O beato João XXIII proclamou-o padroeiro do Concílio Vaticano II
É o mais conhecido dos Padres da Igreja grega. Nasceu em Antioquia, Síria. Educado pela mãe, Santa Antusa, viveu vida monástica dentro de casa, nos anos de sua juventude. Quando morreu sua mãe, retirou-se para o deserto e aí permaneceu seis anos, dos quais os dois últimos passou no retiro solitário em uma caverna, em detrimento da saúde física.
Foi ordenado sacerdote pelo bispo Fabiano, em Antioquia. Os sermões de João duravam horas inteiras, por isso o chamavam de Crisóstomo (“Boca de ouro”). As multidões se acotovelavam para ouvir seus sermões. Em 398 foi chamado para substituir o patriarca Netário em Constantinopla.
Aí criou hospitais, promoveu procissões contra a heresia ariana; pregava sermões “de fogo” com que atacava os vícios e as friezas, severas advertências aos monges indolentes e aos eclesiásticos dominados pela riqueza. Teve muitas lutas com a corte bizantina, o imperador Acádio e a imperatriz Eudóxia.
O ano de 387 foi “o ano heroico” de João, o da chamada “revolta das estátuas”. O povo derrubou as estátuas imperiais, em sinal de protesto contra o aumento das taxas. Ele pronunciou as suas 22 vibrantes homilias sobre as estátuas.
Como patriarca da capital do Império, viu-se com frequência envolvido em questões e intrigas políticas. Outro pretexto contra ele foi a presença de alguns monges egípcios, excomungados pelo patriarca Teófilo de Alexandria que se refugiaram em Constantinopla. Denunciava os pecados dos ricos e da corte, amava os pobres; era amado pelo povo, embora odiado pelo imperador e pela imperatriz. Dizia a verdade e não temia os poderosos. Um fato o colocou em desgraça com a corte imperial. Um ministro poderoso chamado Eutrópio caiu em desgraça diante de Arcádio e Eudóxia; Eutrópio, perseguido, refugiou-se na basílica de Santa Sofia, invocando o direito de asilo que ali existia. São João Crisóstomo o defendeu e protegeu contra o imperador e a imperatriz. Além do mais Crisóstomo incomodava o alto clero em sua vida fácil e cortesã, acusando-os de simonia, e os monges que andavam rompidos com seus conventos. Denunciava os desvios morais das damas.
São João Crisóstomo tinha um forte inimigo, o bispo de Alexandria, o orgulhoso Teófilo, que esperava ser o patriarca de Constantinopla no lugar seu lugar. Teófilo se uniu a Eudóxia contra São João, de modo que num falso sínodo em Carvalho, 36 bispos inimigos de São João, o depuseram (“Conciliábulo de Carvalho”), em 403. Então, o imperador Arcádio o exilou na Bitínia com grande dificuldade, enfrentando o povo. Após este primeiro exílio houve um forte tremor de terra em Constantinopla que a imperatriz Eudóxia interpretou como um sinal do céu em favor de São João; o fez voltar do exílio. O patriarca foi aclamado pelo povo e recebido por cerca de trinta bispos.
Mas as intrigas contra o santo continuaram. Em 404 houve a expulsão dos presbíteros encarregados dos Batismos na Vigília pascal, o que marcou o reinício da perseguição a Crisóstomo e dos seus seguidores, os chamados “Joanitas”. Na ocasião da inauguração **bacanalesca** de uma imagem de Eudóxia, o patriarca criticou a imoralidade. E São João foi exilado a segunda vez na Ásia. O Papa Inocêncio I (401-417) informado por São João, condenou as decisões do “Conciliábulo de Carvalho”; mas não podia fazer muito e Arcádio fez o santo desaparecer no Cáucaso, em 406, em Cucusa, na Armênia. O deslocamento extenuante de Cucusa para Pytius, foi feito para impedir as visitas dos fiéis. Do exílio escreveu comovedoras e numerosas cartas onde manifestava as suas preocupações pastorais.
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São João Crisóstomo morreu neste segundo exílio, de maus tratos, em 14 de setembro de 407, em Comano no Ponto. Era o dia da Exaltação da Santa Cruz. Sua morte se deu numa capela dedicada ao mártir São Basilisco, que na noite anterior à sua morte lhe apareceu em sonho e disse: “Coragem, meu irmão João, amanhã estaremos juntos”. Foi sepultado ao lado do mártir (Palladio, Vita 119).
É considerado mártir da Igreja. Morreu dizendo: “Seja dada glória a Deus em tudo”. O bispo Proclo obteve do imperador o translado do corpo de São João para Constantinopla; as relíquias chegaram em 21 de janeiro de 438 recebidas por milhares de barcos iluminados.
A sua reabilitação aconteceu em 438 com Teodósio II (408-450). O próprio Teodósio II, apesar de tudo, presidiu a deposição das relíquias na Basílica dos Santos Apóstolos, túmulo dos reis, em Constantinopla, e depois transladadas em 1204 para Roma, para a primitiva Basílica constantiniana, e agora estão na capela do Coro dos Cônegos da Basílica de São Pedro. Em 24 de Agosto de 2004 uma considerável parte delas foi doada pelo Papa João Paulo II ao Patriarca Bartolomeu I de Constantinopla. A memória litúrgica do santo celebra-se a 13 de setembro. O beato João XXIII proclamou-o padroeiro do Concílio Vaticano II.
Crisóstomo coloca-se entre os Padres mais fecundos: dele chegaram até nós 17 tratados, mais de 700 homilias autênticas, os comentários a Mateus e a Paulo (Cartas aos Romanos, aos Coríntios, aos Efésios e aos Hebreus), e 241 cartas. Não foi um teólogo especulativo, mas transmitiu a doutrina tradicional e segura da Igreja numa época de controvérsias teológicas por causa do arianismo, isto é, a negação da divindade de Cristo.
São numerosos os escritos do santo: Sobre o Sacerdócio, Exortação a Teodoro I e II, Tratado sobre a compunção, Comentário à primeira e segunda Carta aos Coríntios; Contra os adversário da vida monástica, Da incompreensibilidade de Deus, Da providência de Deus; Cartas a Olympia e muitas homilias que chegaram a nós. Foi proclamado pelo Papa São Pio X, padroeiro dos pregadores. (Arrarás, 1983). Gostava de lembrar aos fiéis: “Nunca te esqueças de que Deus fez de ti seu amigo”. (João Crisóstomo, n. 27/1 e 2, (2010).
Próximo da morte, escreveu que o valor do homem consiste no “conhecimento exato da verdadeira doutrina e na retidão da vida” (Carta do exílio).
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