(Aparecida, Brasil, 23-27 de setembro de
2016)
1.
Nós, Bispos dos Países Lusófonos, realizamos nosso XII Encontro, no Seminário Bom Jesus, em Aparecida - Brasil, durante
o período de 23 a 27 de setembro de 2016, com a finalidade de «fortalecer a comunhão eclesial e a recíproca
complementaridade, promover a cooperação em prol das comunidades e a fidelidade
à identidade católica lusófona e criar espaço para aprofundar o conhecimento mútuo entre as Igrejas
católicas dos países lusófonos», conforme prescrito em seu regulamento
interno.
Estiveram
presentes: Dom Filomeno Vieira Dias, Arcebispo
de
Luanda (Angola) e Presidente da Conferência
Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Dom Antônio Jaka, Bispo do Caxito (Angola) e Secretário
da CEAST, Dom Sergio da Rocha, Arcebispo de Brasília (Brasil) e
Presidente da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Murilo
Sebastião Ramos Krieger, Arcebispo de São Salvador da
Bahia (Brasil) e Vice-Presidente da CNBB, Dom Leonardo Ulrich
Steiner, Bispo Auxiliar de Brasília (Brasil) e Secretário-Geral da CNBB, Cardeal Raymundo Damasceno Assis, Arcebispo de
Aparecida (Brasil), Pe. Deusmar Jesus da Silva (Brasil), Assessor da Comissão
para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada (CNBB), Cardeal Arlindo Gomes
Furtado, Bispo de Santiago (Cabo Verde), Dom Pedro Carlos Zilli, Bispo de
Bafatá (Guiné Bissau), D. Lúcio Andrice Muandula, Bispo de Xai-Xai (Moçambique), representando a Conferência Episcopal de Moçambique
(CEM), Cardeal Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa (Portugal) e Presidente da
Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), Pe. Manuel Barbosa (Portugal),
Secretário da CEP, Dr. Jorge Líbano Monteiro, Presidente da Fundação Fé e
Cooperação (FEC) e D. Manuel Antônio dos Santos (São Tomé e Príncipe), Bispo de
São Tomé e Príncipe.
2. Os
trabalhos tiveram início com palavras de saudação
e acolhimento do Presidente da CNBB, Dom Sergio da Rocha, e do Arcebispo de
Aparecida, Cardeal Raymundo Damasceno Assis, que os situou no contexto desta
Arquidiocese, em particular do seu Santuário que é uma referência nacional,
religiosa e mariana, e do Seminário Bom Jesus que nos acolhe e que teve como
ilustres hóspedes Santa Paulina, São João Paulo II, Bento XVI e o Papa Francisco.
3. No
primeiro dia do encontro, partilhamos os principais desafios e questões da realidade social e eclesial de cada país,
com destaque para as experiências pastorais mais significativas. Desta partilha
específica e plural, Desta partilha específica e plural, queremos insistir
nalgumas constatações e desafios mais comuns: a) preocupação pela instável
situação social, política e econômica em quase todos os países, com
consequências na vida dos cidadãos, famílias e instituições; b) necessidade de diálogo
com as instâncias políticas e governamentais, procurando sempre defender os
valores essenciais ligados à vida humana e ao bem comum, à democracia e aos
direitos humanos, valores tão significativos na doutrina social da Igreja; c) condenação
das situações de corrupção, de exploração dos mais pobres, do tráfico de seres
humanos; d) maior incentivo à cooperação, intercolaboração e solidariedade
entre as Igrejas dos países lusófonos; e) promoção do diálogo ecumênico e
inter-religioso, na busca comum da paz e da tolerância, da segurança e do
bem-estar; f) importância das universidades católicas na formação de agentes
pastorais e na qualificação profissional de
inúmeras pessoas competentes nas várias áreas de atividade da sociedade;
g) maior atenção às vocações na Igreja (matrimônio, sacerdócio e vida
consagrada), cuidando mais particularmente da sua promoção, acompanhamento e
formação; h) relevância do dinamismo evangelizador e missionário da Igreja, com
uma participação mais efetiva dos leigos na vida da Igreja e, dessa forma,
conseguindo estar presente na vida quotidiana; i) compreensão de uma Igreja
inculturada, que dê resposta às questões locais; j) atenção às questões econômicas
da sustentação do clero, apontando como possíveis caminhos o reforço do dízimo
e o fundo de apoio diocesano; k) insistência da iniciação cristã como vida em
Cristo, para a formação na fé e o crescimento de autênticas comunidades
missionárias.
4.
A Encíclica
Laudato Si', do Papa Francisco,
foi acolhida pelas nossas conferências episcopais como uma reflexão inovadora e
uma mais valia para a plena compreensão da ecologia, despertando nossa atenção
para a importância do cuidado da casa comum e suas implicações na ação
pastoral. Da análise da realidade destacamos alguns desafios: a) urgência desta
temática em fazer parte da iniciação cristã e da formação na perspetiva da integralidade da vida e da
conversão ecológica, assumindo a nossa responsabilidade de sermos guardiões da
obra de Deus; b) importância quer do diálogo ecumênico e inter-religioso quer
do diálogo com políticos, profissionais, universidades e meios de comunicação
social, para melhor cuidar da nossa casa comum; c) necessidade de colocar a
pessoa e o cuidado das relações pessoais e familiares na vivência da ecologia
integral; d) compreensão da natureza, no seu todo, como hino de louvor, ação de
graças e contemplação; e) educação ecológica para a sobriedade e a partilha
face a uma sociedade de consumo e de lucro; f) educação para a harmonia com a
natureza e para a beleza da Criação; g) necessidade de ganhar consciência
ecológica face a realidades como a questão do lixo e do desperdício de
alimentos, o uso dos plásticos, a poluição ambiental, a deflorestação de
grandes áreas com o consequente avanço dos desertos, etc.; h) partilha de informações
e estudos, reflexões e itinerários catequéticos sobre a ecologia entre as
nossas conferências episcopais.
5.
Recebemos a exortação apostólica Amoris
Laetitia, do Papa Francisco, na sua essencial afirmação da alegria do
amor no matrimônio e na família, como dom e graça do amor de Deus. Salientou-se
a beleza da fundamentação bíblica, teológica e espiritual da família, no texto
da exortação. Pela consistência da proposta global para a família, destacamos a
importância de este documento ser lido e compreendido no seu todo. Da reflexão foram
apresentadas algumas linhas de orientação e desafios: a) propor o Evangelho da
família e a pastoral do vínculo face a outros modos e conceitos de família e
como resposta a uma cultura de descarte e de um mundo em desagregação; b) considerar
a família cristã como critério pastoral para a comunidade/paróquia como família
de famílias; c) cuidar da preparação dos presbíteros, desde o tempo do
seminário, para acompanhar a pastoral familiar; d) acolher, preparar e acompanhar
as famílias em todas as fases e processos; e) atender mais a problemas como a
poligamia e os casamentos com disparidade de culto; f) elaborar diretórios ou
catecismos para a família; g) discernir novos paradigmas que partam sempre do
Evangelho, responsabilizando bispos, padres, consagrados e leigos; h) partilhar
reflexões, estudos e iniciativas sobre critérios pastorais para a pastoral
familiar entre as nossas conferências episcopais.
6.
Reiteramos o apoio unânime ao acordo entre
as conferências episcopais do Brasil e de Portugal sobre a tradução do Missal Romano, junto à Congregação para o Culto Divino
e a Disciplina dos Sacramentos, para que se mantenham as fórmulas sacramentais
e a resposta «Ele está no meio de nós» à saudação «o Senhor esteja convosco».
7.
Sobre a suspensão do uso da língua portuguesa nos processos de postulação das
causas dos santos pela Congregação para as Causas dos Santos, queremos
manifestar o nosso lamento e preocupação por esta decisão que, além de
contrariar a Instrução «Sanctorum Mater»
de 17 de maio de 2007, vai dificultar e encarecer o bom andamento dos processos
de canonização com origem nos países de expressão portuguesa. Desejamos que a
língua portuguesa, a quinta língua mais falada do mundo por 260 milhões de
pessoas, continue a ser utilizada nos processos de canonização.
8.
Acolhemos a partilha de várias iniciativas: a) conclusões do Fórum Cáritas
Lusófonas, realizado em Brasília, em novembro de 2015; b) projetos de
cooperação entre as Igrejas Lusófonas, pela Fundação Fé e Cooperação; c) modos
diversos de ensino da religião e moral nos vários países; d) situação das
universidades católicas; e) ligação das associações profissionais ás
conferências episcopais.
9.
Participamos com alegria da celebração
da Eucaristia dominical no Santuário
Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em comunhão com o Cardeal Raymundo
Damasceno Assis e os peregrinos que acorreram ao Santuário, assim como da
visita guiada ao Santuário.
10.
Exprimimos a nossa gratidão e regozijo
por três relevantes acontecimentos
jubilares que vão decorrer em 2017: a celebração dos 300 anos de Nossa
Senhora Aparecida, no Brasil; o Centenário das Aparições em Fátima, Portugal; a
comemoração de 150 anos de presença dos Missionários Espiritanos em Angola e
Portugal; a celebração dos 40 anos da diocese de Bissau com a realização do seu
primeiro Sínodo Diocesano.
11.
O XIII
Encontro de Bispos dos Países Lusófonos se realizará na cidade de Praia,
capital de Cabo Verde, de 27 a 29 de abril de 2018.
12.
Finalmente, queremos exprimir a nossa profunda gratidão às pessoas de Dom Sergio da Rocha, Presidente da CNBB, e do Cardeal Raymundo
Damasceno Assis, Arcebispo de Aparecida, pelo caloroso acolhimento fraterno que
a Igreja do Brasil teve para conosco.
Nossa
Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, no seu poder
e bondade, interceda por todos os nossos países e nos ajude a viver na
misericórdia de Deus!
Aparecida, Brasil, 27 de setembro de
2016