Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
A negação do corpo
- SEGUNDA, 17 AGOSTO 2015 16:52
CNBB
Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
- Arcebispo de Sorocaba (SP)
Do ponto de vista fisiológico e anatômico e do ponto biológico-cromossômico só existem dois gêneros: o masculino e o feminino. Fenômenos de intersexualidade ou hermafroditismo- têm outras explicações – são resultado de distúrbio tanto morfológico quanto fisiológico - e não constituem um terceiro gênero do ponto de vista da sexualidade.
A sigla LGBT quer exprimir as formas de estruturação psíquica da sexualidade em dissonância com a estrutura fisiológico-cromossômica. Inevitável se torna a pergunta: qual ou quais as causas que explicam a existência de tais formas de manifestação da sexualidade?
Para os antropólogos da chamada “Ideologia de Gênero”, o binômio masculino-feminino seria um construto cultural, forjado no contexto multimilenar de uma cultura machista: “Consideram que os homens e mulheres adultos são construções sociais; que na verdade o ser humano nasce sexualmente neutro e, em seguida, é socializado em homem ou mulher. Essa socialização, dizem eles, afeta negativamente e de forma injusta as mulheres. Por isso, as feministas propõem depurar a educação e os meios de comunicação de todo estereótipo ou imagem específica de gênero, para que as crianças possam crescer sem serem expostas a trabalhos “sexo–específicos”. Atualmente não só as feministas, mas todo o grupo LGBT e simpatizantes adotaram essa teoria.
Mas imediatamente surge a pergunta: se for verdade que nascem neutros, em que direção orientar a construção cultural de sua sexualidade? A resposta é simples: pais e educadores deveriam oferecer um ambiente afetivo-cultural onde a criança pudesse se desenvolver de acordo com sua condição bio-fisiológica, sob pena de introduzir na psique dessas crianças um conflito doloroso. Mas, ao mesmo tempo em que os propagantistas da ideologia de gênero pregam ser a orientação sexual uma construção meramente cultural, afirmam dever a Escola respeitar nas crianças a orientação sexual emergente já na infância: “é preciso respeitar a identidade de gênero desde quando ela é manifestada. Isso pode ocorrer desde muito cedo, na infância, e as crianças já começam a ser estigmatizadas desde pequenas”.
Uma segunda questão se põe: se a orientação sexual é uma construção cultural de onde surge essa primeira manifestação tão cedo? Da natureza ou da cultura? E se a identidade sexual emergente destoa da estrutura biofisiológica da criança que contexto cultural teria provocado esta emergência? As explicações psicanalíticas parecem insuficientes, embora, quem sabe na maioria dos casos, ofereçam uma resposta satisfatória.
Mais complexa, entretanto, é a identidade transexual. A condição da pessoa transexual se constitui em uma fonte de sofrimentos insuperáveis para a pessoa , não, em primeiro lugar, por razão de “bullying”, mas por causa da contradição da identidade psíquica com a identidade bio-fisiológica. Os depoimentos de (Joana) João W. Nery – transexual masculino – e (Gustavo) Leandra Medeiros Cerezo, filho de Toninho Cerezo – transexual feminino – nos dão uma amostra do sofrimento por que passam os transexuais. Mesmo depois da cirurgia, o filho de Toninho Cerezo confessou:” Não sou uma mulher completa. Nunca vou ser 100% mulher”. Para os arautos da teoria de gênero, essa frustração seria absolutamente destituída de sentido, uma vez que ser mulher ou ser homem é uma invenção arbitrária de uma determinada cultura, embora milenar.
O transexual masculino – biofisiologicamente feminino - que , descontente com seu corpo, deseja um corpo de homem, está ainda aprisionado no binômio cultural, masculino-feminino. Na verdade, para escapar da opressão da cultura, o transexual, se lhe fosse possível, deveria poder não ter corpo ou ter um corpo assexuado. Já há quem se pense transgênero para além de qualquer identidade. Pobre corpo que nada mais tem a dizer sobre o ser humano! Aliás, os teóricos de “Gênero” estão muito próximos de Platão para quem o corpo é um estorvo para a mente ou, quando muito, um instrumento, agora, no século XXI, um instrumento para o prazer, não mais para virtude.
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