“Talvez um dos maiores desafios para o homem de hoje é saber dar razão de suas crenças mais profundas”.
Não é possível resumir em um pequeno artigo a riqueza contida nos 124 números que compõem a Exortação. Limito-me a pincelar apenas alguns parágrafos, que convidam a ler o texto completo. A exortação começa assim: “A Palavra do Senhor permanece para sempre. E essa palavra é o Evangelho que nós proclamamos a vocês (1 P 1,25)... Deus tem dado a sua Palavra eterna de uma forma humana, o seu Verbo ‘se fez carne’ (Jo 1,14). Esta é a Boa Notícia. Esta é a mensagem que, através dos séculos, vem a nós” (n. 01).
“Redescobrir a centralidade da Palavra de Deus” na vida pessoal e da Igreja e “a urgência e a beleza” para proclamar a salvação da humanidade como “testemunhas confiáveis e credíveis de Cristo ressuscitado”. Esta é, em resumo, a mensagem de Bento XVI na exortação apostólica Pós-Sinodal “Verbum Domini”, que reflete as idéias e propostas que surgiram a partir do Sínodo dos Bispos, realizado no Vaticano em Outubro de 2008, sobre o tema “Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”.
O documento de mais de 200 páginas, é um apelo apaixonado feito pelo Papa aos bispos, sacerdotes, aos membros da vida consagrada e aos leigos a terem mais familiaridade com as Escrituras, nunca esquecendo "que o fundamento de toda a espiritualidade real e da vida cristã é a Palavra de Deus proclamada, acolhida, celebrada e meditada na Igreja ".
“Em um mundo que muitas vezes sente Deus como supérfluo e estranho”, o Papa disse que não há prioridade maior que isso: abrir para o homem os acessos a Deus (n. 02). Bento XVI insiste em que “Deus fala e age na história em favor do homem”. “A Palavra de Deus não se opõe aos homens, não mortifica os seus desejos autênticos, mas ilumina-os, purifica-os, leva-os ao seu cumprimento”. Em nossa época, infelizmente, é generalizada, particularmente no Ocidente, a idéia de que Deus é estranho para os problemas do homem e que sua presença ameaça a sua autonomia”. Na verdade, o Papa diz: “só Deus responde à sede que fica no coração de cada homem”. Só meditando regularmente a Palavra de Deus, encontramos o verdadeiro rosto de Jesus Cristo e, assim, unimo-nos a ele no amor: “a vida cristã é caracterizada essencialmente pelo encontro com Jesus Cristo que nos chama a segui-lo. Precisamos florescer uma nova etapa de maior amor à Sagrada Escritura por todos os membros do Povo de Deus, para que, pela sua leitura orante e fiel, ao longo do tempo, se aprofunde nossa relação com a pessoa de Jesus” (n. 72).
Para o Papa "é importante do ponto de vista pastoral, apresentar a Palavra de Deus para falar com os homens sobre os problemas que ele tem de enfrentar na vida cotidiana”. Neste contexto, é necessário "ajudar os fiéis a distinguir claramente a Palavra de Deus das revelações privadas, cujo papel não é “de completar” a Revelação, mas ajudar a vivê-la”. Além disso, o Papa aborda o estado atual da pesquisa bíblica, revelando o importante contributo dado pela “exegese histórico-crítica, mas registra o sério risco de um dualismo entre exegese e teologia”. O Papa almeja “a unidade dos dois níveis de interpretação, que, em última análise, pressupõe uma harmonia entre fé e razão, de modo que a fé não se degenere em um fideísmo e que a razão permaneça aberta”.
O Santo Padre também insiste em que “as raízes do cristianismo são encontradas e se alimentam do Antigo Testamento” e, portanto, “o vínculo entre cristãos e judeus nunca deve ser esquecido”. O documento, em seguida, destaca a relação entre a Palavra de Deus e a liturgia. O papa enfatizou maior cuidado durante a proclamação da Palavra, na leitura adequada da mesma. Solicita ainda “melhorar a qualidade das homilias”. Enfatiza “o valor do silêncio nas celebrações, que promove o encontro com Deus pela Palavra proclamada”, e é favorável a “canções de clara inspiração bíblica como o gregoriano”.
Bento XVI em sua Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Verbum Domini”, também sugere “incrementar a pastoral bíblica” como resposta ao fenômeno da “proliferação das seitas, que espalhou uma leitura distorcida e instrumental das Sagradas Escrituras”. “Precisamos de uma adequada formação cristã da Bíblia e particularmente os catequistas”; e diz que o Sínodo deseja que tenhamos uma Bíblia em cada casa, de modo que possamos manuseá-la. O texto papal é uma chamada para "fortalecer a consciência missionária da Igreja. Neste campo, o Papa reconhece com gratidão a este respeito o compromisso dos movimentos eclesiais, que muito tem colaborado neste trabalho bíblico.
O Papa dirige, com emoção, de seu pensamento a todos aqueles que são perseguidos por causa de Cristo e oferece a sua solidariedade e carinho a todos os fiéis das comunidades na Ásia e na África. O documento apela para “um renovado encontro entre a Bíblia e a cultura”, esperando que haja uma promoção do conhecimento da Bíblia em escolas e universidades, “acima de velhos preconceitos”. Ele também insiste em um compromisso mais amplo e qualificado no mundo da informação e da Internet.
“Nosso época, conclui o Papa, deve ser cada vez mais um tempo de nova escuta da Palavra de Deus e de uma nova evangelização, porque ainda hoje Jesus Ressuscitado nos diz: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Nossa missão de crentes se centra no entusiasmo em ler, estudar, aprender, viver e transmitir todos os mistérios contidos nos Textos Sagrados. A Bíblia sempre foi, e hoje mais do que nunca, é para cada pessoa humana fonte inesgotável de Água viva que sacia verdadeiramente. Vamos ler o Documento Verbum Domini e aprender do nosso Papa o atual ensinamento sobre a Sagrada Escritura.
Com afeto fraternal,
Pe. Cláudio Francisco de Oliveira
Doutor em Teologia Bíblica
Diocese de São Miguel Paulista
Para meditar:
1) Qual tem sido nosso empenho pessoal e comunitário na acolhida, estudo, prática e difusão da Palavra de Deus?
2) Como nos organizar concretamente, como ministros, para a leitura orante da Bíblia e seu estudo?