Amados
Irmãos e Irmãs,
Iniciamos
2016, um ano marcado pelas comemorações e atividades dos 40 anos da
Diocese de Limeira, que terá seu ápice no dia 26 de junho, numa
grande concentração de fiéis no Estádio Major José Levy
Sobrinho, na cidade de Limeira. Também estamos celebrando o Ano da
Misericórdia, instituído pelo Papa Francisco e que teve início no
último dia 08 de dezembro.
E
como nos anos anteriores, voltamos nossa atenção à Campanha da
Fraternidade (CF), que neste ano de 2016 acontece de forma ecumênica
e discutirá a situação do Saneamento Básico em todo o país. Sob
a responsabilidade do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC),
a CF 2016 nos propõe como tema: “Casa comum, nossa
responsabilidade” e o lema: “Quero ver o direito brotar como
fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5, 24),
que nos chama a atenção para uma reflexão sobre a nossa prioridade
como testemunho público enquanto cristãos.
Chamo
a atenção de vocês para números alarmantes, num cenário que
suplica urgentemente por mudanças. Segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mesmo sendo umas das
sete maiores economias do mundo, o Brasil tem atualmente 100 milhões
de brasileiros que vivem sem saneamento básico, faltando água limpa
para suas necessidades vitais, o tratamento de esgoto e a coleta de
lixo, uma situação precária de vida que não garante a essas
pessoas um mínimo de dignidade humana. Assim como cuidamos de nossos
lares, precisamos cuidar do planeta com responsabilidade, deste as
pequenas ações na nossa casa até o nosso convívio diário com as
pessoas e na nossa relação com a natureza.
O
saneamento básico é um direito humano fundamental e, como todos os
outros direitos, requer a união de esforços entre sociedade civil e
poder público no planejamento e na prestação de serviços e de
cuidados. Por isso é uma Campanha Ecumênica, pois a questão do
Saneamento afeta não apenas católicos, mas todas as pessoas,
independente da fé que professem. Há que se ter em mente que
“justiça ambiental” é parte integrante da “justiça social”.
Uma
das novidades da CFE 2016 é a parceria com a Misereor – entidade
episcopal da Igreja Católica na Alemanha que trabalha na cooperação
para o desenvolvimento na Ásia, África e América Latina. Também
integram a Comissão da Campanha de 2016: Igreja Católica Apostólica
Romana (ICAR), Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
(IECLB), Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), Igreja
Presbiteriana Unida (IPU), Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia
(ISOA), Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação
Popular (Ceseep), Visão Mundial, Aliança de Batistas do Brasil.
A
cada cinco anos, a Campanha da Fraternidade é realizada de forma
ecumênica. A primeira, foi em 2000, e teve como tema “Dignidade
humana e paz”, e o lema escolhido foi: “Novo milênio sem
exclusões”. A segunda edição, em 2005, falou sobre
“Solidariedade e paz”, com o lema: “Felizes os que promovem a
paz”. Em 2010, o tema foi “Economia e Vida”, com o lema “Vocês
não podem servir a Deus e ao dinheiro”.
Reflitam
em suas paróquias, comunidades, família e grupos sociais este
importante tema, através do Texto Base e demais materiais
disponibilizados para esta Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016.
Que
Nossa Senhora das Dores, padroeira da Diocese de Limeira, interceda
pela integridade humana de todos os cidadãos. “Cristo é a nossa
paz”
Dom
Vilson Dias de Oliveira, DC
Bispo
Diocesano de Limeira
Refletindo
em variadas abordagens sobre a CFE - 2016
Está
à venda nas livrarias católicas e evangélicas os materiais da
Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016. O Tema da Campanha: “Casa
comum, nossa responsabilidade” e o lema: “Quero ver o direito
brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”
(Am 5, 24). O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) é
responsável pela CF 2016.
O
CONIC é composto pelas seguintes igrejas: A Igreja Católica
Apostólica Romana; A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no
Brasil; A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil; A
Igreja Presbiteriana Unida do Brasil; e A Igreja Sirian Ortodoxo
de Antioquia. Além dessas Igrejas três organizações participaram
na Comissão da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016: O Centro
Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular
(CESEEP), Visão Mundial, Aliança de Batistas do Brasil.
As
Igrejas que integram o CONIC assumem como missão expressar em gestos
e ações o mandato evangélico da unidade, que diz: “Que todos
sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em Ti; que também eles
estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste”(Jo
17,21). Seria importante mencionar também a contribuição da
Misereor
dos católicos da Alemanha para a CF 2016, que desde uma perspectiva
de fé, significa também assumir a responsabilidade comum pelo
futuro da Terra.
Entre
várias importantes fontes que marcaram o ano 2015
preocupadas com as mudanças climáticas precisamos mencionar duas:
“Peregrinação por justiça e paz” do Conselho Mundial de
Igrejas (CMI) que destaca a necessidade urgente da superação desse
modelo de desenvolvimento que está baseado no consumo e na ganância;
e a Encíclica do Papa Francisco Laudato
Sí
sobre o cuidado da Casa Comum. O Objetivo Geral da Campanha é:
“Assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e
empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes
responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa Casa
Comum”.
Os
oito Objetivos Específicos da CF mostram a preocupação com o
saneamento básico no Brasil:
a) Unir Igrejas, diferentes
expressões religiosas e pessoas de boa vontade na promoção da
justiça e do direito ao saneamento básico;
b)
Estimular o conhecimento da realidade local em relação aos serviços
de saneamento básico;
c)
Incentivar o consumo responsável dos dons da natureza,
principalmente da água;
d)
Apoiar e incentivar os municípios para que elaborem e executem o seu
Plano de Saneamento Básico;
e)
Acompanhar a elaboração e a excussão dos Planos Municipais de
Saneamento Básico;
f)
Desenvolver a consciência de que políticas públicas na área de
saneamento básico apenas tornar-se-ão realidade pelo trabalho e
esforço conjunto;
g)
Denunciar a privatização dos serviços de saneamento básico, pois
eles devem ser política pública como obrigação do Estado;
h)
Desenvolver a compreensão da relação entre ecumenismo, fidelidade
à proposta cristã e envolvimento com as necessidades humanas
básicas.
De
fato, as noventa páginas do texto-Base da CF 2016 são realmente uma
enciclopédia sobre saneamento básico.
O
ESTUDO DA CFE – 2016
A
Campanha da Fraternidade deste ano tem como objetivo geral “assegurar
o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e
empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes
responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa Casa
Comum”.
As
reflexões sobre o saneamento básico contidas neste texto base
demonstram que esse é um direito humano fundamental e, como todos os
outros direitos, requer a união de esforços entre sociedade civil e
poder público no planejamento e na prestação de serviços e de
cuidados. Por isso é uma Campanha Ecumênica, pois a questão do
Saneamento afeta não apenas católicos, mas todas as pessoas,
independente da fé que professem.
O
abastecimento de água potável, o esgoto sanitário, a limpeza
urbana, o manejo de resíduos sólidos, o controle de meios
transmissores de doenças e a drenagem de águas pluviais são
medidas necessárias para que todas as pessoas possam ter saúde e
vida dignas. Por isso, há que se ter em mente que “justiça
ambiental” é parte integrante da “justiça social”.
PRIMEIRA
PARTE
As
escolhas das atitudes para a preservação da vida no planeta Terra
devem ser orientadas por critérios coerentes com o propósito de
mais justiça e paz. Tais escolhas devem contribuir para a superação
das desigualdades e das agressões à criação. Por isso, hoje, as
preocupações e consequentes ações no âmbito do saneamento passam
a incorporar não só questões de ordem sanitária, mas também de
justiça social e ambiental. É, portanto, necessária e urgente que
as ações para a preservação ambiental busquem também construir a
justiça, principalmente para os pequenos e pobres.
Estudos
estimam que morre uma criança a cada 3 minutos por não ter acesso a
água potável, por falta de redes de esgoto e por falta de higiene.
Crianças com diarreia comem menos e são menos capazes de absorver
os nutrientes dos alimentos, o que as torna ainda mais suscetíveis a
doenças relacionadas com bactérias. O problema se agrava, pois as
crianças mais vulneráveis à diarreia aguda também não têm
acesso a serviços de saúde capazes de salvá-las. Ampliando a
questão da saúde para todas as faixas etárias, em 2013, segundo o
Ministério da Saúde (DATASUS), foram notificadas mais de 340 mil
internações por infecções gastrointestinais no país. Se 100% da
população tivesse acesso à coleta de esgotos sanitários haveria
uma redução em termos absolutos de 74,6 mil internações.
Os
últimos dados do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre
Saneamento Básico – base 2013) mostram que pouco mais de 82% da
população brasileira têm acesso à água tratada. Mais de 100
milhões de pessoas no país ainda não possuem coleta de esgotos e
apenas 39% destes esgotos são tratados, sendo despejados diariamente
o equivalente a mais de 5 mil piscinas olímpicas de esgoto sem
tratamento na natureza.
Alguns
dados mundiais sobre o saneamento:
– No
mundo, um bilhão de pessoas fazem suas necessidades a céu aberto.
– Mais
de 4.000 Crianças morrem por ano por falta de acesso a água potável
e ao saneamento básico.
– Na
América Latina, as pessoas têm mais acessos aos celulares que aos
banheiros.
– 120
Milhões de latino-americanos não têm acesso aos banheiros.
Alguns
dados do Brasil sobre saneamento
– O
Brasil está entre os 20 países do mundo nos quais as pessoas têm
menos acesso aos banheiros.
– Cada
brasileiro gera em média 1 quilo de resíduos sólidos diariamente.
Só a cidade de São Paulo gera entre 12 a 14 mil toneladas diárias
de resíduos sólidos.
– As
13 maiores cidades do país são responsáveis por 31,9% de todos os
resíduos sólidos no ambiente urbano brasileiro.
Para
onde vão todos estes resíduos?
Segundo
a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008 do IBGE, divulgada em
2010:
-
50,8%
foram levados para os lixões, local para depósito do lixo bruto,
sobre o terreno, sem qualquer cuidado ou técnica especial.
-
21,5%
são levados para aterros controlados, local utilizado para despejo
do lixo bruto coletado, com cuidado de, diariamente, após a jornada
de trabalho, cobrir os resíduos com uma camada de terra, de modo a
não causar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, bem
como minimizar os impactos ambientais.
-
27,7%
são levados para aterros sanitários, local monitorado em
conformidade com a legislação ambiental, de modo a que nem os
resíduos nem seus efluentes líquidos e gasosos venham a causar
danos à saúde pública ou ao meio ambiente.
Um
dado alarmante é que a América do Norte e a Europa mandam seus
resíduos sólidos para a África e, infelizmente, também para o
Brasil. Em 2009 e 2010 portos brasileiros receberam cargas de
resíduos (LIXO) domiciliares e hospitalares. Focando apenas no
Brasil, os lixões e aterros sem controle, localizam-se próximos ou
em áreas de residência de populações pobres, nas quais os
habitantes são obrigados a conviver com a sujeira gerada pelos
demais moradores, resultando em injustiça ambiental.
SANEAMENTO
BÁSICO PARA ALÉM DA CIDADE
Se
a situação já é precária no meio urbano, no meio rural
brasileiro é ainda mais absurda. Apenas 42% das moradias rurais
dispõem de água canalizada para uso doméstico. Os outros 58% usam
água de outras fontes, porém, sem nenhum tipo de tratamento.
Muitas
habitações rurais são tão precárias que sequer dispõem de
banheiros ou fossas. Somente 5,2% dos domicílios rurais possui
coleta de esgoto ligado à rede geral e 28% possuem fossa séptica.
Em 49% das residências que possuem banheiro, o escoamento de fezes e
urina corre por meio de fossas rudimentares não ligadas à rede. Há
52,9% de residências que buscam soluções rudimentares como valas
ou despejo do esgoto diretamente nos cursos de água. Há ainda 13,6%
que não usam nenhuma solução.
Todos
estes números revelam a falta de dignidade à vida das pessoas que
vivem nas áreas rurais. São 7,6 milhões (25% da população rural
do Brasil) que vivem em extrema pobreza. Por isso, o saneamento rural
deve ser implementado de forma articulada com outras políticas
públicas, de modo a superar o déficit de moradias, dificuldade de
acesso à eletrificação rural e ao transporte coletivo.
SANEAMENTO
BÁSICO E ÁGUA POTÁVEL, UMA RELAÇÃO VITAL
A
água é o recurso mais abundante no planeta Terra, porém, apenas
0,007% estão disponíveis para o consumo humano. O restante é
constituído por águas salgadas, geleiras e águas subterrâneas de
difícil captação. O Brasil é privilegiado em recursos hídricos,
com 12% da água doce do mundo. Entretanto, a escassez de água
potável, que é hoje um problema crônico em diversas regiões
do mundo está gerando alertas também no nosso país.
É
importante saber que cerca de 70% da água doce do Brasil estão
concentradas na região Norte, a menos populosa, enquanto que as
regiões Nordeste e Sudeste, com alta população, dispõem de pouca
água. O risco de desabastecimento em larga escala é uma ameaça não
somente em áreas tradicionalmente áridas, mas também nas grandes
cidades.
Num
futuro próximo, a busca pela água será capaz de provocar disputas
internacionais. Apesar da constatação da falta da água, o Brasil é
considerado o campeão de desperdício de água no mundo – a média
de desperdício da água potável nos sistemas de distribuição
chega a 37%.
JULGAR
A
Bíblia é uma revelação progressiva. Antes mesmo que Jesus fizesse
a plena revelação do Deus Amor e Misericordioso, os profetas já
anunciavam aspectos importantes da caridade e da justiça,
fundamentos do Reino de Deus. O bem comum, desejado por Deus, é o
grande objetivo das Sagradas Escrituras. Da adesão ao projeto do
Reino de Deus e, portanto, o compromisso com a construção do bem
comum é que depende a salvação individual.
Quando
falamos do bem comum, não podemos restringi-lo somente à relação
dos seres humanos entre si, mas também destes com a natureza, que
deve ser cuidada com gratidão e respeito. E o uso da natureza e de
todos os bens materiais deve acontecer de forma justa e voltada para
a construção de uma coletividade com mais igualdade, ao invés de
serem utilizados para suprir a ganância de alguns.
A
escolha do texto de Amós (“Quero ver o direito brotar como fonte e
correr a justiça qual riacho que não seca” – Amós 5,24) não é
por acaso. Amós fundamenta sua pregação profética numa denúncia
social aguda, chamando a atenção para um progresso econômico quer
não de traduzia em igualdade e justiça para todos. Sua denúncia
aponta para uma situação de caos social, onde as relações
afetivas estavam se rompendo (Amós 2,6-8). Com suas denúncias, Amós
revela que a fé em Deus estava sendo manipulada pela religião
oficial (Amós 4,4-5). Deus quer justiça e dignidade para todos. Não
apenas para Israel e Judá (Amós 9,7-8).
Amós
ainda denuncia o culto vazio, repleto de louvores e oferendas a Deus,
mas que não faz com que as pessoas pratiquem a justiça. Não são
grandes oferendas que agradam a Deus, mas sim a prática do direito e
da justiça (Amós 5,21-25). Este tema também é tratado pelos
profetas Isaías, Oséias e Miquéias (cf. Isaías 32,18; Oséias
6,6). O profeta Miquéias, em breves palavras, resume este complexo
assunto:
“Foi-te
dado a conhecer, ó homem, o que é bom, o que o Senhor exige de ti:
nada mais que respeitar o direito, amar a fidelidade e aplicar-te a
caminhar com teu Deus” (Miquéias 6,8).
Garantir
os direitos essenciais para a vida humana e cuidar bem do planeta,
são partes fundamentais da justiça exigida por Deus. Quando isso
não acontece, diz o profeta que as feras, as aves do céu e até os
peixes do mar desparecem (Oséias 4,1-3).
O
que Deus quer de nós é que sejamos como jardineiros que cuidam da
natureza com carinho. E, também, o cuidado uns dos outros,
como quem cuida de plantas que amam. É esta imagem que está
presente na descrição do livro do Gênesis, que relata a criação
do mundo. Deus tomou Adão e o colocou no Jardim do Édem para que o
cultivasse e guardasse (cf. Gênesis 2,15).
No
Édem nascia um rio que se dividia em quatro braços, lembrando os
quatro pontos cardeais e assim representando a terra inteira. Essas
passagens iniciais da Bíblia ressaltam a importância do cuidado
humano pela integridade da criação. A água limpa e potável,
também aparece como símbolo da vida quando Moisés fez brotar o
líquido da vida no deserto (Êxodo 17,6). É também a água como
símbolo da vida que Jesus anuncia à samaritana (João 4,14). Na
Nova Jerusalém do Apocalipse temos de novo um símbolo que evoca a
água como fonte da vida (Apocalipse 22,1-2).
Na
Bíblia há vários relatos que já anunciam a necessidade de manter
limpa a natureza e o cuidado com o líquido precioso:
-
É
preciso organizar o povo – descentralização do poder e das
decisões – para que as pessoas sejam atendidas em suas
necessidades e cuidem do ambiente em que vivem (Êxodo 18, 13-27)
-
Devem
manter a limpeza no acampamento, manter as fezes cobertas para
evitar sujeiras e doenças (Deuteronômio 23,13-14).
-
Cuidar
e tratar da água a ser consumida. As fontes, poços e cisternas
devem ser mantidos puros (Levítico 11,36; Êxodo 15,23-25; 2 Reis
2,19-22).
-
Cuidar
das árvores e bosques, principalmente das árvores frutíferas
(Levítico 19,25; Deuteronômio 20,19; Juízes 4,4-5).
Todas
estas atividades devem estar sempre envolvidas com o cuidado para com
os mais pobres (Deuteronômio 23, 25; 24, 14-15.19-22, conforme Tiago
5,1-6). Assim como não se deve explorar o trabalhador, que tem o
direito ao descanso, também a terra, a cada sete anos deve ter o
descanso (Levítico 25, 2-7).
SANEAMENTO
BÁSICO E PRÁTICA DA JUSTIÇA
Voltando
ao lema de Amós (5,24) que anima nossa Campanha da Fraternidade
Ecumênica, o profeta compara a prática da justiça como uma fonte
que jorra água limpa e com um rio perene que não seca jamais.
A
comparação que Amós faz da água que jorra com a prática da
justiça, lembra que o bem estar de todos os habitantes de um lugar
deve ser o objetivo de todo serviço público. Ninguém pode buscar
apenas o lucro fácil e rápido em detrimento dos direitos dos
demais. É como se uma pessoa represasse um rio só para si, formando
um enorme açude enquanto todos adiante ficam apenas com um fiozinho
de água.
Jesus
denuncia a ganância e os ritos vazios, que privilegia os puros
(aqueles que detinham o poder econômico) e marginaliza os impuros
(os pobres e enfermos na época eram vistos como abandonados por Deus
e por isso eram marginalizados). Por isso Jesus disse: “felizes os
que tem fome e sede de justiça, porque serão saciados. Felizes os
misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mateus 5,6-7).
Vivemos
numa sociedade urbana organizada em torno dos princípios da economia
de mercado. Nesta sociedade os “abençoados” são os que têm
poder de compra. Tudo se torna mercadoria, inclusive os bens
primordiais como a água e a terra.
Neste
tipo de sociedade, os benefícios públicos acabam sendo destinados
às regiões mais abastadas. Bairros populares terminam sendo
deixados em segundo lugar, sem os benefícios do esgotamento, coleta
de lixo, transporte público, boas escolas, etc.
Refletindo
sobre tudo isso, fica bem claro que a fidelidade a Deus precisa se
manifestar na preservação de tudo o que é necessário para que a
grande família humana possa viver com dignidade e justiça em um
ambiente bem cuidado. Mas não basta refletir. Como Jesus nos mostrou
na parábola dos dois filhos chamados a trabalhar na vinha (Mateus
21,28-31), não basta ter um bom discurso, o importante é entrar em
ação, transformando o mundo do modo como Deus deseja.
AGIR
As
Campanhas da Fraternidade Ecumênicas fortalecem os espaços de
convivência entre as diferentes Igrejas. O diálogo e o trabalho
conjunto em favor do bem comum são testemunhos importantes que
podemos oferecer para a sociedade. Afinal, Jesus sempre se colocou
aberto à escuta, às partilhas e a uma boa roda de conversa
(conforme João 4; Marcos 8,1-9). Por isso, esta Campanha da
Fraternidade Ecumênica deve nos motivar a irmos ao encontro de todas
as pessoas – católicas, evangélicas, espíritas, outras religiões
e até mesmo não crentes – para que juntos encontremos ações
conjuntas que favoreçam o cuidado com a nossa Casa Comum.
“Casa
Comum, nossa responsabilidade”, é um tema que nos orienta a
atuarmos coletivamente em favor da elaboração, implementação e
acompanhamento dos Planos Municipais de Saneamento Básico. As
responsabilidades são coletivas, porém diferenciadas:
-
O
poder público tem a tarefa de realizar as obras de infraestrutura,
implementar o Plano Municipal de Saneamento Básico, garantir a
limpeza do espaço público e fazer a coleta seletiva do lixo.
-
Os
cidadãos têm a tarefa de não jogar lixo nas ruas e zelar pelos
espaços coletivos.
Estas
atitudes poderão nos aproximar do sonho do profeta Amós que é o de
“ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho
que não seca” (Amós 5,24).
VAMOS
CONHECER ALGUMAS ATITUDES QUE PODEMOS ASSUMIR
-
NA
SUA CASA – A água é usada com economia? – Você sabe se o
esgoto coletado de sua casa é tratado? – Você se incomoda e
denuncia quando vê um vazamento de água em sua rua? – Quando sai
de um cômodo iluminado, tem o costume de apagar a lâmpada? –
Qual o destino que você dá ao óleo de cozinha que não pode ser
reutilizado?
-
NO
SEU BAIRRO – Há rede de água encanada? – Há coleta regular do
lixo? – Há o costume de cobrar das autoridades providência
próprias do poder público?
-
NA
SUA CIDADE – A água é de qualidade? – Há estações de
tratamento do esgoto? Existem cooperativas populares de reciclagem
dos resíduos sólidos? Quando há aprovação de projeto de
construção de um imóvel, o esgoto é levado em consideração?
UM
GESTO CONCRETO PESSOAL PARA A QUARESMA
Temos
uma proposta emocionante: cuidar da Casa Comum que Deus nos deu e
fazer dela um lugar saudável, no qual a fraternidade e a justiça
corram como rios de água viva. Que Deus nos ajude a viver com
alegria e responsabilidade essa bonita missão! Como sinal desse
compromisso, propomos que durante a Quaresma realizemos o esforço de
evitar o consumismo e o desperdício dos alimentos. Que façamos um
dia de jejum, doando aos mais pobres o que não consumimos nesse dia.
Tudo
o que fizermos precisa ser impulsionado pela graça de Deus, que
ilumina nosso discernimento, fortalece nossa disposição, não nos
deixa desistir do amor fraterno e fará nosso trabalho produzir
frutos melhores e mais permanentes. Portanto, orando e celebrando,
entreguemos a Deus o serviço que queremos prestar, para que Deus
sempre nos inspire a caminhar a seu lado na preservação do bonito e
saudável ambiente que nos ofereceu na criação.
Abaixo
textos para aprofundamento do tema
Saneamento
Básico – retrato do Brasil pelo censo 2011-
P
or
Sylvia Miguel
Para
suprir o déficit de saneamento básico no País, seriam necessários
investimentos da ordem de RS$ 12 bilhões por ano, durante 20 anos
consecutivos. Os cálculos foram feitos pelo professor Wanderley da
Silva Paganini, do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de
Saúde Pública (FSP) da USP, baseados nos dados preliminares do
Censo 2011, divulgados no final de abril pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Para o especialista em saneamento,
os números do Censo 2011 revelam uma situação “preocupante” no
que diz respeito ao acesso à rede de coleta de esgoto e
abastecimento de água no País. “Falamos de cerca de 85% de
cobertura da rede de esgotamento para o Estado de São Paulo, e ainda
nos escandalizamos com esse índice, quando comparado aos países
europeus. Mas esquecemos que no resto do País esse número cai para
50% em média. Há locais onde não há sequer coleta. Em Manaus, por
exemplo, apenas 11% do esgoto é coletado, o que significa que quase
todo o esgoto produzido permanece no meio onde as pessoas vivem”,
afirma.
No meio rural, quase 40% não tinham banheiro de uso
exclusivo no domicílio, entre a faixa de rendimento domiciliar
mensal per capita de até R$ 140,00. Dos que possuíam banheiro no
meio rural nessa faixa de renda domiciliar per capita, menos de 20%
estavam ligados à rede geral de distribuição ou fossa séptica. No
Brasil, do total de 57.324.185 domicílios pesquisados, 6,2% não
possuíam banheiro de uso exclusivo (3.562.671).
Por outro lado,
no meio urbano a situação se inverte. Em São Paulo, 86,79%
possuíam equipamentos ligados à rede geral de coleta; no Distrito
Federal, 80,58%; no Rio de Janeiro, 76,69%; e em Minas Gerais, 76,33%
tinham equipamento sanitário ligado à rede de coleta.
Segundo
Paganini, o Brasil ainda não enfrentou como deve os problemas mais
básicos de universalização do abastecimento de água, coleta e
menos ainda de tratamento do esgoto. Atualmente, afirma o professor,
o País investe anualmente cerca de R$ 4 bilhões em saneamento,
sendo que apenas a metade tem origem em fundos públicos. A outra
metade vem de companhias privadas de saneamento.
Para
ilustrar a precariedade em que se encontra o Brasil nessa área,
Paganini menciona os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)
sobre mortalidade infantil. “Esse indicador está diretamente
ligado às condições sanitárias dos países. O Brasil apenas está
melhor do que países muito pobres da América do Sul e Central”,
diz.
A
taxa de mortalidade infantil no Brasil era de 25 por mil nascidos
vivos, ante uma taxa de 35 por mil na Nicarágua, de 54 por mil na
Bolívia e de 80 por mil no Haiti, segundo levantamento de 2005 da
Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Dados de 2008 do
Ministério da Saúde mostram que a taxa nacional de mortalidade
infantil era de 22,8 por mil nascidos vivos. No Nordeste, o número
chegava a 32,8 mortos para cada mil nascidos vivos, no mesmo ano. De
acordo com as Metas do Milênio estabelecidas pelas Nações Unidas,
o Brasil deverá cumprir até 2012 a meta de 12,9 mortes por mil
nascidos vivos.
Para
o professor José Luiz Negrão Mucci, também do Departamento de
Saúde Ambiental da FSP, a condição sanitária do País reflete
tanto as prioridades das políticas públicas quanto a situação de
rendimento da população. “Ou as pessoas não têm condições
econômicas de ligar seu domicílio à rede de coleta ou o próprio
governo não investe nos serviços gerais de saneamento para a
população de baixa renda”, afirma
“Para a população
muito pobre, talvez a prioridade seja outra, como comer, por exemplo.
Há locais onde as pessoas simplesmente não se preocupam com isso.
As disparidades regionais continuam também nessa área”, diz
Mucci.
Água
A
pesar
da maior disponibilidade de água, o meio rural é onde a água
tratada é menos acessível. Em três diferentes faixas de rendimento
pesquisadas (de R$ 0,00 a R$ 70,00, de R$ 71,00 a R$ 140,00 e acima
de R$ 141,00), apenas cerca de 20% dos domicílios tinham acesso ao
abastecimento de água a partir da rede geral de distribuição. Nas
mesmas faixas de rendimento, os outros 80% dos domicílios
particulares permanentes do meio rural tiveram acesso à água a
partir de “poço ou nascente na propriedade”, “poço ou
nascente fora da propriedade” ou “outras” formas, como
caminhões-pipa, por exemplo.
Apesar
disso, a situação do abastecimento de água é menos crítica que a
de esgotamento sanitário, se considerado o total geral do meio
urbano e do meio rural. “Do total de domicílios no Brasil, 82,85%
eram servidos por rede geral de distribuição. Mas as desigualdades
regionais permanecem, sendo que na região Norte apenas 54,48%
estavam ligados à rede geral”, avalia a professora Ana Maria
Marangoni, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
“A água pode ser
um vetor do bem ou do mal. As doenças por veiculação hídrica são
responsáveis por dois terços das internações entre crianças de
até 5 anos de idade”, lembra o professor Paganini, da FSP.
Quanto
à coleta de lixo, este é o serviço que apresenta menores
disparidades regionais. No conjunto do País, 87,40% dos domicílios
são atendidos diretamente por serviços de limpeza, seja por coleta
domiciliar ou por deposição em caçambas coletoras. Os extremos são
Rondônia, onde 38% são atendidos, Piauí (42%), Acre (47%) e Pará
(47%). “Apesar disso, ainda persistem os problemas de destinação
final do lixo, com a consequência mais grave, que é a contaminação
ambiental. Ainda não solucionamos a questão dos lixões, da
saturação de aterros, da poluição, da seleção do lixo e do
trânsito”, ressalta a professora Ana Maria.
Envelhecimento
Os
primeiros resultados da pesquisa mostram que o Brasil possui
190.755.799 habitantes, ante os 169.799.170 habitantes de uma década
atrás. Como já esperado, a pirâmide etária se inverteu. Assim, de
2000 a 2010, o grupo de até 14 anos de idade diminuiu de 29,6% para
24,1%, ao passo que aumentou a porcentagem das pessoas na faixa de
15-64 anos (de 64,5% para 68,5%) e também dos que possuem mais de 65
anos de idade (passou de 5,9% para 7,4%). A consequência dessa
evolução será o aumento da pressão por serviços voltados à
população mais idosa, ressalta o professor Hervé Théry, também
do Departamento de Geografia da FFLCH. “Isso já está acontecendo
sobretudo em bairros mais tradicionais, como Higienópolis, em São
Paulo, e Copacabana, no Rio de Janeiro”, lembra.
A
partir das 21 tabelas divulgadas pelo IBGE com os dados preliminares
do Conjunto Universo do Censo 2010 para as Grandes Regiões e
Unidades da Federação, é possível ter alguns indícios de como e
onde vivem os brasileiros, níveis de rendimentos, situação dos
domicílios e evolução do analfabetismo, entre outras informações.
Novos dados sociais, econômicos e demográficos serão conhecidos
nos próximos meses, de acordo com um calendário divulgado em
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/calendario.shtm.
A
adoção de um computador de mão equipado com GPS para a coleta de
dados foi a grande novidade da pesquisa divulgada este ano. Este foi
o 12º recenseamento geral do Brasil e a série inicial refere-se ao
ano de 1872.
Miséria
ainda atinge 16 milhões
O
Censo 2011 detectou 16,2 milhões de brasileiros vivendo abaixo da
linha de pobreza extrema, ou seja, 8,6% da população vive com uma
renda nominal mensal domiciliar per capita de até R$ 70,00. Desse
total, 4,8 milhões não possuem nenhum rendimento. “Esse não é
um número desprezível. Significa que praticamente um em cada dez
brasileiros vive na miséria. A boa notícia é que esse número vem
regredindo progressivamente. Mas, infelizmente, o percentual dos que
não tinham nenhum rendimento continuou praticamente o mesmo em uma
década, algo em torno de 4,5%”, afirma Arilson Favareto, doutor
pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da
USP e professor da Universidade Federal do ABC.
Para o
professor, há um grande problema em definir a pobreza tendo como
único critério o rendimento monetário. “A pessoa pode estar
nessa faixa de rendimento, mas ter condições mínimas de moradia e
inclusão social. Isso faz toda a diferença quanto à capacidade de
ampliar suas oportunidades de vida e de escolhas”, diz.
Para
Favareto, é um erro ter um parâmetro único de classificação da
pobreza para todo o território brasileiro, devido às disparidades
regionais e culturais. “A quantidade de miseráveis não muda muito
no meio urbano em relação ao rural. O que muda são as condições
de vida mais precárias no campo. Isso reforça a necessidade de
estabelecer outros critérios para as políticas públicas de
erradicação da miséria. Além disso, as políticas sociais e
produtivas deveriam estar conectadas. Por exemplo, o Bolsa-Família
deveria ter uma relação mais estreita com programas de
desenvolvimento, como o Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC)”, diz Favareto.
Analfabetismo
O
Censo 2011 apontou que o País tem 14.612.183 analfabetos, entre mais
de 162 milhões de brasileiros com mais de 10 anos de idade, ou 9,02%
da população a partir dessa faixa etária. Desses, 9,4 milhões
estão em áreas urbanas e 5,2 milhões, nas rurais. “A queda do
analfabetismo entre a população de mais de 5 anos de idade é
secular. Mas evidencia também o enorme desafio colocado à educação
de jovens e adultos”, afirma a professora Stela Bertholo Piconez,
da Faculdade de Educação (FE) da USP. A professora Stela afirma que
um dos problemas enfrentados na forma da coleta de dados do Censo diz
respeito à própria concepção do que se compreende por uma pessoa
analfabeta. “A longa trajetória comprova que quem acaba com o
analfabetismo adulto é a morte. Historicamente, a precariedade do
nosso sistema de atendimento ao ensino fundamental sempre foi
identificada como responsável pelos índices de analfabetismo. O que
significa que 9,6% da população brasileira não saiba ler nem
escrever? Quando isso tornou-se um problema? Saber ler e escrever um
bilhete simples, segundo definição censitária, pode significar de
muito pouco alcance educacional, social e político”, afirma.
Apesar
das limitações atribuídas ao Censo, a professora lembra que a
pesquisa revela o estado educacional da população, que, “mesmo
sendo analfabeta, utiliza-se de celular, computador, entre outras
tecnologias contemporâneas, e se comunica”. Além do mais o
analfabetismo detectado pelo Censo indica “um fenômeno real de
exclusão educacional e assim definido ainda persiste em nosso país”.
A
sustentabilidade possível
O
adensamento das cidades e oenvelhecimento populacional podem não
representar um problema tão grande se as cidades vislumbrarem formas
sustentáveis de manter suas condições de vida. É o que pretende
revelar um estudo que vem sendo empreendido por especialistas de
diversas áreas e que em breve se transformará numa publicação
capitaneada pelo arquiteto e urbanista Bruno Padovano, professor da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. “Apesar dos
problemas, o poder público em geral tem se preocupado em planejar os
espaços urbanos com projetos sustentáveis. Alguns exemplos disso
são os parques lineares, as ciclovias, a arborização, o combate às
enchentes e a retirada de pessoas das áreas de risco, entre tantas
outras formas de melhorar a vida nas cidades”, diz Padovano.
Além
de mapear os projetos e ações sustentáveis das cidades, os
especialistas buscarão entender se as políticas municipais possuem
dinâmicas integradoras entre os diferentes setores, afirma o
professor. Além de Padovano, o trabalho será coordenado também
pela professora Marly Namur, da FAU, e pela pesquisadora Patrícia
Bertacchini.
“As
ações, no conjunto, apontam para as cidades se orientando para
melhorar a vida da população em geral. Ainda há problemas sérios,
mas a tendência, a meu ver, é que nos próximos anos todos os
setores contribuam de forma significativa para a sustentabilidade”,
afirma Padovano.
Esta
notícia foi publicada em 15/05/2011 no sítio do Jornal
da USP.
Todas as informações nela contida são de responsabilidade do
autor.
O
SANEAMENTO BÁSICO NA ÁREA RURAL DO BRASIL
- por
Édison Carlos - presidente executivo do Instituto
Trata Brasil
A
situação do saneamento básico no Brasil é dramática. De todas as
mazelas ambientais do país nada se compara ao descomunal impacto à
natureza e ao cidadão causado pela ausência dos serviços de
saneamento básico em todo o território. Dados do Ministério das
Cidades (base SNIS 2010) mostram um cenário em que 1 em cada 5
brasileiros ainda não possui sequer água tratada para beber. Mais
da metade da população ainda não tem acesso à coleta dos esgotos
e somente 38% do esgoto do país passa por algum tipo de tratamento
antes de ser lançado na natureza.
Significa
que 62% do esgoto do país seguem para nossos rios, lagos,
reservatórios, bacias hidrográficas e aquíferos da forma como sai
dos nossos banheiros. É um volume equivalente a 6.300 piscinas
olímpicas de esgoto por dia sendo jogado irresponsavelmente na água
que depois temos que trata para beber.
Principalmente
nas maiores metrópoles a poluição causada pelos esgotos é
perversa, silenciosa, sorrateira… Acostumamo-nos a ela, não mais
nos incomodamos com seu cheiro, “deletamos” as imagens feias da
cidade, passamos por cima como se ela não existisse. Perpetuamos o
problema ao não sinalizar claramente aos governantes a nossa repulsa
pela vala negra na praia, pelo rio poluído, pelo esgoto escorrendo
na rua. É um impacto ambiental que retorna ao cidadão nas doenças
que ajudam a colocar o Brasil como a 85ª. nação no Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) mundial. A 6ª. mais importante economia
do mundo ainda convive com descabidos surtos de diarreias, Hepatite
A, verminoses, esquistossomose, dermatites e tantas outras
enfermidades da água poluída.
Se
este descaso é grande nas grandes regiões metropolitanas, o
problema é ainda mais complexo nas áreas rurais do país. Mesmo que
conseguíssemos cumprir as metas do Plano Nacional de Saneamento
Básico (PLANSAB), em discussão pelo Ministério das Cidades para
resolver o problema no país em 2030, a previsão é que nas áreas
rurais os indicadores chegariam, no máximo, a 77% da população com
água potável e 62% com coleta de esgotos. Significa que a
universalização do saneamento básico nas áreas rurais nem é
sequer prevista num futuro mais longo.
As
soluções mais tradicionais para o saneamento rural ainda são a
fossa séptica e a fossa rudimentar. Segundo a pesquisadora da
Embrapa, Dra. Cinthia Cabral da Costa em seu estudo “SANEAMENTO
RURAL NO BRASIL – Impacto da fossa séptica biodigestora”,
atualmente na zona rural no Brasil coexistem, além da rede coletora,
o uso de fossa séptica, ligada ou não à rede de esgoto e
predominantemente as fossas rudimentares que são as formas mais
comuns. Por terem custos baixos estas soluções se proliferam no
Brasil, apesar do risco ao meio ambiente e às pessoas.
As
fossas rudimentares, junto com as fossas secas, são consideradas as
formas mais antigas; mais avançadas apenas do que a disposição a
céu aberto que ainda é uma realidade para 7 milhões de brasileiros
segundo a UNICEF. Essas fossas, por serem em sua maioria apenas
buracos no solo para coletar os excrementos humanos, não evitam a
contaminação das águas, superficiais e subterrâneas. Já as
fossas sépticas são unidades de tratamento primário de esgoto nas
quais são feitas a separação e a transformação físico-química
da matéria sólida contida no esgoto. É uma maneira simples e
barata de disposição dos esgotos e indicada, sobretudo, para a zona
rural ou residências isoladas. Se bem cuidada ela evita a
contaminação das águas, apesar de não promover a reciclagem dos
dejetos humanos. Nelas há uma decomposição dos dejetos tornando o
esgoto residual e com menor quantidade de matéria orgânica. Devido
à possibilidade da presença de organismos patogênicos, no entanto,
a parte sólida deve ser retirada através de um caminhão
limpa-fossas e transportada para um aterro sanitário.
Existem
também as tecnologias que usam plantas aquáticas para purificar os
esgotos antes de devolvê-los à natureza. Segundo estudos feitos por
biólogos da Itaipú Binacional, o aguapé, por exemplo, é uma das
plantas capazes de retirar da água quantidades consideráveis de
matéria orgânica e de nutrientes como fósforo e nitrogênio
tornando a planta uma espécie interessante por ser um filtro natural
para tratar o esgoto doméstico. O problema é que é uma tecnologia
impropria para regiões mais secas.
Enquanto
isso, soluções tecnológicas estão aparecendo para ajudar as
localidades rurais e áreas isoladas. Talvez a que está conseguindo
a maior divulgação é a fossa séptica biodigestora, difundida pelo
núcleo de Instrumentação da EMBRAPA de São Carlos. De acordo com
o Dr. Wilson Tadeu Lopes da Silva, especialista da Embrapa, a fossa
séptica biodigestora é um sistema não apenas de coleta, mas também
de tratamento do esgoto de dejetos humanos e que resolve o problema
dos esgotos a céu aberto e das atuais fossas utilizadas em
propriedades rurais. Nela há um processo de biodigestão anaeróbico
feito em caixas d`água enterradas e vedadas sem qualquer problema de
proliferação de insetos e animais peçonhentos; o que não ocorre
com os outros sistemas comparáveis a ela (fossa rudimentar ou fossa
séptica convencional). Esse processo realiza-se através da
decomposição anaeróbica da matéria orgânica digerível por
bactérias que a transforma em biogás e efluente estabilizado e sem
odores, podendo ser utilizado para fins agrícolas. Em suma, o
biodigestor ajuda, a um custo barato, o produtor rural a eliminar os
esgotos e ainda utilizar o efluente como um adubo orgânico.
Apesar
de ser uma solução fácil do ponto da montagem e da disponibilidade
dos materiais (caixas d´água, tubos e conexões de PVC e brita),
logicamente o equipamento deve ser montado sob supervisão técnica
para que possa atingir o melhor desempenho. O custo dependerá dos
preços desses materiais em cada cidade, mas estima-se que pronto o
equipamento sai por menos de R$ 2 mil a unidade. Por tudo isso, as
fossas sépticas biodigestoras tem potencial para se transformar na
melhor solução para o saneamento básico em comunidades isoladas e
área rural.
Em
resumo, a tendência é que o saneamento rural caminhe numa
velocidade menor do que nas áreas urbanas, por toda a complexidade
do baixo adensamento de pessoas tornando inviável a construção das
tradicionais redes de coleta e tratamento. No entanto, as pessoas
dessas áreas merecem o mesmo respeito e responsabilidade do poder
público. Cabe, portanto, ao Governo Federal, prefeitos e
governadores propor soluções para estas áreas, com a mesma atenção
dispensada a elas quando do período eleitoral.
Plano
Nacional de Saneamento Básico-
Fonte:
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
Com
o advento da Lei nº 11.445/07, foi cunhado o conceito de saneamento
básico como o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações
de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e
manejo de resíduos sólidos e drenagem de águas pluviais urbanas.
A
lei definiu também as competências quanto à coordenação e
atuação dos diversos agentes envolvidos no planejamento e execução
da política federal de saneamento básico no País. Em seu art.
52 a
lei atribui ao Governo Federal, sob a coordenação do Ministério
das Cidades, a responsabilidade pela elaboração Plano Nacional de
Saneamento Básico (Plansab).
A
questão do planejamento do setor já foi objeto de vários debates e
do posicionamento do Conselho das Cidades que editou a Resolução
Recomendada nº. 33,
de 1º de março de 2007,estabelecendo prazos e instituindo um Grupo
de Trabalho integrado por representantes do Governo Federal para o
acompanhamento da elaboração do PLANSAB.
O
Grupo de Trabalho Interministerial e o Grupo de Acompanhamento do
Conselho das Cidades (GTI e GA), incumbidos de acompanhar o Plansab,
também participaram das discussões sobre a política e o conteúdo
mínimo dos planos de saneamento básico cujas orientações constam
da Resolução
Recomendada nº 75 aprovada
pelo Concidades.
A
esse aspecto, soma-se o compromisso do País com os Objetivos do
Milênio das Nações Unidas e a instituição de 2009 – 2010 como
o Biênio
Brasileiro do Saneamento (Decreto
nº 6.942/09),
com o propósito de mobilizar para o alcance da meta de, até o ano
de 2015, reduzir pela metade a proporção de pessoas que não contam
com saneamento básico.
Participação
do MMA no Plansab
O
MMA, por intermédio do Departamento de Ambiente Urbano da Secretaria
de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano, integra o Grupo de Trabalho
Interministerial (GTI), na condição de coordenador, na esfera
federal, do Programa Nacional de Resíduos Sólidos do Plano
Plurianual 2008-2011. Do GTI participam, além do MMA: a Casa Civil
da Presidência da República, o Ministério da Fazenda, o Ministério
do Turismo, a ANA, o Ministério da Integração Nacional, a
CODEVASF, o Ministério da Saúde, a FUNASA, o Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, a Caixa Econômica Federal, o
BNDES e o Conselho das Cidades sob a coordenação do Ministério das
Cidades. Incumbe ao GTI coordenar a elaboração e promover a
divulgação do Plansab.
A
título de subsídio, a SRHU/DAU, entre outras ações, promoveu a
realização de uma oficina em 29 de outubro de 2008, em Brasília,
DF. O objetivo da oficina foi de extrair os aspectos fundamentais da
problemática dos Resíduos Sólidos Urbanos – RSU para o
planejamento de curto, médio e longo prazo no âmbito do Plano
Nacional de Saneamento Básico.
Pacto
pelo Saneamento Básico
O
Compromisso pelo Meio Ambiente e Saneamento Básico
Em
decorrência do “Pacto pelo Saneamento Básico”, o Ministério do
Meio Ambiente e o Ministério das Cidades decidiram firmar o
“Compromisso pelo Meio Ambiente e Saneamento Básico” que
consiste em um conjunto de ações em curso ou a serem estruturadas
para atingir metas intermediárias preconizadas pela Lei de
Saneamento Básico até o ano de 2020. Com o objetivo de construir e
contribuir para a definição conjunta de ações e programas de
grande relevância para o setor de saneamento, o “Compromisso”
resulta de uma ampla reflexão sobre as tendências e os desafios
atuais do saneamento básico no Brasil.
Articulação
Institucional entre o MMA e o Ministério das Cidades
A
parceria entre o MMA, por intermédio da SRHU/DAU e da ANA, e o
Ministério das Cidades consolida-se, portanto, por meio dos
seguintes processos:
-
a)
O Ministério do Meio Ambiente é o coordenador do Programa de
Resíduos Sólidos do Governo Federal no PPA 2008-2011 . No GTI, o
MMA, por meio da SRHU, responde pelas questões relacionadas ao
tema;
-
b)
O MMA, por meio da SRHU, atua como Secretaria-Executiva do Conselho
Nacional de Recursos Hídricos, fórum no qual foi criado um Grupo
de Trabalho ligado à Câmara Técnica do Plano Nacional de Recursos
Hídricos. A atuação do GT inaugura um movimento pela integração
entre o CNRH e o Conselho das Cidades, representando um canal capaz
de incorporar as expectativas da área de recursos hídricos no
Plano Nacional de Saneamento Básico;
-
c)
O MMA atua como Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Meio
Ambiente, fórum no qual também está prevista a apreciação do
Plano Nacional de Saneamento Básico;
-
d)
A SRHU é responsável pela formulação da Política Nacional de
Recursos Hídricos e a ANA por sua implementação, política que
mantém importantes interfaces com a Política Federal de Saneamento
Básico;
-
e)
Dentre as suas atribuições, a ANA , exerce a regulação dos
serviços de saneamento básico, por meio da emissão de outorgas
(de uso da água e de lançamento de efluentes) e dos CERTOHs, assim
como da cobrança pelo uso da água.
SANEAMENTO
BÁSICO NO BRASIL: uma realidade terrível-
Fonte
– Terra Notícias
Apesar
de ser a sétima economia do mundo, o Brasil ocupava a 112ª posição
em um conjunto de 200 países no quesito saneamento básico, em 2011,
segundo aponta um estudo divulgado nesta quarta-feira, pelo
Instituto Trata Brasil e pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o
Desenvolvimento Sustentável, durante o fórum Água: Gestão
Estratégica no Setor Empresarial.
O
objetivo do estudo foi apontar benefícios que poderiam ser obtidos
com mais investimentos em saneamento básico, melhorando a qualidade
de vida do brasileiro e elevando a economia do país.
De
acordo com esse trabalho, o Índice de Desenvolvimento do Saneamento
atingiu 0,581, indicador que está abaixo não só do apurado em
países ricos da América do Norte e da Europa como também de
algumas nações do Norte da África, do Oriente Médio e da América
Latina em que a renda média é inferior ao da população
brasileira. Entre eles estão o Equador (0,707); o Chile (0,686) e a
Argentina (0,667). O índice é mensurado com base no Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (Pnud).
Na
última década, o acesso de moradias à coleta de esgoto aumentou
4,1%, nível abaixo da média histórica (4,6%). Em 2010, 31,5
milhões de residências tinham coleta de esgoto. A região Norte foi
a que apresentou a melhor evolução, apesar de ter as piores
condições no país com 4,4 milhões de casas sem coleta. Somente o
estado do Tocantins conseguiu ampliar o atendimento em quase 21%.
No
Nordeste, um universo de 13,5 milhões não contava com esses
serviços e em mais de 6 milhões de lares não havia água tratada.
O maior número de residências sem coleta foi registrado no estado
da Bahia (3,3 milhões), seguido pelo Ceará (1,9 milhão).
No
Sul, mais 6,4 milhões de residências também não contavam com os
serviços de coleta e os estados com os maiores déficits foram: Rio
Grande do Sul (2,8 milhões) e Santa Catarina (1,9 milhão). Já
no Sudeste, com os melhores índices de cobertura, ainda existiam 8,2
milhões de moradias sem coleta.
Segundo
advertem os organizadores do estudo, “a situação do saneamento
tem reflexos imediatos nos indicadores de saúde”. Eles citam que,
em 2011, a taxa de mortalidade infantil no Brasil chegou a 12,9
mortes por 1.000 nascidos vivos, superando às registradas em Cuba
(4,3%), no Chile (7,8%) e na Costa Rica (8,6%).
Outro
efeito direto da precariedade do saneamento, conforme destaca o
estudo, refere-se à expectativa de vida da população (73,3 anos)
em 2011, que ficou abaixo da média apurada na América Latina (74,4
anos). Na Argentina, a esperança de vida atingiu 75,8 anos e no
Chile 79,3 anos.
O
estudo destacou ainda que, se houvesse cobertura ampla do saneamento
básico, as internações por infecções gastrintestinais que,
segundo dados do Ministério da Saúde atingem 340 mil brasileiros,
baixariam para 266 mil. Além da melhoria na qualidade da saúde isso
representaria redução de custo, já que as internações levaram a
um gasto de R$ 121 milhões, em 2013.
Pelos
cálculos desse trabalho, a universalização traria uma economia das
despesas públicas em torno de R$ 27,3 milhões ao ano e mais da
metade (52,3%) no Nordeste. Outros 27,2% no Norte e o restante
diluído nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste.
Conforme
os dados, em 2013, 2.135 vítimas de infecções gastrintestinais
perderam a vida – número que poderia cair 15,5%. A universalização
do saneamento também diminuiria os afastamentos do trabalho ou da
escola em 23% , o que poderia implicar em queda de R$ 258 milhões
por ano. Em 2008, 15,8 milhões de pessoas ou 8,3% da população
brasileira faltaram ao serviço ou às aulas por pelo menos um dia,
sendo que 6,1% ou 969 mil por problemas causados por diarreias.
Deste total, 304,8 mil eram trabalhadores e 707,4 mil frequentavam
escolas ou creches.
Outro
benefício apontado pelo estudo, seria a dinamização do turismo com
a criação de quase 500 postos de trabalho e renda anual de R$ 7,2
bilhões em salários, além de incremento na formação do Produto
Interno Bruto (PIB), que é a soma da riqueza gerada no país, da
ordem de R$ 12 bilhões.
REALIDADE
DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL-
FONTE
IBGE
A
comparação com a PNSB de 1989, quando havia 4.425 municípios,
permite verificar a evolução da cobertura dos serviços de
abastecimento de água por rede geral, de esgotamento sanitário e de
coleta de lixo.O
serviço de drenagem urbana foi incluído na PNSB/2000.
ÁGUA
- Quase todos os municípios brasileiros têm rede de abastecimento
de água
Em
2000, o serviço de abastecimento, prestado por alguma empresa
pública ou privada, alcançou uma proporção de 97,9% dos
municípios do País, enquanto em 1989 abrangia 95,9%. A pesquisa
revelou que 116 municípios brasileiros, ou 2% do total, não têm
abastecimento de água por rede geral; a maior parte deles situada
nas regiões Norte e Nordeste.
No
que se refere aos domicílios brasileiros, no entanto, a cobertura é
de 63,9%, e se caracteriza por um desequilíbrio regional. Na região
Sudeste, a proporção de domicílios atendidos é de 70,5%. Já nas
regiões Norte e Nordeste, o serviço alcança, respectivamente 44,3%
e 52,9% dos domicílios.
A
abrangência do abastecimento de água também varia de acordo com o
tamanho populacional dos municípios: quanto mais populosos forem,
maiores as proporções de domicílios abastecidos. Os menores
municípios apresentam maior deficiência nos serviços e apenas 46%
dos domicílios situados em municípios com até 20 000 habitantes
contam com abastecimento de água por rede geral.
Brasileiro
recebe em média 260 litros de água por dia
Em
2000 foram distribuídos diariamente, no conjunto do país, 0,26 m3 (
ou 260 litros) de água per capita, média que variou bastante entre
as regiões. Na região Sudeste, o volume distribuído alcançou 0,36
m3 per capita, enquanto no Nordeste ele não chegou à metade,
apresentando uma média de 0,17m3 per capita.
A
distribuição de água no conjunto dos 8656 distritos com rede geral
é feita através de 30,58 milhões de ligações prediais, sendo que
25 milhões destas possuem medidores ( hidrômetros). Em comparação
com 1989, o número absoluto de ligações com medidores cresceu
81,8% nacionalmente, refletindo um aumento expressivo em todas as
regiões. A região Sudeste apresenta o mais alto índice de medição,
com 91% das ligações medidas. O índice mais baixo se encontra na
região Norte, com 37% de ligações medidas.
Proporção
do volume de água não tratada cresceu entre 1989 e 2000
Entre
1989 e 2000, o volume total de água distribuída por dia no Brasil
cresceu 57,9%. Em 1989, dos 27,8 milhões de m3 de água distribuídos
diariamente, 3,9% não eram tratados. Em 2000, a proporção de água
não tratada quase dobrou, passando a representar 7,2% do volume
total ( 43,9 milhões de m3 por dia). Vários distritos, porém, são
abastecidos com água subterrânea, como nos estados do Pará ( 89%)
e Rio Grande do Sul (75%), que, embora não tratada, pode ter boa
qualidade.
A
região Norte apresenta um padrão diferente das demais regiões. No
Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste, mais de 90% da água
distribuída recebe algum tipo de tratamento, enquanto no Norte este
percentual é de 67,6%.
A
proporção da água distribuída com tratamento também varia de
acordo com o tamanho da população dos municípios. Naqueles com
mais de 100 000 habitantes, a água distribuída é quase totalmente
tratada. Já nos municípios com menos de 20 000 habitantes, 32,1% do
volume distribuído não recebe qualquer tipo de tratamento.
No
Brasil, 75% do volume de água tratada distribuída sofre o processo
convencional de tratamento, que usa operações de coagulação,
sedimentação e filtração para clarificação da água, seguida de
correção de PH, e desinfecção. A fluoretação, utilizada com o
objetivo de reduzir a cárie dental nas populações, é praticada em
45,7% dos municípios brasileiros. Cerca de 70% dos municípios do
Sul e do Sudeste trabalham com fluoretação; no Nordeste, 16,6% têm
essa prática e no Norte, 7,8%.
O
serviço de abastecimento de água é cobrado dos usuários em 81%
dos distritos abastecidos, tendo como base o consumo medido ou
estimado.
Volume
de água per capita distribuída por dia (em m3)
Região
|
Total
(m3)
|
População
2000
|
Per
Capita
(m3)
|
Com
Tratam.
|
Per
Capita
(m3)
|
Sem
Tratam.
|
Per
Capita
(m3)
|
Brasil
|
43.999.678
|
169.799.170
|
0,26
|
40.843.004
|
0,24
|
3.156.674
|
0,02
|
Norte
|
2.468.238
|
12.900.704
|
0,19
|
1.668.382
|
0,13
|
799.856
|
0,06
|
Rondônia
|
202.914
|
1.379.787
|
0,15
|
149.438
|
0,11
|
53.476
|
0,04
|
Acre
|
73.222
|
557.526
|
0,13
|
71.572
|
0,13
|
1.650
|
0,00
|
Amazonas
|
896.185
|
2.812.557
|
0,32
|
607.310
|
0,22
|
288.875
|
0,10
|
Roraima
|
26.907
|
324.397
|
0,08
|
26.907
|
0,08
|
0
|
0,00
|
Pará
|
968.216
|
6.192.307
|
0,16
|
554.502
|
0,09
|
413.714
|
0,07
|
Amapá
|
132.430
|
477.032
|
0,28
|
130.559
|
0,27
|
1.871
|
0,00
|
Tocantins
|
168.364
|
1.157.098
|
0,15
|
128.094
|
0,11
|
40.270
|
0,03
|
Nordeste
|
7.892.876
|
47.741.711
|
0,17
|
7.386.055
|
0,15
|
506.821
|
0,01
|
Maranhão
|
909.660
|
5.651.475
|
0,16
|
658.792
|
0,12
|
250.868
|
0,04
|
Piauí
|
391.143
|
2.843.278
|
0,14
|
359.682
|
0,13
|
31.461
|
0,01
|
Ceará
|
951.813
|
7.430.661
|
0,13
|
876.933
|
0,12
|
74.880
|
0,01
|
Rio
Gde do Norte
|
659.589
|
2.776.782
|
0,24
|
642.485
|
0,23
|
17.104
|
0,01
|
Paraíba
|
577.532
|
3.443.825
|
0,17
|
563.897
|
0,16
|
13.635
|
0,00
|
Pernambuco
|
1.554.881
|
7.918.344
|
0,20
|
1.545.355
|
0,20
|
9.526
|
0,00
|
Alagoas
|
345.215
|
2.822.621
|
0,12
|
335.971
|
0,12
|
9.244
|
0,00
|
Sergipe
|
318.167
|
1.784.475
|
0,18
|
318.167
|
0,18
|
0
|
0,00
|
Bahia
|
2.184.876
|
13.070.250
|
0,17
|
2.084.773
|
0,16
|
100.103
|
0,01
|
Sudeste
|
26.214.949
|
72.412.411
|
0,36
|
24.752.375
|
0,34
|
1.462.574
|
0,02
|
Minas
Gerais
|
4.244.595
|
17.891.494
|
0,24
|
3.198.390
|
0,18
|
1.046.205
|
0,06
|
Espírito
Santo
|
860.320
|
3.097.232
|
0,28
|
811.213
|
0,26
|
49.107
|
0,02
|
Rio
de Janeiro
|
7.945.281
|
14.391.282
|
0,55
|
7.907.104
|
0,55
|
38.177
|
0,00
|
São
Paulo
|
13.164.753
|
37.032.403
|
0,36
|
12.835.668
|
0,35
|
329.085
|
0,01
|
Sul
|
5.103.209
|
25.107.616
|
0,20
|
4.800.049
|
0,19
|
303.160
|
0,01
|
Paraná
|
1.644.861
|
9.563.458
|
0,17
|
1.605.310
|
0,17
|
39.551
|
0,00
|
Santa
Catarina
|
953.973
|
5.356.360
|
0,18
|
942.811
|
0,18
|
11.162
|
0,00
|
Rio
Grande do Sul
|
2.504.375
|
10.187.798
|
0,25
|
2.251.928
|
0,22
|
252.447
|
0,02
|
Centro-Oeste
|
2.320.406
|
11.636.728
|
0,20
|
2.236.143
|
0,19
|
84.263
|
0,01
|
Mato
Grosso do Sul
|
437.952
|
2.078.001
|
0,21
|
437.712
|
0,21
|
240
|
0,00
|
Mato
Grosso
|
590.120
|
2.504.353
|
0,24
|
567.400
|
0,23
|
22.720
|
0,01
|
Goiás
|
788.307
|
5.003.228
|
0,16
|
730.083
|
0,15
|
58.224
|
0,01
|
Distrito
Federal
|
504.027
|
2.051.146
|
0,25
|
500.948
|
0,24
|
3.079
|
0,00
|
ESGOTO
No
Brasil, 52% dos municípios e 33,5% dos domicílios têm serviço de
coleta de esgoto
O
esgotamento sanitário é o serviço de saneamento básico com menos
cobertura nos municípios brasileiros, embora tenha crescido 10,6%.
Se, em 1989, dos 4.425 municípios existentes no Brasil, 47,3% tinham
algum tipo de serviço de esgotamento sanitário, em 2000, dos 5.507
municípios, 52,2% tinham esgotamento sanitário, o que representa um
crescimento de 10% no período de 1989-2000.
No
Brasil, 33,5% dos domicílios são atendidos por rede geral de
esgoto. O atendimento chega ao seu nível mais baixo na região
Norte, onde apenas 2,4% dos domicílios são atendidos, seguidos da
região nordeste (14,7%), Centro-Oeste (28,1%) e Sul (22,5%). A
região sudeste apresenta o melhor atendimento: 53,0% dos domicílios
têm rede geral de esgoto. Dos 5.507 municípios existentes em 2000,
2.630 não eram atendidos por rede coletora, utilizando soluções
alternativas como fossas sépticas e sumidouros, fossas secas, valas
abertas e lançamentos em cursos d’água (págs. 41 a 45).
Nos
municípios, a desigualdade dos serviços prestados se repete: quanto
maior a população do município, maior a proporção de domicílios
com serviço de esgoto. Os municípios com mais de 300.000 habitantes
têm quase três vezes mais domicílios ligados à rede geral de
esgoto do que os domicílios em municípios com população até
20.000 habitantes. Nos extremos, temos, por exemplo, a cidade de
Baurú, em São Paulo, com uma população de 316.064. Dos 108.677
domicílios existentes, 97.079 estão ligados à rede geral de esgoto
(89,33%). Já o município de Pocrane, em Minas Gerais, a população
é de 9.851 e existem 3.509 domicílios, sendo que somente 5 estão
ligados à rede geral de esgoto (0,14%).
No
Sudeste, as diferenças não são tão marcantes: 58,7% dos
domicílios nos municípios com mais de 300.000 habitantes e 42,1%
dos domicílios nos municípios com até 20.000 habitantes têm rede
geral de esgoto. Já no Nordeste, os municípios com mais de 300.000
habitantes têm 3,4 vezes mais domicílios com rede geral do que os
municípios com 20.000 habitantes. A maior diferença de domicílios
servidos em municípios de grande e pequeno porte encontra-se na
região Centro-Oeste: os municípios com população acima de 300.000
têm 20 vezes mais domicílios com rede geral de esgoto do que os
municípios com 20.000 habitantes (56,7% e 2,6%, respectivamente).
Em
relação ao esgotamento sanitário, 47,8% dos municípios
brasileiros não têm coleta de esgoto. O Norte é a região com a
maior proporção de municípios sem coleta (92,9%), seguido do
Centro-Oeste (82,1%), do Sul (61,1%), do Nordeste (57,1%) e do
Sudeste (7,1%). Nesses casos, os principais receptores do esgoto in
natura não
coletado são os rios e mares, comprometendo a qualidade da água
utilizada para abastecimento, irrigação e recreação.
No
Brasil, dos 52,2% dos municípios que têm esgotamento sanitário,
32,0% têm serviço de coleta e 20,2% coletam e tratam o esgoto. Em
volume, no país, diariamente, 14, 5 milhões m3 de
esgoto são coletados, sendo que 5,1 milhões m3 são
tratados. O Sudeste é a região que tem a maior proporção de
municípios com esgoto coletado e tratado (33,1%), seguido do Sul
(21,7%), Nordeste (13,3%), Centro-Oeste (12,3%) e Norte (3,6%).
Tabela 8 – Proporção de municípios, por condição de
esgotamento sanitário, segundo as Grandes Regiões – 2000
Grandes
Regiões
|
Proporção
de municípios, por condição de esgotamento sanitário (%)
|
Sem
coleta
|
Só
coletam
|
Coletam
e tratam
|
Brasil
|
47,8
|
32,0
|
20,2
|
Norte
|
92,9
|
3,5
|
3,6
|
Nordeste
|
57,1
|
29,6
|
13,3
|
Sudeste
|
7,1
|
59,8
|
33,1
|
Sul
|
61,1
|
17,2
|
21,7
|
Centro-Oeste
|
82,1
|
5,6
|
12,3
|
Dispositivo
tipo câmara, enterrado, destinado a receber o esgoto para separação
e sedimentação do material orgânico e mineral, transformando-o em
material inerte; poço seco escavado em terra, destinado a receber e
acumular todo o esgoto; valas ou valetas por onde escorre o esgoto a
céu aberto em direção a cursos d’água ou ao sistema de
drenagem, atravessando os terrenos das casas ou as vias
públicas;
lançamento do esgoto sem tratamento, diretamente em
rios, lagos, mar, etc.
LIXO
Melhora
o destino final do lixo, cai a participação dos lixões
A
Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000, realizada pelo IBGE,
revela uma tendência de melhora da situação de destinação final
do lixo coletado no país nos últimos anos. Em 2000, o lixo
produzido diariamente no Brasil chegava a 125.281 toneladas, sendo
que 47,1% era destinado a aterros sanitários 22,3 % a aterros
controlados e apenas 30,5 % a lixões. Ou seja, mais de 69 % de todo
o lixo coletado no Brasil estaria tendo um destino final adequado, em
aterros sanitários e/ou controlados. Todavia, em número de
municípios, o resultado não é tão favorável: 63,6 % utilizavam
lixões e 32,2 %, aterros adequados (13,8 % sanitários, 18,4 %
aterros controlados), sendo que 5% não informou para onde vão seus
resíduos. Em 1989, a PNSB mostrava que o percentual de municípios
que vazavam seus resíduos de forma adequada era de apenas 10,7 %.
Os
números da pesquisa permitem, ainda, uma estimativa sobre a
quantidade coletada de lixo diariamente: nas cidades com até 200.000
habitantes, são recolhidos de 450 a 700 gramas por habitante; nas
cidades com mais de 200 mil habitantes, essa quantidade aumenta para
a faixa entre 800 e 1.200 gramas por habitante. A PNSB 2000 informa
que, na época em foi realizada, eram coletadas 125.281 toneladas de
lixo domiciliar, diariamente, em todos os municípios
brasileiros. (na
publicação veja as páginas 309 e 310).
As
13 maiores cidades são responsáveis por 31,9% de todo o lixo urbano
brasileiro
Dos
5.507 municípios brasileiros, 4.026, ou seja 73,1%, têm população
até 20.000 habitantes. Nestes municípios, 68,5% dos resíduos
gerados são vazados em lixões e em alagados. Se tomarmos,
entretanto, como referência, a quantidade de lixo por eles gerada,
em relação ao total da produção brasileira, a situação é menos
grave, pois em conjunto coletam somente 12,8 % do total brasileiro
(20.658 t/dia). Isto é menos do que o gerado pelas 13 maiores
cidades brasileiras, com população acima de 1 milhão de
habitantes. Só estas, coletam 31,9 % (51.635 t/dia) de todo o lixo
urbano brasileiro, e têm seus locais de disposição final em melhor
situação: apenas 1,8 % (832 t/dia) é destinado a lixões, o
restante sendo depositado em aterros controlados ou
sanitários. (páginas
283, 284, 297 e 298)
De
2.569 cidades vazam o lixo hospitalar no mesmo aterro dos resíduos
urbanos. Em 2000, a situação de disposição e tratamento dos
resíduos sólidos de serviços de saúde (RSS) melhorou, com 539
municípios encaminhando-os para aterros de resíduos especiais (69,9
% próprios e 30,1 % de terceiros), enquanto em 1989 apenas 19
municípios davam este destino aos resíduos sólidos. Em número de
municípios, 2.569 depositam nos mesmos aterros que os resíduos
comuns, enquanto 539 já estão enviando-os para locais de tratamento
ou aterros de segurança. A pesquisa mostra, também, que, entre os
municípios com mais de 500.000 habitantes que destinam o lixo
séptico em vazadouros a céu aberto, estão Campo Grande (MS), São
Gonçalo (RJ), Nova Iguaçu (RJ), Maceió (AL) e João Pessoa
(PB). (Páginas
315 e 316).
Drenagem
Urbana
Todos
os municípios com mais de 300 mil habitantes têm sistema de
drenagem. A PNSB 2000 revela que 78,6% dos municípios do Brasil
possuem sistema de drenagem das chuvas, importante para prevenir
inundações e alagamentos. É a primeira vez que este tipo de
serviço é estudado na pesquisa. Segundo as informações coletadas,
a região mais bem atendida é a Sul (94,4% dos municípios têm o
sistema), e a menos atendida é a Norte (49,4%). No Sudeste, onde se
concentra mais da metade da população nacional, 88,1% dos
municípios têm rede de drenagem. Os dados mostram que a existência
de redes é mais freqüente nas áreas mais desenvolvidas. (veja
publicação págs. 45 a 49)
Todos
os 66 municípios com mais de 300 mil habitantes possuem sistema de
drenagem. Eles correspondem a 1,6% do total de municípios e somam 60
milhões de habitantes (a população brasileira é de 169 milhões,
segundo o Censo 2000). Do lado oposto, com o menor percentual, estão
os municípios com até 20 mil habitantes: 74,8% possuem o sistema.
Quanto maior a população de um município, maior a probabilidade de
ter rede de drenagem.
O
serviço de drenagem é executado pelas prefeituras municipais em
99,8% dos casos. A PNSB não avaliou a eficiência e sim a existência
ou não de rede, independentemente de sua extensão.
Aterro
sanitário – técnica de disposição do lixo, fundamentado em
critérios de engenharia e normas operacionais específicas, que
permite a confinação segura em termos de controle da poluição
ambiental e proteção à saúde pública.
Aterro
controlado – local utilizado para despejo do lixo coletado, em
bruto, com cuidado de, após a jornada de trabalho, cobri-lo com uma
camada de terra, sem causar danos ou riscos à saúde pública e a
segurança, minimizando os impactos ambientais
Lixão
ou Vazadouro a céu aberto – disposição final do lixo pelo seu
lançamento, em bruto, sobre o terreno sem qualquer cuidado ou
técnica especial. Vazadouro em áreas alagadas – disposição
final do lixo pelo seu lançamento, em bruto
Instrumentos
reguladores — Apesar do alto percentual de municípios que possuem
rede, em 73,4% deles não há instrumentos reguladores do sistema,
itens importantes no planejamento dos sistemas de drenagem. Esses
instrumentos podem ser, por exemplo, a legislação municipal, a Lei
de uso e ocupação do solo, um plano diretor ou plano urbanístico
global. O Sul é a região onde há maior número de municípios com
instrumentos reguladores (43,2%), enquanto o Nordeste fica com o
menor número (13,4%). (Tabela
70, página 225)
Entre
as capitais, não possuem nenhum tipo de instrumento regulador Rio
Branco, Belém, João Pessoa e Recife.
Dos
municípios com instrumentos reguladores, 22,5% possuem plano
diretor, um estudo de aspectos físicos da região, considerado um
passo importante para a eficiência do sistema. A maioria (57,7%) dos
municípios com instrumentos reguladores usa a Lei de uso e ocupação
do solo como regulamentação.
Tipos
de rede – A rede de drenagem pode ser subterrânea ou
superficial. Em 85,3% dos municípios que têm rede, ela é do tipo
subterrânea. E entre os que possuem rede subterrânea, 21,8% têm
rede unitária (usada ao mesmo tempo para transportar o esgoto) e
81,8%, separadora (considerada a ideal, usada para transportar
somente água das chuvas). O Nordeste é a região com maior
porcentagem de redes unitárias (46,9%). (tabela
73, página 231)
A
maioria (75,7%) dos municípios que têm sistema de drenagem utiliza
os cursos d’água permanentes (lagos, rios, córregos, riachos,
igarapés) como corpos receptores, ou seja, é neles que as águas
captadas são despejadas. Os reservatórios de acumulação,
considerados uma das principais alternativas para minimizar os riscos
de inundações, são usados por 7,5% dos municípios, sendo
encontrados com mais freqüência no Centro-Oeste (9,8%), Sul (9,7%)
e Sudeste (8,3%). (tabela
76, página 237).
Legislação
municipal ou da Região Metropolitana – leis que determinam e
definam as políticas setoriais, os financiamentos e os mecanismos
para o planejamento das ações no setor.
Lei
de Uso e Ocupação de Solo – Regula o uso da terra, a densidade
populacional, a dimensão, finalidade e o volume das construções no
município. Essa lei tem como objetivo atender a função social da
propriedade e da cidade.
Plano
Diretor de Drenagem Urbana – é voltado para a orientação
racional do desenvolvimento físico do município no que diz respeito
à drenagem urbana, visando orientar o crescimento, estimular e
ordenar as atividades ligadas à rede de captação pluvial.
Plano
Urbanístico Global Para a Área Urbana – define as diretrizes para
a intervenção urbanística na área urbana, levando em consideração
o uso e ocupação do solo, seu objetivo e dimensão.
FRATERNIDADE,
MEIO AMBIENTE E ECUMENISMO:
Dom Demétrio Valentini, Bispo Emérito de Jales
Em
boa hora, está chegando a quaresma deste ano. Ela sempre proporciona
um tempo favorável para a reflexão, motivando-nos a enfrentar os
desafios da vida.
Desta
vez, com a persistência da crise que envolve o mundo com suas
ameaças de agravamento, mais ainda a quaresma faz perceber a
validade de suas advertências.
Para
reforçar este clima de seriedade, já há mais de meio século que a
Igreja nos convida, no tempo da quaresma, para a Campanha da
Fraternidade.
Neste
ano de 2016, a Campanha é ecumênica, promovida não só pela Igreja
Católica, mas também por diversas outras denominações cristãs,
destacando-se a Igreja Evangélica Luterana, a Igreja Episcopal
Anglicana do Brasil, a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, e a
Igreja Ortodoxa de Antioquia.
O
tema escolhido tem nítidas conotações ecológicas. “Casa Comum,
nossa responsabilidade”
E
o lema, expresso por palavras típicas do linguajar bíblico: “Quero
ver o direito brotar como fonte, e correr a justiça qual riacho que
não seca”, tiradas do Profeta Amós.
Como
objetivo, a Campanha propõe metas bem concretas: “assegurar o
direito ao saneamento básico para todas as pessoas e empenharmo-nos,
à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis, que
garantam a integridade e o futuro de nossa Casa Comum”. Portanto,
uma campanha com propostas bem concretas.
Mas
o que de imediato chama a atenção, são as duas motivações, muito
atuais, que a Campanha entrelaça, fortalecendo seu dinamismo: o meio
ambiente, e a abertura ecumênica.
Estas
duas motivações servem de combustível, a dar vigor e consistência
aos objetivos propostos. O primeiro incentivo é dado pelo
ecumenismo. Já é significativa a tradição que vem se firmando, de
promover, de cinco em cinco anos, uma Campanha da Fraternidade
ecumênica. E vale lembrar que nasceu do ecumenismo o primeiro
movimento de adesão e de entusiasmo diante da proposta de João 23
de realizar um concílio.
O
surpreendente entusiasmo pela proposta de um concílio para superar
as rupturas eclesiais, foi suscitando de início um processo de
superação das hostilidades, mas depois experimentou as resistências
que brotaram dos preconceitos sedimentados ao longo de séculos.
Mas
a insistente proposta de reaproximação das Igrejas, pode contar,
para esta Campanha, com boas notícias. No ano que vem se completam
500 anos da Reforma Protestante, no dia 31 de outubro. Por ocasião
desta data, já está definido um grande encontro ecumênico, no
contexto histórico dos países nórdicos da Europa, onde a Reforma
Protestante encontrou acolhida profunda. O Papa Francisco já
confirmou sua presença, e isto dá ao fato, certamente, uma dimensão
mais ampla.
Da
parte das Igrejas Ortodoxas também estão chegando boas notícias.
Finalmente vai se realizar, na Ilha de Creta, o “sínodo
pan-ortodoxo”, reunindo os patriarcados ortodoxos, sob a liderança
do Patriarcado de Constantinopla.
A
outra motivação, de ordem ecológica, conta com o embalo da última
reunião, em Paris, sobre a defesa do planeta terra, nossa “casa
comum”. Esta motivação também recebeu um impulso especial pela
recente encíclica “Laudato Si”, dedicada toda ela à questão da
preservação do meio ambiente.
Portanto,
vamos ter uma Campanha da Fraternidade com um tema muito pertinente,
animado por motivações ecumênicas e ecológicas que lhe dão
sustentação. Uma campanha oportuna, que chega num tempo de
evidentes urgências.