ENTREVISTA COM DOM VILSON DIAS DE OLIVEIRA,
DC - BISPO DIOCESANO DE LIMEIRA, SP
1) O livro é fruto de seu mestrado. Conte-nos um pouco sobre sua
pesquisa. Quais lugares o senhor observou para desenvolver o trabalho? O
mestrado foi por qual instituição?
R: O livro nasceu primeiramente pela
sugestão dos catequistas com quem trabalhei por 6 anos, como Assessor Regional
em São Paulo, na Região Ipiranga (Zona Sul da capital). Na época fizemos uma
pesquisa junto aos adolescentes das comunidades e vimos a importância de um
estudo mais aprofundado sobre o tema: “Catequese com Adolescentes”, uma
catequese onde os adolescentes fossem protagonistas.
2) A publicação do senhor, antes mesmo de chegar às livrarias, já
despertava grande interesse. Há uma carência na produção literária que traz
como objeto a evangelização de adolescentes? Por que poucos se dedicam ao tema?
R: Já há algum tempo as pessoas
solicitavam pelo meu estudo. Mas achei por bem esperar o melhor momento. De
2003 até aqui vários anos se passaram. Pude atualizar a tese com alguns
documentos importantes como o Documento de Aparecida, o Diretório Nacional de
Catequese, onde também pude dar minha contribuição, e documentos referentes à
Comunicação, entre outros. Realmente poucas pessoas têm escrito sobre este tema.
Creio que por ser uma catequese onde não se finaliza com “sacramento” muita
gente não despertou para esta importante parcela do povo de Deus que são os
adolescentes.
3) Durante a pesquisa, o senhor teve contato com muitas realidades.
Destacaria alguma iniciativa que chamou a atenção por cativar os adolescentes
para a participação na Igreja?
Na pesquisa tive apoio dos catequistas
de São Paulo (realidade urbana) e também dos catequistas de cidades menores e
meio rural no /Regional Nordeste 3 (Bahia e Sergipe). Destacaria os trabalhos de
catequistas nas áreas urbanas ou rurais, que buscam por diversos meios
evangelizar este grupo de pessoas através de cinema, teatro, palestras, jogos,
estudos bíblicos, jornadas catequéticas, painéis, visitas a marginalizados,
entre outros.
4) Recente pesquisa da Fundação Getúlio Vargas mostrou queda no número de
fiéis que se declaram católicos. Entre os jovens, os números são ainda mais
acentuados. (Segundo a Fundação Getúlio Vargas, que
baseou seu estudo em enquetes com cerca de 200 mil pessoas, a maior queda foi
entre os jovens de 15 a 19 anos, quando 67,5% se declararam católicos em 2009,
contra 75,2% em 2003, perda de 7,7 pontos percentuais). Na avaliação do senhor,
por que o jovem tem se afastado da Igreja?
R: Primeiramente essa pesquisa é dúbia,
porque as pessoas não foram orientadas a dizerem sua religião completa: existia
um grande elenco de católicos: romano, carismático, ortodoxo, católica
brasileira, etc. Assim, o item “Católico Apostólico Romano” ficou prejudicado. Segundo,
porque é comum vermos os adolescentes, de qualquer religião “dar um tempo”,
pois estão em tempo de descobertas. No caso dos católicos, é justamente esse
tema que tratei em meu livro: a necessidade de acompanhar os adolescentes,
especialmente após a catequese eucarística, para que ele/ela possa continuar na
caminhada em sua comunidade de referência, sendo evangelizados nesse período
(catequese de perseverança ou com Adolescentes), para unir com a próxima etapa
na catequese crismal, e depois no processo de engajamento no grupo de jovens e
nas demais pastorais, movimentos e serviços de nossa Igreja.
5) Curiosamente, a Jornada Mundial da Juventude é considerada um dos
maiores eventos do mundo. É um sinal de que o jovem busca o encontro com Jesus?
R: Sem sombra de dúvidas. Hoje a
juventude tem buscado os caminhos da Igreja e têm buscado fazer a experiência
de Deus. É bom recordar que 16.000 jovens brasileiros estiveram na JMJ em
Madrid, e iremos receber em 2013 a JMJ aqui em nosso país, sendo assim um reconhecimento
da Igreja pelo trabalho de nossa juventude. É claro que isso irá trazer muito
trabalho, mas a CNBB e a Arquidiocese do Rio de Janeiro estão empenhadas,
juntamente com todo o Setor de Juventude do nosso país, para termos a maior JMJ
da história de todas as jornadas. Queremos reunir no Rio de Janeiro mais de
cinco milhões de jovens. E é claro que nossa Igreja conta com o empenho de
todos, também dos que trabalham com os adolescentes.
6) O senhor escreveu o livro Catequese
com Adolescentes. É possível, por meio da catequese, resgatar esta parcela
da população que tem se afastado da Igreja?
R: Acredito que sim. É claro que esse
trabalho tem que ser feito de forma articulada e organizada, especialmente despertando
pessoas para atingir nossos jovens e adolescentes, estaremos atingindo milhares
de pessoas afastadas, especialmente, porque o trabalho deve envolver os pais e
a família. Com o apoio da Igreja, e
tendo assessores, catequistas, atingiremos e conquistaremos muitas pessoas para
Deus.
7) Qual o caminho seguir para que o adolescente, depois de crismar,
continue na Igreja, nas mais diversas atividades?
R: O caminho do engajamento nas
pastorais, movimentos e serviço de nossa Igreja. Desde a presença no grupo de
jovens, até nos diversos grupos que os adolescentes gostam: música, dança,
liturgia, teatro, coroinhas, acólitos, vocacionais, missionários, gincanas, entre
outros. O mais importante é envolvê-los na caminhada em nossas comunidades. E,
também, os encontros de Perseverança ou dos Adolescentes, depois da Primeira
Eucaristia e mesmo da Crisma, muito ajudarão para que os mesmos possam conhecer
mais a pessoa de Jesus e possam de verdade, fazer a opção por Ele.
O mercado do entretenimento, sempre em
expansão, contribui para que o jovem se afaste da Igreja?
R: Acredito que sim. O mercado até
utiliza de propagandas para atingir o alvo dessa idade como as campanhas
“teens”, ou como falar para este grupo, mas no sentido do materialismo, e de
negócios, basta ver as propagandas e presença nos “Shoppings”. Isso muitas
vezes pode levar o jovem a não despertar para Deus, para os gestos de amor, de
solidariedade e serviço aos irmãos. Por isso, o nosso trabalho, e o trabalho
dos pais cristãos devem ser redobrados.
8) Ocupada de forma intensa por jovens e adolescentes, o próprio Papa
Bento XVI pediu que a internet seja utilizada, também, como instrumento de
evangelização. A Igreja Católica tem feito bom uso da rede mundial de
computadores para cativar a juventude?
R: A Igreja tem sim trabalhado junto
aos Meios de Comunicação para cativar a todos, também a juventude. Desde o Papa
João Paulo II que inaugurou um canal Eclesial no Vaticano, a Igreja tem
multiplicados os espaços onde tem procurado evangelizar os nossos jovens.
Aliás, é bom dizer que muitos dos nossos sites nas dioceses e paróquias têm o
apoio e a ajuda de muitos membros da PASCOM juvenis.
9) A diversidade cultural, acentuada num mundo que está cada vez mais
conectado, que oferece uma infinidade de caminhos, pode ser considerada um
fator que contribui para que jovens deixem de integrar a comunidade católica?
R: Creio que não. Quando se há
preocupação dos pais, dos educadores, dos catequistas em formas pessoas para o
bom caminho, a juventude responderá positivamente. Depois não devemos criar uma
idéia de que tudo que está na internet é ruim, ou passar somente uma idéia de
“medo do diferente”. Devemos educar para os valores, e para que os jovens dêem
sua contribuição como cristãos católicos no mundo e em nossa sociedade.
10) Investir na formação de grupos juvenis é um caminho para que os
adolescentes descubram o valor da fé. Como conduzir a formação destes grupos,
para que não ocorra uma dispersão?
R: É preciso acreditar nesse trabalho,
que é também uma missão para nossa igreja: formar catequistas e assessores para
trabalhar junto desses adolescentes e investir nos próprios adolescentes, para
eles/elas sejam protagonistas em seu caminho de fé, sempre é claro acompanhados
e ajudados pelos pais e catequistas. Temos urgência de trabalharmos esse tema “pois, a catequese deve levar o cristão a
penetrar plenamente no Mistério de Cristo (CR 98)"
Enviado por: DOm Vílson Dias de Oliveira