A Igreja em diálogo
O diálogo está no cerne do
dinamismo da missão da Igreja. Ser Igreja é dialogar: com Deus, por
quem é enviada, na oração pela fé, e com o mundo, a quem é
enviada, na ação pelo amor. A perspectiva da missão da Igreja tem
de ser sempre a diaconia, a lógica do serviço, na certeza de que
“nenhuma ambição terrena move a Igreja (...) Guiada pelo Espírito
Santo, ela pretende somente uma coisa: continuar a obra do Cristo que
veio ao mundo para dar testemunho da verdade, para salvar e não para
condenar, para servir e não para ser servido” (Gaudium et Spes, nº
3).
Segundo o Concílio Vaticano II -
mais precisamente por meio da Constituição Pastoral Gaudium et Spes
nº4, para desempenhar sua missão, a Igreja tem o dever de
perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do
Evangelho. Fazer isso de tal modo que possa responder, de maneira
adaptada a cada geração, às interrogações sobre o significado da
vida presente e futura e de suas relações mútuas. Por outro lado,
é necessário conhecer e entender o mundo no qual vivemos, suas
esperanças, suas aspirações e seus dramas.
Para desempenhar sua missão, a
Igreja tem o dever de perscrutar os sinais dos tempos e
interpretá-los à luz do Evangelho.
“Conhecer e entender o mundo”
significa, a nosso ver, predisposição para o diálogo. Se de início
dissemos que a lógica do diálogo é a diaconia, agora precisamos
aprofundar um pouco mais. Estamos diante de duas lógicas: a do
conhecimento racional e a da proximidade. Enquanto a lógica do
conhecimento separa, classifica, organiza, conceitua, universaliza,
não convive com a diferença, descobre a lei e, de alguma maneira,
tenta definir o infinito do dom da vida, a lógica da proximidade
segue outro caminho: une, aproxima, acolhe, respeita, compartilha
angústias e esperanças, estende a mão, socorre, se faz próximo.
A lógica do conhecimento não
conhece o amor gratuito, ela é fria e rígida, chegando mesmo à
violência. A lógica da proximidade descortina as possibilidades
para o encontro, para o amor. Naquilo que o Evangelho tem de
específico pode-se interpretar o que seja diálogo, como se lê na
Carta Encíclica Redemptoris Missio, nº 56: “O diálogo não nasce
de táticas ou de interesses, mas é uma atividade que apresenta
motivações, exigências, dignidade própria: é exigido pelo
profundo respeito por tudo o que o Espírito, que sopra onde quer,
operou em cada homem. Por ele, a Igreja pretende descobrir as
'sementes do Verbo', os 'fulgores daquela verdade que ilumina todos
os homens'. Sementes e fulgores que se abrigam nas pessoas e nas
tradições religiosas da humanidade. O diálogo fundamenta-se sobre
a esperança e a caridade, e produzirá frutos, no Espírito”.
Diálogo é abertura ao diferente e,
nesse convívio com a diferença, revela-se a identidade mais
profunda.
A aventura do diálogo relativiza as
pretensões de absolutidade. O diálogo aproxima os interlocutores,
irmana-os. Por isso mesmo, a partir da experiência do mistério de
amor, do Deus-amor, a Igreja é convidada a anunciar o Reino e a
dialogar com o mundo. Nessa perspectiva é que Paulo VI concebia a
evangelização como o exercício essencial de “tornar nova a
própria humanidade” (Evangelii Nuntiandi, nº 18). Assim, podemos
dizer fundamentados no documento da Conferência de Aparecida, que “o
encontro com Cristo, Palavra feita carne, potencializa o dinamismo da
razão que procura o significado da realidade e se abre ao mistério”
(nº 280c).
Diálogo é abertura ao diferente e,
nesse convívio com a diferença, revela-se a identidade mais
profunda. Diálogo é êxodo, saída de si em direção ao outro, é
transcendência. Assim, sendo a missão obra do Espírito, ela só
pode efetivar-se na perspectiva do diálogo: esse é o primeiro passo
da comunhão, o diálogo instaura comunhão e torna-se testemunho.
Pe. Márcio Paiva
Professor da PUC Minas e Vigário
Paroquial da
Paróquia Nossa Senhora de Nazaré -
Bairro Santa Inês
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