“Existe
uma certa convicção de que chamar o sacerdote dá azar, que é
melhor não chamá-lo para não assustar o doente”
A
Unção dos Enfermos foi o tema da reflexão do Papa
Francisco na
audiência geral desta quarta-feira, na Praça São Pedro. Segundo a
Prefeitura da Casa Pontifícia, cerca de 30 mil pessoas receberam
bilhetes de ingresso para o encontro.
O
Papa completou a já tradicional volta da Praça com seu jipe aberto,
parando diversas vezes para cumprimentar turistas e peregrinos.
Muitas crianças estavam fantasiadas. Havia guardas suíços,
palhaços, abelhas e joaninhas, e no meio deles, um menino de cerca
de 4 anos, vestido de Papa, a quem Francisco sorriu e deu um
beijo.
Depois
de meia hora de contato com os fiéis, o Papa iniciou sua catequese.
O Sacramento da Unção
dos Enfermos era
conhecido antigamente como “Extrema Unção”, pois se dizia que
oferecia um conforto espiritual na iminência da morte. Hoje, o nome
“Unção dos Enfermos” nos ajuda a estender o alcance à
experiência da doença e do sofrimento, no horizonte da misericórdia
de Deus.
Para
explicar a profundidade do mistério da Unção,
Francisco citou a parábola do Bom Samaritano, como está descrita no
Evangelho de Lucas. O Bom Samaritano cuida de um homem ferido
derramando sobre as suas feridas óleo e vinho.
“É
o óleo abençoado pelos Bispos a cada ano, na missa do Crisma de
Quinta-feira Santa, utilizado na Unção dos enfermos. O vinho, por
sua vez, é o sinal do amor e da graça de Cristo, que se expressam
em toda sua riqueza na vida sacramental da Igreja”.
A
parábola prossegue narrando que o Bom Samaritano, sem olhar a
gastos, confia o homem ferido aos cuidados do dono de uma pensão:
este representa a Igreja, a quem Jesus confia os atribulados no corpo
ou no espírito.
“É
à Igreja, à comunidade cristã, somos nós, a quem cotidianamente o
Senhor confia os aflitos no corpo e no espírito para que possamos
continuar a lhes doar, sem medida, toda a sua misericórdia e
salvação”.
Continuando
a catequese, Francisco lembrou que também a Carta de São Tiago
recomenda que os doentes chamem os presbíteros, para que rezem por
eles ungindo-os com o óleo. “É uma praxe que já se usava no
tempo dos Apóstolos”, completou o Papa.
De
fato, Jesus ensinou aos seus discípulos a mesma predileção que Ele
tinha pelos doentes e atribulados, difundindo alívio e paz, e lhes
transmitiu a capacidade e o dever de continuar a dispor da graça
especial deste Sacramento. “No entanto, isto não nos deve levar a
uma busca obsessiva do milagre ou à presunção de poder obter
sempre a cura”, ressalvou Francisco.
“O
problema, disse o Papa,
é que este Sacramento é pedido cada vez menos, e a razão principal
reside no fato que muitas famílias cristãs, devido à cultura e à
sensibilidade atuais, consideram o sofrimento e a morte como um tabu,
como algo a esconder ou sobre o qual falar o menos possível. É
verdade que o sofrimento, o mal e a própria morte continuam sendo um
mistério, e diante dele, nos faltam palavras. É o que acontece no
rito da Unção, quando de modo sóbrio e respeitoso, o sacerdote
impõe as mãos sobre o corpo do doente, sem dizer nada”.
“Existe
uma certa convicção de que chamar o sacerdote dá azar, que é
melhor não chamá-lo para não assustar o doente”,
disse o Papa, improvisando. “Há a idéia que depois do sacerdote,
vem a agência funerária...”.
Por
isso, diante daqueles que consideram o sofrimento e
a morte como um tabu, deixando de se beneficiar com esse Sacramento,
é preciso lembrar que “no momento da dor e da doença, devemos
saber que não estamos sozinhos. O sacerdote e aqueles que estão
presentes representam toda a comunidade cristã, que ao redor do
enfermo, alimentam nele e em sua família a fé e a esperança,
amparando-os com a oração e o calor fraterno”.
O
maior conforto, finalizou o Papa, é que na Unção dos
enfermos, Jesus nos mostra que pertencemos a Ele e que nem a doença,
nem a morte poderão nos separar Dele.
(Rádio
Vaticano)