Deus não nos desampara em nossas lutas, tribulações e aflições. Santo Agostinho disse num dos seus Sermões, que “Qualquer angústia ou tribulação que sofremos é para nós aviso e também correção” (PLS 2,441-442). E ainda: “A Igreja caminha neste mundo entre as perseguições dos inimigos e das consolações de Deus”. Os santos que mais sofreram na alma foram também os que mais experimentaram as consolações de Deus. Entre eles, principalmente São Paulo que nos deixou essa página memorável aos seus filhos de Corinto:
“Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação, que nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia! Com efeito, à medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações. Se, pois, somos atribulados, é para vossa consolação e salvação. Se somos consolados, é para vossa consolação, a qual se efetua em vós pela paciência em tolerar os sofrimentos que nós mesmos suportamos. A nossa esperança a respeito de vós é firme:
sabemos que, como sois companheiros das nossas aflições, assim também o sereis da nossa consolação. Não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia. Fomos maltratados ali desmedidamente, além das nossas forças, a ponto de termos perdido a esperança de sair com vida. Sentíamos dentro de nós mesmos a sentença de morte, para que aprendêssemos a pôr a nossa confiança não em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos. Ele nos livrou e nos livrará de tamanhos perigos de morte. Sim, esperamos que ainda nos livrará” (2 Cor 1,3-10).
Todos nós sofremos tribulações quando decidimos tomar a Cruz de Cristo e seguir Seus passos, renunciando a nós mesmos (cf. Lc 9,12). É o caminho de nossa salvação e dos outros a quem amamos também. São Paulo repetia isso com insistência: “Confirmavam as almas dos discípulos e exortavam-nos a perseverar na fé, dizendo que é necessário entrarmos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações” (Atos 14, 22), mas estava também certo das consolações de Deus; por isso, não as temia. É incrível a sua esperança, mesmo nas dores, porque ele conhecia os frutos da luta. Aos romanos ele disse: “Não só isso, mas nos gloriamos até das tribulações. Pois sabemos que a tribulação produz a paciência”. (Rom 5, 3)
E Paulo, não escondia nada dos seus leitores: “Mas em todas as coisas nos apresentamos como ministros de Deus, por uma grande constância nas tribulações, nas misérias, nas angústias (II Cor 6, 4). “Tenho grande confiança em vós. Grande é o motivo de me gloriar de vós. Estou cheio de consolação, transbordo de gozo em todas as nossas tribulações. (II Cor 7, 4). “Por isso vos rogo que não desfaleçais nas minhas tribulações que sofro por vós: elas são a vossa glória”. (Ef 3, 13). “Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja”. (Col 1, 24). E São Paulo pede algo aos tessalonicenses que muito no importa também: “em meio às presentes tribulações, ninguém se se amedronte. Vós mesmos sabeis que esta é a nossa sorte” (I Tess 3, 3).
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Este tema o Apóstolo, recorda a todas as comunidades que fundou. “Assim, irmãos, fomos consolados por vós, no meio de todas as nossas angústias e tribulações, em virtude da vossa fé” (I Tess 3, 7). Já no limiar da morte, São João Paulo II disse uma frase memorável: “Quanto mais se sofre, mais é preciso rezar”.
São Paulo se gloriava da luta de seus filhos: “De sorte que nos gloriamos de vós nas igrejas de Deus, pela vossa constância e fidelidade no meio de todas as perseguições e tribulações que sofreis” (II Tess 1, 4).
A Carta aos hebreus diz algo semelhante: “De fato, por ter Jesus suportado tribulações, está em condição de vir em auxílio dos que são atribulados” (Heb 2, 18). E Jesus disse a São João à Igreja de Esmirna: “Tereis tribulações durante dez dias. Sê fiel até a morte e te darei a coroa da vida” (Ap 2, 10). Esta “coroa da vida” será também nossa, para todos que a conquistaram. Como São Paulo afirmou: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Desde já está me reservada a coroa da justiça, que me dará o Senhor, justo Juiz, naquele Dia” (II Tm 4,7).
Lembro-me do depoimento do cardeal Frantisek Tomasek, da antiga Tchecoslováquia, que passou 20 anos nos terríveis cárceres comunistas. Quando ele foi solto, um repórter lhe perguntou se ele não se sentiu frustrado como cardeal, príncipe da Igreja. Sua resposta foi esta: “Quem trabalha pela Igreja faz muito, quem reza, faz mais ainda, que sofre faz tudo por ela. É o que eu pude fazer.”
Também nunca podemos esquecer de que Grande é o nosso Deus. Ele tudo pode. E o que nos falta em nossa humanidade, Ele pode completar com Sua graça divina. São Pio de Pieltrecina, disse certa vez que “o Deus dos Cristãos é o Deus da metamorfose: Você joga sua dor em Seu colo e reencontra a paz; você joga seu desespero e reencontra a esperança”.
Uma coisa é certa: Deus não perde batalhas quando seus filhos, seus soldados, não desistem da luta. Jesus disse que “quem perseverar até o fim será salvo”. Alegria irmãos, o Céu existe; mas para conquistá-lo para nós e para os nossos caros; às vezes temos de ter sangue nos lábios, dores na alma e lágrimas nos olhos. Mas, “não tenhamos medo, porque sempre o Senhor ressuscitado estará conosco”. (São João Paulo II)
Prof. Felipe Aquino
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