Noite feliz! Noite de luz! Noite de paz! O centro desta noite é o Menino do presépio, o “Menino que nos é dado”, segundo o profeta Isaías. Este Menino é chamado de “Príncipe da paz”; traz consigo a força renovadora de toda velhice do mundo. Na voz do profeta, “este Menino é Deus-conosco”. Ele será mais sábio que Salomão para fazer justiça, mais forte que Davi para reunir o povo de Deus. Ele será um líder maior que Moisés para conduzir a humanidade à vida eterna.
Nós o vemos reclinado na manjedoura onde comem os animais. Ele é maior que todo o universo porque “tudo foi feito por meio dele e sem Ele nada foi feito”. O Menino nasceu em Belém, a mais pequenina cidade da Judéia, na simplicidade, humildade e pobreza.
Esta a noite feliz em que o céu e a terra se uniram numa aliança nova a ser selada, para sempre, com o sangue desse Menino a ser, um dia, derramado na cruz a fim de reabrir para a humanidade as portas do “Paraíso perdido”. Esta a noite feliz que nos convida a entrar na gruta despojada e pobre que abriga toda a riqueza do céu e da terra: o Menino Deus envolto em panos, deitado no cocho que alimenta animais. Ali está sob o aconchego de seus pais, Maria e José, porque “não havia lugar para eles na casa dos homens”. Esta a noite feliz para todos que entram na mesma gruta, com espírito de fé, à procura de Deus.
Nesta gruta encontramos um homem, justo e santo, chamado José, carpinteiro de profissão que acolheu o mistério da encarnação do Filho de Deus no seio de sua esposa. Nesta gruta, encontramos Maria, a jovem mãe judia que acaba de dar à luz, também de modo misterioso, o Filho gerado em seu seio pela ação do Espírito Santo. Com nossos olhos extasiados, encontramos nessa mesma gruta a quem mais procuramos:
o Filho do Pai eterno, “Deus de Deus, Luz da Luz” e também Filho de Maria, “imagem visível do Deus invisível” que vem salvar o povo de seus pecados. Por tudo isso, esta é a noite feliz!
Esta é a noite de luz, da luz que envolveu os pastores nos campos de Belém onde o Anjo do Senhor lhes anunciou uma grande alegria: “Nasceu-vos, hoje, um Salvador”. Esta a noite de luz que nos envolve a todos no amor de Deus Pai que entrega seu Filho Unigênito para ser nosso Irmão primogênito que veio nos ensinar a amar a Deus e chamá-lo de Pai e amar nossos semelhantes e chamá-los de irmãos. Esta a noite de luz que nos arranca das trevas do pecado, reveste-nos da filiação divina e torna-nos herdeiros de Deus e co-herdeiros de seu Filho, o Verbo que se fez carne e veio morar conosco. “O povo que caminhava na escuridão viu uma grande luz.” Com essa viva imagem, Isaías não se refere à escuridão da noite mas à escuridão da mente, do coração, de uma vida sem destino. A escuridão dos nossos dias é a fome, a impunidade, a corrupção... O Menino do presépio é a “Luz que ilumina todo homem que vem a este mundo”.
Por tudo isso, esta é a noite de luz.
Esta a noite de paz, noite em que Deus entra na família humana e nós entramos na família de Deus. Nesta noite, os anjos cantam: “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra.” Eis a grande revelação: nossa paz nasce do amor de Deus por nós que nos leva a amá-lo em nossos irmãos. Natal, festa que toca profundamente nossos corações, desperta em nós a ternura diante da Criança do presépio, impele-nos a seguir o exemplo dos pastores que, depois de ouvir o anúncio do Anjo do Senhor e o canto dos anjos, logo decidem: “Vamos a Belém ver o acontecimento que o Senhor nos revelou”. Esta a noite de paz que nos faz olhar para dentro da história e contemplar o Menino do presépio que, depois de crescido, pôs-se a falar para a multidão:
“Vinde a mim todos que estais fatigados e eu vos aliviarei. Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e achareis a paz que vossos corações tanto procuram.” Esta a noite da vitória do amor sobre a malquerença, a noite do oferecimento do perdão, a noite em que se superam desigualdades, a noite em que se busca a unidade entre todos. Por isso, esta é a noite de paz!
Noite feliz! Noite de luz! Noite de paz! Podemos ver nela a grande e inefável noite porque grande e inefável é o acontecimento do Natal. Ao chegar a plenitude do tempo, levando a termo a longa espera dos séculos, nasceu o Filho de Deus entre nós na pobreza, simplicidade e humildade da gruta de Belém. Ele tomou “a semelhança humana, humilhou-se e fez-se obediente até a morte e morte de cruz”, o que revela a medida sem medida do amor de Deus Pai pela humanidade. Despojado, humilde e simples há de ser nosso coração para que o “Menino que nos foi dado” possa nele nascer.
O dia de Natal vale por todos os outros. Nesse dia, reconhecemo-nos irmãos, somos solidários com os pobres, esquecemos o egoísmo que nos leva a pensar só em nós mesmos e o orgulho que faz nos considerarmos mais que os outros. Nesse dia, desejamos votos de felicidade a quantos passam por nós, enviamos cartões aos amigos, damos presentes em homenagem a quem se faz Presente entre nós e se dá como Presente para nós. Por que esses sentimentos não nos acompanham todos os dias do ano?
Dom Eduardo Koaik - Bispo Emérito de Piracicaba