Dom Edney Gouvêa Mattoso
Bispo de Nova Friburgo (RJ)
Caros amigos, o tráfico e o consumo de drogas ilícitas são um terrível sofrimento social, atingindo milhares de pessoas em nosso país. Famílias de dependentes, comunidades reféns da violência do tráfico e das milícias e as inumeráveis redes criminosas de lavagem de dinheiro e manipulação política são alguns problemas críticos desta situação.
Não há lugar livre deste grande mal e, por isso, são necessárias ações efetivas em todas as Paróquias e comunidades. Nossas armas de resistência contra este mal são a onipotente graça de Deus e a caridade fraterna.
Em princípio, é importante perceber que toda esta rede de violência baseia-se na fragilidade de nossa natureza, passível de vícios de todo tipo. Assim, todas as repressões legais e policiais contra o tráfico cuidam dos sintomas de uma sociedade doente, em que os vícios funcionam como compensação ao déficit de amor nos corações frágeis. Mas o cuidado com a pessoa atinge diretamente a causa do problema.
Ninguém está imune aos vícios, mas há grupos mais vulneráveis. Estes não se caracterizam primordialmente pela desigualdade econômica, como muitos tendem a afirmar, mas coincidem na busca por prazeres imediatos e pela fuga da realidade, fatores continuamente denunciados como um grave problema social pelo Papa Francisco. (Cfr. Evangelii Gaudium 62)
É preciso destacar que o sofrimento que leva às drogas tem entre outras causas a crescente desagregação familiar e a ausência de um comprometimento decisivo no campo da educação. Quando as relações familiares se desorientam ou deixam de existir, a sociedade perde a oportunidade de receber homens e mulheres formados na esteira do amor e das virtudes. Ao mesmo tempo, a sociedade também sofre por falta de políticas educacionais que verdadeiramente promovam a formação integral da pessoa.
Sem esses dois eixos basilares de uma sociedade sadia e forte, crescem a violência, as tragédias e o recurso às drogas. Tanto a violência como a fuga da realidade são grandes flagelos da ordem social e da convivência humana pacífica, que impedem o progresso de uma nação. Profetizou o antropólogo Darcy Ribeiro em 1982: ”se os governadores não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”.
Por isso, no que diz respeito aos jovens, que estão desenvolvendo sua personalidade, é fundamental uma formação humana integral baseada no amor e na verdade, que lhes dará instrumentos suficientes não só para descartar os caminhos errados, mas também uma consciência crítica bem formada que o torna capaz de perceber e agir conforme os princípios da verdade, justiça e fraternidade que se traduzem por um compromisso decidido no serviço à vida de seus semelhantes e à construção de uma sociedade mais humana.
Nenhuma iniciativa é fácil, mas não podemos assistir de braços cruzados, os jovens caindo nas drogas, as famílias definhando, as mortes de inocentes e a ampliação das “cracolândias”. O clamor de tanta dor chega ao Coração Deus, que pede de nós uma ação concreta. É preciso quebrar esta corrente do mal!
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