Dom José Alberto Moura
Ir aos rebeldes
- QUARTA, 01 JULHO 2015 16:11
- CNBB
Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)
Nem sempre temos coragem de enfrentar críticas, oposições e situações conflitantes e problemáticas. Em nossas tarefas cotidianas, porém, surgem empecilhos que nos deixam perplexos e com vontade de desistir de continuar na missão e tarefas próprias de nossa condição de vida ou vocação. No entanto, é preciso sermos responsáveis para não deixarmos o barco da função ao léu. Muitos, para não perderem as vantagens do cargo, preferem ir pelo caminho da corrupção e não ter que fazer denúncia de quem lhes oferece propinas para não ser processado e perder o cargo. Isso acontece demais, principalmente na coisa pública. Até pessoas de aparência ética, de freqüência e atividade religiosa, eleita por essa sua comunidade, trai a mesma por interesse monetário e de cargos. Como fica sua consciência, se é que tem consciência e grandeza de caráter?
Na Bíblia encontramos exemplos de missão dada por Deus a profetas, para irem aos rebeldes, por exemplo: “Filho do homem, eu te envio aos israelitas, nação de rebeldes, que se afastaram de mim. Eles e seus pais se revoltaram contra mim até o dia de hoje. A estes filhos de cabeça dura e coração de pedra vou te enviar” (Ezequiel 2,3-4). O profeta obedeceu e cumpriu sua árdua missão, apesar de ter sido perseguido. Sua tarefa de sentinela foi cumprida. Também isso acontece demais. Os que apresentam o que é justo, ético, conforme a dignidade humana, a verdade e o bem nem sempre são aceitos por quem vive só para o próprio egoísmo e buscando vantagens. Este último usa do lícito e do ilícito para sempre ganhar em aparência de prestígio e de bens materiais. Mas se diminui como pessoa humana, tornando-se desumana e sem moral. Ganha aparentemente, mas perde, de fato, em sua dignidade. A Bíblia até fala que vale mais a pouca riqueza de quem ganha honestamente do que a muita adquirida corruptamente!
A tentação do desânimo às vezes surge em quem quer ser ético e ajudar a melhorar a situação de injustiças, principalmente na área política. Nesta, corruptos querem derrubar quem profeticamente defende o direito e o bem comum, com o uso do poder para servir o povo. Todo político eleito é empregado do povo e deve usar do cargo honestamente para realizar a promoção da boa educação, saúde, segurança, transporte e tudo o mais necessário para a vida digna de todos, a partir dos mais carentes. Não pode usar do cargo para roubar o que é do povo! Nessa situação, os bons às vezes se sentem sem forças para continuarem a acreditar que um mundo novo é possível, inclusive, no meio desses, os bons políticos, que “salvam o barraco”! O apóstolo Paulo, sentindo-se fraco, rogou a Deus, que lhe falou: “Basta-te a minha graça. Pois, é na fraqueza que a força se manifesta” (2 Coríntios 12,9). A força da graça divina dá coragem à pessoa do bem a perseverar na missão encetada.
O próprio Jesus constatou que um profeta não é aceito em sua terra (Cf. Marcos 6, 4). Nem por isso Ele desanimou. Foi até o fim com a missão que o Pai lhe deu de salvar a humanidade, mesmo nela tendo os rebeldes e duros de coração. Quem não quer aceitá-Lo Ele não impõe, mas a pessoa não consegue a salvação. Esta vem de Deus, mas é preciso a pessoa aceitar. Quem quiser ir pelo caminho do precipício é bom que pense duas ou mais vezes. A corrupção, a desonestidade, a falta de caráter, o querer se fazer e ganhar a qualquer preço vai perceber, na hora da doença e da morte, que tudo não valeu a pena. Esta vida na terra é passageira. Vale a pena superar a rebeldia pessoa e se dobrar ao bem, ao ético e à necessidade de se viver com dignidade moral!
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