NATIVIDADE DE SÃO
JOÃO BATISTA - Solenidade
Primeira Leitura: Livro do Profeta Isaías 49,1-6
Eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até aos
confins da terra
Nações marinhas, ouvi-me, povos distantes, prestai atenção: o Senhor
chamou-me antes de eu nascer, desde o ventre de minha mãe ele tinha na mente o
meu nome; fez de minha palavra uma espada afiada, protegeu-me à sombra de sua
mão e fez de mim uma flecha aguçada, escondida em sua aljava, e disse-me: 'Tu
és o meu servo, Israel, em quem serei glorificado". E eu disse: 'Trabalhei
em vão, gastei minhas forças sem fruto, inutilmente; entretanto o Senhor me
fará justiça e o meu Deus me dará recompensa".
E agora diz-me o Senhor - ele que me
preparou desde o nascimento para ser seu servo - que eu recupere Jacó para ele
e faça Israel unir-se a ele; aos olhos do Senhor esta é a minha glória. Disse
ele: "Não basta seres meu servo para restaurar as tribos de Jacó e
reconduzir os remanescentes de Israel: eu te farei luz das nações, para que
minha salvação chegue até aos confins da terra". - Palavra do
Senhor.
Comentando a Liturgia: Estamos diante do segundo canto
do servo de Javé, poema que fala de uma personagem dificilmente identificável à
primeira vista. O trecho, sobretudo nos vv. 1-2, tem muitas semelhanças com a
vocação de Jeremias (Jr 1,4-10).
É um texto de missão. Inicia com um apelo às ilhas e aos povos distantes
para que prestem atenção ao que vai ser dito (v. 1a). Com essa indicação Isaías
mostra o horizonte da missão do servo: seu anúncio abrange o mundo inteiro.
Em seguida, adotando o esquema da vocação profética, o servo dá a
conhecer o plano que Deus tem para ele: “O Senhor me chamou desde o ventre
materno, desde as entranhas de minha mãe pronunciou meu nome” (v. 1b). A
ligação desse versículo com a vocação de Jeremias é evidente. Em ambos os
casos, salienta-se a idéia de que o carinho de Deus precede a capacidade de
amar das pessoas. Deus nos ama antes mesmo que tenhamos consciência disso.
Salienta-se também que o projeto de Deus é anterior à capacidade de nos
comprometermos com resposta madura.
Deus preparou seu servo como o guerreiro põe em ordem suas armas de ataque,
reservando sua flecha pontiaguda para os momentos difíceis (v. 2). Este
versículo mostra por um lado, em que consiste a missão do servo: sua boca é
como espada afiada. Trata-se, portanto, de mensagem cortante. O texto não
especifica, mas podemos supor que o anúncio irá pôr fim a uma situação de
injustiça. O servo é uma flecha de ponta fina e afiada, reservada para os
momentos decisivos da luta. Por outro lado, o v. 2 continua mostrando o carinho
que Deus tem para com o servo, escondendo-o na sombra de sua mão e guardando-o
no estojo das flechas. O servo, portanto, é alguém que Deus ama desde sempre,
escolhido como defensor da justiça para tempos difíceis.
O v. 3 confere cores mais vivas à missão do servo: “Em ti manifestarei minha
glória”. O servo é chamado de “Israel”. Trata-se, provavelmente, da comunidade
que voltou do exílio encarregada de reconstruir o país. Eram, em sua maioria,
pessoas pobres e despreparadas. Mediante essas pessoas Deus irá manifestar sua
glória. Fraqueza, dúvidas e dificuldades sem conta ameaçam o servo-comunidade
dos pobres: “Foi em vão que trabalhei, de nada valeu ter consumido minhas
forças” (v. 4a). Mesmo assim, encontra forças para lutar: “Meu direito, porém,
está nas mãos do Senhor e no meu Deus a minha recompensa” (v. 4b).
O v. 6 amplia em dimensões universais a missão do servo-comunidade dos
pobres: “Não basta que sejas meu servo… Vou fazer de ti a luz das nações, para
que a minha salvação possa chegar até os confins da terra”. Reconstruindo o
país sobre os alicerces da justiça os pobres se tornam luz para o mundo
inteiro.
O servo de Javé é personagem misteriosa. O fato de não ser facilmente
identificável mostra que sua missão é proposta aberta. Os que são sensíveis à
causa dos empobrecidos dos nossos tempos saberão identificar-se com ele e sua
missão, pois o Deus no qual acreditamos escolheu desde sempre os pobres e para
sempre os protegerá, fazendo deles a base para uma sociedade justa e fraterna.
(Vida Pastoral, Paulus)
Salmo: 138(139),1-3.13-14ab.14c-15
(R. 14a)
Eu vos louvo e vos dou graças, ó Senhor, porque de modo admirável
me formastes!
Senhor, vós me sondais e conheceis, / sabeis quando me sento ou me
levanto; / de longe penetrais meus pensamentos; / percebeis
quando me deito e quando eu ando, / os meus caminhos vos são todos
conhecidos.
Fostes vós que me formastes as entranhas, / e no seio de minha mãe
vós me tecestes. / Eu vos louvo e vos dou graças, ó Senhor, / porque
de modo admirável me formastes!
Até o mais íntimo, Senhor me conheceis; / nenhuma sequer de minhas
fibras ignoráveis, / quando eu era modelado ocultamente, / era
formado nas entranhas subterrâneas.
Segunda Leitura: Atos dos Apóstolos 13,22-26
Antes que Jesus chegasse, João pregou um batismo de conversão
Naqueles dias, Paulo disse: "Deus fez surgir Davi como rei e assim
testemunhou a seu respeito: 'Encontrei Davi, filho de Jessé, homem segundo
o meu coração, que vai fazer em tudo a minha vontade'. Conforme prometera, da
descendência de Davi Deus fez surgir para Israel um salvador, que é Jesus.
Antes que ele chegasse, 'João pregou um batismo de conversão para todo o
povo de Israel. Estando para terminar sua missão, João declarou: 'Eu não sou
aquele que pensais que eu seja! Mas vede: depois de mim vem aquele, do qual nem
mereço desamarrar as sandálias'. Irmãos, descendentes de Abraão, e todos vós
que temeis a Deus, a nós foi enviada esta mensagem de salvação. - Palavra
do Senhor!
Comentando a Liturgia: Os versículos da segunda
leitura de hoje pertencem ao discurso de Paulo na sinagoga de Antioquia da
Pisídia, durante a primeira viagem missionária. Lucas, autor de Atos dos
Apóstolos, condensou nesse discurso a catequese básica de Paulo, centrada em
Jesus morto, ressuscitado e glorificado.
Paulo está falando a judeus reunidos na sinagoga. E o modo mais adequado para o
momento é recordar os fatos passados e as promessas do Deus fiel. O fio
condutor da homilia de Paulo é a fidelidade de Deus às suas promessas,
culminando na pessoa de Jesus. Paulo abrevia a história do povo, saltando de
Davi para seu descendente mais importante, que é Jesus: “Da descendência dele,
conforme prometera, Deus fez surgir um Salvador a Israel, Jesus” (v. 23).
Os judeus daquele tempo gostavam de examinar as Escrituras para ver se
descobriam nelas alguns sinais de esperança para seus dias.
Paulo tem grande apreço por essas expectativas e arremata sua catequese
mostrando que as promessas se realizaram na pessoa de Jesus: “Irmãos, filhos da
mesma raça de Abraão! E vós aqui presentes que temeis a Deus! É a vós que se
dirige esta mensagem de salvação” (v. 26). O próprio precursor – que se situa
no final das promessas – preparou a chegada daquele que é a resposta definitiva
de Deus às expectativas humanas: “Estando para terminar sua carreira, João
declarou: ‘Eu sou aquele por quem me tomais; mas eis que depois de mim vem
aquele de quem não sou digno de desatar as sandálias’” (v. 25). (Vida Pastoral,
Paulus)
Evangelho segundo São Lucas 1,57-66.80
Nascimento de João Batista
Completou-se o tempo da gravidez de Isabel, e ela deu à luz um filho. Os
vizinhos e parentes ouviram dizer como o Senhor tinha sido misericordioso para
com Isabel, e alegraram-se com ela. No oitavo dia, foram circuncidar o menino,
e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. A mãe, porém, disse: “Não! Ele
vai chamar-se João". Os outros disseram: "Não existe nenhum parente
teu com esse nome!"
Então fizeram sinais ao pai, perguntando como ele queria que o menino se
chamasse. Zacarias pediu uma tabuinha e escreveu: "João é o seu
nome". E todos ficaram admirados. No mesmo instante, a boca de Zacarias se
abriu, sua língua se soltou, e ele começou a louvar a Deus.
Todos os vizinhos ficaram com medo, e a notícia espalhou-se por toda a
região montanhosa da Judéia. E todos os que ouviam a notícia, ficavam pensando:
"O que virá a ser este menino?" De fato, a mão do Senhor estava com
ele. E o menino crescia e se fortalecia em espírito. Ele vivia nos lugares
desertos, até o dia em que se apresentou publicamente a Israel. -
Palavra da Salvação.
Comentando o Evangelho: O relato do nascimento do
precursor tem muitos traços em comum com o do nascimento do Messias. Com isso
Lucas quer destacar a importância do último profeta do Antigo Testamento,
aquele que preparou os caminhos para a inauguração da nova história, o
nascimento do Salvador.
Deus é misericórdia para os pobres (vv. 57-64)
Há muita alegria na serra de Judá. Isabel, incapaz de gerar filhos, porque
estéril, não consegue esconder sua gravidez, completando-se para ela o tempo de
dar à luz. Ela e Zacarias, seu marido, eram pessoas de idade e sem esperanças
de ver sua vida prolongada na descendência. A situação desse casal recorda a de
outros no passado do povo de Deus, particularmente Abraão e Sara.
A pobreza de Isabel e Zacarias transparece também de outros ângulos: ela não
tem quem lhe esteja próximo no período da gravidez a não ser Maria; ele tem
emprego garantido no templo de Jerusalém somente uma semana por ano. Assim,
esse casal é símbolo dos empobrecidos de todos os tempos esperando a história
tomar novo rumo.
A história vai tomar rumo novo porque Deus é misericórdia para os pobres. O
nascimento de João Batista, filho de uma estéril e de anciãos, não é pura
casualidade biológica. É, isso sim, dom de Deus que favorece os empobrecidos. A
alegria dos vizinhos e parentes do casal se fundamenta no fato de Deus cumular
Isabel com sua misericórdia (v. 58).
Zacarias ficou mudo (e surdo) a partir do momento que realizava as cerimônias
no templo. Com isso Lucas quer sublinhar a novidade contida no nome do filho.
Os parentes sugeriam que o menino se chamasse Zacarias, como o pai (v. 59). Mas
a mãe insiste em caracterizar o fato como uma intervenção extraordinária do
Deus que é misericórdia para os pobres. De fato, o nome João – ausente em toda
a parentela do casal – significa “Deus é misericórdia”. E com isso concorda o
pai que, sem poder ouvir nem falar, escreve numa tabuinha: “Seu nome é João”
(v. 63). Lendo os fatos com os olhos da fé, podemos garantir que Deus constrói
com os pobres nova história. A geração dos pobres não carrega mais os estigmas
do passado (discriminação das pessoas e suspeitas de serem castigados por
Deus). São portadores do amor misericordioso do Deus fiel. E as primeiras
palavras de Zacarias são louvores a esse Deus (v. 64).
Os pobres preparam a vinda do Reino (vv. 65-66.80)
Há muita expectativa na serra de Judá. Os pobres comentam os fatos. Vão
reconstruindo o tecido da história sob a ótica dos despossuídos e percebendo,
através do nome dado ao menino, que o Deus no qual acreditam é o mesmo parceiro
aliado do Abraão, dos empobrecidos e marginalizados de todos os tempos: “O
temor apoderou-se então de todos os seus vizinhos, e por toda a região
montanhosa da Judéia comentavam-se esses fatos. E todos os que os ouviam
gravavam-nos no coração” (vv. 65-66a). Aí, longe dos centros de poder político
e religioso (nos morros de nossas favelas) nasce e cresce a história da
fidelidade de Deus aos seus pobres.
O pessoal da serra se anima: “Que virá a ser deste menino?” (v. 66b).
Para os semitas, o nome sela o programa de vida das pessoas. João será o
anunciador da misericórdia de Deus. De fato, em seu programa Jesus vai dizer:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para
anunciar a Boa Notícia aos pobres” (v. 4,18a). Os pobres preparam a vinda do
Reino.
João Batista crescia e se fortalecia em espírito. E habitava nos
desertos, até o dia em que se manifestou a Israel (v. 80; cf. 3,2). A história
dos pobres recomeça no deserto, como no passado, longe dos centros de decisão.
É para lá que mais tarde se dirige o povo ansioso por mudanças radicais na
sociedade (cf. 3,3-17). (Vida Pastoral, Paulus)
LITURGIA COMPLEMENTAR
12ª Semana do Tempo Comum - 4ª Semana do Saltério
Prefácio próprio – Ofício da Solenidade
Cor: Branco - Ano Litúrgico “B” – São Marcos
Antífona: João 1,6-7; Lucas 1,17 - Houve um homem enviado por Deus: o seu
nome era João. Veio dar testemunho da luz e preparar para o Senhor um povo bem
disposto a recebê-lo.
Oração do Dia: Ó Deus, que suscitastes são João Batista a fim de preparar para o
Senhor um povo perfeito, concedei á vossa Igreja as alegrias espirituais e
dirigi nossos passos no caminho da salvação e da paz. Por nosso Senhor Jesus
Cristo, na unidade do Espírito Santo. Amém.
INTENÇÕES PARA O MÊS DE JUNHO
Geral – Cristo presente na Eucaristia: Para que os fiéis saibam reconhecer
na Eucaristia a presença viva do Ressuscitado, que os acompanha na vida diária.
Missionária – Cristãos na Europa: Para que os cristãos na Europa
redescubram sua própria identidade e participem com maior empenho no anúncio do
Evangelho..
Cor Litúrgica: BRANCO - Simboliza a
alegria cristã e o Cristo vivo. Usada nas missas de Natal, Páscoa, etc... Nas
grandes solenidades, pode ser substituída pelo amarelo ou, mais
especificamente, o dourado.
Tempo Comum: O Tempo Comum começa no dia seguinte à Celebração da Festa do
Batismo do Senhor e se estende até a terça-feira antes da Quaresma. Recomeça na
segunda-feira depois do domingo de Pentecostes e termina antes das Primeiras
Vésperas do 1º Domingo do Advento – NALC 44.
Ricardo e Marta / Comunidade São Paulo Apóstolo
Fonte: CNBB – Missal Cotidiano