Dom Genival Saraiva
Administrador Apostólico da Arquidiocese da Paraíba
“Pode durar 70 anos nossa vida, os mais fortes talvez cheguem a 80”. (Sl 89, 10) O salmista sabia qual era a média de idade da população de seu tempo e, assim, identificava a exceção de se chegar aos 70 ou 80 anos. O Arcebispo Emérito da Arquidiocese da Paraíba, Dom José Maria Pires, é uma exceção diante da constatação do salmista. Estudos dessa natureza são realizados por governos e instituições da sociedade, identificando a elevação da longevidade da população, como ocorre no Brasil.
Também sob esse aspecto, Dom José é um exemplo porque já chegou aos 97 anos. Todavia, a grande exceção diz respeito à sua vida sacerdotal. Com efeito, ordenado no dia 20 de dezembro de 1941, celebra 75 anos de ordenação sacerdotal. Não são muitos os sacerdotes que registram essa longevidade sacerdotal em seu “curriculum vitae”.
A Arquidiocese da Paraíba tem uma razão especial para agradecer a Deus a longeva vida sacerdotal de Dom José porque o teve como seu Arcebispo durante 30 anos. Nomeado Arcebispo da Paraíba em 1965, toma posse em 1966 e tem acolhido o seu pedido de renúncia ao governo da Arquidiocese em 1995. Ao chegar à Arquidiocese da Paraíba, disse em 1966: “Ao pisar pela primeira vez o solo paraibano, parece-me ouvir o eco das palavras dirigidas pelo Senhor a Moisés: ‘Tira as sandálias dos teus pés porque é santa a terra em que pisas’. (...) Por isso, deponho as sandálias do humano, do terreno e do transitório e suplico a Deus que me revista de sua graça e me robusteça com sua força para que eu penetre nos teus umbrais como mensageiro da paz, da justiça e do amor. (...) Paraibanos, minha primeira saudação há de ser à primeira Dama do Estado da Paraíba, àquela que assistiu a fundação da cidade, àquela que antes da fundação da cidade assistiu à fundação do Cristianismo porque ela é a Mãe de Cristo e Mãe da Igreja, a Senhora das Neves”.
Em sua vida de ministro ordenado, foi um pastor muito identificado com o povo. Na verdade, não se pode conceber vida sacerdotal sem essa marca de identificação com a vida do povo. A raiz dessa vinculação está em sua própria origem e na razão de ser de sua vida ministerial, como ensina a Carta aos hebreus. “Todo sumo sacerdote é escolhido entre os homens e nomeado representante deles diante de Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. Assim, ele é capaz de ser compassivo com os ignorantes e com os que erram, porque ele também está sujeito à fraqueza. Por isso, deve oferecer sacrifícios, tanto pelos próprios pecados como pelos pecados do povo. E ninguém pode atribuir a si mesmo essa dignidade, senão quem foi chamado por Deus, como Aarão” (Hb 5, 1-4). O traço humano, a origem geográfica e a fonte divina da vocação encontram-se na história de cada sacerdote. Em Dom José Maria Pires estes elementos são visíveis: a negritude, a mineirice, a fidelidade. Os 75 anos de vida sacerdotal confirmam que foi escolhido por Deus entre meninos simples, humildes, pobres e religiosos de Córregos (MG). Claramente identificado com suas origens humana e geográfica, sempre esteve identificado com o lugar do exercício de pastoreio como sacerdote e bispo. A população, de muitas maneiras, vê a identificação de Dom José com a realidade de seu sofrimento e o universo de suas aspirações. Numa leitura institucional, a Arquidiocese da Paraíba, a Província Eclesiástica da Paraíba e o Regional Nordeste 2 reconhecem em Dom José Maria Pires a figura do bom Pastor, como Jesus apresenta no Evangelho.
Dom José Maria Pires continuará sendo lembrado como homem de oração e ação, como profeta, como servidor. A Ação de Graças por seu jubileu sacerdotal está na mente, no coração e nos lábios em oração do povo de Deus que constitui a Arquidiocese da Paraíba. Essa Ação de Graças é acompanhada de uma invocação a Nossa Senhora das Neves para que ele chegue aos desejados 113 anos!
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