Dom Gil Antônio Moreira
Bom Pastor, a festa da oblação
- SEGUNDA, 27 ABRIL 2015 14:13
- CNBB
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora (MG)
Há, na lógica de Jesus Cristo, algo que reverte o pensamento humano. Enquanto os humanos procuram sempre vencer, Cristo, ao contrário, parece propor perder. Enquanto todos propagam que a realização das pessoas está em ter, ele ensina que o segredo está em nada possuir. Se os que desejam aplausos buscam os primeiros lugares, o Mestre de Nazaré indica o “escondimento” como virtude irrenunciável.
No evangelho de João encontra-se uma das mais belas páginas das Escrituras Sagradas, com o discurso do Bom Pastor. É o próprio Jesus que se apresenta: “Eu sou o bom Pastor. O bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas” (Jo. 10,11). Doar a vida: gesto da mais sublime oblação! A afirmação nos remete ao Calvário onde se contempla o Cordeiroimolado sobre o altar da cruz, e se assiste a vida que se esvai como numa aparente derrota. O Verbo Encarnado, o Filho de Deus feito homem no seio virginal de Maria, inverte a situação e de Pastor se faz ovelha. O Filho de Deus todo poderoso, Senhor do mundo, se torna vítima de expiação, para a confusão dos prepotentes, dos dominadores e dos adoradores do poder humano. Na verdade era o Pastor se oferecendo para a salvação das ovelhas, o Senhor dando a vida pelos servos, o Pai ofertando o Filho para a redenção de sua família.
O Bom Pastor oferente ensina que as aparentes vitórias podem ser clamorosas derrotas quando não partem de um verdadeiro amor, bem como os pseudosucessos quando partem do egoísmo ou do ódio. Só vencerá quem for capaz de compreender a lógica da oblação, da renúncia, do altruísmo, do amor ao próximo até as últimas consequências, como ele amou. “Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo; tenho o poder de doá-la e o poder de recebê-la novamente” (Jo. 10, 18).
Ensina o Mestre dos mestres que tal atitude é a única forma de obter a verdadeira vitória. As vitórias na mencionada lógica não são frutos de guerras onde há vencedores e vencidos, mas são aquelas de onde todos saem livremente vencedores. Por isso a lógica do Bom Pastor resulta na unidade, o que se pode verificar na expressão demonstradora de seu imenso e profético desejo: “Haverá um só rebanho e um só Pastor” (Jo. 10, 16).
O Bom Pastor é a imagem de todos os que o querem seguir. É, sobretudo, figura dos que, chamados para especial vocação de líderes ou consagrados, se oferecem para ensinar o que ele ensinou, amar o que ele amou, viver o que ele viveu.
Para distinção dos elementos, o Senhor da Messe recorda a figura incômoda do mercenário, aquele que parece mas não é pastor. Vive por dinheiro ou por outras vantagens puramente humanas, quando não materialistas. Estes de nada servem. São gente que se serve da condição para benefício próprio e podem fazer muito mal às ovelhas.
Quer ser servidor do Reino de Deus, mestre da escola do Senhor? Aprenda a ofertar-se sem reservas, a tudo perder para ganhar todos para Cristo. Compreenda o que significa perder a vida para depois ganhá-la, chorar para depois sorrir, morrer para depois ressuscitar.
A festa do Bom Pastor celebrada no calendário cristão ao quarto domingo da Páscoa é convite à oração de quem crê para que o Senhor desperte nos corações, sobretudo dos jovens, o desejo de oblação, o aumento das vocações sacerdotais e religiosas, para que não faltem ao rebanho pastores que a todos conduzam para verdes pastagens já nesta terra e plenamente na vida futura.
Recordemos ainda o pedido do Mestre, o Senhor dos Senhores, o Pastor que conhece as suas ovelhas: “Rogai ao Senhor da Messe que envie operários para a sua messe, pois a messe é grande e os operários, poucos” (Lc. 10, 2). Orar também é um gesto de oblatividade.
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