01. julho 2015 · Write a comment · Categories: Ensinamentos, Papas · Tags: Ecologia, encíclica, humano, Papa,vida
A encíclica do Papa Francisco sobre a Ecologia inaugura uma nova iniciativa do Magistério da Igreja, o cuidado da Terra que Deus confiou ao homem, para “cultivar e guardar” (Gen 2,15); assim como Leão XIII inaugurou o tratado dos assuntos sociais com a Rerum Novarum. É impressionante o número de citações de papas anteriores, santos e dos bispos, que o Papa faz.
A “Laudato Si” – Louvado Seja – é um grito de alarme sobre a contínua destruição da Terra por causa de uma descontrolada atividade do homem que polui o ar, o solo e a água, por ganância dos que só pensam no dinheiro, comprometendo a vida de todos os humanos, e de modo especial dos mais pobres.
De modo especial o Papa trata também de reafirmar a necessidade do que Bento XVI já tinha chamado de “ecologia humana”. O Magistério da Igreja sempre chamou a atenção para o respeito pela vida “que não parece muito compatível com a defesa da natureza como justificação do aborto”; a rejeição do relativismo, que corrompe a cultura “quando não se reconhece nenhuma verdade objetiva e que faz das leis imposições arbitrárias”, ou o perigo de uma guerra química ou nuclear, que ainda paira sobre a humanidade.
O número 115 do documento diz: “Mas, se o ser humano não redescobre o seu verdadeiro lugar, compreende-se mal a si mesmo e acaba por contradizer a sua própria realidade. “Não só a Terra foi dada por Deus ao homem, que a deve usar respeitando a intenção originária de bem, segundo a qual lhe foi entregue; mas o homem é doado a si mesmo por Deus, devendo por isso respeitar a estrutura natural e moral de que foi dotado”.
O número 117 destaca que: “A falta de preocupação em medir os danos à natureza e o impacto ambiental das decisões é apenas o reflexo evidente do desinteresse em reconhecer a mensagem que a natureza traz inscrita nas suas próprias estruturas. Quando, na própria realidade, não se reconhece a importância dum pobre, dum embrião humano, duma pessoa com deficiência – só para dar alguns exemplos –, dificilmente se saberá escutar os gritos da própria natureza. Tudo está interligado. Se o ser humano se declara autônomo da realidade e se constitui dominador absoluto, desmorona-se a própria base da sua existência, porque “em vez de realizar o seu papel de colaborador de Deus na obra da criação, o homem substitui-se a Deus, e deste modo acaba por provocar a revolta da natureza”.
O número 120 diz: “Uma vez que tudo está relacionado, também não é compatível a defesa da natureza com a justificação do aborto. Não parece viável um percurso educativo para acolher os seres frágeis que nos rodeiam e que, às vezes, são molestos e inoportunos, quando não se dá proteção a um embrião humano ainda que a sua chegada seja causa de incômodos e dificuldades: “Se se perde a sensibilidade pessoal e social ao acolhimento duma nova vida, definham também outras formas de acolhimento úteis à vida social”.
A encíclica é belíssima quando fala da natureza criada por Deus: “Quando nos damos conta do reflexo de Deus em tudo o que existe, o coração experimenta o desejo de adorar o Senhor por todas as suas criaturas e juntamente com elas, como se vê neste gracioso cântico de São Francisco de Assis: “Louvado sejas, meu Senhor…”
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Citando os bispos do mundo todo, o Papa diz: “Desde os panoramas mais amplos às formas de vida mais frágeis, a natureza é um manancial incessante de encanto e reverência. Trata-se duma contínua revelação do divino”.
“Toda a natureza, além de manifestar Deus, é lugar da sua presença. Em cada criatura, habita o seu Espírito vivificante, que nos chama a um relacionamento com Ele. Mas, quando dizemos isto, não esqueçamos que há também uma distância infinita, pois as coisas deste mundo não possuem a plenitude de Deus”.
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“Sentir cada criatura que canta o hino da sua existência é viver jubilosamente no amor de Deus e na esperança”.
As criaturas deste mundo não podem ser consideradas um bem sem dono: “Todas são tuas, ó Senhor, que amas a vida” (Sab 11, 26).
Recordando as palavras de São João Paulo II, o Papa diz: “O amor muito especial que o Criador tem por cada ser humano confere-lhe uma dignidade infinita”. “Para o crente, contemplar a criação significa também escutar uma mensagem, ouvir uma voz paradoxal e silenciosa”.
“Ao lado da revelação propriamente dita, contida nas Sagradas Escrituras, há uma manifestação divina no despontar do sol e no cair da noite”. “Deus escreveu um livro estupendo, cujas letras são representadas pela multidão de criaturas presentes no universo.
“O Espírito Santo possui uma inventiva infinita, própria da mente divina, que sabe prover a desfazer os nós das vicissitudes humanas mais complexas e impenetráveis”.
Citando Paul Ricoeur, diz: “Eu expresso-me exprimindo o mundo; exploro a minha sacralidade decifrando a do mundo”. Lembrando São Tomás de Aquino, diz:
“O conjunto do universo, com as suas múltiplas relações, mostra melhor a riqueza inesgotável de Deus, a multiplicidade e a variedade “provêm da intenção do primeiro agente”, o Qual quis que “o que falta a cada coisa, para representar a bondade divina, seja suprido pelas outras”, pois a sua bondade “não pode ser convenientemente representada por uma só criatura”.
“A natureza nada mais é do que a razão de certa arte – concretamente a arte divina – inscrita nas coisas, pela qual as próprias coisas se movem para um fim determinado. Como se o mestre construtor de navios pudesse conceder à madeira a possibilidade de se mover a si mesma para tomar a forma da nave”.
E o Papa cita o Catecismo: “A interdependência das criaturas é querida por Deus. O sol e a lua, o cedro e a florzinha, a águia e o pardal: o espetáculo das suas incontáveis diversidades e desigualdades significa que nenhuma criatura se basta a si mesma. Elas só existem na dependência umas das outras, para se completarem mutuamente no serviço umas das outras”. [n. 340]
Citando o doutor São Basílio Magno, ensina que o Criador é também “a bondade sem cálculos”; e citando Dante Alighieri fala do “amor que move o sol e as outras estrelas”. De Bento XVI diz: “Por isso, das obras criadas pode-se subir à sua amorosa misericórdia”. Fomos concebidos no coração de Deus e, por isso, “cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um de nós é amado, cada um é necessário”. (Bento XVI)
O Papa lembra que “a criação pertence à ordem do amor. O amor de Deus é a razão fundamental de toda a criação: “Tu amas tudo quanto existe e não detestas nada do que fizeste; pois, se odiasses alguma coisa, não a terias criado” (Sab 11, 24). “Ele deu uma ordem e tudo foi criado; Ele fixou tudo pelos séculos sem fim e estabeleceu leis a que não se pode fugir!” (Sl 148, 5b-6).”
Tudo parece fazer eco ao que diz a Liturgia: “O Céu e a Terra contemplam a Vossa glória”. “Tudo o que criastes proclama o Vosso louvor”. E acima de tudo, aquilo que disse Santo Irineu de Lião (†200): “O homem vivo é a glória de Deus”.
Prof. Felipe Aquino
http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/2015/07/01/o-papa-a-ecologia-e-a-vida-humana/