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sexta-feira, 25 de julho de 2014

A IMPORTÂNCIA DE INICIAR NA ORAÇÃO


1.1.   Sem oração não há vida cristã

Se não rezamos, a nossa vida cristã apaga-se aos poucos e corre o risco de desaparecer no meio dos afãs deste mundo. Sobre a importância da oração basta ler a introdução à IV Parte do Catecismo da Igreja Católica, sobre a oração, onde nos é dito, logo em jeito de introdução:

Catecismo da Igreja Católica 2558

“Mistério admirável da nossa fé”. A Igreja professa-o no Símbolo dos Apóstolos e celebra-o na Liturgia Sacramental, para que a vida dos fiéis seja configurada com Cristo no Espírito Santo para glória de Deus Pai. Este mistério exige, portanto, que os fiéis nele creiam, o celebrem e dele vivam, numa relação viva e pessoal com o Deus vivo e verdadeiro. Esta relação é a oração

“Esta relação é a oração”. Isso mesmo justifica a importância que o CIC dá à Oração, no conjunto das restantes partes que nela, de modo especial, se torna possível e se desenvolve a relação viva e pessoal com o Deus vivo e verdadeiro, que realiza o cristão quando professa a fé no Credo, celebra os sacramentos e cumpre os mandamentos do Senhor.

A pastoral, tanto teórica como prática, não tem insistido suficientemente, no lugar que ocupa e deve ocupar a pastoral da oração, no caminho da vida cristã, antes e depois do itinerário que leva aos sacramentos da iniciação cristã e dentro das melhores ofertas que uma pastoral deve oferecer aos cristãos de hoje, para que possam ser conscientes da sua fé e da sua relação pessoal com o Deus, que se revela, como amigo e convida a todos à comunhão com Ele. Não era assim nas primitivas comunidade cristãs, como nos lembra o CIC:

Catecismo da Igreja Católica 2624

Na primeira comunidade de Jerusalém, os crentes «eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações» (At 2, 42). Esta sequência é típica da oração da Igreja: fundada sobre a fé apostólica e autenticada pela caridade, alimenta-se na Eucaristia.


1.2.  Senhor, ensina-nos a orar

Jesus iniciou os seus discípulos na oração, primeiro com o seu próprio exemplo e depois instruindo-os com a oração do Pai-Nosso. Ele fez da oração o objeto do seu mandato. Ao mesmo tempo que nos ensina a rezar, Jesus ordena e recomenda, com insistência, aos seus discípulos, que rezem: «vigiai e orai» (Mc.14,38). Isso mesmo nos recorda de maneira sintética o CIC, cujos números mais significativos passamos a citar:

1.2.1.         Jesus reza

Catecismo da Igreja Católica 2599: Reza com as orações do seu Povo

O Filho de Deus, feito Filho da Virgem, aprendeu a orar segundo o seu coração de homem. Aprendeu as fórmulas de oração com a sua Mãe, que conservava e meditava no seu coração todas as «maravilhas» feitas pelo Omnipotente (Lc.1.49: 2,19; 2,51).

Ele ora com as palavras e nos ritmos da oração do seu povo, na sinagoga de Nazaré e no Templo. Mas a sua oração brotava duma fonte muito mais secreta, como deixa pressentir quando diz, aos doze anos: «Eu devo ocupar-me das coisas do meu Pai» (Lc 2, 49). Aqui começa a revelar-se a novidade da oração na plenitude dos tempos: a oração filial, que o Pai esperava dos seus filhos, vai finalmente ser vivida pelo próprio Filho Único na sua humanidade, com e para os homens.

Catecismo da Igreja Católica 2600: Reza impelido pelo Espírito Santo e em momentos decisivos

O Evangelho segundo São Lucas sublinha a ação do Espírito Santo e o sentido da oração no ministério de Cristo. Jesus ora antes dos momentos decisivos da sua missão: antes de o Pai dar testemunho d'Ele aquando do seu batismo (Lc.3,21) e da sua transfiguração (Lc.9,28) e antes de cumprir, pela paixão, o desígnio de amor do Pai (Lc.22.41-44). Reza também antes dos momentos decisivos que vão decidir a missão dos seus Apóstolos: antes de escolher e chamar os Doze (Lc.6,12), antes de Pedro O confessar como o «Cristo de Deus» (Lc.9,18-20) e para que a fé do chefe dos Apóstolos não desfaleça na tentação (Lc.22.32). A oração de Jesus antes dos acontecimentos da salvação de que o Pai O encarrega, é uma entrega humilde e confiante da sua vontade à vontade amorosa do Pai.


Catecismo da Igreja Católica 2601. Reza e ensina a rezar com o exemplo da sua oração

«Estando um dia Jesus em oração em certo lugar, quando acabou disse-Lhe um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar» (Lc 11, 1). Não é, porventura, ao contemplar primeiro o seu Mestre em oração, que o discípulo de Cristo sente o desejo de orar? Pode então aprendê-la com o mestre da oração. É contemplando e escutando o Filho que os filhos aprendem a orar ao Pai.

Catecismo da Igreja Católica 2602. Reza a sós, de noite e reza por nós

Jesus retira-Se muitas vezes sozinho para a solidão, no cimo da montanha, preferentemente de noite, a fim de orar (Mc.1,35; 6,46; Lc.54,.5,16). Na sua oração Ele leva os homens, porquanto Ele próprio assumiu a humanidade na sua encarnação, e oferece-os ao Pai oferecendo-Se a Si mesmo. Ele, o Verbo que «assumiu a carne», na sua oração humana partilha tudo quanto vivem os «seus irmãos» (Heb 2,12); e compadece-Se das suas fraquezas para os livrar delas (Heb 2, 15). Foi para isso que o Pai O enviou. As suas palavras e as suas obras aparecem então como a manifestação visível da sua oração «no segredo».

Catecismo da Igreja Católica 2603. Reza louvando o Pai pela revelação aos simples

Os evangelistas retiveram duas orações mais explícitas de Cristo durante o seu ministério. E ambas começam por uma ação de graças. Na primeira (Mt.11.25-27; Lc.10,21-22), Jesus louva o Pai, reconhece-O e bendi-Lo por ter escondido os mistérios do Reino aos que se julgavam sábios e os ter revelado aos «pequeninos» (os pobres das bem-aventuranças). O seu estremecimento – «Sim Pai!» – revela o íntimo do seu coração, a sua adesão ao «beneplácito» do Pai, como um eco do «Fiat» da sua Mãe aquando da sua conceção e como prelúdio do que Ele próprio dirá ao Pai na sua agonia. Toda a oração de Jesus está nesta adesão amorosa do seu coração de homem ao «mistério da vontade» do Pai (Ef.1.9).

Catecismo da Igreja Católica 2604. Reza louvando o Pai, porque este O escuta

A segunda oração é referida por São João (Jo.11,41-42), antes da ressurreição de Lázaro. A ação de graças precede o acontecimento: «Pai, Eu Te dou graças por Me teres escutado», o que implica que o Pai atende sempre o que Lhe pede; e Jesus acrescenta logo: «Eu bem sabia que Tu Me atendes sempre», o que implica, por seu turno, que Jesus pede constantemente. Assim, apoiada na ação de graças, a oração de Jesus revela-nos como devemos pedir: Antes de Lhe ser dado o que pede, Jesus adere Aquele que dá e Se dá nos seus dons. O Doador é mais precioso do que dom concedido, é o «tesouro», e é n'Ele que está o coração do Filho; o dom é dado «por acréscimo» (Mt.6,21.33).

A oração «sacerdotal» de Jesus (Jo.17) ocupa um lugar único na economia da salvação. Será meditada no final da primeira Secção. Ela revela, de facto, a oração sempre atual do nosso Sumo-Sacerdote e, ao mesmo tempo, contém tudo quanto Ele nos ensina na nossa oração ao Pai, que será explicada na Segunda Secção.

Catecismo da Igreja Católica 2605. Reza na agonia e na Cruz

Quando chegou a Hora em que cumpriu o desígnio de amor do Pai, Jesus deixa entrever a profundidade insondável da sua oração filial, não só antes de livremente Se entregar («Abbá... não se faça a minha vontade, mas a tua»: Lc 23, 42), mas até nas suas últimas palavras já na cruz, onde orar e dar-Se coincidem: «Perdoa-lhes, ó Pai, pois não sabem o que fazem» (Lc 23, 34); «em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso» (Lc 23, 43); «Mulher, eis aí o teu filho» [...] «eis aí a tua mãe» (Jo 19, 26-27); «tenho sede!» (Jo 19, 28); «meu Deus, por que Me abandonaste?» (Mc 15, 34) (56); «tudo está consumado» (Jo 19, 30); «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23, 46), até ao «grande brado» com que expira, entregando o espírito (Mc.15,37; Jo.19,30).

Catecismo da Igreja Católica 2606. Ressuscitado, intercede por nós

Todas as desolações da humanidade de todos os tempos, escrava do pecado e da morte, todas as súplicas e intercessões da história da salvação estão reunidas neste brado do Verbo encarnado. E eis que o Pai as acolhe e as atende, para além de toda a esperança, ao ressuscitar o seu Filho. Assim se cumpre e se consuma o drama da oração na economia da criação e da salvação. Dele nos dá o Saltério a chave em Cristo. É no «hoje» da ressurreição que o Pai diz: «Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei. Pede-Me, e Te darei as nações por herança e os confins da terra para teu domínio!» (Sl 2, 7-8) (58). A Epístola aos Hebreus exprime em termos dramáticos como é que a oração de Jesus realiza a vitória da salvação: «Nos dias da sua vida mortal, Cristo dirigiu preces e súplicas, com um forte brado e com lágrimas, Aquele que O podia livrar da morte e, por causa da sua piedade, foi atendido. Apesar de ser Filho, aprendeu, de quanto sofreu, o que é obedecer. E quando atingiu a sua plenitude, tornou-Se, para todos aqueles que Lhe obedecem, causa de salvação eterna» (Heb 5, 7-9).

Sete momentos de oração de Jesus[1]

O chamamento dos apóstolos

“Naqueles dias, Jesus foi para o monte fazer oração e passou a noite a orar a Deus. Quando nasceu o dia, convocou os discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolo.” (Lucas 6, 12-13)

Para se abrir totalmente à luz divina no momento em que vai chamar os seus discípulos para participarem na sua missão, Jesus passa toda a noite em oração. Não é a única vez em que reza durante a noite. E mesmo assim, um dos doze escolhidos chama-se Judas. Que mistérios nos desígnios ocultos de Deus!

A confissão de Pedro

“Um dia, quando orava em particular, estando com Ele apenas os discípulos, perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?» (...) «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Pedro tomou a palavra e respondeu: «O Messias de Deus.»” (Lc 9, 18-22)
Estamos no momento central do ministério de Jesus. Ele é reconhecido como Messias por Pedro, que por sua vez deve a sua fé à oração do mesmo Jesus.
«Simão, Simão, olha que Satanás pediu para vos joeirar como trigo. Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desapareça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos.» (Lc 22, 31-32)
Sim, a fé da Igreja está suspensa pela oração de Jesus (João 17).

A transfiguração

“Levando consigo Pedro, João e Tiago, Jesus subiu ao monte para orar. Enquanto orava, o aspeto do seu rosto modificou-se, e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante. E dois homens conversavam com Ele: Moisés e Elias, os quais, aparecendo rodeados de glória, falavam da sua morte, que ia acontecer em Jerusalém. (...) Surgiu uma nuvem que os cobriu; (...) E da nuvem veio uma voz que disse: «Este é o meu Filho predileto. Escutai-o.»” (Lucas 9, 28-36)
A estrela de Jesus está já em declínio e cresce a resistência à sua mensagem. Mais uma vez, é na oração que Jesus é confirmado na sua missão – aqui claramente a de “servo sofredor” – a fim de poder fazer face ao êxodo que vai realizar em Jerusalém. Em contraponto à Cruz que se perfila, um pouco da glória oculta da ressurreição deixa-se entrever... na oração. A fé dos discípulos é antecipadamente fortalecida. A revelação do batismo, neste momento crucial, é retomada e precisada.

O hino de júbilo

“Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a ação do Espírito Santo e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho houver por bem revelar-lho.»” (Lc 11, 1-2)

Quando Jesus se diz “Filho”, situa-se diante de Deus como um filho perante o seu pai, realizando a obra que lhe é confiada, em perfeita sintonia com a vontade do Pai; confiando-se totalmente a Ele, vivendo na sua presença, tendo recorrido a Ele em todos os momentos em que se impôs uma escolha, falando-Lhe com a simplicidade, ternura, segurança de uma criança com o seu papá (Abba).

E Deus é Pai para Jesus através da maneira como age com Ele; dado que Ele o conduz, entrega-lhe o seu poder, confia-lhe os seus segredos e os seus projetos, como um pai faz com o seu filho.

Há uma relação única de intimidade entre Filho e Pai, uma comunhão total, no Espírito, do seu amor mútuo. É no interior desta relação que Jesus é o que é; e a oração é o lugar privilegiado do seu “ser filho”. “Ninguém conhece o Filho se não o Pai.” “Conhecimento” deve ser entendido aqui no sentido bíblico da palavra: uma comunicação de amor. O seu princípio está no olhar eletivo e criador colocado pelo Pai sobre Jesus. Ninguém está a esse nível de profundidade. E ninguém conhece quem é o Pai se não o Filho. A nenhum outro o Pai revelou o mistério da sua providência. Nenhum outro reconheceu tão intimamente o amor do Pai, nenhum outro confessou a sua fidelidade numa tal resposta de obediência, nenhum outro consagrou todas as suas forças e a sua vida à realização do seu plano. A Igreja nasceu do que Jesus comunicou aos seus discípulos sobre o que conhece do Pai.
De maneira análoga, cada um de nós, em Cristo, recebe um nome novo, um nome inscrito no lugar mais profundo do coração que só o Pai conhece. Na oração, por vezes, o Espírito transmite-nos, numa voz inexprimível (Romanos 8), um conhecimento incomunicável do Pai.


A transmissão da oração

“Sucedeu que Jesus estava algures a orar. Quando acabou, disse-lhe um dos seus discípulos: «Senhor, ensina-nos a orar, como João também ensinou os seus discípulos.» Disse-lhes Ele: «Quando orardes, dizei: Pai...»” (Lc 11, 1-2)

Jesus ensina a oração aos seus discípulos rezando em primeiro lugar sob os seus olhos. Mas dá também um exemplo do que deve ser o conteúdo desta oração. A primeira palavra, a palavra essencial da oração cristã é “Pai”.

Somos na verdade seus filhos, filhos pela nossa fé no Filho e pelo dom do seu Espírito. Jesus mostrou-nos a maneira de agir como filhos: viver na confiança absoluta no Pai, na obediência à sua vontade de amor, na intimidade de uma oração solitária, no pedido confiante das nossas necessidades, no amor dos nossos irmãos.

A oração no Monte das Oliveiras

“[Jesus] Saiu então e foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras. E os discípulos seguiram também com Ele. Quando chegou ao local, disse-lhes: «Orai, para que não entreis em tentação.» Depois afastou-se deles, à distância de um tiro de pedra, aproximadamente; e, pondo-se de joelhos, começou a orar, dizendo: «Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua.» Então, vindo do Céu, apareceu-lhe um anjo que o confortava. Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantemente, e o suor tornou-se-lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra. Depois de orar, levantou-se e foi ter com os discípulos, encontrando-os a dormir, devido à tristeza. Disse-lhes: «Porque dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação.»” (Lucas 22, 39-46)

No centro desta perícopa está a luta de Jesus entre a sua vontade, expressão da sua sensibilidade humana, e a vontade do seu Pai, expressão da sua missão pela salvação dos homens. A escolha é dolorosa, trágica, mas no entanto cheia de dignidade e, por fim, de uma grande paz. A narrativa é enquadrada pela recomendação de orar para não entrar em tentação; desta forma ele torna-se um modelo na luta orante, sustentada pela força do alto.
O combate desenrola-se na oração. Jesus esforça-se por comungar da força divina, procura vencer a sua própria vontade. São postos aqui a nu, de maneira quase intolerável, o mistério do respeito infinito de Deus pela liberdade humana e a vibrante realidade da humanidade de Jesus. Que encorajamento nas nossas lutas entre a vontade de Deus e as revoltas da nossa sensibilidade!

A oração de Jesus na cruz
“Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem.” “Pai, nas tuas mãos, entrego o meu espírito.” (Lucas 23, 34.46)

Jesus deixa a vida em oração. É o momento da verdade. A verdade de Jesus para os seus irmãos é o perdão, a oferta da sua vida por aqueles que o matam; a verdade para o seu Pai é a confiança absoluta. 

1.2.2.        Jesus ensina a orar – Jesus pedagogo da nossa oração

Catecismo da Igreja Católica 2607. Ensinamento explícito sobre a oração

Quando ora, Jesus já nos ensina a orar. O caminho teologal da nossa oração é a sua oração ao Pai. Mas o Evangelho fornece-nos um ensinamento explícito de Jesus sobre a oração. Como bom pedagogo, toma conta de nós no ponto em que nos encontramos e, progressivamente, conduz-nos até ao Pai. Dirigindo-Se às multidões que O seguem, Jesus parte daquilo que elas já conhecem acerca da oração segundo a Antiga Aliança e abre-as à novidade do Reino que chega. Depois, revela-lhes em parábolas essa novidade. E, por fim, aos seus discípulos que hão de ser pedagogos da oração na sua Igreja, fala abertamente do Pai e do Espírito Santo.

Catecismo da Igreja Católica 2608: A conversão do coração

Jesus insiste na conversão do coração desde o sermão da montanha: a reconciliação com o irmão antes de apresentar a oferta no altar (59); o amor dos inimigos e a oração pelos perseguidores (Mt.5,44-45); orar ao Pai «no segredo» (Mt 6, 6); não se perder em fórmulas palavrosas (Mt.6,7); perdoar do fundo do coração na oração (Mt.6,14-15); a pureza do coração e a busca do Reino (Mt.6.21.25.33) Esta conversão está totalmente polarizada no Pai: é filial.

Catecismo da Igreja Católica 2609. Orar na fé

O coração, assim decidido a converter-se, aprende a orar na fé. A fé é uma adesão filial a Deus, para além de tudo quanto sentimos e compreendemos. Tornou-se possível, porque o Filho bem-amado nos franqueia o acesso até junto do Pai. Ele pode pedir-nos que «procuremos» e «batamos à porta», porque Ele próprio é a porta e o caminho (Mt.7.7-11.13-14).


Catecismo da Igreja Católica 2610. Audácia filial

Do mesmo modo que Jesus ora ao Pai e Lhe dá graças antes de receber os seus dons, assim também nos ensina esta audácia filial: «tudo o que pedirdes na oração, acreditai que já o alcançastes» (Mc 11, 24). Tal é a força da oração: «tudo é possível a quem crê» (Mc 9, 23), com uma fé que não hesita (Mt.21,21). Assim como Jesus Se entristece por causa da «falta de fé» dos seus conterrâneos (Mc 6, 6) e da «pouca fé» dos seus discípulos (Mt.8,26), também Se enche de admiração perante a «grande fé» do centurião romano (Mt.8,10) e da cananeia (Mt.15,28).

Catecismo da Igreja Católica 2611. Conformação com a vontade de Deus

A oração de fé não consiste somente em dizer «Senhor, Senhor!», mas em preparar o coração para fazer a vontade do Pai (Mt.7,21). Jesus exorta os seus discípulos a levar para a oração esta solicitude em cooperar com o desígnio de Deus (Mt.9,38).

Catecismo da Igreja Católica 2612. Vigilância na Oração

Em Jesus, «o Reino de Deus está perto». Ele apela à conversão e à fé, mas também à vigilância. Na oração (Mc 1, 15), o discípulo vela, atento Aquele que é e que vem, na memória da sua primeira vinda na humildade da carne e na esperança da sua segunda vinda na glória (Mc,13; Lc.21,34-36). Em comunhão com o Mestre, a oração dos discípulos é um combate; é vigiando na oração que não se cai na tentação (Lc.22.40-46).

Catecismo da Igreja Católica 2613. Três parábolas sobre a oração.

A primeira, a do «amigo importuno» (Lc.11,5-13), convida-nos a uma oração persistente: «Batei, e a porta abrir-se-vos-á». Aquele que assim ora, o Pai celeste «dará tudo quanto necessitar» e dará, sobretudo, o Espírito Santo, que encerra todos os dons.

A segunda, a da «viúva importuna» Lc.18,1-8), está centrada numa das qualidades da oração: é preciso orar sem se cansar, com a paciência da fé. «Mas o Filho do Homem, quando voltar, achará porventura fé sobre a terra?».

A terceira, a do «fariseu e do publicano» (Lc.18,9-14), diz respeito à humildade do coração orante. «Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador». A Igreja não cessa de fazer sua esta oração: «Kyrie, eleison!».


Catecismo da Igreja Católica 2614: Rezar em nome de Jesus

Quando Jesus confia abertamente aos discípulos o mistério da oração ao Pai, desvenda-lhes o que deve ser a oração deles e a nossa quando Ele tiver voltado para junto do Pai, na sua humanidade glorificada. O que há de novo agora é o «pedir em seu nome» (Jo.14,13). A fé n'Ele introduz os discípulos no conhecimento do Pai, porque Jesus é «o caminho, a verdade e a vida» (Jo 14, 6). A fé dá os seus frutos no amor: guardar a sua Palavra, os seus mandamentos, permanecer com Ele no Pai que n'Ele nos ama ao ponto de permanecer em nós. Nesta aliança nova, a certeza de sermos atendidos nas nossas petições baseia-se na oração de Jesus (Jo.14,13-14).

Catecismo da Igreja Católica 2615. Rezar no Espírito Santo

Mais ainda: o que o Pai nos dá, quando a nossa oração se une à de Jesus, é «o outro Paráclito, [...] para ficar convosco para sempre, o Espírito de verdade» (Jo14, 16-17). Esta novidade da oração e das suas condições aparece ao longo do discurso do adeus (Jo.14,23-26; 15,7.16; 16,13-15.23-27). No Espírito Santo, a oração cristã é comunhão de amor com o Pai, não somente por Cristo, mas também n'Ele: «Até agora, não pedistes nada em meu nome. Pedi e recebereis, para a vossa alegria ser completa» (Jo 16, 24).

A Oração cristã é feita «no Espírito»

O homem que vive ainda mergulhado na fraqueza, na incerteza e nos vaivéns do tempo, experimenta a dificuldade na oração, desconhecedor do que deve pedir! Mas nem por isso deve desanimar, porque o Espírito vem ao seu encontro para tomar conta da sua situação: aquele Espírito que o tornou participante do estado de filho adotivo, levando-o a experimentar a realidade, é o mesmo Espírito que agora reza nele e com ele. Assumindo a sua fraqueza, completa a obra da salvação por Ele iniciada, apesar das dificuldades que se podem encontrar ao longo do caminho: «O Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza, pois nem sabemos o que nos convém pedir; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis» (Rom 8, 26-27). Portanto, toda a oração do cristão, tanto a da liturgia como a pessoal, acontece sempre no Espírito, porque o acesso ao Pai faz-se pelo Filho, no Espírito (cf. Ef 2, 18). O Espírito é o verdadeiro protagonista da oração. É Ele que anima toda a oração da Igreja. A oração cristã não é uma técnica, mas é um dom do Espírito (Jo 4, 23, Ef 5, 18-20; Rom 8, 26-27). Sob o influxo do Espírito penetra-se o mistério de Deus.

Catecismo da Igreja Católica 2670

«Ninguém pode dizer "Jesus é o Senhor", a não ser pela ação do Espírito Santo» (1 Cor 12, 3). Todas as vezes que começamos a orar a Jesus, é o Espírito Santo que, pela sua graça preveniente, nos atrai para o caminho da oração. Uma vez que Ele nos ensina a orar lembrando-nos Cristo, como orar-Lhe a Ele próprio? A Igreja convida-nos, pois, a implorar cada dia o Espírito Santo, especialmente no princípio e no fim de qualquer ato importante.

«Se o Espírito Santo não deve ser adorado, como é que Ele me diviniza pelo Batismo? E se deve ser adorado, não há de ser objeto dum culto particular?» (Lc.18,13,Mc.10,46-52).

Catecismo da Igreja Católica 2671

A forma tradicional de pedir o Espírito é invocar o Pai, por Cristo, nosso Senhor, para que nos dê o Espírito Consolador (Lc.11.13). Jesus insiste nesta petição em seu nome no próprio momento em que promete o dom do Espírito de verdade (Jo.14,17;15,26;16,13). Mas também é tradicional a oração mais simples e mais direta: «Vinde, Espírito Santo». Cada tradição litúrgica desenvolveu-a em antífonas e hinos:

«Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos Vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor»
«Rei celeste, Espírito consolador, Espírito da verdade, presente em toda a parte e tudo enchendo, tesouro de todo o bem e fonte da vida, vem, habita em nós, purifica-nos e salva-nos, Tu que és Bom!».

Catecismo da Igreja Católica 2672

O Espírito Santo, cuja unção impregna todo o nosso ser, é o mestre interior da oração cristã. É o artífice da tradição viva da oração. Há, é certo, tantos caminhos na oração como orantes; mas é o mesmo Espírito que age em todos e com todos. É na comunhão do Espírito Santo que a oração cristã é oração na Igreja.

O Espírito Santo é o lugar da nossa oração cristã. O Espírito Santo é que nos coloca na atmosfera divina: «o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rom.5.5). Podemos e devemos rezar “no Espírito” e pedir o Espírito Santo, para rezar como convém.

1.2.3.        Jesus atende a nossa oração

Catecismo da Igreja Católica 2616. Oração eficaz

A oração a Jesus já foi sendo atendida por Ele durante o seu ministério, mediante os sinais que antecipam o poder da sua morte e ressurreição: Jesus atende a oração da fé expressa em palavras (do leproso (Mc.1,40-41), de Jairo (Mc.5,36), da cananeia (Mc.7,29), do bom ladrão (Lc.23,39-43) ou feita em silêncio (dos que trouxeram o paralítico (Mc.2,5), da hemorroíssa que Lhe tocou na veste (Mc.5,28), as lágrimas e o perfume da pecadora (Lc.7,37-38). A súplica premente dos cegos: «Filho de David, tem piedade de nós!» (Mt 9, 27), ou «Jesus, filho de David, tem piedade de mim!» (Mc 10, 47), foi retomada na tradição da Oração a Jesus: «Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tem piedade de mim, pecador!». Seja a cura das doenças ou o perdão dos pecados, Jesus responde sempre à oração de quem Lhe implora com fé: «Vai em paz, a tua fé te salvou».

Santo Agostinho resume admiravelmente as três dimensões da oração de Jesus: «sendo o nosso Sacerdote, ora por nós; sendo a nossa Cabeça, ora em nós; e sendo o nosso Deus, a Ele oramos. Reconheçamos, pois, n'Ele a nossa voz e a voz d'Ele em nós» (Santo Agostinho).

Jesus iniciou os seus discípulos na oração, primeiro com o seu próprio exemplo e depois instruindo-os com a oração do Pai-Nosso. O Pai-Nosso é a oração cristã por excelência.

Rezamos sempre “por nosso Senhor Jesus Cristo”… em nome de Cristo, quer dizer em atenção a Ele, com o mesmo Espírito d'Ele. Ele é o nosso perene e poderoso intercessor e mediador (Act 4, 12). Dizer em nome de Cristo significa que a nossa oração é como se a fizesse Cristo; Ele assume todas as nossas necessidades; Ele faz suas todas as nossas súplicas e pedidos.  Nós rezamos por Cristo, com Cristo e em Cristo, a partir da presença pascal de Jesus, como o define a doxologia final da Oração Eucarística. Cristo é o modelo, o companheiro e o mediador da nossa oração.

1.2.4.        O Pai-Nosso, a mais perfeita das Orações

Catecismo da Igreja Católica 2763

«A oração dominical é a mais perfeita das orações [...]. Nela, não só pedimos tudo quanto podemos retamente desejar, mas também segundo a ordem em que convém desejá-lo. De modo que esta oração, não só nos ensina a pedir, mas também plasma todos os nossos afetos» (São Tomás de Aquino).

Ao entregar a oração dominical aos catecúmenos ou aos neófitos, no processo de iniciação cristã, a Igreja ilumina-os e ajuda-os a descobrir a filiação divina que se recebe no batismo, sacramento pelo qual podemos chamar a Deus Pai, tanto na oração privada como na oração comum com os irmãos na fé.


Catecismo da Igreja Católica 2765. Oração do Senhor

A expressão tradicional «oração dominical» (isto é, «oração do Senhor») significa que a prece dirigida ao nosso Pai nos foi ensinada e legada pelo Senhor Jesus. Tal oração, que nos vem de Jesus, é verdadeiramente única: é «do Senhor». Efetivamente, por um lado, nas palavras desta oração o Filho Único dá-nos as palavras que o Pai Lhe deu (13): Ele é o mestre da nossa oração. Por outro lado, sendo o Verbo encarnado, Ele conhece no seu coração de homem as necessidades dos seus irmãos e irmãs humanos e revela-no-las: Ele é o modelo da nossa oração.

Esta oração será sempre o primeiro objetivo da aprendizagem da oração cristã, na família e na catequese.




Em síntese

a)      O que Jesus diz sobre a oração?[2]

·         Antes de rezar, reconcilia-te com teu irmão! (Mt.5,23-24; Mc.11,25) – conversão do coração
·         Quando rezares, entra no teu quarto (Mt.6.6) - Intimidade
·         O que pedirdes em Meu nome, Eu o farei (Jo.14,13)
·         Rezar com humildade, como o publicano (Lc.18,9-14) - Humildade
·         Rezar em conjunto, em união com os irmãos (Mt.18,19-20) - Comunhão
·         Rezar com confiança (Mt.6,7-8)- a confiança é a riqueza do pobre
·         Rezar sempre sem desanimar (Lc.18,1-8; 21,34-46) - Perseverança


b)      Quando é que Jesus reza?

·         antes e depois dos grandes acontecimentos:
-          antes do chamamento dos apóstolos (Lc. 6, 12)
-          depois da multiplicação dos pães (Mt.14,19) e da ressurreição de Lázaro; Jo 11,41)
·         De madrugada ( Mc. 1, 35)
·         Durante a noite (Mt. 14, 23; Lc. 6, 12)
·         Só e acompanhado.
- Acompanhado: na sinagoga (Lc.4,14-15); no templo e nas festas populares (Lc.2,21-42; Mc.12,35; Mc.14,26; Jo.7,10) na presença de outros (Lc.3,21-22), na Cruz; só (Lc.4,42);
- Sozinho: Lc.5,16; Lc.6,12-13; Lc.11,1; Mt.8,1; Mt.14,13; Mt.14,23; Jo.6,15; Jo.8,1; Mc.1,35;
·         De manhazinha (Mc.1,35) e à noite (Mt .14, 23)
·         E reza sempre (Heb. 7, 25): «Ele vive para sempre, para interceder por nós»...

c)       – Como é que Jesus reza?

·         Oração de exultação (Lc. 10, 21-24): «Eu te bendigo ao Pai»...
·         Oração no Getsemani (Lc. 22, 39-46): «Faça-se a tua vontade»
·         Oração na Cruz (Lc. 23, 33-49): «Pai, perdoa-lhes»...
·         Os silêncios de Jesus na Oração (Lc. 4, 16)
·         Oração filial na Trindade (Jo.11, 41-42)
·         Jesus reza por nós (Jo. 17,9-12)
·         Oração do Espírito (Jo.14, 16-17); Rom. 8, 27

d)      – O que é que Jesus reza? O Pai Nosso... (Mt.6,9-13; Lc.11,1-4); é uma boa síntese do conteúdo da Oração de Jesus.

e)      Porque é que Jesus reza? Como expressão da sua relação filial com o Pai... Porque sente a fragilidade da condição humana (tentações, debilidade)... Por solidariedade com a dor e a alegria dos Homens...




1.3.  Necessidade de iniciar na arte da oração

Na sua Carta Apostólica Novo Millenium Ineunte, (ns.32-34), «No início do novo Milénio», João Paulo II colocava a arte da oração, à cabeça de várias prioridades pastorais (eucaristia, reconciliação, escuta da palavra, anúncio da Palavra), dentro de uma verdadeira pedagogia da santidade. Vale a pena repassar esses números, dedicados à oração:

Novo Millennium Ineunte 32

Para esta pedagogia da santidade, há necessidade dum cristianismo que se destaque principalmente pela arte da oração. Mas a oração, como bem sabemos, não se pode dar por suposta; é necessário aprender a rezar, voltando sempre de novo a conhecer esta arte dos próprios lábios do divino Mestre, como os primeiros discípulos: «Senhor, ensina-nos a orar» (Lc 11,1). Na oração, desenrola-se aquele diálogo com Jesus que faz de nós seus amigos íntimos: «Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós» (Jo 15,4). Esta reciprocidade constitui precisamente a substância, a alma da vida cristã, e é condição de toda a vida pastoral autêntica. Obra do Espírito Santo em nós, a oração abre-nos, por Cristo e em Cristo, à contemplação do rosto do Pai. Aprender esta lógica trinitária da oração cristã, vivendo-a plenamente sobretudo na liturgia, meta e fonte da vida eclesial,17 mas também na experiência pessoal, é o segredo dum cristianismo verdadeiramente vital, sem motivos para temer o futuro porque volta continuamente às fontes e aí se regenera.

Novo Millennium Ineunte 33

Não será porventura um «sinal dos tempos» que se verifique hoje, não obstante os vastos processos de secularização, uma generalizada exigência de espiritualidade, que em grande parte se exprime precisamente numa renovada carência de oração? Também as outras religiões, já largamente presentes nos países de antiga cristianização, oferecem as suas respostas a tal necessidade, chegando às vezes a fazê-lo com modalidades cativantes. Nós que temos a graça de acreditar em Cristo, revelador do Pai e Salvador do mundo, temos obrigação de mostrar a profundidade a que pode levar o relacionamento com Ele.

A grande tradição mística da Igreja, tanto no Oriente como no Ocidente, é bem elucidativa a tal respeito, mostrando como a oração pode progredir, sob a forma dum verdadeiro e próprio diálogo de amor, até tornar a pessoa humana totalmente possuída pelo Amante divino, sensível ao toque do Espírito, abandonada filialmente no coração do Pai. Experimenta-se então ao vivo a promessa de Cristo: « Aquele que Me ama será amado por meu Pai, e Eu amá-lo-ei e manifestar-Me-ei a ele » (Jo 14,21). Trata-se dum caminho sustentado completamente pela graça, que no entanto requer grande empenhamento espiritual e conhece também dolorosas purificações (a já referida « noite escura »), mas desemboca, de diversas formas possíveis, na alegria inexprimível vivida pelos místicos como « união esponsal ». Como não mencionar aqui, entre tantos testemunhos luminosos, a doutrina de S. João da Cruz e de S. Teresa de Ávila?

As nossas comunidades, amados irmãos e irmãs, devem tornar-se autênticas « escolas » de oração, onde o encontro com Cristo não se exprima apenas em pedidos de ajuda, mas também em ação de graças, louvor, adoração, contemplação, escuta, afetos de alma, até se chegar a um coração verdadeiramente « apaixonado». Uma oração intensa, mas sem afastar do compromisso na história: ao abrir o coração ao amor de Deus, aquela abre-o também ao amor dos irmãos, tornando-nos capazes de construir a história segundo o desígnio de Deus.

Novo Millennium Ineunte 34

Sem dúvida que são chamados de modo particular à oração os fiéis que tiveram o dom da vocação a uma vida de especial consagração: esta, por sua natureza, torna-os mais disponíveis para a experiência contemplativa, sendo importante que eles a cultivem com generoso empenho. Mas seria errado pensar que o comum dos cristãos possa contentar-se com uma oração superficial, incapaz de encher a sua vida. Sobretudo perante as numerosas provas que o mundo atual põe à fé, eles seriam não apenas cristãos medíocres, mas «cristãos em perigo»: com a sua fé cada vez mais debilitada, correriam o risco de acabar cedendo ao fascínio de sucedâneos, aceitando propostas religiosas alternativas e acomodando-se até às formas mais extravagantes de superstição. Por isso, é preciso que a educação para a oração se torne de qualquer modo um ponto qualificativo de toda a programação pastoral. Eu mesmo propus-me dedicar as próximas catequeses das quartas-feiras à reflexão sobre os Salmos, começando pelos salmos das Laudes, a oração pública com que a Igreja nos convida a consagrar e dar sentido aos nossos dias.

Seria de grande proveito que se diligenciasse com maior empenho nas comunidades não só religiosas mas também paroquiais para que o clima fosse permeado de oração, valorizando com o devido discernimento as formas populares, e sobretudo educando para as formas litúrgicas. A ideia de um dia da comunidade cristã, em que se conjuguem, os múltiplos compromissos pastorais e de testemunho no mundo, com a celebração eucarística e mesmo com a reza de Laudes e Vésperas, é talvez mais «pensável» do que se crê. Demonstra-o a experiência de tantos grupos cristãmente empenhados, mesmo com forte presença laical”.

Neste sentido, João Paulo II viria a dedicar um largo espaço de tempo à Catequese sobre os Salmos.

E Bento XVI, desde há muito, prossegue as suas catequeses sobre a oração, nas audiências de quarta-feira. Escutemo-lo, nesse propósito:

“Hoje (4.5.2011) gostaria de dar início a uma nova série de catequeses. Depois das catequeses sobre os Padres da Igreja, sobre os grandes teólogos da Idade Média, sobre as grandes mulheres, gostaria de escolher um tema muito querido a todos nós: é o tema da oração, de modo específico da cristã, ou seja, a prece que Jesus nos ensinou e que a Igreja continua a ensinar-nos. Com efeito, é em Jesus que o homem se torna capaz de se aproximar de Deus com a profundidade e a intimidade da relação de paternidade e filiação. Com os primeiros discípulos, com confiança humilde, dirijamo-nos então ao Mestre e peçamos-lhe: «Senhor, ensina-nos a rezar» (Lc 11, 1). Nas próximas catequeses, aproximando-nos da Sagrada Escritura, da grande tradição dos Padres da Igreja, dos Mestres de espiritualidade e de Liturgia, queremos aprender a viver ainda mais intensamente a nossa relação com o Senhor, quase uma «Escola de oração». Com efeito, sabemos que a oração não se deve dar por certa: é preciso aprender a rezar, quase adquirindo esta arte sempre de novo; mesmo aqueles que estão muito avançados na vida espiritual sentem sempre a necessidade de se pôr na escola de Jesus para aprender a rezar autenticamente. Recebemos a primeira lição do Senhor através do seu exemplo. Os Evangelhos descrevem-nos Jesus em diálogo íntimo e constante com o Pai: é uma profunda comunhão daquele que veio ao mundo não para fazer a sua vontade, mas a do Pai que O enviou para a salvação do homem.”[3]

Seguiram-se um conjunto vasto de Catequeses, publicadas no site do vaticano (www.vatican.va) até ao dia 3 de Outubro de 2012 e agora editadas em livro (BENTO XVI, a Oração, Ed. Paulus, 2013)


1.4.  O Espírito Santo ensina-nos a rezar

A Oração cristã é feita «no Espírito», já o dissemos.

O homem que vive ainda mergulhado na fraqueza, na incerteza e nos vaivéns do tempo, experimenta a dificuldade na oração, desconhecedor do que deve pedir!

Mas nem por isso deve desanimar, porque o Espírito vem ao seu encontro para tomar conta da sua situação: aquele Espírito que o tornou participante do estado de filho adotivo, levando-o a experimentar a realidade, é o mesmo Espírito que agora reza nele e com ele.

Assumindo a sua fraqueza, completa a obra da salvação por Ele iniciada, apesar das dificuldades que se podem encontrar ao longo do caminho: «O Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza, pois nem sabemos o que nos convém pedir; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis» (Rom 8, 26-27).
É uma necessidade constante para aquele que quer percorrer o caminho da oração, invocar o Espírito Santo, para que ilumine a inteligência, conceda os seus dons a acenda no coração o fogo do seu amor. O Espírito que ensina a Igreja e lhe recorda tudo o que Jesus disse (Jo.14,26)  será também aquele que formará na vida da oração. É o Espírito que geme em nós com gemidos inefáveis (Rom.8,26). Um sinal claro da docilidade ao Espírito Santo no processo de catequese  é quando começamos a sentir uma atração  pessoal por Jesus Cristo, um desejo de O conhecer melhor, para O seguir e amar, quando começamos a esperar tudo do Espírito Santo. Escutemos o CIC:

Catecismo da Igreja Católica 429.

Deste conhecimento amoroso de Cristo brota o desejo de O anunciar, de «evangelizar» e levar os outros ao «sim» da fé em Jesus Cristo.

É também uma necessidade constante para quem quer entregar-se ao apostolado cultivar uma relação especial com o Espírito Santo. Isso mesmo o deixou claro João Paulo II, na sua encíclica sobre a Missa:



Redemptoris Missio, 87

“Tal espiritualidade exprime-se, antes de mais, no viver em plena docilidade ao Espírito, e em deixar-se plasmar interiormente por Ele, para se tornar cada vez mais semelhante a Cristo. Não se pode testemunhar Cristo sem espelhar a Sua imagem, que é gravada em nós por obra e graça do Espírito. A docilidade ao Espírito permitirá acolher os dons da fortaleza e do discernimento, que são traços essenciais da espiritualidade missionária. Paradigmático é o caso dos Apóstolos, que durante a vida pública do Mestre, apesar do seu amor por Ele e da generosidade da resposta ao Seu chamamento, se mostram incapazes de compreender as Suas palavras, e renitentes em segui-l'O pelo caminho do sofrimento e da humilhação. O Espírito transformá-los-á em testemunhas corajosas de Cristo e anunciadores esclarecidos da Sua Palavra: será o Espírito que os conduzirá pelos caminhos árduos e novos da missão. Hoje a missão continua a ser difícil e complexa, como no passado, e requer igualmente a coragem e a luz do Espírito: vivemos tantas vezes o drama da primitiva comunidade cristã, que via forças descrentes e hostis « coligarem-se contra o Senhor e contra o seu Cristo » (At 4, 26). Como então, hoje é necessário rezar para que Deus nos conceda o entusiasmo para proclamar o Evangelho (cf. Jo 16, 13)”.

Catecismo da Igreja Católica 2625

“O Espírito Santo, que assim recorda Cristo à sua Igreja orante, também a conduz para a verdade integral e suscita formulações novas que exprimirão o insondável mistério de Cristo operante na vida, sacramentos e missão da Igreja. Estas formulações desenvolver-se-ão nas grandes tradições litúrgicas e espirituais. As formas da oração, tais como as revelam as Escrituras apostólicas canónicas, continuam a ser normativas da oração cristã”.


[1] In La prière: Entre combat et extase; Trad.: rm © SNPC (trad.) | 04.05.10

[2] Cf. ENZO BIANCHI, Porque rezar, como rezar, Paulus Editora, Lisboa, 2011, 55.68
[3] BENTO XVI, Audiência, 4.05-2011; for

"A catequese não prepara simplesmente para este ou aquele sacramento. O sacramento é uma consequência de uma adesão a proposta do Reino, vivida na Igreja (DNC 50)."

Documento Necessário para o Batismo e Crisma

Certidão de Nascimento ou Casamento do Batizando;

Comprovante de Casamento Civil e Religioso dos padrinhos;

Comprovante de Residência,

Cartões de encontro de Batismo dos padrinhos;

Documentos Necessários para Crisma:

RG do Crismando e Padrinho, Declaração de batismo do Crismando, Certidão ou declaração do Crisma do Padrinho, Certidão de Casamento Civil e Religioso do Padrinho/Madrinha e Crismando se casados.

Fonte: Catedral São Dimas

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REFLEXÃO

A porta larga que o mundo oferece para as pessoas é a busca da felicidade a partir do acúmulo de bens e de riquezas. A porta estreita é aquela dos que colocam somente em Deus a causa da própria felicidade e procuram encontrar em Deus o sentido para a sua vida. De fato, muitas pessoas falam de Deus e praticam atos religiosos, porém suas vidas são marcadas pelo interesse material, sendo que até mesmo a religião se torna um meio para o maior crescimento material, seja através da busca da projeção da própria pessoa através da instituição religiosa, seja por meio de orações que são muito mais petições relacionadas com o mundo da matéria do que um encontro pessoal com o Deus vivo e verdadeiro. Passar pela porta estreita significa assumir que Deus é o centro da nossa vida.

reflexão sobre o Dízimo

A espiritualidade do Dízimo

O dízimo carrega uma surpreendente alegria no contribuinte. Aqueles que se devotam a esta causa se sentem mais animados, confortados e motivados para viver a comunhão. O dízimo, certamente, não é uma questão de dinheiro contrariando o que muitos podem pensar. Ele só tem sentido quando nasce de uma proposta para se fazer a experiência de Deus na vida cristã. Somos chamados e convocados a este desafio.

Em caso contrario, ele se torna frio e distante; por vezes indiferente. A espiritualidade reequilibra os desafios que o dízimo carrega em si. "Honra o Senhor com tua riqueza. Com as primícias de teus rendimentos. Os teus celeiros se encherão de trigo. Teus lagares transbordarão de vinho" (Pr 3,9-10). Contribuir quando se tem de sobra, de certa forma, não é muito dispendioso e difícil. Participar da comunhão alinha o desafio do dízimo cristão.

Se desejar ler, aceno: Gn 28, 20-22; Lv 27, 30-32; Nm 18, 25-26 e Ml 3, 6-10.

Fonte : Pe. Jerônimo Gasques

http://www.portalnexo.com.br/Conteudo/?p=conteudo&CodConteudo=12

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