Dom Vilson Dias de Oliveira, DC
Bispo Diocesano de Limeira, SP
“Deus fará justiça aos que gritam por Ele”
Leituras: Êxodo 17, 8-13; Salmo 120
(121), 1-2.3-4.5-6.7-8 (R. cf. 2); Segunda Carta de São Paulo a Timóteo 2, 14-4,2;
Lucas 18, 1-8.
COR
LITÚRGICA: VERDE
Animador: Nesta páscoa semanal Jesus nos revela o cuidado que Deus
tem com seus eleitos, e nos ensina que é necessário orar sempre, sem desanimar.
Pois quem permanece em oração vive como discípulo, capaz de perceber no
cotidiano da vida a presença misericordiosa da Deus. Deus não nos atende
conforme pedimos, mas conforme necessitamos, pois Ele sabe a seu tempo o que é
melhor para nós. Rezar sempre, sem desanimar, porque só é duradouro aquilo que
se cultiva todos os dias. Que sejamos homens e mulheres orantes.
1. Situando-nos
Continuamos, com Jesus, nosso caminho rumo a Jerusalém. Lucas
insiste muito no caminho: caminho para uma meta, caminho novo, caminho
diferente. Vamos, há vários domingos, abrindo este caminho com Jesus. Este
caminho tem seus riscos e perigos para a via de quem o trilha. Mas sustenta na
caminhada uma certeza que hoje Jesus nos dá: a certeza da justiça divina para
quem pedi-la insistentemente.
Lemos os textos deste domingo na ótica da oração, da
perseverança na Palavra recebida do Senhor. Para o cristão, rezar deve ser tão
habitual como para todas as pessoas é o falar. Contudo, a condição para a
oração é a fé. Só quem acredita na justiça de Deus, na força de sua presença,
ficará de mãos estendidas ao alto como Moisés durante a batalha.
2. Recordando a Palavra
O livro do Êxodo nos traz a batalha de Rafidim, em que os
israelitas saem para conhecer os amalecitas que os vieram atacar. Trata-se de
um povo descendente de Amalec, neto de Esaú (Gn 36, 12-16). Povo nômade que
assaltava outros grupos no deserto. É de notar ainda que este texto contém a
primeira menção ao nome de Josué, apresentado como chefe do exército israelita.
Moisés manda os guerreiros para a luta e diz que, na hora da
batalha, estará de pé, na montanha, com o cajado, o bastão de Deus, na mão.
Assim, Deus age motivado pela oração de Moisés e faz Israel
vencer. Quando, porém, Moisés baixa as mãos e deixa de rezar, a sombra da
derrota atinge o povo. Ou seja, a força de Israel não está nos guerreiros que
participam da batalha contra os amalecitas, mas na atividade orante de Moisés. Este
bastão não é uma “varinha mágica” dos contos de fada, mas é o sinal de que
Moisés é o líder, o chefe do povo. Sem a oração, sinalizada pelas mãos
erguidas, o povo não obtém a vitória. Não basta somente a luta como não basta
somente a oração. As duas coisas devem ser simultâneas: o lutar e o rezar.
Quanto a luta do dia a dia acontece com a ajuda da oração, Deus favorece nossa
vitória.
A Carta de Timóteo o exorta a ter sempre presente a Sagrada
Escritura, que ele conhece desde sua infância. O autor, quando fala da Sagrada
Escritura, está se referindo ao Antigo Testamento, que os judeus aprendiam
desde os cinco anos de idade. Mas há algo novo: as Escrituras devem ser lidas
com fé e desde a fé em Jesus Cristo. Assim elas se tornam sabedoria de Deus que
conduz à salvação.
É bom lembrar que nós, cristãos, lemos o Antigo Testamento não
sob a ótica judaica, mas desde Jesus Cristo, que lhe dá pleno sentido e
cumprimento. Temos a Tradição da Igreja, que nos ajuda a fazer uma leitura
correta e plena da Escritura revelada. O primeiro dever de Timóteo como o de
todo o cristão, sobretudo dos que receberam a imposição das mãos, é pregar o
Evangelho.
No Evangelho desse domingo Jesus toca num tema que então
preocupava muito as pessoas: a vinda do Reinado de Deus. Jesus não procura
empurrar a questão para o além, mas insiste em levarmos mais a sério o muno que
temos, fazendo com que nele seja realidade o Reinado de Deus.
Lucas põe uma espécie de moldura na parábola: diz que ela foi
contada por Jesus para mostrar a necessidade de rezar sempre, sem desistir.
Desse modo, podemos ler a parábola com duas figuras centrais: a viúva (ótica de
Lucas) ou o juiz (ênfase de Jesus).
As viúvas, no tempo de Jesus, eram pessoas que não tinham
ninguém por elas. A viúva apresentada no Evangelho está sozinha. Por isso seu
único meio de lutar pelo que é de seu direito (provavelmente alguma dívida a
ser paga) é a insistência com o juiz. Pela insistência, que chega a aborrecer o
juiz, ela recebe o que pedia: justiça. Olhando mais para a figura do juiz, que
não temia a Deus e não respeitava homem algum, nos deparamos com o lado divino
da oração.
Deus não é insensível. Se até um homem insensível a Deus e às
pessoas atende um pedido feito com insistência, quanto mais Deus, que nos ama,
é bom e nos escuta. E Jesus acrescenta: será que Deus vai fazer esperar a quem
grita a Ele de dia e de noite? Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa!
É preciso ampliar a compreensão de fazer justiça. Justiça é
sinônimo de salvação. Receber a justiça de Deus para quem lhe foi fiel,
significa receber a salvação de Deus. Vimos no texto que Deus é juiz, como Ele
toma partido pelo que sofre perseguição e injustiça. Deus não é um juiz tal
qual conhecemos, que analisa processos e dita sentenças pretendendo
imparcialidade. Deus é juiz por ser parte interessada nos valores do Reino e
porque toma partido por aquele que trabalha por esses valores e, por causa
disso, é injustiçado pelo mundo.
Jesus dá uma lição clara - se até um juiz injusto atende os
pedidos insistentes da viúva, quanto mais Deus vai atender os pedidos daqueles
que Ele ama! Se a persistência da viúva alcança o seu objetivo, quanto mais a
oração persistente do discípulo, diante de um Deus gracioso: “E Deus não fará
justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por Ele? Será que vai
fazê-los esperar? Eu lhes digo que Deus fará justiça para eles, e bem depressa”
(v 7.
Aqui o texto nos faz lembrar um dos temas centrais de toda a Bíblia - o grito
do oprimido e a resposta de Deus. É um tema constante, passando pelas páginas
bíblicas desde Êxodo 3. Assim, a questão decisiva não é se Deus fará ou não
justiça às comunidades oprimidas - é óbvio que vai! A pergunta a ser respondida
se formula no versículo 8, que já foi citado: “O Filho do Homem, quando vier,
será que vai encontrar a fé sobre a terra?”
O problema não é Deus, mas os discípulos - será que os
discípulos de Jesus ficarão fiéis a Ele durante a longa espera até a sua
segunda vinda? Para que tenham forças para vencer, então é necessário que eles
rezem constantemente e com fé. Essa mesma ideia se faz presente no fim da
Oração do Senhor: “Não nos deixes cair em tentação” (Lc 11, 4). Lá também,
Jesus ensinou que a comunidade deve pedir o dom da fé e da perseverança, para
não desanimar diante dos problemas da vida.
É muito atual esse ensinamento de Jesus. Em uma época de tanto desânimo, tanta
falta de perspectivas, quando se chega a falar no “fim das utopias”, devemos
sempre rezar para que não sucumbamos à tentação do desânimo e do desespero, de
não acreditar na força do “grão da mostarda”, de desacreditar na presença do
Reino. O Evangelho de hoje, aplicado a nós, existe para mostrar-nos: “a necessidade
de rezar sempre, sem nunca desistir” (v. 1). Cabe a nós praticá-lo!
Mais importante que ter nossas orações “atendidas”, é ter nossa
fé viva. Não olhemos para a falta de fé dos outros, do mundo, da sociedade.
Perguntemo-nos: tenho fé que me mantenha firme em meio às adversidades do
caminho?
3. Atualizando a Palavra
O texto do livro do êxodo e do Evangelho de Lucas têm grande
relação. Através deles emerge a imagem de um Deus diferente daquele que às
vezes imaginamos. O Deus da Bíblia não é ocioso ou desinteressado pelos seres
humanos. É um Deus associado com a tarefa criativa e renovada da humanidade.
Devemos ter a mesma consciência que o povo judaico retratado na primeira
leitura: os triunfos e sucessos que temos na vida não se devem às nossas
forças, mas à ajuda e ao poder do Senhor. Esta ajuda representa a ação de Deus
em nossa vida cotidiana. No entanto, ela só acontece se, como Moisés,
estivermos com as mãos erguidas para o alto.
Normalmente é nessa posição que rezamos a oração das orações: o
Pai-Nosso. Colocar as mãos ao alto é confiar-se totalmente em Deus. Um exemplo:
quando há um assalto ou a polícia aborda pessoas suspeitas, qual é a primeira
ordem que se dá? “Mãos ao alto!”. Quem está com as mãos ao alto está indefeso,
desarmado, frágil e vulnerável. É essa atitude da pessoa orante: ela se
desarma, voluntariamente, de suas forças para confiar na força de Deus.
O modelo de oração que Jesus nos propõe é mais amplo: colocar a
vida nas mãos de Deus, como a viúva colocou sua causa, que era para ela
fundamental, nas mãos do juiz. Para que a oração recitada por nossos lábios
seja autêntica, têm que ser a expressão de nossa maneira real de sermos
cristãos. Essa maneira real de ser, que se expressa em nossa petição, é uma
existência dependente de Deus.
Só quando o ser humano, vencidas todas as autossuficiências,
sente-se existencial e realmente dependente de Deus, só então está em
condições. De poder exteriorizar honestamente sua própria realidade, sua
necessidade de Deus. Ao mesmo tempo, orar é aceitar-nos a nós mesmos,
reconhecer e fazer tudo quanto podemos realizar com a graça de Deus. Por isso,
rezamos na medida em que nos esforçamos para viver a vontade de Deus.
Por meio do Documento 100 da CNBB, os bispos nos alertam: “A
verdadeira celebração e a oração exigem conversão e não criam fugas intimistas
da realidade, ao contrário, remetem à solidariedade e à alteridade.
Infelizmente, muitas experiências de oração se desenvolvem sem essa dimensão.
Pela oração superam-se o desânimo e o cansaço diante da missão” (CNBB. DOC,
100, n.279). Santo Agostinho, em um de seus sermões, diz que se a fé fraqueja,
a oração padece. A fé é a fonte da oração. Assim como não pode nascer o rio de
uma fonte seca, não pode haver oração por parte de uma pessoa sem fé.
4. Ligando a Palavra com ação litúrgica
A maior e mais perfeita oração que temos é a Eucaristia. Nela
nos encontramos em comunhão com o Senhor da maneira mais perfeita que nossa
condição humana permite: na Palavra ouvida e no Corpo e Sangue recebidos do
Senhor. Muitas vezes as pessoas pensam não ter tempo para a celebração
eucarística, porque têm muito a fazer. Colocar a Eucaristia em segundo plano é
baixar os braços, é parar de insistir, é desistir de Deus.
É preciso que sintamos a força do mistério que celebramos,
celebrando-o bem, de coração e celebrando-o sempre. O Documento de Aparecida,
citando Bento XVI, afirma a centralidade eucarística na vida da Igreja e do
mundo: “Só da Eucaristia brotará a civilização do amor que transformará a
América Latina e o Caribe para que, além de ser o Continente da esperança, seja
também o Continente do amor!” (DAp, n.128).
A Eucaristia tem uma dimensão fundamental na oração cristã: é
ação litúrgica da comunidade e não de um indivíduo em particular. Somos uma
assembleia convocada pelo Senhor: é Ele que nos constitui como seu povo. Somos
os chamados que respondem ao apelo e reúnem-se para render graças ao Pai por
seu Filho, Jesus Cristo.
Na celebração litúrgica, cantamos com o salmista que do Senhor é
que vem o meu socorro, do Senhor que fez o céu e a terra. É de Deus que nos vem
o socorro, a salvação. A Eucaristia é esse sacramento privilegiado, qual já
experimentamos o socorro, a atuação de Deus em nossa vida.
Preces dos fiéis
Presidente: Bendigamos a Deus nosso Pai, que protege seus filhos e
filhas e não despreza suas orações. Por isso, peçamos humildemente:
1. Senhor, pedimos por todo o
clero, que firmes na fé, não deixe de anunciar a tua Palavra, mesmo quando
perseguido.
Todos: Iluminai, Senhor, os nossos caminhos!
2. Senhor, pedimos por todos os
governantes, que façam justiça em suas ações, priorizando os que mais
necessitam.
3. Senhor, pedimos por aqueles e
aquelas que sofrem, para que encontrem na oração a força para enfrentarem suas
dores.
4. Senhor, pedimos por nossa
comunidade, que pela oração constante seja firme na fé, na esperança e na
caridade.
(Outras intenções)
Presidente: Senhor, que hoje nos
ensinais a necessidade de rezar sempre, iluminai nossos caminhos através de
nossas orações e conduzi nossas vidas nos teus caminhos. Por Cristo, nosso
Senhor.
Todos: Amém.
III. LITURGIA EUCARÍSTICA
ORAÇÃO SOBRE AS OFERENDAS:
Presidente: Dai-nos, ó Deus, usar os vossos dons servindo-vos com
liberdade, para que, purificados pela vossa graça, sejamos renovados pelos mistérios
que celebramos em vossa honra. Por Cristo, nosso Senhor
Todos: Amém.
ORAÇÃO APÓS A COMUNHÃO:
Presidente: Dai-nos, ó Deus, colher os frutos da nossa participação
na Eucaristia para que, auxiliados pelos bens terrenos, possamos conhecer os
valores eternos. Por Cristo, nosso Senhor.
Todos: Amém.
AGENDA DO
BISPO DIOCESANO:
Dia 14 de outubro (sexta-feira): Visita e Almoço na Paróquia Senhor Bom Jesus dos Aflitos
– Pirassununga; Crisma – Santa Luzia – 19h30min – Padre Anderson –
Cordeirópolis.
Dia 15/16 de outubro (sábado e
domingo): Assembleia das Igrejas – Itaici,
Indaiatuba, SP.
Dia 17/18/19 e 20 de outubro
(quinta-feira): Atualização do Clero - São Pedro,
SP.
Dia 21 de outubro (sexta-feira): Atendimento na residência episcopal 09h00 até 11h00; Crisma
– Bom Jesus – Padre Antônio Marcos – Leme -19h30min.
Dia 22 de outubro (sábado): Crisma – Nossa Senhora das Dores – Padre Ocimar – Nova Odessa,
SP – 19h00.
Dia 23 de outubro (domingo): Missa – 09h30min - DNJ –Basílica Santo Antônio de Pádua –
Americana, SP.
BÊNÇÃO E
DESPEDIDA
P. O Senhor esteja convosco.
T. Ele
está no meio de nós.
Presidente: A paz de Deus, que supera todo
entendimento, guarde seus corações e suas mentes no conhecimento do amor de
Deus e de seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo.
Todos: Amém.
Presidente:
(Dá a benção
despede a todos).