Dom Caetano Ferrari
Diocese de Bauru
Na Missa deste terceiro domingo da Quaresma é lido o Evangelho da Samaritana – Jo 4,5-42. Na Samaria, povo considerado herege pelos judeus, deu-se uma abundante colheita de convertidos à fé em Jesus. Foi assim, Jesus descia de Jerusalém à Galiléia pelo caminho mais curto, que normalmente era evitado pelos judeus por preconceito aos samaritanos, pois que passava pela Samaria.
Na cidade de Sicar, aos pés do monte Garizin, ficava o poço de Jacó, no qual os samaritanos abasteciam-se de água boa. Ora, Jesus chegou ao poço pelo meio-dia e ali se sentou esperando que os apóstolos fossem à cidade buscar alguma coisa para comer. Naturalmente, Jesus estava com sede, mas devia esperar porque não tinha com que puxar a água do poço, que era fundo. Eis que uma samaritana se aproxima para pegar água. Embora no contexto daquele tempo fosse absolutamente estranho, Jesus pede à mulher: “Dá-me de beber”. A resposta da mulher não podia ser outra senão perguntar-lhe: “Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, uma mulher samaritana?” Mas foi assim desta maneira que Jesus criou uma excelente oportunidade para estabelecer um diálogo com uma mulher com quem nem deveria conversar. O diálogo tornou-se frutuoso, paradigmático, porque possibilitou questionar e romper preconceitos e, ao final da conversa, despertar naquela mulher uma fé espontânea, uma adesão livre a Jesus. Ela se sentiu cheia de alegria e, retirando-se, voltou à cidade e foi logo levar a notícia do que acontecera aos seus mais próximos que espalharam a novidade ao povo.
Como foi a conversa de Jesus com a samaritana? Na conversa Jesus se revelou como “água viva” que jorra para a vida eterna. Quem beber dessa água nunca mais terá sede. Naquele que a beber se tornará uma fonte de igual água que jorra para a vida eterna. A mulher, então, pede a Jesus: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede nem tenha de vir aqui para tirá-la”. Poder-se-ia dizer que a mulher com essa sua disposição abriu a guarda que mantinha a sua alma fechada. Então, Jesus se permitiu de tocá-la no mais profundo de si mesma e lhe pede: “Vai chamar teu marido e volta aqui”. Admirada, ela respondeu: “Eu não tenho marido”. Jesus sabia que ela já tivera cinco maridos e que com o atual nem era casada. Jesus, porém, a elogia porque foi sincera, verdadeira. A mulher reage, dizendo: “Senhor, vejo que és um profeta”. Então, ela lhe põe uma questão de fé que diferenciava judeus e samaritanos, sobre a questão do lugar onde se devia adorar a Deus, no monte Garizin como os samaritanos ou em Jerusalém como os judeus. Jesus lhe diz que está chegando a hora em que nem neste monte nem em Jerusalém se adorará a Deus. Jesus não nega, ao contrário confirma que a salvação vem dos judeus, mas doravante os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, ou seja, não importa o lugar, cada fiel é o lugar e o templo em que se pode adorar ao Pai. O lugar primeiro de adoração a Deus é o próprio homem, que O adorará em espírito e em verdade. Os homens todos poderão adorar a Deus em espírito e em verdade onde se reunirem, não importa o lugar. Diz Jesus, “De fato, esses são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade”. A mulher disse a Jesus: “Sei que o Messias vai chegar”. Jesus lhe revelou: “Sou Eu, que estou falando contigo”. Nesse instante, os discípulos chegaram, admiraram-se de ver Jesus conversando com a mulher, mas nada lhe perguntaram. E a mulher se retirou voltando à cidade.
Na cidade a mulher foi contando com quem ia se encontrando: “Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Será que ele não é o Cristo?” Muitos samaritanos acreditaram na mulher, mas foram ao encontro dEle e pediram para que permanecesse com eles. Jesus acabou ficando por lá dois dias. E muitos creram em Jesus por causa da sua palavra e disseram à mulher: “Já não cremos por causa das tuas palavras, pois nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo”.
Jesus comentou com os discípulos a respeito dessa colheita de convertidos, citando o ditado que diz: “Um é o que semeia e outro o que colhe”. Assim sendo, “Eu vos enviei para colher aquilo que não trabalhastes. Outros trabalharam, e vós entrastes no trabalho deles”. O importante é fazer a vontade de Deus, que é inclusive um alimento desconhecido por vocês, mas é o meu alimento preferencial, a saber: “fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra”. Foi por estar saciado com esse alimento, o pão do fazer a vontade do Pai, que Jesus inclusive nem provou dos alimentos que os discípulos trouxeram da cidade, não obstante eles tenham insistido: “Mestre, come”. Jesus não comeu do pão que mata a fome do corpo, porque já estava satisfeito na alma com o pão do Pai que acabara de comer. Realizando a obra do Pai, Jesus estabeleceu um diálogo enternecedor com uma mulher de vida complicada, ofereceu-lhe a beber água viva como dom de Deus, para que nunca mais tivesse sede e nela brotasse uma fonte de água que jorra para a vida eterna. Bebendo dessa água, a samaritana proclamou a sua fé em Jesus e tornou-se a sua testemunha, anunciando Jesus aos habitantes da cidade.
Nós necessitamos saciar a nossa sede de vida plena e eterna na verdadeira fonte que é Jesus Cristo. A Quaresma é este tempo propício para pedirmos a Jesus: “Senhor, dá-nos dessa água, para que não tenhamos mais sede”.
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