Dom Jaime Spengler
Trindade Santa
- QUINTA, 28 MAIO 2015 12:21
- CNBB
Dom Jaime SpenglerArcebispo de Porto Alegre (RS)
A Trindade Santa é o mistério de um só Deus em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo; distintas na unidade de uma só natureza.
Existe o costume difuso de iniciar nosso dia, nossos trabalhos, espaços de decisão, momentos de oração em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Tal costume está enraizado em nossa tradição cristã. O que dizemos quando fazemos uso dessa expressão, ou mesmo somente traçando o sinal da cruz sobre nós? Expressamos, talvez sem elaborar de forma lógico-racional, que no princípio de nosso dia e ações não estamos nós, mas o Mistério maior e originário de tudo e de todos.
Iniciar as atividades cotidianas em nome da Trindade Santa dá o ‘tom’ do viver e agir. É como na música! No início da execução de qualquer música, é necessário estabelecer o tom que vai orientar toda a melodia. É na obediência ao tom que resplandece a beleza da melodia.
O ‘nome’ não é mero sinal ou etiqueta; o ‘nome’ é expressão da identidade, torna presente a pessoa. Iniciar, pois, as atividades cotidianas em ‘nome de’ é fazer ressoar, evocar e confessar a presença retraída do Mistério santo da Trindade que tudo envolve, sustenta e conserva! Dizendo ‘em nome de’, confessamos nossa disposição de em tudo e por tudo desejar e querer corresponder àquilo que o nome invocado designa.
Quando se inicia uma atividade em nome da Santa Trindade, abrem-se possibilidades de condução para dentro da dimensão do encontro com a origem de tudo. Por isso, iniciando as atividades ‘em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo’, estamos expressando nossa disposição humilde, decidida e alegre de colher entre todas as situações o toque desse mistério insondável de comunhão e amor.
Evocar a Trindade Santa é atitude característica de quem se sabe criatura, discípulo; ‘de quem sabe que pode muito, mas não pode tudo’! Nessa condição procura estar atento ao ser e fazer da Santíssima Trindade e ao seu mistério de amor e de comunhão.
Invocar a Santíssima Trindade expressa relacionamento e reverência de quem cultiva fé, intimidade e proximidade com o Mistério da Vida. Inaugurar o dia com suas múltiplas ocupações, principiar as distintas atividades ‘em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo’, não é expressão de uma crença cristã mais ou menos esclarecida; é antes de tudo, evocação que brota dos lábios e do coração de quem se sabe pertencente ao princípio originário de tudo; de quem se reconhece pertencente à estirpe divina; de quem busca ativamente participar do Mistério profundo do sentido da vida anunciado por Jesus Cristo: Deus é amor! Amor do Pai, que, através do Filho e pelo Espírito Santo, em modos distintos, por caminhos insondáveis à mera racionalidade humana, sempre e de forma nova se mostra, se oferece e se dá aos homens e mulheres de boa vontade.
Os discípulos de Jesus Cristo se empenham por levar avante e a promover a consciência de que todos pertencem à família do Deus Uno e Trino. Seu vigor e força se encontram numa ‘esperança que não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado nos corações’ (Rm 5,5). Atentos a esse princípio que vem da fé, podemos, talvez, dizer que um caminho privilegiado para buscar penetrar no mistério do Deus Trindade é, com determinação, buscar trilhar os passos de Nosso Senhor. Ele em tudo viveu como Filho amado de Deus Pai e de quem se sabia íntimo, um! Nesse caminho ele era movido pelo Espírito. Assim, em comunhão com o Pai e o Espírito Santo, buscou construir um mundo novo para todos; mundo esse marcado pela força do amor que ‘não faz discriminação entre pessoas’ (At 10,34).
Ó Trindade imensa e una, vossa força tudo cria; vossa mão, que rege os tempos, antes deles existia... Só por vós, Trindade Santa, suma origem, todo bem, todo ser, toda beleza, toda vida se mantém.
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