"Tu compreendes o que estás lendo? O eunuco respondeu: 'Como poderia, se ninguém me orienta?" (At 8, 30-31)
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A Bíblia é como uma carta de amor de Deus para seu povo. Como Palavra de Deus, ela é o coração da catequese e alma de toda pastoral. A fonte na qual a catequese busca a suamensagem é a Palavra de Deus. O conteúdo central da catequese que ser buscado nas Sagradas Escrituras e na tradição viva da Igreja. Já nos alertava João Paulo li, na Exortação Apostólica,Catechesi Tradendae "/A catequese há de esgotar sempre o seu conteúdo na fonte viva da Palavra de Deus, transmitida na Tradição e na Escritura" (CT, n. 27).
E como coração e fonte da catequese, a Bíblia necessita de alguém que a entenda e explique aos ouvintes-leitores para que eles compreendam e vivenciem a Palavra de Deus. A expressão Palavra de Deus é muito familiar na linguagem dos cristãos. Essa Palavra precede a Bíblia, vai além do escrito, é experiência proclamada, vivida, celebrada e testemunhada. o Concílio Vaticano lI assim se expressou:
"As Sagradas Escrituras contêm a Palavra de Deus e, pelo fato de serem inspiradas, são verdadeiamente a Palavra de Deus" (DV, n. 24).
Filipe ao perguntar ao eunuco "tu compreendes o que estás lendo?'; provoca um diálogo do leitor com a Palavra. A pergunta além de ser provocante constitui se 11un1 germe do anúncio do querigma a partir das Escrituras. A partir da pergunta, Filipe anuncia Jesus.
Quando o catequizando eunuco responde: "Como poderia, se ninguém me orienta?'; ele se abre para a dinâmica da Palavra que toca o coração do ouvinte. A Palavra de Deus lida, meditada e celebrada provoca em nós um efeito transformador. Assim como diz o profeta Isaías: "E comoa chuva e a neve que caem do céu para lá não voltam sem antes molhar a terra e fazê-la germinar e brotar, a fim de produzir semente para quem planta e alimento para quem come, assim também acontece com a minha palavra: ela
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sai da minha boca e para mim não volta sem produzir seu resultado, sem fazer aquilo
que planejei, sem cumprir com sucesso a sua missão" (Is 55, 10-11 ).
O eunuco não desejava ter apenas uma simples explicação e sim de alguém
que o conduzisse no caminho da Palavra. Ele queria aprender a interpretar, ou seja,
entender o texto como uma resposta às buscas de sua vida. Aqui está o segredo
para nós catequistas. Aprender buscar e viver antes, para depois interpretar o texto.
Só pode trabalhar com a Palavra quem se deixa trabalhar pela Palavra. A resposta
ao catequista Filipe é válida para os nossos dias. Pois o catequista como o
comunicador da Palavra de Deus tem a missão de guiar e conduzir os catequizandos
no caminho da Palavra.
O Diretório Nacional de Catequese, ao afirmar que "a fonte na qual a catequese
busca a sua mensagem é a Palavra de Deus': chama atenção dos catequistas e de
toda a ação evangelizadora da Igreja sobre a importância da Palavra como força
vital para o processo iniciático da fé (cf. DNC, n. 106). Reconhecer e conceber as
Sagradas Escrituras como livro da catequese por excelência é tarefa que os novos
tempos nos impõem.
Recentemente recordou-nos a Verbum Domini do Papa Bento XVI que "a catequese
deve estar impregnada e embebida de pensamento, espírito e atitudes bíblicas e
evangélicas, mediante um contato assíduo com os próprios textos sagrados e que
a atividade catequética implica sempre abeirar-se das Escrituras na fé e na Tradição
da Igreja, de modo que aquelas palavras sejam sentidas vivas, como Cristo está vivo hoje.” (VD, n. 74).
Na catequese aprendemos que Deus nos fala pela Escritura e pela Tradição. Por isso, a
catequese tem a missão primeira de acentuar a importância do valor da Tradição no
processo de transmissão do conteúdo da fé. Nesse sentido, o Diretório Nacional de
Catequese nos adverte: "Ao tesouro da Tradição pertence também o testemunho dos
que ouviram e vivenciaram essa Palavra transmitida de geração em geração (cf.
Me 12,9; Rm 15,4; 2Tm 3, 16-17). A Palavra de Deus, assim amplamente entendida,
está presente e ressoa na Tradição dos Santos Padres, no tesouro da Liturgia, no
Magistério dos pastores, no testemunho dos mártires e na vida dos santos, no
trabalho dos missionários, na religiosidade do povo, na caridade viva dos cristãos ...
(cf. DGC, n. 95). É essa Palavra que ilumina nossa existência e continua sendo
caminho da Revelação de Deus para nós hoje. Por isso, a
fonte da evangelização e da catequese é a Palavra de Deus. A Igreja transmite e
esclarece os fatos e as palavras
da Revelação e, à sua luz, interpreta os sinais dos tempos e a nossa vida nos quais se realiza o desígnio salvífico de Deus (cf. DGC, n. 39), para que "o mundo ouvindo creia, crendo espere e esperando ame" (DV 7 citando Santo Agostinho, cf. DNC, n. 25).
Foi o Concílio Vaticano li, em sua Constituição Dogmática Dei Verbum, quem deu um dos mais preciosos ensinamentos sobre a relação entre Escritura e Tradição. Assim nos diz: "a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só Sagrado Depósito da Palavra de Deus confiado àIgreja" (DV, n. 1 O). Ambos, para nós, se configuram como princípio normativo de fé.
Na mesma direção, a Dei Verbum insiste na articulação que existe entre a Escritura e Tradição: "A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus enquanto é redigida sob a moção do Espírito Santo; a Sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a Palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos para que, sob a luz do Espírito de verdade, eles por sua pregação fielmente a conservem, exponham e difundam" (DV, n. 1 O). O segredo está no processo e na arte do transmitir. Vivenciamos e transmitimos um conteúdo que nos foi revelado. É uma herança sagrada e, portanto, deverá ser transmitida com dinamismo e vigor.
Ainda no número 1 O, a Dei Verbum adverte sobre a transmissão dessa fonte: "O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo" e insiste ainda que "tal Magistério evidentemente não está acima da Palavra de Deus, mas a seu serviço, não ensinando senão o que foi transmitido''.
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Para Refletir
1. Sublinhe as partes que julgar importantes no texto.
2 Responda:
A. De que maneira a Bíblia entrou em sua vida? Você já pensou na Bíblia como uma carta de amor que Deus deixou para nós?
B. Em nossa catequese, a Bíblia, a Palavra de Deus, é acentuada como fonte primordial da Catequese. Isto está acontecendo? Em que sentido?
(CNBB. Coleção: Catequese à luz do Diretório Nacional de Catequese n. 6 – A PALAVRA DE DEUS, FONTE DA CATEQUESE, Edições CNBB, 2014)
Fonte: https://sites.google.com/site/catequesepoa/formacao-de-catequistas-de-iniciacao-a-vida-crista
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