Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará
Tenho encontrado vários presépios, preparados com carinho em lugares diferentes, de forma muito criativa. Na Fazenda da Esperança, em Belém, eu me deparei com um espelho sobre a manjedoura. Todas as pessoas que o veem se sentem provocadas a ser parecidas com Jesus Menino! E vi presépios feitos por crianças, por sinal, os mais bonitos, vi presépios com mãos de artistas renomados, contemplei presépios nas vitrines do Comércio. Descobri, mais uma vez, que o Espírito Santo inspirou este meio de Evangelização, que atravessa os séculos. Atrás de cada Presépio há uma leitura do Evangelho, e atrás de cada leitura do Evangelho há sempre ação do mesmo Espírito Santo que conduz à proclamação do senhorio de Jesus Cristo.
Resolvi, então, montar o meu Presépio com palavras, imagens e experiências pessoais e de tanta gente de fé. Nele, como alguns encontrados em cidades mineiras, entra de tudo! Você pode chegar de ônibus ou de carro, há televisão, muito mais animais do que os que estão montados em nossas cidades. A primeira proposta é de que todo mundo pode chegar perto. Presépio é "casa" de Jesus, Maria e José, e, por isso, cabem todos. Venham de todas as partes! Parece-me ouvir o convite feito por Jesus, numa de suas parábolas: "Sai depressa pelas praças e ruas da cidade. Traze para cá os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. E quando o servo comunicou: Senhor, o que mandaste fazer foi feito, e ainda há lugar, o senhor ordenou ao servo: Sai pelas estradas e pelos cercados, e obriga as pessoas a entrar, para que minha casa fique cheia" (Lc 14, 21-23). Os arredores de Belém de Judá se ampliem para a nossa Belém do Pará, para dizer que as pessoas mais machucadas, ou pecadoras e afastadas, todas são convidadas para compor o Presépio. Os Presépios que acrescentaram tantas coisas que não existiam no tempo do primeiro deles são sinais de que não parou de chegar gente, e todos os meios de transporte valem!
Ao Presépio de antanho, acorreram pastores que cuidavam de seus rebanhos. Mais tarde, chegaram até sábios do Oriente! Todas as profissões são bem vindas. Jesus precisa de todos. Vamos enfeitar o Presépio com uniformes de trabalho, com gente que procura trabalho e emprego, com a mão de obra qualificada pelos dons que Deus concedeu a cada homem e cada mulher. E não podem faltar as crianças, pois é de sua boca que sai o louvor perfeito (Cf. Mt 21, 16). Venham todas, como uma revoada de pássaros, para compor o Presépio conosco.
Cada pessoa pode trazer alguma coisa (Cf. Lc 2, 1-20). Nas mãos de alguns estarão as palhas recolhidas pelos campos. E palha para nós expressa nossas palmeiras, nossas florestas e toda a vegetação amazônica! Se alguém quiser, pode trazer um pouco de açaí! O Menino é pequeno, mas Maria e José fazem gosto!
Outros podem trazer a luz, seja do jeito que for. Traga, você também, aquilo que lhe é mais caro, as coisas que atraem seu coração, porque no Presépio a linguagem é do coração. Lembra-se daquele brinquedo de criança, ou uma carta, poesia ou canção que até hoje suscita emoção? Traga tudo, com alegria e generosidade, pois há mais alegria em dar do que em receber! (Cf. At 20, 35) Não tenha receio de entrar!
Ah! Alguém pode trazer uma manjedoura (Cf. Lc 2, 7), feita da madeira dura que encontrar por aí! De repente, pode ser um coração duro ou uma cara fechada, que se abre num sorriso e tira lá de dentro a beleza maior que Deus plantou. Serve para fazer o lugar em que Jesus vai repousar.
Podem vir todos os animais, não só o burro e a vaquinha de Presépio, esta tão delicada que se tornou modelo de quem aceita tudo! Os animais foram feitos por Deus, e são acolhidos e vêm a ser bem tratados. Com eles, venha a nossa natureza, os bichos das nossas florestas. Tenham lugar entre nós, enfeitem e aqueçam o Presépio. Nosso Presépio tem também o galo, aquele que deve ter cantado numa das vigílias da noite (Cf. Mc 13,35), tanto que ganhou uma Missa com seu nome. Seu canto nos lembra que Jesus nasceu e nele encontramos todas as pessoas que nos contaram as histórias de Natal, desde a nossa infância, às vezes misturando-as com lendas tão enfeitadas que nos deixavam boquiabertos!
A cena está preparada e podem entrar Maria e José, tão simples e misteriosos! Parecem até tímidos diante de tanta festa! É que a cena dos arredores de Belém se ampliou, pois o mundo todo, por nós representados, está ali, suplicante. De fato "quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que eram sujeitos à Lei, e todos recebermos a dignidade de filhos. E a prova de que sois filhos é que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abá, Pai!” (Gl 4, 4-6). Nosso Presépio está preparado, pois os dois, a Virgem escolhida, bendita entre todas as mulheres (Cf. Lc 1, 42), e José, o justo (Cf. Mt 1, 19), viveram de tal forma a aventura da fé que continuam presentes na Igreja e na História, como sinais da preparação ao nascimento de Jesus.
Que venha o Salvador! Que nasça entre nós o Redentor dos homens, do qual não temos medo (Cf. Lc 2, 10). De todos os recantos venham as crianças para levar ao Presépio a imagem do Menino Deus. Que sejam abençoadas todas as imagens e as figuras do Menino Jesus feitas por este mundo afora. Ele tem a face de cada povo, expressa o coração de cada raça, torna-se espelho que reflete toda a esperança da humanidade. Ninguém resista a Ele, mas todos se abram ao seu amor e à misericórdia que se faz presente, "pois a graça salvadora de Deus manifestou-se a toda a humanidade. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver neste mundo com ponderação, justiça e piedade, aguardando a ditosa esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Cristo Jesus. Ele se entregou por nós, para nos resgatar de toda iniquidade e purificar para si um povo que lhe pertença e que seja zeloso em praticar o bem" (Tt 2, 11-14).
Que venham os Anjos, para cantarmos juntos no Presépio de hoje e de sempre: "Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz aos homens por ele amados" (Lc 2, 14). O Natal seja verdadeiro e santo!
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