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sábado, 30 de junho de 2012

A INICIAÇÃO CRISTÃ ONTEM E HOJE


CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL
Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética
3ª Semana Brasileira de Catequese
Itaici-SP, 6 a 11 de outubro de 2009

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A INICIAÇÃO CRISTÃ ONTEM E HOJE
História e documentação atual sobre a Iniciação Cristã
(extrato do texto maior)
Luiz Alves de Lima

Introdução
Nesta exposição pretendo apresentar alguns dados históricos sobre o processo da Iniciação Cristã na vida da Igreja, sobretudo na forma do catecumenato. Tomando depois como referência o Concílio Vaticano II, apresentarei os pronunciamentos do magistério eclesial que urgem a Iniciação Cristã hoje através da restauração do catecumenato e da inspiração catecumenal de toda e qualquer catequese; são analisados documentos do magistério pontifício e episcopal (cerca de 25); faço ainda um aceno à formação iniciática do catequista e enumero algumas experiências de Iniciação Cristã no Brasil em curso atualmente.

Parte substancial dessa palestra já está publicada na Revista de Catequese 1: é o que foi apresentado e estudado na primeira reunião da Comissão que preparou o tema prioritário da 47a. AG da CNBB, justamente sobre a Iniciação à Vida Cristã. Irei apenas indicar algumas partes desse estudo e a ele remeter, ocupando o tempo dessa palestra para algumas reflexões além daquele texto.

É necessário esclarecer, em primeiro lugar, que por Iniciação Cristã se entende todo o processo pelo qual alguém é incorporado ao mistério de Cristo Jesus. Teologicamente falando a verdadeira iniciação se dá na celebração dos sacramentos do Batismo, Eucaristia e Crisma, chamados justamente, a partir do século XIX, de Sacramentos da Iniciação.

Pela doutrina do “ex opere operato” (uma vez realizado o sacramento com fé e com todos os requisitos canônico-litúrgicos, realiza-se o efeito salvífico significado pelo rito sacramental), a Igreja professa que todo batizado é verdadeiramente incorporado em Cristo Jesus e começa a fazer parte deu Corpo Místico, do Povo de Deus, da Igreja. No entanto, a expressão iniciação cristã passou a significar todo o processo pós-batismal percorrido para se chegar a esta profunda realidade da fé do ponto de vista experiencial e existencial.

A iniciação cristã para os já batizados consiste em desenvolver os germens da fé já infundidos no sacramento do Batismo. Para os não batizados é o processo que conduz ao mergulho total (batismo) no mistério de Cristo Jesus. Nesse processo iniciático estão incluídos, quer as ações litúrgico-rituais (celebrações, ritos, entregas, escrutínios...) como o processo catequético no sentido estrito de ensinamento e reflexão sobre a sabedoria evangélica, a doutrina de Jesus Cristo e os exercícios de vida cristã em vista da assimilação completa do mistério cristão.


1 ALVES DE LIMA Luiz, A iniciação cristã ontem e hoje in Revista de Catequese 32 (2009) nº 126, abril-junho, pp. 06 – 22. Parte
desse material já foi apresentado por esse mesmo autor na II Semana Brasileira de Catequese (8-12 de Outubro de 2001) e
publicado como Memória do catecumenato na História in CNBB, Segunda Semana Brasileira de Catequese. São Paulo: Paulus
2002, pp. 229-244 (com bibliografia). Estudos da CNBB 84.


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O complexo processo que, desde o século II, prevaleceu na Igreja para iniciar os novos membros nos mistérios da fé, recebeu o nome de Catecumenato. Para alguns autores esse nome deveria significar apenas o “segundo tempo” da iniciação cristã, o mais longo e mais propriamente catequético. Entretanto, a maioria usa o termo “catecumenato” para significar todo o processo da iniciação cristã. É desnecessário dizer também que o tão conhecido e espalhado “neo-catecumenato” é apenas uma expressão daquilo que a Igreja chama de Catecumenato. É um movimento, com todos seus valores e limitações, com estatuto próprio, plenamente aprovado pela Igreja, bastante estruturado e que procura resgatar quase que mimeticamente o antigo catecumenato, e, às vezes vai muito mais além, no sentido de radicalidade evangélica. Não se deve, pois, confundir catecumenato como o movimento ou caminho neo-catecumenal.

O atual interesse pela Iniciação Cristã

A publicação do RICA em sua primeira edição em 1973 e sobretudo em sua segunda edição no ano 2001, com nova diagramação, veio enriquecer o vocabulário eclesial com uma expressão quase que esquecida, mas tão antiga quanto a Igreja: a Iniciação Cristã.

Durante muito tempo, e mesmo recentemente, usou-se a expressão iniciação cristã em livros de história da Igreja ou da Liturgia. A partir do final do séc. XIX essa expressão passou a designar os sacramentos do batismo, confirmação e eucaristia, o que foi incorporado pelo Vaticano II 2. Ela está no título do ritual do batismo de adultos, denominado RICA, e foi adotada também pelo Catecismo da Igreja Católica (nºs 1211-1212).

A prática pastoral comum, até então, não tinha nenhuma necessidade de recorrer à expressão “iniciação cristã”: simplesmente administrava-se o batismo a crianças em seus primeiros dias ou meses de existência; eucaristia e crisma eram conferidos às meninas e meninos/adolescentes que frequentavam a catequese preparatória, em geral infantil, como, aliás, continuamos a fazer hoje, em quase todos os lugares.

Ao longo de sua história, a Igreja sempre realizou, de uma maneira ou de outra, a iniciação cristã, se com essa expressão entendemos o modo de formar os fiéis: essa era a catequese tal como a recebemos da longa tradição da cristandade. Para adultos que se apresentavam ao Batismo adaptava-se o rito de batismo de crianças, sem outras práticas ou exigências. Estritamente falando, o catecumenato com seu caráter litúrgico, catequético e moral, era, na antiguidade, o processo de iniciação destinado a adultos que optavam pelo seguimento de Jesus. Nesse sentido, a partir do séc. VI não houve, em geral, catecumenato nos países cristãos, mergulhados na cristandade, já que os recém nascidos eram (são) integrados na Igreja através do Batismo de crianças.

Muitas vezes “iniciação cristã” e “catecumenato” são tomados hoje como sinônimos 3; entretanto, faz-se necessário “uma distinção, uma vez que a iniciação põe o acento no sacramental e o catecumenato está relacionado com a catequese” 4.

2 Cf Ad Gentes 14; Presbiterorum Ordinis 2; Sacrosanctum Concilium 71.
3 “Na Igreja primitiva catecumenato e iniciação aos sacramentos do batismo e da eucaristia se identificavam” (CT 23).

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O catecumenato se define como “processo educativo-cristão, demarcado por tempos e etapas, dirigido a convertidos, no seio de uma comunidade eclesial, por meio de uma regeneração sacramental”.

Hoje um dos desafios de nossa pastoral é a transmissão da fé às novas gerações (suscitar a fé), incorporar as pessoas na comunidade cristã, celebrar consciente e profundamente os sacramentos e manter e alimentar a fé recebida e professada. Para os batizados mas não evangelizados, apresenta-se o desafio de uma re-iniciação na comunidade e na vida cristã, já que o batismo os iniciou “sacramentalmente” na fé. Paralelamente, o desafio também é a luta contra o fenômeno da descristianização de grande parte da população, fomentada pelo secularismo, consumismo materialista e ideologias anticristãs.

Diante disso, e impulsionado pelo zelo missionário suscitado na Igreja nesses últimos anos, o episcopado brasileiro há tempo vem realizando esforços de renovação da catequese; entre outras coisas, procura retornar à prática de uma iniciação cristã mais eficaz. Em outras partes da Igreja há também esta preocupação.

Por outro lado, é necessário afirmar que, quando se fala de catecumenato ou de uma catequese de inspiração ou dimensão catecumenal, estamos falando de práticas catequéticas presentes na nossa realidade pastoral; não se trata apenas de uma “teoria”, mas de algo que já está acontecendo. Em toda a Igreja, também no Brasil, são feitas experiências, procurando retornar ao modelo de uma catequese catecumenal. Podemos elencar, por exemplo, as seguintes, entre tantas experiências: 1. Os processos do Caminho Neo-catecumenal, de caráter bastante radical, seja pelo modelo seguido (catecumenato da Igreja Primitiva), quer pelo tempo que empregam (Kiko de Argüellos 5); 2. Processos ligados à Renovação Carismática Católica 6; 3. Experiências da Baixada Fluminense: Pe. Domingos Ormonde em Duque de Caxias e S. João de Meriti (RJ) e Pe. Lúcio Zorzi 7, em Campo Grande, Rio de Janeiro (RJ); 4. Experiências de Volta Redonda – Barra do Piraí, RJ (Pe. Giuliano A. Fantini = Nani) 8; 5. Experiências de Belém (PA); 6. Experiências de Porto Alegre, RS (Pe. Lívio Masuero 9); 7. Experiências de Rio Grande, RS (Pe. John Cleber Hood Moreira 10); 8. Experiências de Santo Amaro, SP (Pe. Guillermo Daniel Micheletti 11); 9. Experiência de Pirapora do Bom Jesus, SP (Pe. Paulo Haenraets, premonstr. 12);

4 FLORESTÁN Cassiano, Catecumenato: história e pastoral da iniciação. Petrópolis: Vozes 1995, pg. 30.
5 Cf apresentação e críticas em FLORISTÁN C., Catecumenato: história e pastoral da iniciação, pp. 137-140; ALBERICH E., Formas e modelos de Catequese de Adultos. São Paulo: Editora Salesiana 2000, pp. 59-60.
6 Cf apresentação e críticas em FLORISTÁN C., Catecumenato: história e pastoral da iniciação, pp 140-143.
7 ZORZI Lúcio, Catecumenato Crismal: gente em busca de algo mais. 15a. ed. São Paulo: Paulinas 2008, 224 pp.; ID., Uma proposta para o Rica simplificado. São Paulo: Paulinas 2009, 88 pp.
8 Cf FANTINI Giuliano – Marilene Sabarense, Uma experiência Catecumenal com Adultos em Volta Redonda in Revista de Catequese 32 (2009) nº 127, julho – setembro, pp.
9 Cf apresentação em MASUERO Lívio, Discipulado Católico adulto in Revista de Catequese 29 (2006) nº 116, outubrodezembro, pp. 44-60.
10 Cf apresentação em MOREIRA John Cléber Hood, Uma experiência catequética com o RICA in Revista de Catequese 29 (2006) nº 116, outubro-dezembro, pp. 61-64.
11 Cf apresentação em MICHELETTI Guillermo Daniel, A paróquia hoje e o desafio da evangelização e da catequese in Revista de Catequese 30 (2007) nº 117, janeiro-março, pp. 35-42; ID., Itinerário catequético paroquial de inspiração catecumenal in Ibid. 32 (2009) nº 127, julho – setembro, pp.
12 Apresentação em HAENRAETS Paulo, Iniciação na fé e catequese familiar in Revista de Catequese 31 (2008) nº 123, julhosetembro, pp. 44-52.

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10. Experiência de Campinas, SP (Pe. Antonio A. M. Busch 13); 11. Catecumenato Crismal: Chapecó, SC (D. Manoel João Francisco 14). Com relação a diretrizes diocesanas concretas nessa linha catecumenal, podemos citar: 1. Experiência do Regional Leste I (RJ) com suas Diretrizes para Iniciação Cristã da Arquidiocese 15; 2. Diretório Diocesano de Catequese de Umuarama (PR) 16; 3. Orientações para a iniciação cristã de adultos: ad experimentum da Arquidiocese de Curitiba 17; 4. Por uma mobilização bíblica Nacional (Dom Orlando Brandes 18) A CNBB, repercutindo o Diretório Nacional de Catequese e, sobretudo, Aparecida, tomou como tema prioritário da Assembléia de 2009 esse tema, que está se tornando central em sua vida hoje 19; retornará possivelmente em Assembléias futuras. E é esse também o tema de nossa III SBC.

Aqui, faremos primeiro uma abordagem histórica da Iniciação Cristã e em segundo lugar, uma apresentação dos Documentos Eclesiais que urgem hoje a retomada do catecumenato em suas várias formas. 􀃄 (a partir desse momento pode-se seguir a palestra pela Revista de Catequese 32 [2009] nº 126, julho-set., pp. 9 – 21, com os acréscimos que se seguem)

CEBs: um processo de iniciação cristã e de catequese catecumenal?

Aqui seria o caso de perguntar-nos se realmente a caminhada de nossas pequenas comunidades, em sua forma de CEBs, círculos bíblicos ou as diversas formas urbanas de vivência comunitária da fé, não funcionam verdadeiramente como processos iniciáticos, uma vez que seus elementos principais aí estão presentes? A grande diferença é que as dimensões comunitária e diaconal (serviço, caridade) estão muito mais presentes do que em outros itinerários de iniciação, onde as coisas são vividas mais no âmbito pessoal, ou quando muito num tipo de comunidade muitas vezes voltadas quase que exclusivamente para si mesmas (ad intra e não ad extra).

Podemos também refletir que, logo após o Concílio, a Igreja de um modo geral, e, sobretudo, no Brasil, foi guiada e impulsionada por todos os documentos conciliares, sobretudo, pela grande Gaudium et Spes: diálogo com o mundo, vivência do Evangelho a serviço da transformação da humanidade, de um modo especial em favor dos pobres, com suas conseqüências sociopolíticas... daí nasceu a Teologia da Libertação, as práticas de uma pastoral transformadora e voltada diretamente para a situação concreta sofrida e desumana da maioria de nossos fiéis, para o engajamento sócio-político em nome do Evangelho...

13 BUSH José Antonio Moraes, Iniciação cristã de adultos hoje: uma experiência in Revista de Catequese 23 (2000) nº 91,
agosto-setembro, pg 61-66.
14 DIOCESE DE CHAPECÓ, Catecumenato Crismal. 2a. Reimpressão. Chapecó: Livraria Diocesana Paz e Cultura 2007. Três
volumes: Tempo de Pré-catecumenato (divulgação: formação da família, catequistas e outros agentes; Evangelização); Tempo
de Aprofundamento (catecumenato – 3o. tempo); Tempo de Iluminação e da Mistagogia (participação na comunidade,
celebração dos sacramentos, compromisso de caridade).
15 ARQUIDIOCESE DO RIO DE JANEIRO, Diretório Arquidiocesano da Iniciação Cristã. Rio de Janeiro: Nossa Senhora da Paz
Livraria e Editora, 2008, 80 pp.
16 DIOCESE DO DIVINO ESPÍRITO SANTO – UMUARAMA, Diretório Diocesano de Catequese. Umuarama: edição própria, 2009, 124
pp.
17 COMISSÃO DA ANIMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA, Orientações para a iniciação cristã de adultos: ad experimentum. Curitiba:
Editora Arquidiocesana 2009, 56 pp.
18 BRANDES Orlando, Por uma mobilização bíblica Nacional. Londrina: edição própria, 2009, 25 pp. Publicou também uma
Cartilha sobre a Iniciação Cristã in Revista de Catequese 32 (2009) julho-set., nº 126, pp. 74-80.
19 Nessa III Semana está sendo lançado, na coleção verde da CNBB, o documento resultante da 47a. Assembléia Geral de 2009.

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A CNBB ficou beneficamente marcada por essas grandes intuições do Concílio, sem deixar, naturalmente, tantas outras reformas conciliares!
No contexto do Concílio o documento Ad Gentes, como o próprio nome indica ([Igreja enviada] aos povos [pagãos]), era pensado para as “missões”, para povos não cristãos que não conheciam a luz do Evangelho... Sem perder essa característica de anúncio do Evangelho para povos com nenhuma tradição cristã (missão nas fronteiras), a Igreja hoje percebe que precisa anunciar o Evangelho de um modo explícito e renovador, para povos de antiga cristandade...

Aqui no Brasil, embora não sejamos de tão antiga cristandade, tomamos consciência também de que precisamos nos transformar em “terra de missão”, numa Igreja missionária, no sentido mais próprio e exato da palavra. Aí estão o nosso Diretório Nacional de Catequese, (cap. II: “A catequese na missão evangelizadora da Igreja”) o projeto Brasil na Missão Continental e todo o Documento de Aparecida que nos impulsiona para isso...

Nesse contexto, sem deixar de lado as conquistas que fizemos à luz da Gaudium et Spes, precisamos retornar ao documento que ficou um pouco esquecido no pós-concílio, o Ad Gentes, pois, pensávamos, eram orientações mais para “países de missão”... Missão é aqui nos grandes e pequenos centros urbanos, missão é para grande maioria de nossa população que cada vez mais se afasta do Evangelho, deixando-se influenciar por uma sociedade longe de Deus, consumista, materialista... Ora, dentre os documentos conciliares, Ad Gentes, juntamente com outros, é que pediu a restauração do Catecumenato como metodologia própria para conduzir, aqueles que optam pelo Evangelho, a uma verdadeira iniciação à vida cristã. Portanto, missão, primeiro anúncio, catecumenato, iniciação à vida cristã, são conceitos e práticas que começam a fazer parte de nosso dia a dia...
􀃄 (retornar à Revista de Catequese à pg 16, primeira coluna, em cima)

A formação iniciática de catequistas - SCALA – 2007

É preciso ter presente também esse documento da Sociedade de Catequetas Latino-americanos (SCALA) sobre a necessidade de formar as/os catequistas a partir da dimensão iniciática, catecumenal. Se eles não passam pela experiência catecumenal – mistagógica, dificilmente irão depois trabalhar com esta perspectiva 20.

Após analisar a situação do catequista no mundo e na Igreja, apresenta as características do processo iniciático, entre elas: a experiência de Emaús como modelo iniciático, a importância do encontro pessoal com Jesus Cristo, elementos do itinerário (etapas, ritos, símbolos, escrutínios), a exigência do acompanhamento pessoal, a formação do discípulo missionário. Na terceira parte desenvolve o “novo caminho de formação iniciática de catequistas”, retomando, nessas perspectivas as conhecidas categorias do ser, saber conviver, saber e saber fazer do catequista;
insiste na vida interior, comunitária, de oração, litúrgica e mariana.


20 Este documento está publicado em SCALA, A formação iniciática de catequistas in Revista de Catequese 31 (2008) nº 123,
julho-setembro, pp. 53 ss.

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III – INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ – CNBB 2009

1.      Introdução

O tema da iniciação cristã é conseqüência da caminhada da Igreja nesses últimos anos e é tão urgente que foi escolhido como tema prioritário da 47a. Assembléia Geral da CNBB de 2009.

Logo ficou claro que não se trata só de iniciação cristã, como tradicionalmente se diz, mas sim de “iniciação à vida cristã”. Essa expressão procura traduzir a comunicação de uma fé que não se reduz à intimidade com Jesus Cristo, mas que tenha reflexos e influências vitais na própria existência, levando à participação da comunidade, que no seu conjunto, deve dar Testemunho do Evangelho 21.

Para elaborar o esquema fundamental do texto, a comissão para isso nomeada 22, entre tantas possibilidades, tomou como ponto de partida o insistente pedido de Aparecida: “Impõe-se a tarefa irrenunciável de oferecer uma modalidade [operativa!] de iniciação cristã, que além de marcar o que, dê também elementos para o quem, o como e o onde se realizam. Dessa forma, assumiremos o desafio de uma nova evangelização, à qual temos sido reiteradamente convocados” (nº 287). Acrescentando-se mais dois elementos (por quê? e para quem?), nosso texto ficou estruturado com esses 5 capítulos:

I – Iniciação à vida cristã: por quê? - Motivações
II – Iniciação à vida cristã: o que é? Natureza
III – Iniciação à vida cristã: como? - Metodologia
IV – Iniciação à vida cristã: para quem? Destinatários - Interlocutores
V – Iniciação à vida cristã: com quem? onde? Agentes e Lugares.

Embora sejam categorias marcadamente distintas, entretanto elas se completam e estão intimamente relacionadas. Assim sendo, por vezes, ao tratar de uma delas, já se começa a falar da outra e vice-versa, como fica evidente no I capítulo. Pode parecer repetitivo, mas são realidades que não podem ser tratadas sempre independentes entre si.

Após reflexões e decisões da comissão encarregada de elaborá-lo, o texto foi redigido por cinco pessoas diferentes 23. A seguir tentou-se unificar a redação num único estilo e assim, retornou à comissão que o reviu, corrigiu, complementou e documentou.

21 Esse tema está aprofundado por LELO, Antonio Francisco, A Iniciação Cristã: catecumenato, dinâmica sacramental e
testemunho. São Paulo: Paulinas 2005 (tese de doutoramento).
22 Foram esses os membros nomeados: Bispos: Dom Eugène Lambert Adrian Rixen (Presidente), Dom Manuel João Francisco,
Dom Tarcísio Scaramussa, sdb, Dom Carlos Verzelleti. Assessores: Pe. Videlson Telles de Meneses (posteriormente
substituído pela Profª. Maria Cecília Rover), Ir. Zélia Maria Batista, cf, Pe. Luiz Alves de Lima, sdb, Pe. Domingos Ormonde
(posteriormente substituído pelo Ir. Israel José Nery, fsc), Profª. Therezinha Motta Lima Cruz, Ir. Marlene dos Santos, cf, e
Sra. Maria Ângela Zoldán Guenka. Cf. CNBB - PRESIDÊNCIA, Carta de 30 de Setembro de 2008. SG - C - no. 0865/08, assinada
pelo Secretário Geral, Dom Dimas Lara Barbosa. Dois outros membros nomeados não participaram.

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O texto, discutido e emendado durante a Assembléia, passou por diversas outras correções posteriores e está sendo publicado na coleção Estudos da CNBB e lançado nessa III Semana Brasileira de Catequese. Não dando tempo de, nesta palestra, apresentar todo o documento, me restrinjo aos capítulos II e III.

2.      CAPÍTULO II - O QUE É MESMO INICIAÇÃO?

Nesse capítulo se mostra que o processo de iniciação, mesmo no nível humano, se faz sempre com relação ao mistério. Iniciação é sempre iniciação ao mistério, é mergulho pessoal no mistério; ele está presente também no centro da fé.

Jesus fala do Reino usando a categoria de mistério: “A vós é confiado o mistério do Reino de Deus” (Mc 4,11; cf. Mt 13,11; cf. Lc 8,10). O conceito de mistério aparece pouco no Antigo Testamento, mas é muito usado por Paulo, tornando-se uma categoria fundamental para a fé. Foi usado para manifestar o desígnio divino de salvação, que para Paulo se concentra na pessoa de Jesus, sua vida, morte e ressurreição. Paulo contrapõe a “sabedoria humana” à “sabedoria misteriosa” de Deus (1Cor 2,7) e diz que sua missão é fazer conhecer a gloriosa riqueza deste mistério em meio aos gentios.

A mensagem cristã apresentada como mistério leva naturalmente à realidade da iniciação. No nosso imaginário o mistério carrega em si algo de fascinante, sublime, surpreendente. O mistério é um segredo que se manifesta somente aos iniciados. Diferentemente de outros conhecimentos ou práticas, não se tem acesso ao mistério através de um ensino teórico, ou com a aquisição de certas habilidades. Para ter acesso aos divinos mistérios a pessoa precisa, de uma maneira ou de outra, ser iniciada a essas realidades maravilhosas através de experiências que a marcam profundamente. São os ritos iniciáticos tão desenvolvidos na antiguidade e em sociedades modernas secretas ou esotéricas, em geral ministrados a um círculo restrito e fechado de pessoas.

Os cristãos lançaram mão dessa realidade tão humana e arraigada nas culturas, de tal modo que o cristianismo foi até confundido com uma das tantas religiões iniciáticas que pululavam o Oriente Médio. Entretanto, era algo muito mais profundo: para participar do mistério de Cristo Jesus era preciso passar por uma experiência impactante de transformação pessoal e deixar-se envolver pela ação do Espírito. O processo de transmissão da fé tornou-se, sim, iniciático em sua metodologia. Descobrir o mistério da pessoa de Jesus e os mistérios do Reino, assumir os compromissos de seu caminho, viver a ascese requerida pela moral cristã... são realidades muito exigentes; sem um verdadeiro processo de iniciação não se alcança seu verdadeiro sentido.

O catecumenato foi um caminho antigo e eficiente, desenvolvido pelas comunidades cristãs, aprofundado pelos Santos Padres, acolhido e institucionalizado pela autoridade eclesiástica, núcleo do próprio desenvolvimento do ano litúrgico, gerado nesse processo.

23 Para a primeira redação, o cap. I foi elaborado por Therezinha Lima Motta Cruz; o II pelo Pe. Luiz Alves de Lima, sdb; o III
pelo Pe. Domingos Ormonde, com complementação de Dom Manuel João Francisco e Maria Ângela Zoldán Guenka; o IV por
Ir. Marlene Santos, cf; e o V pelo Ir. Israel José Nery.

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O valor do mistério de Cristo e da Igreja era experimentado e depois explicado numa vivência marcada
pelo rito através de uma catequese chamada “mistagógica” (que inicia ao mistério). O rito, ao envolver a pessoa por inteiro, marca-a mais profundamente do que a simples instrução e interioriza o que foi aprendido e proclamado, realçando a dimensão de compromisso.

Iniciação não é invenção cristã; está na raiz de muitas religiões na antiguidade e, mais ainda, na raiz de quase todas as culturas: antes de ser uma realidade religiosa, é uma realidade antropológica, que as sociedades modernas quase que perderam por completo. Aí, talvez, esteja a nossa grande dificuldade de trabalhar com a iniciação ao mistério: não é uma experiência do nosso dia-a-dia; falta-nos substrato antropológico!

O texto apresenta a descrição de alguns elementos da iniciação do ponto de vista antropológico e o valor dos ritos. Os processos iniciáticos, profundamente vividos, possuem a capacidade de fazer assimilar vitalmente as grandes experiências cristãs. Mostra também a necessidade de revalorizar hoje esse itinerário iniciático-catecumenal. De fato: numa cultura moderna e quase que pós-cristã (cf CT 57; DGC 110d) a Igreja se vê diante da necessidade de uma real iniciação, para formar cristãos que assumam de fato o projeto do Reino. O Estudo da CNBB Com Adultos Catequese Adulta (2001) afirma: “Aquilo que os ritos de iniciação representam para a vida sociocultural de um grupo, a catequese deveria representar para a vida cristã” 24: é um processo profundo que integra a pessoa num estilo evangélico de vida.

Daí a necessidade de formas de catequese que estejam verdadeiramente a serviço da iniciação cristã, na complexidade de suas exigências, como bem afirmam o DGC (nos 63-68) e o DNC (no 35 e todo o subtítulo 4.1). Mas a iniciação não é missão só da catequese (aqui está, às vezes, nosso engano!): é trabalho de toda a comunidade, principalmente da dimensão litúrgica e dos ministros ordenados! Sente-se hoje uma necessidade urgente de revisão profunda da nossa prática eclesial, para restabelecer, na sua função primordial, a iniciação cristã.

O Documento de Aparecida é enfático ao falar da necessidade urgente de assumir o processo iniciático na evangelização: “Ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para seu seguimento, ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora” (nº 287; cf. 286-294).

A restauração do catecumenato, solicitada pela Igreja (cf. CD 14, SC 64-68 e AG 14), com a devida inculturação, quer retomar a dimensão mística, celebrativa, da catequese, considerando que um dos aspectos essenciais da educação da fé é levar as pessoas a uma autêntica experiência cristã, na integridade de suas várias dimensões.

Teologicamente falando a Iniciação Cristã possui quatro características que definem sua natureza: 1): ela é obra do amor de Deus. A iniciação cristã é graça benevolente e transformadora, que nos precede e nos cumula com os dons divinos em Cristo 25.

24 CNBB- GRECAT, Com adultos, catequese adulta: texto base elaborado por ocasião da 2ª Semana Brasileira de catequese-
Estudos da CNBB 80. São Paulo: Paulus 2001, nos 102-103.

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2) Esta obra divina se realiza na Igreja e pela mediação da Igreja. Como corpo de Cristo, coloca os fundamentos da vida cristã e principalmente incorpora a Cristo os que estão sendo iniciados pelos sacramentos da iniciação. Não é iniciação a um movimento ou escola de espiritualidade, embora possam ajudar muito. 3) Este dom de Deus realizado na e pela Igreja tem um terceiro elemento: requer a decisão livre da pessoa. No processo ou itinerário de iniciação a pessoa é envolvida inteiramente em todas as esferas e dimensões do ser. O fracasso ou falta de perseverança no caminho da fé se deve, muitas vezes, à falta deste envolvimento total dos iniciandos. 4) Por fim, a iniciação cristã é a participação humana no diálogo da salvação. É na iniciação cristã que a pessoa começa a fazer parte da História da Salvação.

3.      CAPÍTULO III - Iniciação à vida cristã: como?

O terceiro capítulo trata dos processos, descrevendo a dinâmica catecumenal. Palavra e celebração foram importantes para que os primeiros discípulos reconhecessem Jesus como centro de sua vida. São fundamentais para os cristãos de hoje também. O itinerário da iniciação cristã inclui sempre “o anúncio da Palavra, o acolhimento do Evangelho, que implica a conversão, a profissão de fé, o Batismo, a efusão do Espírito Santo, o acesso à comunhão eucarística.” (Catecismo 1229). Temos a consciência de que muitos dos itinerários catequéticos oferecidos aos não batizados e aos batizados de várias idades são fragmentados; mesmo entre os que participam na comunidade e nos movimentos, há carência de itinerários que lhes permitam mergulhar sempre mais no mistério de Cristo e sua Igreja.

O protótipo do processo, da metodologia que conduz à vida cristã é o catecumenato batismal. Nas últimas décadas, a situação pastoral tem feito a Igreja perceber que há também uma necessidade de catecumenato pós-batismal (Catecismo 1231), de grande valor para a iniciação integral de jovens e adultos batizados, mas não suficientemente envolvidos no compromisso cristão.

Aparecida assim descreve o catecumenato: “A iniciação cristã, que inclui o querigma, é a maneira prática de colocar alguém em contato com Jesus Cristo e iniciá-lo no discipulado. Dános, também, a oportunidade de fortalecer a unidade dos três sacramentos... Propriamente falando, refere-se à primeira iniciação nos mistérios da fé, seja na forma do catecumenato batismal para os não batizados, seja na forma do catecumenato pós-batismal para os batizados não suficientemente catequizados. Está intimamente unido aos sacramentos da iniciação: batismo, confirmação e eucaristia... Teríamos que distingui-la, portanto, de outros processos catequéticos e de formação que podem ter a iniciação cristã como base” (DAp 288)

É um paradigma inspirador que deve ser conhecido e valorizado. O modelo de catecumenato apresentado pelo RICA possibilita a elaboração de itinerários diversos, de acordo com as necessidades de cada realidade, conservando o que é essencial e específico. Uma primeira característica essencial é o seu caráter cristocêntrico e gradual. Está a serviço de quem decidiu seguir Jesus Cristo e busca a conversão (cf DGC 89).

25 “A iniciação cristã, em seu significado mais profundo, é sobretudo ação interior e transformadora operada por Deus por meio
dos sacramentos do batismo, da confirmação e da eucaristia”. (Emílio Alberich, Catequese Evangelizadora p 154). Muitas
vezes a catequese, em vez de iniciação, transforma-se em ensinamento doutrinal ou processo de socialização (cf Ib.)

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O catecumenato é uma função vital da Igreja. Sua responsabilidade é de toda a comunidade cristã. Todo o processo é impregnado do mistério da Pascal. É lugar privilegiado de inculturação, onde são acolhidas na Igreja as “sementes da Palavra” presentes nas pessoas e nas culturas. Garante uma formação intensa e integral, está vinculado a ritos, símbolos e sinais, e está em função da comunidade cristã.

O processo catecumenal, de acordo com o RICA, é organizado em quatro tempos (períodos ou fases) e em três grandes celebrações ou etapas, das quais participam membros da comunidade, parentes e amigos.. A palavra “etapa” aqui significa chegada e conclusão de um período (tempo) e passagem para o seguinte: são momentos fortes marcados por uma celebração específica lançando o catecúmeno para o tempo seguinte. Como se vê no quadro abaixo, por exemplo, embora a celebração dos sacramentos seja um sinal forte na caminhada, esta etapa não é o fim do processo (como comumente fazemos na atual catequese), mas é a “porta” que se abre para a catequese mistagógica, que vai aprofundar a educação para a vivência do mistério:

O texto descreve com detalhes, cada um dos quatro tempos com suas etapas, fazendo sempre a distinção entre catecúmenos (não batizados) e catequizandos (já batizados) e entre esses, os que se encaminham para a primeira comunhão eucarística e confirmação, ou apenas para a confirmação. São eles:

ESQUEMATICAMENTE:
Pré-catecumenato (1º tempo)
Rito de admissão ao catecumenato (1ª etapa)
Catecumenato (2º. Tempo)
Celebração da eleição ou inscrição do nome (2ªetapa)
Purificação e iluminação (3º. Tempo)
Celebração dos sacramentos da iniciação (3ª etapa)
Mistagogia (4º Tempo).

QUADRO GERAL DA INICIAÇÃO CRISTÃ: tempos, etapas, conteúdos...
1° TEMPO Pré- Catecumenato ou Primeiro Anúncio (querigma) - dos Candidatos
Tempo do acolhimento na comunidade cristã Primeira evangelização - Inscrição e colóquio com o catequista. Ritos.

2° TEMPO Catecumenato (tempo mais longo de todos) Tempo suficientemente longa para:
- CATEQUESE REFLEXÃO APROFUNDAMENTO.
- Vivência cristã, conversão, - entrosamento com a Igreja. Ritos. Preparação para os Sacramentos (eleição)

3° TEMPO Purificação e Iluminação (quaresma) Tempo de Preparação próxima para Sacramentos. Escrutínios, entregas do Símbolo e da Oração do Senhor- CATEQUESE Práticas quaresmais (CF, etc.) Ritos. Celebração dos sacramentos de Iniciação : Vigília

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4° TEMPO Mistagogia (tempo pascal) Tempo do Aprofundamento e maior mergulho no mistério cristão, no mistério pascal. Vivência na comunidade cristã.

Nas etapas (celebrações de passagem de um tempo para o outro) são feitas as entregas que representam os compromissos que vão sendo assumidos, como acontece na entrega da Palavra de Deus, do símbolo da fé (o Credo) e da oração do Senhor (o Pai Nosso). Elas representam também a herança da fé que é passada aos novos cristãos. Outros rituais vão acompanhando o processo: a unção, os exorcismos e os escrutínios.

Apresentam-se também características complementares do catecumenato, como a atenção à formação integral e vivencial, a dimensão orante, a prática da caridade e a renúncia de si mesmos. Para isso a catequese deve ir além do conhecimento de verdades e preceitos através da dimensão bíblica, orante, celebrativa, e relacionar-se profundamente com o ano litúrgico. Há também o acompanhamento dos introdutores, a contribuição dos padrinhos e membros da comunidade, a participação gradativa nas celebrações da comunidade e estímulo ao testemunho de vida. Entre catequese e liturgia deve haver íntima cooperação: elas se reforçam mutuamente no processo catecumenal.

É um modelo inspirador, aberto a adaptações. Em muitos lugares já há experiências que estão pondo em prática o espírito catecumenal da iniciação cristã, com criatividade e adaptação.

É um modelo deve ser estudado e aplicado na medida do possível, na ação normal da Igreja: não é restrito a alguns grupos, movimentos, e nem é só para situações especiais ou excepcionais... Ressalta-se que esse processo, seriamente assumido, traz grande renovação e qualidade para a vida paroquial.

A importância que se dá à dimensão orante-ritual-celebrativa não pode deixar esquecidos outros aspectos da pastoral.

Não se pode implantar um processo com esse nível de exigência sem a correspondente preparação e contínua reflexão e revisão de vida dos agentes, de todos os níveis, e sem uma grande atenção à qualidade do testemunho da comunidade inteira. Um catequista que não passou pelo processo catecumenal dificilmente irá desenvolvê-lo eficazmente.

O processo catecumenal pode ser aplicado aos diversos trabalhos de formação continuada que já existem nas comunidades, aprofundando a missão evangelizadora (encontros de preparação para o matrimônio e batismo...).

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Conclusão Geral

Falando de Iniciação à Vida Cristã, estamos falando da missão, da formação de discípulos missionários, estamos dando resposta aos grandes apelos da Igreja principalmente nestas últimas décadas. Esse tema está profundamente relacionado com a questão do Primeiro Anúncio, do Querigma, que, no esquema catecumenal é o primeiro passo (chamado précatecumenato).

Relaciona-se também com o tema da formação presbiteral (cujo documento a 47a. Assembléia da CNBB aprovou em abril passado) e da formação de catequistas. Somos os primeiros iniciados na fé, para podermos iniciar nossos irmãos. Do contrário, seremos excelentes executivos de uma multinacional chamada Igreja Católica, agência de serviços religiosos, e não apóstolos-missionários...

Está também relacionado com tudo o que diz respeito à maior compreensão da Palavra de Deus, a leitura orante da Bíblia, o tema do Sínodo de 2008. Como iniciar na fé a não mediante as Sagradas Escrituras?

Grandes temas que vivemos em nossa vida eclesial recente, fazem-se presentes na Iniciação à Vida Cristã, como a dimensão comunitária de nossa fé (pois iniciação cristã só se faz em comunidade e para a comunidade eclesial), a interação entre fé e vida, tão presente em nossa tradição catequética recente, o testemunho do Evangelho no dia a dia, a dimensão sóciotransformadora, a opção evangélica pelos pobres... Como dizia acima falar das CEBs, se hoje redescobrimos o documento Ad Gentes por causa de seu impulso missionário mais explícito, acentuamos mais a dimensão místico-espiritual na comunicação da fé, de maneira nenhuma queremos deixar de lado o profético documento Gaudium et Spes... inspirador dos documentos de Medellín, que Aparecida revisitou!

Tem importância a Iniciação à Vida Cristã? É um tema prioritário? Essa proposta não é nossa. Estamos até, de certo modo, chegando um pouco atrasados, como Igreja no Brasil, com relação a outros episcopados que já assumiram a Iniciação à Vida Cristã há tempo: é o apelo hoje por toda a Igreja. Também em nível acadêmico é um tema muito pesquisado, promovem-se estudos, congressos, assembléias, semanas em torno da Iniciação tanto em países de velha cristandade, como na Europa, como na África e Américas (a nossa III Semana Brasileira de Catequese é prova disso).

Pode parecer que estejamos ressuscitando fórmulas antigas... Revisitar o passado, ou os inícios da Igreja, é premência de nossos tempos, é conscientizar-se do descompasso entre algumas estruturas herdadas do regime de cristandade (por ex.: uma catequese concebida como aprendizado doutrinal em vista de um sacramento), e corajosamente, como pede Aparecida, buscar novos e mais eficazes caminhos. Com relação ao catecumenato, não é importante a estrutura, tal como nos apresenta o RICA, mas sim a inspiração catecumenal. Catequese de inspiração catecumenal significa uma catequese mais aderente à Palavra de Deus, mais orante, mais celebrativa, que, sem deixar a linguagem racional e doutrinal da fé, usa também e sobretudo a linguagem simbólica, em seus vários níveis. Mistério não se explica: contempla-se! .

É preciso entender que catequese, tal qual nós a entendemos e praticamos hoje, não é sinônimo, automaticamente, de Iniciação à Vida Cristã.

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O processo iniciático (e aqui estamos falando do modelo catecumenal) é muito mais amplo que a catequese. Tomada como momento do ensino, do aprofundamento no mistério de Cristo Jesus, a catequese é um tempo, um momento do catecumenato... o mais longo, sim, mas envolvido por outras tantas intervenções da comunidade cristã, que, pela oração, pelos gestos, pela pedagogia da fé vai gestando seus novos filhos.

Daí a complexidade desse novo paradigma, daí a necessidade de multiplicar os ministérios: é impossível e impraticável uma iniciação à vida cristã conduzida só pelo tradicional catequista. O cap. V do documento Iniciação à Vida Cristã se estende na descrição dos vários ministérios aí implicados, principalmente os litúrgicos, o ministério ordenado (diáconos, presbíteros e bispos!), a pastoral familiar, a animação bíblica, etc. Em termos de organização da catequese, o documento pede que se acabe com as coordenações de preparação para Batismos, de preparação para a Primeira Comunhão Eucarística e para a Crisma e se crie uma única “coordenação dos sacramentos da iniciação”!

Conseqüentemente, a Iniciação à Vida Cristã bem conduzida, irá mexer com toda a estrutura paroquial, e até diocesana! Os que a tem colocado em prática são concordes em afirmar que o processo da Iniciação Cristã traz benefícios não só aos catequizandos e catecúmenos, mas a toda a comunidade! E se não podemos mudar tudo de uma vez... podemos ir aos poucos... Programar, por exemplo, o calendário catequético conforme o ritmo do Ano Litúrgico e não do Ano Escolar... já é um bom começo: desescolarizar a catequese! Não se trata de negar o passado, mas de revigorar o presente.

Com relação aos não batizados e aos já batizados: o RICA, que é um livro litúrgico a ser descoberto em primeiro lugar pelos ministros ordenados (alguns catequistas já estão se familiarizando com ele... ao menos com o nome!) propõe o processo catecumenal paradigmático em seu I capítulo, ou seja, para adultos não batizados. Os demais capítulos contemplam as outras situações e propõe a mesma dinâmica, tratando-se de completar a iniciação batismal com a Eucaristia e/ou a Crisma. O que precisamos fazer também é recuperar a unidade dos três sacramentos. No início havia um só sacramento da iniciação (cada um com sua especificidade!); mas é o conjunto e a unidade dos três sacramentos que realizam a plena iniciação à vida cristã.

Muitas são as exigências na implantação desse novo (e tão antigo!) paradigma! Desafianos a formação dos presbíteros, dos introdutores, catequistas, padrinhos... da comunidade! Se é verdade que Deus nos fala pelos acontecimentos e pelos sinais dos tempos... levar a sério, apesar das dificuldades, a Iniciação à Vida Cristã, é para nós apelo do Espírito! Ouçamos sua voz!

Amém

Itaici (SP), 07 de Outubro de 2009 – III Semana Brasileira de Catequese – Na. Sa. do Rosário!
Pe. Luiz Alves de Lima, salesiano, é doutor em Teologia Pastoral Catequética, assessor de catequese na CNBB e CELAM, membro fundador da SCALA, conferencista, professor e membro da diretoria no Campus Pio XI do Centro Universitário Salesiano de São Paulo, nas PUCs de Curitiba e de Goiânia, e no Instituto Teológico Latino-Americano (ITEPAL) de Bogotá; editor e redator da Revista de Catequese; redator do Diretório Nacional de Catequese e participante da equipe que elaborou o Estudo da CNBB Iniciação à Vida Cristã.

"A catequese não prepara simplesmente para este ou aquele sacramento. O sacramento é uma consequência de uma adesão a proposta do Reino, vivida na Igreja (DNC 50)."

Documento Necessário para o Batismo e Crisma

Certidão de Nascimento ou Casamento do Batizando;

Comprovante de Casamento Civil e Religioso dos padrinhos;

Comprovante de Residência,

Cartões de encontro de Batismo dos padrinhos;

Documentos Necessários para Crisma:

RG do Crismando e Padrinho, Declaração de batismo do Crismando, Certidão ou declaração do Crisma do Padrinho, Certidão de Casamento Civil e Religioso do Padrinho/Madrinha e Crismando se casados.

Fonte: Catedral São Dimas

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Reflexão

REFLEXÃO

A porta larga que o mundo oferece para as pessoas é a busca da felicidade a partir do acúmulo de bens e de riquezas. A porta estreita é aquela dos que colocam somente em Deus a causa da própria felicidade e procuram encontrar em Deus o sentido para a sua vida. De fato, muitas pessoas falam de Deus e praticam atos religiosos, porém suas vidas são marcadas pelo interesse material, sendo que até mesmo a religião se torna um meio para o maior crescimento material, seja através da busca da projeção da própria pessoa através da instituição religiosa, seja por meio de orações que são muito mais petições relacionadas com o mundo da matéria do que um encontro pessoal com o Deus vivo e verdadeiro. Passar pela porta estreita significa assumir que Deus é o centro da nossa vida.

reflexão sobre o Dízimo

A espiritualidade do Dízimo

O dízimo carrega uma surpreendente alegria no contribuinte. Aqueles que se devotam a esta causa se sentem mais animados, confortados e motivados para viver a comunhão. O dízimo, certamente, não é uma questão de dinheiro contrariando o que muitos podem pensar. Ele só tem sentido quando nasce de uma proposta para se fazer a experiência de Deus na vida cristã. Somos chamados e convocados a este desafio.

Em caso contrario, ele se torna frio e distante; por vezes indiferente. A espiritualidade reequilibra os desafios que o dízimo carrega em si. "Honra o Senhor com tua riqueza. Com as primícias de teus rendimentos. Os teus celeiros se encherão de trigo. Teus lagares transbordarão de vinho" (Pr 3,9-10). Contribuir quando se tem de sobra, de certa forma, não é muito dispendioso e difícil. Participar da comunhão alinha o desafio do dízimo cristão.

Se desejar ler, aceno: Gn 28, 20-22; Lv 27, 30-32; Nm 18, 25-26 e Ml 3, 6-10.

Fonte : Pe. Jerônimo Gasques

http://www.portalnexo.com.br/Conteudo/?p=conteudo&CodConteudo=12

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