Dom Caetano Ferrari
Diocese de Bauru
No Evangelho da Missa de hoje - Lc 12, 32-48 - Jesus diz a seus discípulos: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o reino”. Então, eis uma sábia proposta de vida: quem tem o reino de Deus como o seu tesouro não deve se preocupar com as riquezas materiais. De tal maneira que Jesus, para estimular a capitalização de bens do reino, ordena: “Vendei vossos bens e dai esmola.
Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói. Porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. Diante da proposta que tem aplicação atual, a pergunta óbvia que resulta para nós é esta: A qual tesouro o nosso coração está apegado, dos bens do reino do céu ou dos do reino do mundo? A resposta mostrará a quanto e de que modo nós vivemos, se tranquilos e livres ou se agitados e cheios de medo.
Em seguida, levando adiante a reflexão sobre as consequências da posse do tesouro ao qual o coração do homem se aferra para o bem ou para o mal, Jesus apresenta ao pequenino rebanho uma descrição detalhada das disposições interiores e das atitudes que os verdadeiros discípulos do reino devem ter em relação às pessoas, objetos e situações da vida. Ele usa expressões bíblicas e imagens do cotidiano para afirmar: “tenham os rins cingidos e as lâmpadas acesas; sejam como homens que esperam o seu senhor voltar de uma festa de casamento para abrir-lhe a porta a qualquer hora; felizes os empregados que o senhor encontrar acordados à meia-noite ou às três da madrugada e preparados para recebê-lo; ficai preparados, vigilantes, porque o Filho do homem vai chegar na hora em que menos o esperardes”. Pedro pergunta a Jesus se esta parábola é para eles ou para todos? Jesus vai mostrando que serve tanto para os chefes e administradores como para os empregados e servidores. Todos os que desejarem ser fiéis ao senhor do reino e coerentes com o comportamento de filhos do reino serão felizes e o senhor mesmo, quando regressar, os servirá. Os aproveitadores da ausência do patrão que, autoritariamente, explorarem os criados e as criadas da casa e se fartarem de comida e bebida, esvaziando a sua despensa, quando inesperadamente chegar, “ele os partirá ao meio e os fará participar do destino dos infiéis”. O empregado ao qual o patrão mais confiou e mesmo assim não agiu segundo a sua vontade será chicoteado muitas vezes; o empregado, porém, a quem o patrão menos confiou e falhou ainda que minimamente será chicoteado poucas vezes. Assim sendo, Jesus demonstra que a parábola serve para todos, mas naturalmente como Ele conclui deve-se ter presente que “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!”.
Nosso povo do interior adaptou o apelo de Jesus à vigilância e prontidão a esta fórmula: “Não durma no ponto!”. Quer dizer, esteja acordado, atento, porque você pode perder o bonde da história ou o cavalo arreado que passa sem ninguém montado. Como diz o gaúcho, se você não aproveitar, outro o montará e você terá perdido para sempre uma oportunidade excepcional, talvez única na vida, de uma grande realização. Na lição do Evangelho, Jesus recomenda ao discípulo que esteja preparado, isto é, que não viva dormindo, “porque na hora em que menos se espera virá o Filho do homem”. Inclusive a irmã morte, como dizia São Francisco, da qual ninguém se livrará, irá surpreender, batendo na nossa porta em momento que não se sabe quando será. Convém, então, viver preparado, pois esse evento é tão certo e de tão grande monta quanto no caso do dono da casa que “se soubesse a hora em que o ladrão iria chegar, não deixaria que a arrombasse”, conforme a comparação feita por Jesus.
Na Igreja, agosto é todo ele mês vocacional. Como fonte de todas as vocações, a família vem em primeiro lugar; a sua vocação e missão são essenciais para a vida humana que nasce do amor entre um homem e uma mulher. Do ventre da família nasce a vida de cada um de nós e de toda a humanidade. Nela a vida humana não só é gerada como criada e formada. Daí a importância da família, em todos os tempos, como patrimônio da humanidade e tesouro de todos os povos. Na configuração natural da família se veem a mãe e o pai, as crianças, jovens e idosos. Alargando-se o espectro têm-se os familiares, parentes e amigos. A comunidade, a sociedade e os povos formam a grande família humana. A Igreja, segundo o desígnio divino, se compreende como a família dos filhos e filhas de Deus. Por isso, a Igreja sempre ensina que a família é comunidade de vida e de amor, fundada no matrimônio ela é protetora da vida, escola de valores e educadora da fé. À luz da razão e da fé, a vida é o bem primário, o primeiro bem e o primeiro valor. Anunciando o Evangelho da vida, a Igreja promove o Reino da vida no mundo e oferece a vida nova em Cristo a toda gente.
Neste primeiro domingo de agosto, a Igreja celebra o dia do padre. A Liturgia nos convida a oferecer orações por nossos padres, bem como por nossos diáconos permanentes e pelas vocações sacerdotais. O Santo Cura d’Ars, São João Maria Vianney, é o santo padroeiro de todos os padres, cuja memória foi comemorada no último dia quatro. Filho de camponeses, João Maria viveu sua infância presenciando o terror da Revolução Francesa. Sua vocação sacerdotal longe de esmorecer ao contrário se fortaleceu ante o heroísmo e a cruz dos padres e fiéis martirizados pela perseguição religiosa. Foi Pároco da pequeníssima cidade de Ars por 42 anos. Com muitas orações e penitências, pregação e catequese, caridade e atendimento no confessionário, de madrugada até à noite, converteu seus paroquianos como atraiu peregrinos vindos de todas as partes. Morreu aos 74 anos, esgotado pelas penitências e trabalhos apostólicos no exercício de seu ministério sacerdotal. Pouco antes de morrer, ele disse estas palavras: “É belo morrer depois de ter vivido na cruz”. A Igreja escolheu este santo tão simples para patrono dos padres. Rezemos por nossos padres, diáconos e seminaristas.
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