São
Francisco de Assis, o autor do Cântico do Irmão Sol, um dos santos
mais amados pelo mundo inteiro, foi anonizado dois anos após a
morte. Em 1939, Pio XII tributou um inteiro reconhecimento oficial ao
“mais italiano dos santos e mais santo dos italianos”,
proclamando-o padroeiro principal da Itália.
Ele
nos deixou diversos ensinamentos, tanto por seu testemunho de vida,
quanto por suas belas e ricas palavras, como podemos ler nos textos
abaixo:
Da
Carta a todos os fiéis, de São Francisco de Assis (Opuscula, edit.
Quaracchi 1949,87-94)
Devemos
ser simples, humildes e puros
O
Pai Altíssimo anunciou a vinda do céu do tão digno, tão santo e
glorioso Verbo do Pai, através de seu santo, Gabriel, à santa e
gloriosa Virgem Maria, em cujo seio recebeu a verdadeira carne de
nossa humanidade e fragilidade. Ele quis, no entanto, sendo
incomparavelmente mais rico, escolher a pobreza junto com a sua
santíssima mãe. Nas vésperas de sua paixão, celebrou a Páscoa
com os discípulos. Depois, orou ao Pai dizendo: Pai, se for
possível, afaste-se de mim este cálice (Mt 26,39).
Pôs,
contudo, sua vontade na vontade do Pai. E a vontade do Pai era que
seu Filho bendito e glorioso, dado a nós e nascido para nós, se
oferecesse em sacrifício e vítima no altar da cruz, pelo seu
próprio sangue. Sacrifício não para si, por quem tudo foi feito,
mas por nossos pecados, deixando-nos o exemplo para lhe seguirmos as
pegadas (cf. 1Pd 2,21). E quer que todos nos salvemos por ele e o
acolhamos com coração puro e corpo casto.
Ó
como são felizes e benditos aqueles que amam o Senhor e fazem o que
o mesmo Senhor diz no evangelho: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo
o teu coração, de toda a tua alma e ao próximo como a ti mesmo!
(Lc 10,27). Amemos, portanto, a Deus e adoremo-lo com coração puro
e mente pura porque, acima de tudo, disto está ele à procura e diz:
Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade
(Jo 4,23). É necessário que todos que o rito e em verdade (Jo
4,23). É necessário que todos que o adoram, o adorem no espírito
da verdade. E dia e noite elevemos para ele louvores e orações,
dizendo: Pai nosso que estás nos céus (Mt 6,9); porque é preciso
orar sempre e não desfalecer (cf. Lc 18,1).
Além
disto, produzamos dignos frutos de penitência (cf. Mt 3,8). E amemos
os próximos como a nós mesmos. Tenhamos caridade e humildade e
façamos esmolas, já que estas lavam as almas das nódoas dos
pecados. Os homens perdem tudo o que deixam neste mundo. Levam
consigo somente a paga da caridade e as esmolas que fizeram: delas
receberão do Senhor o prêmio e a justa recompensa.
Não
nos convém sermos sábios e prudentes segundo a carne, mas temos
antes de ser simples, humildes e puros. Jamais desejemos ficar acima
dos outros, mas prefiramos ser servos e submissos a toda criatura
humana, por causa de Deus. Sobre todos os que assim agirem e
perseverarem até o fim repousará o Espírito do Senhor e fará
neles sua casa e mansão. Serão filhos do Pai celeste, pois fazem
suas obras, e são esposos, irmãos e mães de nosso Senhor Jesus
Cristo.
Da
Regra não bulada, de São Francisco de Assis
Do
modo de servir e de trabalhar
Os
irmãos que forem capazes de trabalhar, trabalhem; e exerçam a
profissão que aprenderam, enquanto não prejudicar o bem de sua alma
e eles puderem exercê-la honestamente. Porquanto diz o profeta:
Viverás do trabalho de tuas mãos: serás feliz e terás bem-estar
(Sl 127,2); e o Apóstolo: Quem não quer trabalhar não como (2Ts
3,10). Cada qual permaneça naquele ofício e cargo para o qual foi
chamado (1Cor 7,24). E como retribuição pelo trabalho podem aceitar
todas as coisas de que precisam, exceto dinheiro. E, se for
necessário ter as ferramentas necessárias ao seu ofício.
Todos
os irmãos se esforcem seriamente em praticar boas obras, pois está
escrito: “Vê se estás sempre empenhado em praticar alguma boa
obra, para que o diabo te encontre ocupado”; e ainda: “A
ociosidade é inimiga da alma”. Por isso os servos de Deus devem
estar sempre entregues à oração ou a qualquer outra boa obra.
Cuidem
os irmãos, onde quer que estejam, nos eremitérios ou em outros
lugares, de não apropriar-se de qualquer lugar nem disputá-lo a
outrem. E todo aquele que deles se acercar, seja amigo ou adversário,
ladrão ou bandido, recebam-no com bondade. E onde quer que estejam
os irmãos, e sempre que se encontrarem em algum lugar, devem
respeitar-se e honrar-se espiritualmente e diligentemente uns aos
outros, sem murmuração (1Pd 4,9). E guardem-se os irmãos de se
mostrarem em seu exterior como tristes e sombrios hipócritas. Mas
antes comportem-se como gente qu8e se alegra no Senhor, satisfeitos e
amáveis, como convém.
(Escritos
e Biografias de São Francisco de Assis, Ed. Vozes-CEFEPAL,
Petrópolis 1982, p. 146-147)
Trecho
retirado do livro: No Coração da Igreja, de Prof. Felipe Aquino