecismo foi entregue ao organismo da Sé Apostólica, intitulada
Congregação para a Doutrina da Fé. Por outro lado, o organismo que cuida
propriamente da dimensão pedagógica da transmissão da fé, ou seja, da
catequese, que é a Congregação para o Clero, também tomou parte, porém em
segundo plano.
Essa Congregação para o Clero
realizou outro trabalho importante trabalho ao redigir e publicar um texto quase
tão importante quanto o Catecismo, que é o Diretório Geral para a Catequese
(1997). Esse documento traça linhas seguras, claras e muito atualizadas sobre a
missão da catequese, que é fundamentalmente, transmitir a mensagem do Evangelho
aos fiéis cristãos, conforme as várias idades e situações, Na verdade, o
Catecismo da Igreja Católica e o Diretório Geral para a Catequese se completam
mutuamente: mas este foi redigido em função daquele. Esse Diretório entre
tantas outras coisas, acentua também a importância do Catecismo, sua natureza e
finalidade, sua relação com a Bíblia e a Tradição. “ O Catecismo e o Diretório
são dois instrumentos distintos e complementares, a serviço da ação
catequizadora da Igreja”.
Voltando ao Catecismo, para
elaborá-lo, trabalho de grande envergadura, o Papa recorreu ao seu auxiliar
imediato e grande teólogo Card. Joseph Ratzinger; na época ele era
o encarregado da Congregação para a Doutrina da Fé, e há sete anos atrás foi
eleito como nosso Papa. Foi ele quem presidiu a comissão central que discutiu,
decidiu os rumos do futuro Catecismo, aprovou sua redação final e o
publicou. Dessa comissão participaram vários bispos e teólogos sistemáticos,
não porém catequetas (especialistas na comunicação da fé), embora tenham sido
consultados. O principal deles, após o Card. Ratzinger, foi o Card. Christoph
Schönborn, arcebispo de Viena que presidiu e orientou a comissão de
redação do Catecismo.
Um dos trabalhos dessa comissão
de grandes redatores, foi produzir um texto que fosse poderoso instrumento para
o urgente projeto da nova evangelização, preocupação central da Igreja hoje.
Tiveram o cuidado de que no Catecismo, como texto oficial da Sé Apostólica para
a catequese, não refetisse uma determinada teologia ou corrente
teológica, mas que ele expressasse a doutrina comum, a “regra da fé” da Igreja
Católica. Por outro lado, fizeram todo o esforço para que essa doutrina comum
ou “regra da fé” estivesse plenamente atualizada com as conquistas da teologia
e dos estudos bíblicos destes últimos ano, e sobretudo com o impulso renovador
impresso na Igreja pelo Concílio Vaticano II.
Sobre isso, com clareza e
profundidade, assim se expressou o nosso Papa Bento XVI, ainda Cardeal, durante
um Congresso realizado em Roma para comemorar o décimo aniversário do
Catecismo,em 2002: “Quem busca no Catecismo um novo sistema teológico ou novas
hipóteses surpreendentes ficará decepcionado. Este tipo de atualidade não é a
preocupação do Catecismo. O que ele oferece, bebendo na fonte da Sagrada Escritura
e no rico conjunto da Tradição em suas múltiplas formas, como também se
inspirando no Concílio Vaticano II, é sim uma visão orgânica da totalidade da
fé católica, que é linda precisamente em sua totalidade e de uma beleza na qual
brilha o esplendor da verdade. A atualidade do Catecismo é a atualidade da
verdade novamente expressa e novamente pensada. Esta atualidade durará muito
mais do que os murmúrios de seus críticos”.
Até agora falamos do Catecismo e
do Diretório. Entretanto, é necessário falar ainda de um terceiro texto,
relacionado com ambos. Trata-se do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica,
que, como diz o seu título, pretende ser uma síntese do grande Catecismo. Foi
também um projeto do pontificado de João Paulo II, publicado em 2005, após sua
morte.
A esse respeito, sou testemunha
do seguinte episódio: durante o Congresso Internacional de Catequese em Roma,
em 2002, surgiram vozes pedindo que o Papa publicasse também um resumo do
grande Catecismo, assim como na história dos catecismos, sempre houve o grande
catecismo (para os mais adiantados no aprofundamento da fé) e o pequeno
catecismo (para os iniciantes). Isso não era consenso do Congresso, mas desejo
de um pequeno grupo, que expressava a vontade do Papa. E entre os que se opunham
à ideia de um resumo do Catecismo estava também o Card. Ratzinger. Em conversas
de corredor eu o ouvi dizer que no Catecismo da Igreja Católica a doutrina da
fé já estava por demais resumida... e que não se fazia necessário, mais um
resumo. Entretanto, a ideia foi para frente (os organizadores do Congresso a
assumiram...) e uma das conclusões foi justamente o pedido de tal resumo
oficial do Catecismo.
Imediatamente o Papa João Paulo
II chamou o Card. Ratzinger e ordenou-lhe que organizasse uma comissão para
cuidar da redação dessa síntese do Catecismo, que depois recebeu o nome de
Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. Portanto, ele é fruto da vontade
férrea do Papa João Paulo II, como também fruto da obediência, cheia de
humildade e nobreza, do Card. Ratzinger!
O curioso é que o Card.
Ratzinger, como presidente da comissão que redigiu o Compêndio fez e assinou a
sua Introdução e depois, já como Papa, assinou o documento (Motu Proprio)
para sua aprovação e publicação.
Mas, sobre a natureza, o uso e as
relações entre o Catecismo da Igreja Católica e seu Compêndio, falaremos noutra
ocasião. Aliás, será necessário também nomear outras duas pequenas obras que
giram igualmente ao redor do grande Catecismo: o YouCat, chamado também
Catecismo Jovem da Igreja Católica, produzido na Alemanha e Áustria sob a
inspiração do Card. Christoph Schönborn e o opúsculo Sou Católico: vivo a minha
fé, de autoria da Comissão de Doutrina da CNBB.
Sobre esses três textos,
conversaremos na próxima semana.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb, é doutor em Teologia
Pastoral, catequeta, professor de teologia, conferencistas, redator e
editor da Revista de Catequese.