O Diretório da Missa com crianças
Introdução: breve contexto histórico-eclesial
A década de 60 deu início à promoção e à geração de uma nova mentalidade que revolucionaria todos os seguimentos culturais, religiosos, morais, éticos, políticos, etc. da sociedade atual. A Igreja encontra-se, ativamente, como uma das principais fontes de renovação da sua presença no mundo. O Concílio Ecumênico do Vaticano II é a manifestação concreta desse despertar do sopro restaurador da novidade permanente do Evangelho da salvação. O Espírito Santo, através do papa João XXIII, incitou e convocou todos os componentes da vida eclesial para um profícuo “aggiornamento” da fé, para a redescoberta da fé nas linguagens e categorias do homem de hoje, como resposta imanente e transcendente às interpelações de sua vida moderna.
De fato, o Concílio despertou a Igreja da letargia, acomodação e pseudo solidez estática de verdades e seguranças que não mais acompanhavam o mundo com suas aceleradas transformações.
Quem viveu este período histórico da nossa época, experimentou vivamente todo esse movimento restaurador das estruturas e mentalidades até então padronizadas.
É muito natural que nada disso pudesse ser feito com total previsibilidade. A experiência tornava-se, cada vez mais, o elemento constitutivo da liberdade de escolha. A mentalidade “revolucionária” de então, se manifestava claramente no lema: “é proibido proibir”. Doravante, tudo deveria passar pelo crivo da experiência. Dentro desse novo modo de ver o mundo e projetar a vida, seria inimaginável pensar que a Igreja mobilizaria o seu “aggiornamento” fora desse contexto reinante e gerador de novidade.
Quando a reforma litúrgica estava ainda movendo os seus primeiros passos, já haviam começado as experiências no campo da celebração dos sacramentos, destacando-se o da eucaristia.
O primeiro fenômeno a destacar-se foi o da celebração da missa em casas particulares. Este estava ligado a acontecimentos familiares, como o nascimento de um filho, o aniversário e outros acontecimentos; eram ocasiões em que se convidavam parentes, amigos, vizinhos. Nas famílias mais atuantes na vida eclesial, a festa familiar tornava-se também religiosa, acentuando-se a celebração da eucaristia. Com freqüência, o fenômeno estava ligado à evangelização e aos nascentes movimentos familiares. As reuniões, por exemplo, do Movimento Familiar Cristão, eram concluídas solenemente com a celebração da eucaristia. Sem dúvida, esse modo novo e mais íntimo de se aproximar da celebração eucarística se mostrou um fenômeno pastoral muito fecundo.
Logo apareceu também o forte fenômeno das celebrações eucarísticas ligadas à evangelização e à catequese dos jovens e das crianças. A pastoral dos grupos, diante das novas aquisições da pedagogia, teve um grande desenvolvimento. Estava em voga encerrar as reuniões ou encontros de grupos de pastorais com a celebração da missa. Tornou-se comum identificar a missa segundo as pastorais: das famílias, dos jovens, das crianças, das favelas, dos presídios, dos trabalhadores, etc.
A chamada missa dos jovens, como também a das crianças, eram aquelas em que eles participavam majoritariamente. O que impressionava era a grande participação, o dinamismo e a vivacidade da celebração. De modo geral, essa vivacidade celebrativa não advinha de elementos extravagantes, a princípio, mas simplesmente de cânticos e músicas mais adequadas à sensibilidade dos jovens e das crianças, da homilia que mais os envolvia, das intenções espontâneas nas orações dos fiéis, da oração do Pai nosso de mãos dadas e do festivo cumprimento da paz. Em geral, a estrutura da missa era normal. Só a forma externa a fazia parecer diferente. Mas, para tal, se requeria que o sacerdote responsável fosse de grande equilíbrio e tivesse também o mínimo de senso litúrgico, o que nem sempre ocorria.
Todas essas coisas são para nós hoje muito óbvias. Porém, a passagem do fixismo absoluto para certa espontaneidade, impressionava e, para alguns, parecia uma dessacralização.
É dentro desse contexto que a pastoral da catequese e da liturgia de crianças procura construir a sua própria renovação, atualização e comunicação. O desenvolvimento da psicologia infantil, da pedagogia e demais ciências afins contribuiu bastante para situar a criança no centro das atenções da catequese e da liturgia.
Assim, em se tratando de crianças, a primeira atitude é a de reconhecê-las como membros constitutivos da celebração e por isso mesmo, com direitos e obrigações à participação ativa nas celebrações dos mistérios da fé, segundo a própria condição.
Com o Vaticano II, portanto, o princípio da adaptação litúrgica encontra, por assim dizer, uma consagração oficial. A adaptação se refere aos mais diversos setores humanos e pastorais e entre estes, sem dúvida não menos importante, aquele das celebrações com as crianças 1.
É nas pegadas dessa orientação que floresceu uma vasta literatura especializada no campo pedagógico-pastoral-litúrgico, destacando-se os documentos emanados pela Sé Apostólica, dentre os quais, o Directorium de missis cum pueris (Sagrada Congregação para o Culto Divino, AAS 66, 1974), as aplicações e as adaptações das Conferências Episcopais com os Lecionários e sobretudo as Preces eucharisticae pro missis cum pueris et de Reconciliatione (Sagrada Congregação para o Culto Divino, EV 5, 1974-1976).
1 Sacrosanctum Concilium 19.
2 Essa literatura recebeu abundantes comentários nas revistas pastorais, dos quais recomendo autores que constam da bibliografia: Aldazábal (1974, p. 195-209) ; Cuva (1975, p.731-764); Filippi (1974 a, p. 640-657, 1974 b, p. 64-71); Haquin (1974 p. 112-123); Lodi 1974, a; 1974 b; Kaczynski (in Notitiae 10 ,1974, p. 22-28); Paternoster (1977, p. 98-129; 1978, p. 234-240) ; Mazza (1977 p. 624- 634; 1978 p. 249-258) ; Sartore (1978, p. 241-248); Raffa–Venturi, (1980 p. 515-531); Salvetat (1979 p. 85-103) ;
Vegas (1977 p. 451-459).
Esses documentos oficiais e fórmulas litúrgicas2 suscitaram toda uma literatura que apresenta indicações e instrumentos para a celebração, principalmente por tratar-se de missa com crianças.
Estas celebrações, naturalmente, requerem não só preparação pedagógica, sensibilidade e amor, mas também uma boa dose de criatividade e presença de espírito. A antropologia e a vivência pastoral demonstram a repercussão profunda que tem na vida da pessoa a experiência religiosa na infância.
Esta é uma razão e, consequentemente, um motivo suficiente por si mesmo para ressaltar sua importância.
Desde o primeiro Sínodo dos Bispos (1967), em suas intervenções sobre a reforma da liturgia, diversos bispos apresentaram o desejo das respectivas Conferências episcopais de haver especiais adaptações para as missas com crianças. O cardeal Lecaro dissera em resposta que “Não se trata de formar um rito especial, mas sobretudo de determinar alguns elementos de se reter, abreviar ou omitir, de escolher textos mais adaptados” 3.
A Instrução Geral sobre o Missal Romano apresenta as linhas gerais da celebração eucarística, bem como regras para cada forma particular de celebração, deixando às Conferências episcopais a tarefa de estabelecer normas para as adaptações às tradições e à índole dos seus fiéis4.
Neste período, não só eram feitas perguntas sobre adaptações, mas algumas comissões litúrgicas tomavam a iniciativa de oferecer normas para a celebração da missa com crianças. Isso sem contar com adaptações que iam sendo feitas livremente por sacerdotes.
A Congregação para o Culto Divino, sendo o Cardeal Tabera Prefeito e o Mons. Bugnini secretário, em de março de 1971, decidiu enviar uma circular-consulta aos presidentes das comissões nacionais dos cinco continentes, indagando o parecer sobre a questão, ou seja, as iniciativas eventualmente existentes, publicações e propostas. A circular foi enviada a 15 de março a 109 comissões, vindo a receber 58 respostas. Desta iniciativa começou o caminho que conduziria à promulgação do Diretório para a missa com crianças.
O Diretório para missa com crianças: idéias básicas
O Diretório para missa com crianças, texto de 55 parágrafos, se desenvolve em três capítulos (5) que correspondem a uma tripla interrogação pastoral: Como iniciar as crianças na existência cristã e prepará-las para a Eucaristia? Como acolher as crianças na Eucaristia de uma assembléia de adultos? Como fazer viver a Missa quando a assembléia é composta por uma maioria de crianças?
Favorecer a vida cristã das crianças batizadas e sua participação na Eucaristia é uma tarefa que concerne à Igreja inteira, porém em especial, aos pais e às famílias, aos educadores, aos grupos de jovens e à escola.
3 Sínodo dos Bispos (1967, p. 369).
4 Intrução Geral sobre o Missal Romano n. 6, 3ª Edição, 2004.
5 Além da Introdução que situa o problema ao nível pastoral e jurídico (1-7) e a conclusão (55), o Diretório se compõe de três capítulos sucintos: Educação das crianças para a celebração eucarística (8-15); Missas de adultos, das quais também as crianças participam (16-19); Missas de crianças, das quais somente alguns adultos participam (20-54).
A família cristã desempenha papel principal na transmissão destes valores humanos e cristãos.
Por este motivo a formação cristã que se oferece aos pais ou a outras pessoas encarregadas da educação, deve ser bem aprimorada também se levando em conta a formação litúrgica das crianças6
O documento declara que se interessa pelos pré-adolescentes, isto é, até os 12 ou 13 anos de idade mais ou menos, final da catequese da infância. A formação religiosa das crianças física ou mentalmente excepcionais exige uma atenção toda especial e adaptações mais profundas; assim o Diretório dá uma primeira base útil.
O Diretório visa às crianças que ainda não atingiram a idade chamada de pré-adolescência. De per si, não se refere às crianças com impedimentos físicos ou mentais, posto que para elas se requeira geralmente uma adaptação mais profunda; contudo, as normas seguintes se podem aplicar também a elas, com as devidas acomodações7.
A preocupação de adaptação é a palavra-chave de todo o texto. Desde as primeiras linhas, três motivos são dados: a psicologia das crianças, as condições atuais da vida, a linguagem litúrgica.
Embora já seja lícito, na Missa, fazer uso da língua materna, contudo as palavras e os sinais não estão suficientemente adaptados à capacidade das crianças. Na realidade as crianças, na sua vida cotidiana, nem sempre compreendem tudo o que experimentam na convivência com os adultos, sem que isto lhes ocasione algum tédio. Por esse motivo, não se pode pretender que na liturgia todos e cada um de seus elementos lhes sejam compreensíveis. Poder-se-á, entretanto, causar às crianças um dano espiritual se, repetidamente e durante anos, elas não compreendessem quase nada das celebrações; pois recentemente a psicologia moderna comprovou quão profundamente podem as crianças viver a experiência religiosa, desde sua primeira infância, graças à especial inclinação religiosa de que gozam 8.
A psicologia sublinha que a criança é capaz de uma participação global na vida dos adultos, sobretudo nos seus primeiros anos; dentro do mundo dos adultos, ela experimenta as realidades por simbiose. Progressivamente, seu desejo de compreender e de participar de uma maneira mais pessoal será expresso9.
Por outro lado, as condições atuais de vida tornam, por vezes, mais difícil o progresso espiritual das crianças: por exemplo, a fragilidade da família e o pluralismo com o qual a criança se depara. Uma criança é vítima da desunião dos pais, uma outra encontra na sua família pessoas crentes e pessoas não-crentes, uma outra brinca com colegas de outras religiões ou sem religião alguma.
Mais do que suscitar uma prática religiosa regular, a meta a ser alcançada é a de uma vida religiosa na qual a Eucaristia tenha um lugar primordial. Pois, não há plena vida cristã sem Eucaristia, como também não há Eucaristia sem vida autenticamente cristã. Para tal, é preciso criar condições para que a criança possa ter a experiência da fé:
6 Diretório, n. 10.
7 Ibidem, n. 6.
8 Ibidem, n. 3.
9 Para uma reflexão sobre o problema, consultar Alleti (1974, p. 615-633).
Pela consciência do dever livremente aceito no Batismo de seus filhos, os pais são obrigados a ensinar-lhes gradativamente a orar, rezando diariamente com eles e procurando fazer com que rezem sozinhos 10.
Embora a própria liturgia, por si mesma, já ofereça às crianças amplo ensinamento, a catequese da Missa merece um lugar de destaque dentro da instrução catequética, tanto escolar como paroquial, conduzindo-as a uma participação ativa, consciente e genuína. Esta catequese, bem adaptada à idade e à capacidade das crianças, deve tender a que conheçam a significação da Missa por meio dos ritos principais e pelas orações, inclusive o que diz respeito à participação da vida da Igreja; isto se refere, principalmente, aos textos da própria Prece Eucarística e às aclamações, por meio das quais as crianças dela participam11 Portanto, cabe normalmente aos pais iniciar seus filhos na arte da oração, especialmente pelo seu próprio modo de viver e de orar. Também a catequese geral e a iniciação à Eucaristia e à oração eucarística são encargos, na medida do possível, dos padrinhos e dos catequistas e das diversas comunidades cristãs, das quais a criança participe. Diversas celebrações de encaminhamento iniciarão progressivamente a criança nas atitudes de base da Eucaristia: silêncio, oração, canto, escuta. Mais especialmente, as celebrações da Palavra, realizadas nos principais momentos do ano litúrgico prepararão a criança para participar da Missa. De tal forma preparada, a criança poderá viver a Eucaristia como um tempo de comunhão intensa com o Cristo e com seus irmãos. A Missa será para ela um dos momentos mais significativos de sua vida cristã.
Por outro lado, o Diretório enfatiza que a catequese deve preocupar-se em dar à criança uma experiência de vida cristã. Desde logo, não se pode separar a iniciação cristã de uma formação humana. A criança precisa experimentar, segundo a idade e o progresso pessoal, os valores humanos inseridos na celebração eucarística, e precisa aprender a conviver com os outros, a escutar, a acolher, a agradecer, a pedir perdão, a participar de uma festa, a se associar pelo canto à vida do grupo, etc. Estas atitudes de base de vida social são desenvolvidas na celebração12.
O segundo capítulo fala das Missas de adultos, das quais também as crianças participam. A criança não deve ser posta em quarentena dentro de um grupo de iguais; ela tem o direito de ser introduzida progressivamente em uma comunidade mais ampla. É por isso que, antes de examinar o caso das missas com crianças, o Diretório relembra, em algumas palavras, a necessidade de dar lugar às crianças nas assembleias de tipo paroquial.
Alguns parágrafos são dedicados a esta situação bastante freqüente. Muitas pequenas paróquias não podem prever uma missa com crianças no domingo; em muitos lugares, as crianças acompanham os pais. Vindo juntos à assembléia, pais e filhos dão um testemunho recíproco de sua fé; não se pode subestimar este interesse.
10 Diretório, n. 10.
11 Ibidem, n. 12.
12 Ibidem, n. 8-13.
A participação das crianças nas missas paroquiais do domingo e das festas exige uma atenção especial. Com efeito, se elas estão em contato com realidades que não podem entender, sua formação religiosa fica gravemente perturbada. Três sugestões são fornecidas:
1. As crianças, especialmente as menores, podem ser reunidas em um lugar próximo, de onde elas retornarão à igreja para a bênção final da missa; esta maneira pode atrair sua participação na Eucaristia dos adultos13
2. As crianças podem ser reunidas em um local anexo e participar de uma liturgia da Palavra mais adaptada a elas, e voltar para a segunda parte da Missa14.
3. As crianças podem participar ativamente da Eucaristia geral, de diversas maneiras: pelo canto, pela procissão das ofertas, como será dito no último capítulo. Quando a assembléia contar com muitas crianças, o padre poderá dirigir-lhes a palavra, na homilia e nas instruções15.
O terceiro capítulo, que aborda a questão central do documento, é o mais desenvolvido (nn 20-54); antes de fornecer sugestões práticas para o desenvolvimento da Missa, o documento apresenta uma reflexão sobre o comportamento das pessoas; algumas questões novas concernentes aos meios de expressão, música, gestos, imagens são evocados brevemente.
Quanto à atitude das crianças, não se trata de ocupá-las durante a Missa, mas de ajudá-las a viver com fé. Elas poderão preparar o lugar da celebração, proclamar as leituras, tocar algum instrumento musical, cantar no coral, responder à homilia, formular intenções de oração, levar a oferta de pão e vinho. Podem também ser convidadas a formular livremente alguns motivos para ação de graças antes da oração eucarística. Sua participação culmina com a comunhão: serão ajudadas a descobrir o valor deste gesto que é dos mais importantes, embora não seja espetacular16.
Quanto ao padre, por seu comportamento e sua palavra, ele assegurará à Missa seu caráter “festivo, fraternal e recolhido”, evitando tanto o discurso pueril quanto o discurso muito didático.
Ele se esforçará para “tocar o coração das crianças” 17.
Quanto aos adultos presentes, eles vieram para rezar com as crianças e não para fiscalizá-las.
Uma novidade: eles poderão, por vezes, fazer a homilia. “Nada impede que um dos adultos que participam da missa com as crianças lhes dirija a palavra após o Evangelho, com a aprovação do pároco, sobretudo se para o sacerdote for difícil adaptar-se à mentalidade das crianças” 18.
O desenvolvimento da Missa não é uma série de gestos e de orações que se unem em uma ordem arbitrária; é a oração estruturada de uma comunidade cristã reunida para celebrar Jesus Cristo Salvador. Às quatro partes da Missa correspondem quatro atitudes da assembléia: entrar na celebração, escutar a Palavra, render ação de graças e conclusão.
13 Ibidem, n.16.
14 Ibidem, n.17.
15 Ibidem, n.18-19.
16 Ibidem, n. 22.
17 Ibidem, n. 23.
18 Ibidem, n. 24.
Celebrar com as crianças é ir com elas ao encontro do Senhor que nos reúne, que se nos revela, que se nos oferta e se nos dá em alimento espiritual, a sagrada comunhão. Para facilitar a participação das crianças, são previstas algumas possibilidades.
A entrada em celebração:
O rito inicial da missa se compõe de elementos bastante numerosos e pouco desenvolvidos: o canto, o sinal da cruz, a saudação, o convite ao ato penitencial, o glória, a oração. Em vista de uma melhor participação, poder-se-á valorizar um dos ritos iniciais, mas sempre terminando pela oração 19.
A escuta da Palavra:
O objetivo desta parte da Missa é receber com fé a Palavra de vida capaz de converter o coração do homem, de nutrir sua fé e de animar sua vida. Podem ser escolhidas as leituras conforme sua utilidade espiritual para as crianças. Se só um texto for retido, este deverá ser uma passagem evangélica. A brevidade do texto não facilita, necessariamente, a participação das crianças. Um convite antes da leitura, a evocação do santo do dia e a homilia ajudarão a obter uma melhor recepção da Palavra. Se for necessário rezar o Credo, pode-se utilizar a versão do Símbolo dos Apóstolos20 .
A Eucaristia:
A participação exterior das crianças é menos exigida na seção eucarística da missa. As crianças já devem ter aprendido a rezar silenciosamente. Pela escuta e pelas aclamações elas se unirão à oração eucarística. Serão usadas as quatro orações eucarísticas aprovadas para os adultos, até que a Sé apostólica designe outras para as crianças. As preces que preparam para a comunhão são talvez por demais abundantes para as crianças. Serão guardadas pelo menos as orações do Pai- Nosso, a fração do pão e o convite à comunhão21.
A conclusão:
O padre pode se dirigir livremente às crianças no final da missa para convidá-las a viver em um espírito de ação de graças. Em algumas datas, ele poderá usar uma bênção mais desenvolvida22.
O Diretório se mostra para algumas questões, ao mesmo tempo, aberto e reservado. É permitido introduzir textos de fontes diferentes das bíblicas? A imagem e as músicas gravadas podem ser usadas nas celebrações? O que pensar da expressão corporal? A reserva nestes assuntos é justificada: trata-se de respeitar a diferença de sensibilidade dos povos. É uma das tarefas das Conferências episcopais23
19 Ibidem, n. 40.
20 Ibidem, n. 41-49.
21 Ibidem, n. 50-54.
22 Ibidem, n. 54, 136.
Com relação aos gestos, o Diretório lembra que a liturgia pede a participação de todas as pessoas: gestos do padre, comportamentos da assembléia, atitudes, deslocamentos, etc., devem exprimir o envolvimento e a participação de cada um na ação litúrgica. Nada é dito expressamente sobre a expressão corporal ou sobre a dança24.
A palavra e o silêncio são complementares; a qualidade da palavra favorece a qualidade do silêncio nas celebrações. Os educadores deverão preparar as crianças para que façam orações pessoais; a capacidade das crianças orarem em silêncio será o sinal de sua capacidade de viver na fé as diversas formas de expressão que lhes são propostas. Se as crianças são convidadas a cantar, a falar, a se deslocar, isto não é para ocupar seu tempo enquanto se realiza a ação à qual elas não têm acesso25.
A música vocal e instrumental tem muita importância nas liturgias para as crianças, embora os instrumentos não devam se impor tanto que prejudiquem o canto; por outro lado, a música gravada pode ser apenas uma solução em busca de maior facilidade. Embora se deseje a qualidade musical, é preciso também favorecer a participação da assembléia. Certa sobriedade se impõe no uso dos instrumentos, porque sua utilização precisa estar integrada no desenvolvimento da celebração26.
A utilização da imagem na liturgia é objeto de inúmeras pesquisas. A liturgia sempre integrou os símbolos visuais: a cor, a luz, a cruz, o círio pascal, etc. Não há dúvida sobre este princípio, com a condição de que se faça bom uso destes meios de expressão.
Além desses elementos visuais próprios da celebração e de seu ambiente, introduzam-se, oportunamente, outros que ajudem as crianças a contemplar as maravilhas de Deus na criação e na redenção, e sustentem visualmente sua oração. Nunca a liturgia deverá aparecer como algo árido e somente intelectual. Por esta mesma razão, pode ser útil o emprego de imagens preparadas pelas próprias crianças, como, por exemplo, para ilustrar a homilia, as intenções da prece dos fiéis ou para inspirar a meditação 27.
O espaço escolhido para a celebração contribui também a uma melhor participação da assembléia. Será preciso arrumá-lo para que as crianças possam “habitá-lo”. A reflexão dos últimos anos sobre o sagrado e a fé, nos tem feito redescobrir a originalidade do culto cristão, a prioridade das pessoas sobre as coisas da fé, sobre o rito. Contudo, é preciso cuidar mais dos sinais da nossa fé, a fim de que nos levem ao encontro de Deus. A assembléia cristã tem necessidade de um ambiente de qualidade. Algumas vezes a arrumação será simples: pregar uma foto no mural, colocar as cadeiras de forma a facilitar a comunicação e a coesão do grupo, etc. Para o Diretório, a igreja permanece o lugar privilegiado da celebração, mas será preciso descobrir o lugar da igreja mais indicado e prepará-lo para as crianças. Os lugares não reservados ao culto podem ser escolhidos sob a condição de que sejam “aptos e dignos” ou que possam ser assim, preparados28.
23 Ibidem, n. 23-33.
24 Ibidem, n. 34.
25 Ibidem, n. 37.
26 Ibidem, n. 30-32.
27 Ibidem, n. 35-36.
Conclusão
Em conclusão, pode-se dizer que a Igreja nunca se interessou tanto pela integração das crianças na celebração da eucaristia. A verdade é que a liturgia sempre foi “pensada para os adultos”. Em todo caso, falava-se sobre preparar as crianças, sobre iniciá-las com oportunas catequeses; porém, não sobre adaptar a eucaristia ao seu mundo.
Agora todas as comunidades se ocupam desse tema. A raiz se encontra, certamente, no Concílio Vaticano II com sua orientação de adaptar a celebração litúrgica às diversas culturas e classes de assembleias (SC 37-40).
A acolhida dada ao Diretório foi, sem dúvida, variada. Para uns, certamente, não houve nada de novo; pois, o proposto já se encontrava em vários lugares. Para esses, o Diretório foi uma confirmação da pastoral litúrgica já praticada. Para outros, ao contrário, o documento exprimia um ideal do qual se encontravam bem longe.
É preciso reconhecer que propor normas litúrgicas precisas para todos os países, em uma matéria tão particular como a das missas com crianças é um risco. É enorme a variedade encontrada: a idade das crianças; as capacidades de cada celebrante; a situação cultural e religiosa de cada família; as possibilidades da comunidade paroquial; a cultura do ambiente social.
Não se poderia, portanto, esperar deste texto mais do que ele poderia oferecer. Sua ajuda é limitada, porém real; a Sé Apostólica passa para as Conferências episcopais e para os educadores um chamado às suas responsabilidades em cada circunstância.
Se a adaptação aos grupos diversos é um valor, este não é o único: até onde é preciso ir quanto à especialização litúrgica? A criança é essencialmente uma pessoa em evolução, em crescimento. Não podemos esperar que cresça para fazê-la encontrar outras assembleias litúrgicas.
Também não podemos rebaixar a celebração até ao nível infantil. Em suma, a adaptação deve tomar duas direções: é preciso facilitar o acesso à liturgia pela procura de uma linguagem adaptada; é preciso também modelar a criança para torná-la capaz de um encontro amoroso com Deus na celebração. Para isso, o Diretório orienta “celebrar sem dificuldade e com alegria” 29.
Colégio São Paulo, 12 de fevereiro de 2011.
Côn. Antônio José de Moraes.
28 Ibidem, n. 29.
29 Ibidem, n. 55.