Dom
Vilson Dias de Oliveira, DC
Bispo
Diocesano de Limeira, SP
“Convertei-vos e crede no Evangelho”
Leituras:
Joel 2, 12-18; Salmo 50 (51), 3-4.5-6a.12-13.14 e 17; Segunda Carta
de São Paulo aos Coríntios 5, 20-6,2; Mateus 6, 1-6.16-18.
COR
LITÚRGICA: ROXA
Durante
o canto, entra a cruz, sem a Imagem do Crucificado. Se ela for muito
grande já poderá estar ao lado da Mesa da Palavra. Todos os atos
penitenciais, durante a Quaresma, serão feitos diante deste sinal.
Nas comunidades onde não tem esta missa de cinzas, a cruz poderá
entrar no refrão orante do 1º Domingo da Quaresma.
Misericordioso
é Deus! Sempre, sempre o cantarei!
Animador:
Com esta celebração das Cinzas, iniciamos o Tempo da Quaresma. É
um tempo de conversão. Conversão autêntica implica o cumprimento
de todas aquelas obras que são próprias do Tempo da Quaresma: a
esmola, a oração, o jejum. Contudo, elas não devem ser vividas
apenas como cumprimento exterior, mas como expressão de encontro
íntimo com Deus e com o próximo.
Todos
os anos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
apresenta a Campanha da Fraternidade como caminho de conversão
quaresmal, como itinerário do cultivo e do cuidado comunitário e
social.
O
Tema da CF deste ano de 2017 é: “Fraternidade: Biomas Brasileiros
e defesa da vida”, com o lema: “Cultivar e guardar a criação”
(Gênesis 2,15). Que Deus derrame o seu Espírito sobre nós para que
possamos viver esta conversão que o Senhor espera de nós.
1.
Situando-nos brevemente
Quaresma
é o tempo que nos encaminha para a Páscoa. “A liturgia quaresmal
prepara para a celebração do mistério pascal tanto dos
catecúmenos, fazendo-os passar por diversos degraus da iniciação
cristã, como os fiéis que recordam o próprio Batismo e fazem
penitência” (Normas universais do Ano Litúrgico e do Calendário
Romano Geral, n.27). É um tempo em que fazemos caminhos para a
Páscoa, motivados pela Palavra e unidos aos sentimentos de Jesus
Cristo, cultivando a oração, o amor a Deus e a solidariedade
fraterna” (CNBB. Campanha da Fraternidade 2017: Texto-Base.
Brasília: Edições CNBB, 2016, n.11)
A
Quaresma como caminhada rumo à celebração pascal, da morte e
ressurreição de Jesus Cristo, é marcada pelo espírito penitencial
e de conversão. Por esta razão, o início da caminhada quaresmal é
marcada pelo rito da imposição das cinzas sobre a cabeça dos
fiéis. Um antigo ritual com o qual os pecadores arrependidos de seus
pecados manifestavam seu arrependimento e penitência. O gesto do
cobrir-se de cinzas expressa o reconhecimento da própria condição
humana (Lembra-te que és pó e em pó te hás de tornar), que
necessita ser redimida pela misericórdia de Deus. Longe de ser um
gesto meramente exterior, a Igreja o conservou como símbolo da
atitude do coração penitente que cada pessoa é chamada a assumir
no itinerário quaresmal (Diretório sobre piedade Popular e
Liturgia, .125)
Receber
as cinzas, neste dia, significa confirmar nossa fé na Páscoa de
Cristo, na reconciliação, na esperança de um dia estar na comunhão
do Ressuscitado. Participar do rito da imposição das cinzas
expressa o compromisso com a prática das virtudes cristãs.
Nesse
dia, a Igreja Católica no Brasil abre a Campanha da Fraternidade:
“Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”, tendo como
lema: “Cuidar e guardar a criação” (Gn 2, 15). A CF 2017 tem
como objetivo: “Cuidar da criação, de modo especial dos biomas
brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida
e a cultura dos povos, à luz do Evangelho” (CNBB. Campanha da
Fraternidade 2017: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2016.
Objetivo geral, p.16).
O
que suplicamos ao Pai pela Oração da CF 2017, aconteça em nossas
comunidades e em terras do Brasil: “Deus, nosso Pai e Senhor, nós
vos louvamos e bendizemos, por vossa infinita bondade. Criastes o
universo com sabedoria e o entregastes. Criastes o universo com
sabedoria e o entregastes em nossas frágeis mãos para que dele
cuidemos com carinho e amor. Ajudai-nos a ser responsáveis e zelosos
pela Casa Comum. Cresça, em nosso imenso Brasil, o desejo e o
empenho de cuidar mais e mais da vida das pessoas, e da beleza e
riqueza da criação. Alimentando o sonho do novo céu e da nova
terra que prometestes. Amém!” (Oração da Campanha da
Fraternidade 2017. In CNBB Campanha da Fraternidade 2017: Texto-Base.
Brasília: Edições CNNN, 2016, p.135).
2.
Recordando a Palavra
No
começo da caminhada quaresmal, Jesus nos dirige sua palavra
convidando-nos a seguir com ele o caminho em direção à Páscoa.
Sua Palavra, que chega até nós pelo Evangelho de Mateus, situa-se
no centro do “discurso da montanha” (cap. 5-7), o primeiro dos
cinco grandes discursos de Jesus, assinalados por este evangelista.
Esta passagem tem como conteúdo o anúncio inicial da proclamação
do novo povo de Deus, da nova aliança que se cumpre em Jesus, o
Salvador.
Pela
escuta da palavra do Mestre e pela acolhida da misericórdia divina
revelada em Jesus, superam-se a falsidade e a infidelidade,
constitui-se o novo povo de Deus. É nesta perspectiva que podemos
compreender a palavra do Evangelho proposto para a celebração da
Quarta-feira de Cinzas: os cristãos são chamados pelo Mestre a
assumirem, com fidelidade, as obras de justiça no relacionamento com
o próximo: a esmola; para com Deus: a oração; para consigo mesmo:
o jejum.
A
esmola, a oração e o jejum são antigos exercícios da ascese
espiritual. Eles sempre foram retomados e recomendados pelos mestres
a seus seguidores. Contudo, ao longo dos tempos, estas prescrições
foram perpassadas pelo formalismo exterior, ou se transformaram em um
sinal de superioridade social (Lc 18, 9-14). Jesus também retoma
tais exercícios e, para que responsam à sua finalidade essencial,
os enquadra na relação de intimidade com o Pai e com os discípulos.
O
evangelista ressalta o contraste entre a prática sugerida por Jesus
a dos fariseus e escribas. Para estes, tuas práticas eram expressão
da observância da Lei em vista da recompensa, mesmo que não
correspondem a uma atitude interior. Para Jesus, a esmola, a oração
e o jejum simbolizam a fidelidade e a comunhão do novo povo com
Deus, torna-se fonte de conflitos entre as pessoas. A recompensa
anunciada por Jesus não é a correspondência entre prestação de
serviço e pagamento. Ela é dom divino, salvação. Ela é o reino
prometido e oferecido a quem, na obediência, abre-se às exigências
de sua novidade.
O
profeta Joel, diante das plantações devastadas pela praga dos
gafanhotos, reflete com o povo sobre a exigência de uma nova vida. A
devastação era um sinal da proximidade do dia do Senhor. O profeta
incentiva o povo ao cuidado da terra devastada e convoca todos à
conversão, à penitência e à mudança de vida. Isto não pode ser
algo apenas exterior, aparente e sem consequências práticas, mas
deve significar uma transformação radical rumo a Deus.
O
Salmo 50 (51) constitui uma grande súplica pela libertação da
desgraça pessoal e social causada pelos pecados. O canto desse salmo
reflete a consciência contrita do pecador e sua confiança na ação
misericordiosa de Deus. É ela quem gera um coração novo e imprime
o espírito de santidade.
Na
segunda leitura de hoje, o apóstolo Paulo interpela a comunidade:
“Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com
Deus” (2Cor 5,20). Este esforço de conversão não é somente uma
obra humana, é deixar-se reconciliar pela graça. A reconciliação
entre nós e Deus é possível graças à misericórdia do Pai que,
por nosso amor, não hesitou em sacrificar o seu Filho unigênito”
(FRANCISCO. Homilia da Quarta-feira d, 18 de fevereiro de 2105).
Uma
pessoa de fé em sua caminhada quaresmal rumo à Páscoa, ao tomar
consciência da realidade de como são tratados os biomas
brasileiros, não poderá ficar indiferente. A Campanha da
Fraternidade é uma verdadeira iniciação à fé e à sua prática.
“A conversão quaresmal é, ao mesmo tempo, um voltar-se para Deus,
para o próximo e para a vida da criação que os cerca (CNBB
Campanha da Fraternidade 2017: Texto-Base. Brasília: Edições CNNN,
2016, p.21).
3.
Atualizando a Palavra
“Deus
não se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir
perdão!” Esta afirmação, repetida tantas vezes pelo Papa
Francisco em suas catequeses ao longo destes meses, acabou
escandalizando muitas pessoas devotas e pias, sendo paradoxo ainda
maior! – não poucas pessoas que não acreditam em Deus e não
praticam a religião, mas que vêem na ideia de um Deus que “faz
justiça”, punindo quem infringe a lei, um baluarte para garantir a
boa ordem na sociedade.
Mas
este é o âmago da Boa-Nova proclamada por Jesus, concretizada em
todos os seus gestos para com os pecadores e os marginalizados da
sociedade e da estrutura religiosa. Acreditar nesta Boa-Nova e
entregar-se com confiança ao Pai exige a coragem ingênua das
crianças e dos simples de coração. É o próprio Jesus a sublinhar
isso: “Se
não vos converterdes, e não vos tornardes como crianças, não
entrareis no reino dos Céus” (Mt
18,3).
Precisamos
de coragem para nos reconhecermos pecadores na situação concreta,
específica que estamos vivendo em determinado momento, e não
somente em maneira genérica. Esta coragem nasce da humildade que
reconhece e aceita lidar com a verdade profunda de nós mesmo sem
fingimentos. Esta coragem e esta humildade são dons do Espírito
Santo. Precisamos ter confiança de pedi-los. Deixar cair as
máscaras, viver a verdade: este é o convite libertador de Jesus.
Pois é quando acolhemos a verdade que se curam as feridas, se
libertam as energias escondidas, se constrói a casa sobre a rocha e,
sobre tudo, se constrói aquela relação autêntica com Deus, que se
torna a verdadeira recompensa e a alegria da existência.
“Quando
deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a direita, de
modo que tua esmola fique oculta. E o teu Pai, que vê o que está
oculto, te dará a recompensa”
(Mt 6, 3-4). A mesma indicação de discrição e silêncio, aberta
somente ao diálogo interior com o Pai, Jesus repete em relação à
oração e ao jejum.
Que
contraste com nossa mentalidade corrente, segundo a qual tudo há de
ser mostrado em público, tudo enfatizado. Quem não aparece na mídia
não existe. Se você, pessoa ou comunidade, não tem seu site, a
conta pessoal no facebook e no twitter, não vale, não existe. Todo
mundo corre atrás desta justificativa. Mesmo nossas comunidades
paroquiais e religiosas vivem a urgência de se adequar, sem muita
discrição.
É
tudo expressão de zelo missionário e do compromisso para
testemunhar Cristo, evangelizar a Boa-Nova da misericórdia de Deus,
que está presente em toda situação, e pretende curar, com carinho,
cada pessoa como filho e filha? Acho que deveríamos fazer a nós
mesmos muitas perguntas e aceitar responder com igual honestidade. A
Quaresma nos ajuda a abrir este diálogo conosco mesmo. Exige morrer
aos enganos e renascer à verdade de nós mesmos que é fazer Páscoa
na vida.
4.
Ligando a Palavra com ação litúrgica
Com
a celebração da imposição das cinzas, iniciamos o tempo
quaresmal, ouvindo o convite do Senhor: “Convertei-vos! O Reino de
Deus está no meio de vós”. A proclamação e escuta da Palavra de
Deus, as orações, as ações simbólicas nos possibilitam
experimentar a bondade infinita de Deus, como reza a antífona de
entrada: “Ó Deus, vós tendes compaixão de todos e nada do que
criastes desprezais: perdoais nossos pecados pela penitência porque
sois o Senhor, nosso Deus” (Missal Romanos. Antífona de entrada da
Quarta-feira de Cinzas, p.175)
Na
caminhada quaresmal, somos convidados a experienciar o Deus que
acolhe nossa penitência, corrige nossos vícios, cuida de nós
incansavelmente, fortifica nosso espírito fraterno, nos dá a graça
de sermos nós também misericordiosos.
Hoje,
na celebração da Eucaristia, nós nos oferecemos com Cristo ao Pai,
pelo Espírito Santo. Que o sacramento pascal recebido na mesa da
Palavra e na mesa da Eucaristia nos ajude a fazermos de nossa vida
uma oferta agradável a Deus, especialmente pela vivência do jejum,
do amor fraterno e da oração. “Ó Deus, assisti com vossa bondade
a penitência que iniciamos, para que vivamos interiormente as
práticas externas da Quaresma” (Missal Romano. Oração do dia da
sexta-feira depois das cinzas, p. 179)
Nos
passos de Jesus, caminhando rumo à Páscoa, revivemos a experiência
daquele que a partir do batismo do Jordão caminha para o “batismo
da sua morte” (Mc 10, 38; Lc 12,50). Contemplamos o mistério do
Coração traspassado e aberto do Redentor do qual nasce a Igreja e
provém toda a eficácia dos sacramentos; e de onde procede sangue e
água (Jo 19,34), símbolos da Eucaristia e do Batismo. No Mistério
Pascal, o testemunho concorde do Espírito, da água e do sangue (1Jo
5, 5-8) manifesta o “renascer da água e do Espírito” para
entrar no Reino de Deus (Jo 3,5).
A
Quaresma é o período forte da Campanha da Fraternidade. “Nesse
tempo litúrgico a prática da escola, da oração, do jejum, a
conversão e a Campanha da Fraternidade tornam-se oportunidades de
experimentar a espiritualidade pascal capaz de gerar, ao mesmo tempo,
a conversão pessoal, comunitária e social (CNBB. Campanha da
Fraternidade 2017: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2016,
n.20).
Oração
dos fiéis:
Presidente:
A beleza e a riqueza de nossas matas representadas nos vários
biomas nos chamam a assumirmos um compromisso na defesa da vida.
Devemos defender a natureza e a vida contra todas as formas de
devastação, para que não estejam sob o domínio de pessoas e
grupos gananciosos.
Vamos
rezar a oração da CF – 2017. (Todos juntos)
1.
Deus, nosso Pai e Senhor, nós vos louvamos e bendizemos, por vossa
infinita bondade.
2.
Criastes o universo com sabedoria e o entregastes em nossas frágeis
mãos para que dele cuidemos com carinho e amor.
1.
Ajudai-nos a ser responsáveis e zelosos pela Casa Comum.
2.
Cresça, em nosso imenso Brasil, desejo e o empenho de cuidar mais e
mais da vida das pessoas,
e
da beleza e riqueza da criação, alimentando o sonho do novo céu e
da nova terra que prometestes.
Todos:
Amém
III.
LITURGIA EUCARÍSTICA
ORAÇÃO
SOBRE AS OFERENDAS:
Presidente:
Oferecendo-vos
este sacrifício no começo da Quaresma, nós vos suplicamos, ó
Deus, a graça de dominar nossos maus desejos pelas obras de
penitência e caridade, para que, purificados de nossas faltas,
celebremos com fervor a paixão do vosso Filho. Que vive e reina para
sempre.
Todos:
Amém.
ORAÇÃO
APÓS A COMUNHÃO:
Presidente:
Ó
Deus, fazei que sejamos ajudados pelo sacramento que acabamos de
receber, para que o jejum de hoje vos seja agradável e nos sirva de
remédio. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos:
Amém.
COMUNICADOS:
Dia
01 de março – quarta-feira: Missa
Quarta Feira de Cinzas – na Igreja Catedral – Limeira –
19h30min.
Dia
02 de março – quinta-feira: Missa
–posse Padre Nathan – 19h30min – Nossa Senhora do Brasil –
Americana, SP.
Dia
03 de março – sexta-feira: Visita
no Gabinete do Vereador Marcos Xavier – 10h00; Abertura da Campanha
da Fraternidade - 15h00 na Catedral – Limeira; Missa – posse –
Padre Marcos Theodoro – Sagrado Coração de Jesus – Conchal –
19h30min
Dia
04 de março – sábado: Missa
na Assembleia da RCC do Sul 1, no Cest Santa Teresinha. 08h30.
Dia
05 de março – domingo: Missa
e posse de Pároco do Pe. Fábio Trajano Ribeiro, e Crisma Paroquial
– Santa Cruz da Conceição, 08h30; Missa – posse de
Administrador Paroquial do Pe. José Antônio Alves – 19h30min –
Quase-Paróquia N. Sra. Aparecida, Redenção, cidade de
Pirassununga, SP.
BÊNÇÃO
E DESPEDIDA
Presidente:
O Senhor esteja convosco.
Todos:
Ele está no meio de nós.
Presidente:
Deus,
Pai de misericórdia, conceda a todos vocês como concedeu ao filho
pródigo, a alegria do retorno à casa.
Todos:
Amém.
Presidente:
O Senhor Jesus Cristo, modelo de oração e de vida, os guie nesta
caminhada quaresmal a uma verdadeira conversão
Todos:
Amém.
Presidente:
O Espírito de sabedoria e fortaleza os sustente na luta contra o mal
para poderem com Cristo celebrar a vitória da Páscoa.
Todos:
Amém.
Presidente:
(Dá a bênção e despede a assembléia com carinho.)
Todos:
Amém.