O Ato ou itinerário Catequético, acontecimento fundamental da
transmissão da fé, deve estar impregnado dum "clima de oração", isto é, deve favorecer e realizar, no seu
desenvolvimento, o diálogo com Deus.
Catecismo da Igreja Católica 2688
“A catequese das
crianças, dos jovens e dos adultos visa a que a Palavra de Deus seja meditada
na oração pessoal, atualizada na oração litúrgica e interiorizada em todo o
tempo, para que dê fruto numa vida nova. A catequese é também o momento em que
se pode purificar e educar a piedade popular. A memorização das orações
fundamentais oferece um suporte indispensável à vida de oração, mas é
importante que se faça saborear o seu sentido”.
Habitualmente, todas as catequeses supõem, apresentam e propõem uma
oração no momento da Expressão de Fé. Todavia, em ordem a descobrir a
necessidade absoluta da oração na catequese, vamos apresentar algumas propostas
concretas para tratar da oração em todos os passos próprios do itinerário catequético:
1. Ao iniciar o encontro de
catequese:
Ao olhar a vida com os olhos da fé O primeiro passo de todo o encontro
de catequese é o da experiência de vida próxima de cada um dos destinatários da
catequese. Desde o princípio que se pode ajudar a que cada um tome consciência
de que Deus fala através da própria vida e da vida dos outros, do mundo e da
história.
O olhar atento à experiência da vida, crua e difícil, pode suscitar no
grupo a oração de petição, de intercessão e de súplica. As experiências de
bondade e de beleza das coisas criadas podem gerar a ação de graças, a bênção,
adoração e o louvor. Na verdade, para aquele que crê, tudo lhe fala de Deus e o
conduz a Deus. Para quem ama a Deus, tudo, na sua vida, é motivo para a bênção
e adoração, a petição, a intercessão, a ação de graças e o louvor.
O modo como se propõe ou faz descobrir ou lê os acontecimentos da
experiência quotidiana da vida pode ser motivadora e suscitadora de
"comunhão e intimidade com Deus".
2. Ao proclamar a Palavra
A oração é diálogo e encontro entre Deus e o homem. Por isso, quando,
na catequese, proclamamos a Palavra de Deus, inicia-se um momento de especial
intimidade. Deus fala ao coração de cada um e comunica-se, ofertando não só a
mensagem salvadora mas a sua própria vida.
Quando proclamamos, escutamos, interiorizamos e nos convertemos à
Palavra, estamos a fazer oração. Esta é, aliás, a oração por excelência, dado
que esta Palavra é o Verbo Encarnado, em quem tudo nos foi revelado e por quem
temos o único acesso ao mistério de Deus.
O coração da catequese é o encontro com a Palavra de Deus. Iniciado o
diálogo por parte de Deus, a porta está aberta para que lhe respondamos cheios
de confiança e para que entremos em comunhão com Ele. Há que favorecer este
momento de intimidade e saber aproveitá-lo.
Uma Palavra bem proclamada, acolhida e meditada é fonte inesgotável de
oração viva.
Propostas para cuidar este momento:
• Fazer um momento de
silêncio para proporcionar a escuta atenta e serena da Palavra;
• Tomar consciência
de que Deus nos fala na Palavra que se proclama;
• Antes de ler a
Palavra, podia dizer-se como o jovem Samuel: "Falai, Senhor, que o vosso servo escuta" (I Sam 6, 10);
• Destacar a presença
da Sagrada Escritura, colocando-a em lugar visível e adequado;
• Acender uma vela ou
círio antes de proclamar a Palavra, recordando que "A vossa Palavra, Senhor, é luz para os meus caminhos";
• Ler devagar a
passagem indicada;
• Terminada a
proclamação, beijar com respeito e veneração a Bíblia (só o leitor e/ou mesmo
todo o grupo);
• Fazer a
interiorização da Palavra a modo de "lectio divina".
3. Ao expressar a fé
O momento da Expressão de Fé
inclui e implica a oração como resposta vital à Palavra proclamada. É um
momento absolutamente crucial, no sentido de que, deve despertar e gerar o
desejo duma resposta de comunhão e intimidade ao Senhor que falou e se
comunicou na Palavra. Procure-se que a oração deste momento se faça e
desenvolva segunda as várias formas e expressões (já enunciadas).
O guia do catequista apresenta habitualmente propostas e indicações
para viver este momento como um verdadeiro momento de oração. Podemos
enriquecê-lo com alguns elementos e materiais.
4. Ao ir para a vida (compromisso)
O compromisso, significativamente incluído na 'Expressão de Fé', pode
ser também um passo oportuno para trabalhar a oração. De facto não pode
deixar-se que a oração seja apenas uma conclusão da catequese, mas que seja
sobretudo momento de entrega confiada à vontade de Deus.
A catequese é um diálogo ininterrupto com Deus que se inicia orando a
partir da vida (Experiência Humana), se alimenta e desenvolve na Palavra e se
expressa com todas as suas formas e riqueza na oração, celebração e
compromisso.
Propostas para cuidar este
momento:
• Tomar consciência
de que o encontro de catequese é um encontro e diálogo com Deus; é uma oração;
• Indicar que para a
luta e combate diário contra o mal necessitamos da força da oração;
• Criar
disponibilidade interior para a oração familiar e comunitária;
• Utilizar na oração
a linguagem do corpo (orar de pé; de joelhos; com as mãos erguidas, postas,
estendidas; com os olhos abertos, fechados, olhando o céu, etc. ...).
• Cantar muito
(sempre que possível);
• Fazer passar a
oração da catequese para a vida toda.
5. A importância de um oracional,
nos materiais da Catequese
O clima de oração deve estar criado, desde o momento em que se inicia
a catequese, até que termina. Não obstante, dedicar um apartado exclusivamente à oração , um «oracional»
parece-nos importante para uma verdadeira iniciação à vida de oração, tão própria e tão necessária na iniciação à vida cristã.
6. O catequista, mestre de oração
A oração é como "uma forma
de respiração necessária para viver" (K. Barth); é a respiração da
alma. Ninguém duvida da necessidade de respirar. Quem não ora, como quem não
respira, asfixia e morre. A oração é fruto espontâneo do amor: quem reza é
porque ama. E "aquele que não ama
está morto" (I Jo. 3, 15). Quem não reza é porque não vê. Porque rezar
não é só pedir, mas descobrir e saber estar na presença de Deus, olhar e
deixar-se olhar, tratar de amar. Orar é admirar, louvar, agradecer e também é
pedir ou interceder.
É, por isso, muito importante abordar esta perspetiva da iniciação à
oração em catequese, para que esta não se reduza a um puro ensinamento
doutrinal. Dizia João Paulo II:
Novo Millennium Ineunte 16
“Como aqueles peregrinos de há dois mil anos (cf.
Jo.12.21) os homens do nosso tempo, talvez sem se darem conta, pedem aos
crentes de hoje não só que lhes «falem» de Cristo, mas também que de certa
forma lh'O façam «ver». E não é porventura a missão da Igreja refletir a luz de
Cristo em cada época da história, e por conseguinte fazer resplandecer o seu
rosto também diante das gerações do novo milénio? Mas, o nosso testemunho seria
excessivamente pobre, se não fôssemos primeiro contemplativos do seu rosto”…
Os catequistas chamados por Deus e enviados pela Igreja para educar a
outros irmãos na fé hão de ser homens e mulheres com profunda experiência de
Deus. Os meios mais eficazes que encontram para o seu apostolado são a palavra,
o exemplo e a oração. Mas, das três, a que tem mais importância para o cultivo
da sua vocação de catequista é a oração.
A eles ensina-os a rezar, antes de mais com o seu exemplo. Antes de
falar de Deus, deve falar a Deus e com Deus. Além do mais o catequista não deve
deixar de rezar pelos seus catequizandos, confiando-os a Deus e à palavra da
sua graça.
O catequista sabe que fazer catequese é mais do que ensinar uma
doutrina: é pôr os outros em contacto e em comunhão com a pessoa de Jesus
Cristo. Bem dizia Paulo VI:
Evangelii Nuntiandi 76
“O mundo que, apesar dos inumeráveis sinais de rejeição de
Deus, paradoxalmente, o procura entretanto por caminhos insuspeitados e que dele
sente bem dolorosamente a necessidade, o mundo reclama evangelizadores que lhe
falem de um Deus que eles conheçam e lhes seja familiar como se eles vissem o
invisível. O mundo reclama e espera de nós simplicidade de vida, espírito de
oração, caridade para com todos, especialmente para com os pequeninos e os
pobres, obediência e humildade, desapego de nós mesmos e renúncia. Sem esta
marca de santidade, dificilmente a nossa palavra fará a sua caminhada até
atingir o coração do homem dos nossos tempos; ela corre o risco de permanecer
vã e infecunda”.
Como viver todas essas realidades na experiência quotidiana?
Poderíamos ter a impressão de que se trata de verdades grandiosas,
que nos abrem novos horizontes, mas são difíceis de reduzir à prática de cada
dia. Não obstante, só o refletir um pouco sobre o assunto já representa um
primeiro passo. Convém, antes de tudo, esclarecer a meta.
É importante evitar um certo "extrinsecismo":
apresentar a oração como algo a ser feito ao lado das outras ocupações, sem compreender
a sua coexistência com a vida global do cristão e do homem:
É importante evitar um certo "eficientismo" (a ilusão
de obter resultados imediatos e quase automáticos em virtude de certos
instrumentos postos à disposição).
As metas devem ser mais modestas
e ao mesmo tempo mais radicais. Elas
podem ser indicadas assim:
- A consciência do valor
cristão da oração: é preciso dar-se conta intimamente de que a oração
silenciosa e contemplativa é inseparável da existência cristã autêntica;
- A educação progressiva:
trata-se de começar a dar os primeiros passos: o importante é fazê-lo na
direção certa, provocando e pedindo a vontade de dar mais outros passos;
O cardeal Lustiger, publicou um livro
onde recolhe as palestras semanais dadas pelo arcebispo de Paris na Rádio
Notre-Damem em 1984. E enuncia os seguintes passos na aprendizagem da oração:
1. Rezar cada dia, rezar em segredo. Rezar ao menos,
pela manhã e pela noite
2. Fazer bem o sinal da Cruz (cf. texto de Guardini),
pronunciando a fórmula trinitária;
3. Abrir a Bíblia, rezar os salmos, aprender algum
deles de memória;
4. Pela manhã, oferecimento da vida;
5. Rezar durante o dia; marcar sítios e momentos
próprios para rezar; pequenas pausas;
6. Rezar à mesa antes de comer: vida e comunhão;
7. Rezar à mesa, depois de comer
8. À noite fazer o exame de consciência;
9. De noite, permanecer sob o olhar de Deus;
10. À noite, rezar pelos outros: vivos e defuntos;
11. Não passar sem a Missa, ao domingo;
12. Ao Domingo, viver a alegria do repouso, da
contemplação, da gratuidade
13. Ao Domingo, rezar com a Igreja
14. Preparar e prolongar a meditação dos textos da
missa dominical
15. Viver a espiritualidade de cada tempo litúrgico:
vigilância (advento), contemplação (natal), ascese (quaresma), alegria (páscoa),
perseverança (tempo comum).
16. Pedir a Maria, que rogue por nós
- A experiência inicial:
é preciso prever as formas e modos que já introduzam as pessoas, segundo os
diversos graus de maturidade espiritual, no mundo maravilhoso da oração contemplativa.
A nossa pobre oração pessoal, as nossas singelas leituras da Bíblia e
os momentos de adoração e silêncio, que conseguimos furtar à corrida dos
compromissos quotidianos, são na verdade um "tesouro
escondido" que devemos descobrir no campo da nossa vida. Trata-se de
começar por aquilo que já nos é dado compreender, de viver e de pôr-se
resolutamente a caminho nesta estrada, com coragem e espírito de sacrifício,
tendo bem claro na mente as metas, os instrumentos e os ambientes da educação
para a oração. Temos formas simples de rezar, aproveitemo-las:
a)
Recitar, repetir as orações conhecidas; são uma ajuda, uma espécie de
«ponto de partida»…
b)
Fixar-se numa imagem, numa pagela, numa frase, escutar uma música…
c)
Leitura rezada: um salmo, uma oração escrita, uma poesia… para ajudar
a ter ponto de conversa…
d)
Meditação de um salmo, para sair de si ao encontro de Deus e dos
outros…
e)
Leitura meditada (Santa Teresa fê-la 14 anos seguidos: «não ousava
começar a orar sem um livro»); trata-se de uma oração mental, destinada a
disciplinar a imaginação…
f)
Oração de elevação: oração do coração: presença e silêncio, quando o
“discurso” não conta
Da qualidade da oração, brotará a profundidade da fé e da esperança, a
ousadia da caridade, o ardor da
evangelização, a solidez das nossas famílias, a radicalidade da entrega em
vocações de especial consagração. É preciso rezar muito. É urgente rezar bem.
De facto, é rezando que se aprende a rezar!
O próprio Catecismo da Igreja Católica se refere à importância dos
guias para a oração (artigo 3), lembrando uma nuvem de testemunhas, as grandes
espiritualidades que se desenvolveram ao longo da história e apontando como
servos da oração a família cristã, os ministros ordenados, os religiosos e os
catequistas (cf. CIC 2688).
É preciso ser acompanhado espiritualmente?
«Em certos momentos, o acompanhamento espiritual
pode ser necessário para verificar que não estamos no caminho errado, para
desconstruir as armadilhas da ilusão e da omnipotência», afirma a Ir. Véronique
Fabre.
«Por exemplo, quando só ouvimos aquilo que temos
desejo de ouvir, deixando de lado certas passagens da Bíblia com o pretexto de
que não as compreendemos. O acompanhamento pode também ajudar a não avaliar a
nossa oração apenas à luz da emoção».
Um conselho: o acompanhamento não é o único meio de
ser ajudado a caminhar na oração. O mais importante é não ficar só. Pode ser
suficiente participar num grupo para se alimentar da Palavra de Deus, aceitando
ser interrogado por ela.
7. Algumas propostas, para a vida
de oração do catequista
- Considerar que iniciar na vida de oração é uma das tarefas
fundamentais da Catequese, que tem que realizar com competência e experiência;
- Dedicar tempo a contemplar o rosto de Cristo, na oração pessoal e
litúrgica, já que a comunhão com Jesus Cristo leva o catequista a assumir o
caráter orante e contemplativo que teve o Mestre, e poder assim ser guia para
ensinar outros a rezar;
- Aprender a orar, com os
mesmos sentimentos com que Jesus se dirigia ao Pai: adoração, louvor, ação de
graças, confiança filial, súplica, admiração. Tendo percorrido os diversos
caminhos de oração, pode iniciar outros nesses caminhos;
- Saber, pelo ensinamento recebido e pela própria experiência, que o
Pai-Nosso é o modelo de toda a oração cristã;
- Realizar a aprendizagem da vida quotidiana no âmbito da catequese,
num clima de oração;
- Invocar a todo o momento a ajuda do Espírito Santo, para realizar o
seu trabalho na catequese e unir-se estreitamente, pela oração e pela imitação
á Virgem Maria.
Fonte: http://www.abcdacatequese.com/index.php/partilha/recursos/cat_view/36-catequese/216-formacao-de-catequistas/395-retiro-de-catequistas